A apresentação de Xingu – quinta-feira (08/03), na Sala Paulo Amorim da Casa de Cultura Mário Quintana – arrancou aplausos do público e confirmou o filme de Cao Hamburger entre os melhores desta temporada. A exibição também marcou a abertura da oitava edição do Festival de verão RS de cinema internacional que, até 15 de março, exibirá cerca de 50 filmes em salas da capital e interior. A sessão deveria ser ao ar livre, mas devido ao prognóstico errado do meteorologista da Sony Pictures, distribuidora do filme, que previu chuva (o que seria uma benção para a noite senegalesca), houve o cancelamento, e a exibição foi transferida para a Sala Paulo Amorim. Assim, em clima refrigerado, Xingu obteve dos 150 espectadores que assistiram a primeira sessão, às 22h, o mesmo entusiasmo conseguido no Festival de Berlim, onde a película ficou entre as três mais apreciadas pelo público. Tudo funciona bem: roteiro, fotografia, trilha, interpretação dos atores, ritmo de edição. Os cenários – Tocantins e Parque Nacional do Xingu – são magníficos. E o todo, sob a batuta de Cao Hamburger, transformou-se num grande espetáculo épico, dramático, e um convite a aventura antropológica. O diretor Cao Hamburger e o ator João Miguel A saga dos irmãos – Orlando, Claudio e Leonardo – Villas Bôas é única na história da humanidade. Eles são responsáveis pela demarcação do território indígena – o Parque Nacional do Xingu –, cuja área, de 27 mil quilômetros quadrados, equivale a um país do tamanho da Bélgica. Os atores Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat – que interpretam, seguindo a ordem dos personagens reais relacionados acima, os irmãos Villas Bôas – garantem o carisma necessário e a complexidade de cada um destes seres que dedicaram suas vidas a causa indígena. Por isso, Hamburger e seus colaboradores fixaram o seguinte slogan: “se você acredita que o Brasil não tem heróis, venha ver o filme Xingu”. O projeto do filme surgiu quando o filho do Orlando Villas Bôas procurou o diretor, e também produtor, Fernando Meirelles, dizendo que estava disposto a ceder os direitos para contar a história dos sertanistas: “houve, claro, muito interesse e o Fernando me chamou. Fiz uma pequena pesquisa sobre o universo deles e fiquei encantado, e fui sugado pela história por três razões, principalmente: primeiro, para resgatar a vida destes heróis brasileiros; depois pela necessidade de rever a cultura indígena; por último, apesar de ser uma história que se ou entre os anos 40 e 60 do século ado, ela é muito atual e muito urgente”, revela Hamburger. Na feitura do roteiro, o primeiro desafio: uma biografia ficcional, por mais realista que procure ser, jamais alcançará o ser histórico: “e isso exigiu um entendimento profundo da essência da vida deles, da personalidade de cada um, da saga que eles viveram. Então, misturar os eventos da vida, transformando numa narrativa com começo meio e fim, e que fosse direto ao coração do público” explica Hamburger. Fernando Meireles como produtor do filme trouxe, evidentemente, uma credibilidade muito grande para o projeto. Contudo, acrescenta Hamburger, “vale ressaltar que a história dos Villas Bôas, por si só, atraiu investidores, inclusive, sem leis de incentivo fiscal”. Superprodução A produção de Xingu girou em torno de R$14 milhões. Trata-se de uma superprodução para os padrões brasileiros. Para as filmagens – três meses no estado do Tocantins, e uma semana no Parque Nacional do Xingu – montou-se uma verdadeira operação de guerra: “só conseguimos chegar ao final porque o elenco estava totalmente comprometido com a idéia do filme. Houve muito heroísmo por parte da equipe, afinal, três meses e pouco no meio do mato não é fácil. amos por situações extremas, no limite das condições humanas de trabalho. Mas com a determinação da equipe e do elenco, e com a produção nos guiando, chegamos ao final sem estourar orçamento”, conclui Hamburger. João Miguel, que interpreta Claudio Vilas Boas, fala da grandeza do personagem, e do filme retratar um episódio importantíssimo da história brasileira, e que não pode ser esquecido: “estamos falando de coisas muito latentes em relação ao Brasil, contracenando com pessoas, os índios, que faziam parte da própria história que estávamos contando. E isso foi uma experiência incrível, pois traz a tona questões muito contemporâneas, muito vivas, sobre nós, inclusive. Descobrir o quanto nós somos indígenas e não sabemos. E também que não dá para entender o Brasil racionalmente, é preciso senti-lo”. Segundo o ator, a premissa para a construção ficcional de uma biografia, caso de Claudio Villas Bôas, foi à paixão que o levou a procurar reunir todo o tipo de informação e colocá-la no jogo, nas filmagens: “e isso inclui roteiro, ator, direção. Trata-se de uma grande conversa para encontrar o melhor caminho.Enfim, um baita desafio”. O imaginário brasileiro sobre os povos indígenas é uma mescla de idealização, culpa e desprezo. Xingu narra à história de três homens, suas forças e fragilidades, e, até mesmo, suas prepotências, pois o desejo em preservar a cultura indígena chegava a ultraar o próprio livre-arbítrio dos índios. Nisso, a cena do avião, em que vemos Orlando (Felipe Camargo) empurrando um grupo de índios a força para bordo, para tirá-los do nocivo contato com os brancos, que os exploram, é emblemática. Como também é emocionante e cheia de simbolismos a cena da comemoração dos índios, no pátio, entre as malocas, quando o Parque foi criado, em 1961. Verdadeira comunhão, ao som das longas flautas e tambores, vontade de se misturar, pintar o corpo e arrancar as roupas, livrando-se da máscara de civilização. O Parque Nacional do Xingu, hoje, da uma idéia do que era o Brasil em 1500, época do “descobrimento”. È o lar de diversas tribos, como a Kayabi, bastante enfocada no filme, e os remanescentes dos Kreen-Akarôre, cuja ficcionalização do primeiro contato é o último grande plano da película, configurando bem o fascínio e abeleza do estranhamento. Enfim, mais do que preservação cultural, o Xingu representa a demarcação da nossa ideia de paraíso, em torno do qual roncam as serras e os tratores, e mugem os gados das fazendas 622r3l
Estive na pré-estreia no Shopping Eldorado Terça 27 e fiquei encantado com a história e a riqueza da cultura indígena do Brasil. Nós Brancos voltados e cegos pelo desenvolvimento e pela cobiça por terras por parte de coronelismo da época e com apoio militar de um governo também militar, colocaram os índios brasileiros na condição de campo de concentração ou seja delimitaram um espaço para que seja deles, quando eles estavam aqui e eram os únicos donos. Infelismente a perda é muito grande em relação a riqueza da fauna e flora e cultura que foram praticamente extintas devido a ganância do branco. Obs. Acredito que a parte de que refere em colocar os índios a força no avião é a de Claudio Villas Bôas e não de Orlando. Na minha opinião um Ótimo Filme documentário que retrata a nossa maior riqueza que é a floresta e os indígenas brasileiros.