Dirceu Cardoso Gonçalves* | Os acusados da morte do cinegrafista Santiago Andrade falaram à polícia que os participantes das manifestações são pagos para vandalizar e, como vimos, até matar. Veio a público uma lista de partidos e supostos contribuintes, incluindo vereadores, delegado de polícia e até juiz de direito, que negam ter dado recursos para sustentar manifestações violentas. Apesar das negativas, a sociedade não pode abrir mão de apurar e buscar a identificação daqueles que efetivamente mantêm os tais black blocs e saber, inclusive, quais os seus interesses e finalidades. Mesmo que os citados inicialmente não sejam os financiadores, é preciso saber quem os custeia e promover a identificação e o devido processo legal contra criadores e criaturas. Não se pode, ainda, descuidar na proteção aos dois acusados presos pois, com a denúncia formulada, podem ter se transformado em inconvenientes “arquivos” sujeitos à queima antes que possam fazer novas revelações. A polícia e o Ministério Público certamente dispõem de meios para aprofundar a investigação e chegar aos financiadores dos atos de selvageria e vandalismo que tanto têm incomodado as cidades brasileiras e, inclusive, desvirtuam os movimentos que buscam pacificamente seus objetivos. Da mesma forma que uma sociedade democrática tem de ser permeável às reivindicações do povo, desde que feitas pacifica e ordeiramente, tem de ser diligente e eficiente para isolar e punir rigorosamente os aqueles que se infiltram e promovem o caos. No momento em que a autoridade constituída não é suficiente para manter a ordem pública, fica comprometida até a sua representatividade. O povo, através do “contrato social” e do voto, dá procuração aos governantes e às autoridades de carreira para zelarem da ordem pública e promover o bem-estar geral. Sucumbir aos black blocs ou a seus financiadores é extrema prova de fraqueza e falta de comprometimento. Espera-se que, da jornada empreendida pelo ministro da Justiça junto aos secretários estaduais daSegurança Pública, saiam medidas concretas e eficazes para fazer cessar a desordem, e que o Congresso Nacional seja rápido o suficiente para aprová-las. O país e a população precisam de paz para vencer seus grandes desafios. Todos os que atuam em direção contrária, têm de enfrentar as consequências. É inaceitável a morte de Santiago Andrade. Mas, como já ocorreu e é irreversível, que sirva, pelo menos, para a retomada da ordem pública e da busca da paz social… *Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo) 343p