Por Shana Torres A bienal do Mercosul, que acontecerá de 26 de setembro a 22 de novembro, propõe inovação em sua sétima edição. Com o conceito “Grito e Escuta-ação e reflexão” a exposição pretende incitar o visitante à critica não só no campo artístico, como social, questionando o papel do artista contemporâneo e propondo uma reflexão sobre a crise mundial. Grito e Ação são dois elementos nos extremos de uma ligação comunicacional: o grito do artista, que quer causar impacto e reflexão no visitante através do resgate do diálogo como modelo de construção, da ação social no simples ato de ouvir e enxergar a proposta desmistificadora apresentada pela Bienal. Para tanto, acredita-se na multiplicidade de vozes e na arte dirigida a diferentes públicos. Serão sete exposições divididas em diversas vertentes, apresentadas em espaços do Armazém do Cais do Porto, da Fundação Iberê Camargo, do Santander Cultural e do Margs: 1) O desenho como primeiro espaço de tradução do pensamento do artista. Esta mostra vai explorar o desenho estabelecendo afinidades inesperadas como, por exemplo, a exibição de obras de grandes mestres ou de artistas solidamente históricos que colocam em destaque a densidade dos processos contemporâneos. 2) Os processos de criação que interpelam as condições culturais e políticas de contextos específicos. Nesta mostra estarão projetos de artistas que usam a imagem como ferramenta questionadora do nosso contexto social e que focam seu trabalho na ação, no fazer e no pensar como sistema dinâmico e mutável na construção da obra. 3) O artista que retira os elementos de linguagem da arte e expõe suas condições de produção. Obras que se questionam sobre os processos de surgimento das próprias obras e que expandem a noção de invenção. Os artistas desta mostra vão articular narrativas pessoais cheias de ironia que questionam premissas básicas do sistema da arte – a obra como objeto visível, a obra como mercadoria. Exploram lógicas alternativas – a invisibilidade, a cotidianidade – para questionar o limite da obra de arte na atualidade. 4) O humor e o absurdo como instrumentos de resistência e liberdade. Nesta mostra pretende-se expor uma estratégia para o comentário e a crítica social sobre a vida contemporânea. 5) A transformação como ferramenta capaz de deslocar a percepção da obra e sugerir uma suspensão do tempo. Artistas serão convidados a realizar projetos que, durante o tempo de exibição da 7ª Bienal, apresentarão um ritmo de transformações constantes. 6) O diálogo com a cidade, cuja trama os artistas modificam e resignificam. Analisando as diversas manifestações artísticas e culturais próprias do ambiente urbano, pretende-se extrair os pontos fundamentais responsáveis por gerar e alimentar essas manifestações, assim como criar estruturas que as recebam e potencializem. 7) A arte como espaço de projeção de ideias, de comunicação, da imaginação. Este é um projeto vinculado aos processos visuais e comunicativos atuais. Há uma convocatória aberta a artistas de todo o mundo para apresentarem projetos “projetáveis” em seus vários sentidos: o projetável como o imaginado, aquilo que cria novos públicos ou aquilo que representa um território, como na cartografia. As inscrições estarão abertas no final de fevereiro, através do site da Bienal. Além disso, será criado o projeto Rádio Visual, que funcionará como o centro de veiculação dos seminários e debates que ocorrerão durante o período da exposição. Com uma programação a ser produzida por artistas curadores, críticos, público escolar e geral de Porto Alegre, desde os meses que antecedem as exposições, a rádio vai transmitir obras de arte sonoras, entrevistas, e informações sobre a construção da 7ª Bienal e sobre o andamento das ações do projeto pedagógico. O projeto pedagógico é outra inovação oferecida pela Bienal. Ele funcionará com a colaboração de doze artistas que realizarão projetos de residência em comunidades de diferentes regiões do estado, em um período anterior ao das exposições. Esse trabalho levará a confecção de um material pedagógico que será distribuído nas escolas da rede pública do estado e de outras regiões do Brasil. A 7ª Bienal do Mercosul contará com uma equipe curatorial de artistas da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México. Segundo os curadores-gerais, Victoria Noorthoorn e Camilo Yáñez, o projeto pretende “explorar a riqueza e a complexidade do olhar artístico e criar elos de ligação para um diálogo crítico dentro e fora dos espaços expositivos”. A intenção é quebrar o paradigma do espaço-tempo inerente às exposições e transpor a avaliação crítica para o cotidiano social. 4o5y4