A pátria gaúcha em preto, branco, e a cores 2lj6u

O ensaio fotográfico Pátria Gaúcha – lançado, recentemente, na Fundação Iberê Camargo, pela Portfólio Design – reúne alguns trabalhos de 16 profissionais que registraram imagens de paisagens urbanas e rurais de diversas regiões do Rio Grande do Sul. A publicação também inclui textos de Tabajara Ruas – cheios de lirismo, metáforas, simbolismos – que servem para introduzir os espaços geográficos enfocados, conferindo-lhes uma profunda e orgânica identidade cultural. A obra de 220 páginas – cujo acervo, originalmente, foi destinado a calendários temáticos – contou com a curadoria de Rogério Reis, a batuta editorial de Marília Vianna, e a coordenação executiva de Pedro Longui, da Telos. As imagens – cidades, montanhas, campos – são belíssimas e de alta qualidade como se poderia esperar de um time de fotógrafos com essa escalação: André Abdo, Celso Chittolina, Clovis Dariano, Cris Berger, Eneida Serrano, Eurico Salis, Fernando Bueno, Flavio Dutra, Guto de Castro, Leonid Streliaev, Leopoldo Plentz, Luiz Carlos Felizardo, Luiz Eduardo Achutti, Marcos Luconi, Nede Losina e Raul Krebs. De Leopoldo Plentz, por exemplo, têm-se imagens de Jaguarão, destacando a Ponte Internacional Mauá, construída em 1930, o casario antigo, e também as lidas de campo.  Autor de inúmeros trabalhos sobre a fronteira, ele não esconde seu fascínio por esta região “onde as pessoas misturam o português e o espanhol, e trocam mercadorias, e culturas, tornando aquele espaço bastante singular”.  Plentz salienta que a Pátria gaúcha é um importante resgate imagético e histórico do Rio Grande do Sul, um estado tão carente deste tipo de publicação. Homens no campo / Foto: Leopoldo Plentz A síntese do pampa foi enquadrada pelas lentes de Leonid Streliaev, este descendente de imigrantes russos que lhe ensinaram a gostar daquela paisagem – composta por uma imensidão verde e de coxilhas sinuosas, falsamente monótonas – que, segundo seu pai, lembrava certas partes da Sibéria, “mas não o clima”, brinca. Streliaev fotografou Bagé, seus campos e seus gaúchos monarcas. Afinal, no pampa, como diz a lenda, vivem os centauros que gostam de churrasco de carne gorda, corridas de cancha reta, belas piguanchas e, claro, de uma boa briga. Já Luiz Eduardo Achutti produziu imagens que abrangem parte da região serrana – área de Caxias do Sul – enquadrando grandes planos de sua bonita cascata e parreirais. Também detalhou interiores de casas e galpões, com suas cestas, ferramentas, bigorna, cortinas e artefatos de cozinha. Trata-se de conjunto que confere um olhar antropológico sobre o mundo do trabalho e da figura do colono italiano, e que remetem a questões como a imigração e a construção de identidades, temas caros a Achutti: “talvez isso se deva a minha própria origem – italiana, alemã, árabe – que já é um cruzamento de culturas”, explica. Bigorna / Foto: Luiz Eduardo Achutti Desde o século XIX que homens, através de suas câmeras, captam imagens do Rio Grande do Sul. Dos pioneiros Luiz Terragno e Virgílio Calegari até chegar ao grupo inserido em Pátria gaúcha se aram mais de 150 anos. Mas o perfil aventureiro dos que encararam esta profissão é o mesmo, enquadrando-se naquilo que Tabajara Ruas denomina de anticaçador, pois, segundo o escritor, o fotógrafo não mata: “ele gera. E gera um outro tipo de vida, fruto da união dele, homem, com a máquina. Isso acontece apenas num instante, numa minúscula parcela de tempo, quando a luz desce sobre ele e sussurra: é agora. Só ele sabe o momento, porque, entre os mortais, só os fotógrafos possuem o dom de falar com a luz”. 6l666i

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