“Não preciso do fim para chegar”, escreveu Manoel de Barros, entre tantas outras pérolas de simplicidade. Agora, com sua morte, aos 97 anos de idade, sua obra será lembrada e louvada, como o grande poeta pós-modernista que foi, se é possível rotular um vanguardista. Sempre preferiu viver longe das cidades. Na década de 1980, elogiado por Millôr Fernandes, Manoel de Barros tornou-se conhecido além do Mato Grosso, e ou a ser lido no Sudeste, de onde ganhou o país. Ganhou dois prêmios Jabuti: em 1987, por O Guardador de Águas, e em 2002, por O Fazedor de Amanhecer, livro infantojuvenil eleito a melhor obra de ficção do ano anterior. É conhecido o episódio de que o próprio Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta brasileiro vivo, em favor de Manoel de Barros. Por causa da sua linguagem complexa, é muitas vezes comparado a outros subversores da linguagem formal: Guimarães Rosa, Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto. Manoel de Barros era homem do campo e do mato, onde sorvia da natureza a essência do ser humano. Mas não era um “bicho do mato”. Também sabia se divertir nos convescotes literários. Se ele deixa uma receita de longevidade, é o seu bom humor, e a capacidade infantil de ver, de se surpreender, pra depois de novo se recolher. Tive o prazer de conhece-lo num evento em Campo Grande, no início da década de 1990. Aquele velho, baixinho, discreto e risonho, não precisava de mais nada para ser, simplesmente, encantador. Um legítimo guri, e já beirava os 80 anos de vida. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. Manoel de Barros 43266b