Jornal condenado a pagar indenização à mãe do governador 6x5b5t

O Jornal JÁ foi condenado a pagar uma indenização de R$31.654,33 à mãe do governador Germano Rigotto, sra. Julieta Diniz Vargas Rigotto. A sentença é do juiz Giovanni Conti. A mãe do governador processou o jornal por ter publicado uma reportagem de autoria do jornalista Elmar Bones sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Lindomar Rigotto, irmão do governador, assassinado em fevereiro de 2001 em Capão da Canoa. A reportagem foi premiada pela Associação Riograndense de Imprensa – ARI – naquele ano. Intimado na tarde da terça-feira, dia 12 de julho, com 24 horas para saldar o débito, o jornalista Elmar Bones, diretor do Jornal Já, se declarou surpreso com a decisão. Na condição de autor da reportagem, o jornalista respondeu processo por calúnia e difamação, também movido por Julieta Rigotto, sendo absolvido em primeira instância. “Não entendo como a mesma matéria pode ter duas sentenças opostas”, disse Bones. 5i1e2g

Movimento ambientalista gaúcho volta às ruas y5g6b

Aquecimento global, desmatamento da Amazônia, aprovação da hidrelétrica de Barra Grande, fim do Pró-Guaíba, parques estaduais em mau estado de conservação, ocupação desordenada dos morros de Porto Alegre, legislação ambiental tratada como empecilho ao progresso.
Por esses e outros motivos, cerca de 200 pessoas entre ambientalistas, estudantes universitários, artistas e simpatizantes à defesa da natureza se reuniram na manhã do sábado, 4 de junho, véspera do Dia do Meio Ambiente. “Nada a comemorar” foi o tema da eata, que saiu do Monumento ao Expedicionário, na Redenção, percorreu o Caminho dos Parques e chegou até o Parcão.
Pode-se dizer que foi um momento marcante para o movimento ecologista gaúcho, pois trouxe de volta a manifestação de rua, coisa que não acontecia desde o final da década de 80, pelo menos nessas proporções.
Outro destaque. A apresentação de uma militância renovada – 90% dos integrantes da marcha eram jovens. Com tambores, apitos, intervenções teatrais, palavras de ordem e cartazes, o grupo parecia um bloco da marcha de abertura do Fórum Social Mundial.
E era saudado pela população nas ruas do Bom Fim, Rio Branco e Moinhos de Vento. Alguns poucos motoristas chiaram pela breve interrupção no trânsito das avenidas José Bonifácio e Osvaldo Aranha, mas não houve incidentes.
O evento foi organizado pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGa), coordenado pelo biólogo Rodrigo Cambará Printes, 33. Ele é remanescente da fase áurea do movimento ambientalista, quando as ONGs estavam sempre nos jornais com protestos e propostas.
“Já estava na hora de resgatar isso. Os ecologistas não podem restringir o trabalho à participação nos conselhos de meio ambiente que não decidem nada!”, radicalizou. Depois emendou. “Claro, tem que estar presente, até porque a legislação é feita nesses fóruns”.
Organizações ecológicas tradicionais, como Agapan e Núcleo Amigos da Terra apoiaram a iniciativa. Militantes mais experientes ficaram satisfeitos. Caso de Arno Kayser, 44. “A última grande manifestação que eu me lembro foi o abraço ao Guaíba, no final da década de 80. É ótimo que estes bons tempos estejam de volta. Fico feliz porque vi filhos de colegas ambientalistas que conheci crianças e agora estão aqui”, comemorou.
A presidente da Agapan, Edi Fonseca, concordou que há muito tempo não acontecia uma ação como esta. “Essa renovação do movimento é muito positiva. E o protesto demonstra, ao mesmo tempo, que muita coisa vai mal na questão do meio ambiente”, apontou.
A jornalista Lillian Dreyer, autora da biografia de José Lutzenberger, caminhava e usava seu apito. Considera que demorou tempo demais para esta retomada de manifestação. O engenheiro José Vilhena, 50, ex-militante do PV, também se encantou com o protesto. “É um movimento ético, que busca a melhoria da sociedade, carente de uma política ambiental”.
“O esgoto venceu, Pró-Guaíba morreu”
Lara Ely
O descaso com o Lago Guaíba foi tema do queixume generalizado na marcha do movimento ambientalista. A estudante de Biologia da UFRGS, Luisa Lokchain, 23, levava o primeiro cartaz, que dizia “Nada a Comemorar”. — Mas o que quer dizer isso?
“É uma lamentação a todo o contexto ambiental. Em Porto Alegre, além da ocupação dos morros, destaco a poluição do Guaíba como problema principal”, explica. Cartazes tratavam do assunto. No burburinho constante, reclamações sobre o fim do Pró-Guaíba. Até que, no meio da avenida José Bonifácio, o grito explodiu e logo ganhou força: “O esgoto venceu! / Pró-Guaíba morreu!”, cantavam os participantes.
Mais faixas de protesto: “Abaixo pinus e eucaliptus”; “Hidrelétricas com processos fraudulentos”. Mais palavras de ordem: “Fraude! / Crime! / Descaso Social! / Não vamos deixar afogar o pinheiral!”. Outros cartazes: “Ocupação imoral dos morros em Porto Alegre”. Mais grita: “No Brasil! / Corrupção! / A natureza em extinção!”.
Servidores da Sema reforçam protesto
Depois do protesto na posse de Mauro Sparta, executivo da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), no final de 2004, os funcionários do órgão voltaram a se manifestar. Desta vez, os técnicos-científicos estão respaldados por trabalhadores da Fepam e da Fundação ZooBotânica, que também assinam o manifesto “Atual gestão ambiental faz mal à saúde do meio ambiente”. Panfletos foram distribuídos para chamar sobre a falta de importância dada aos órgãos ambientais, transformados em “escada política” (JÁ Porto Alegre, junho 2005). O grupo também denuncia o sucateamento da infra-estrutura, salários atrasados, falta de continuidade e de transparência dos órgãos ambientais.
“A Sema está reduzida ao papel de viabilizar o crescimento econômico. A realização de um concurso público é urgente. A falta de pessoal concursado foi preenchida com indicações políticas – cargos de confiança, estagiários ou pessoal terceirizado”, diz o texto. O projeto de desenvolvimento do Governo Rigotto também foi atacado, o que inclui a questão dos transgênicos e os plantios florestais previstos para a Metade Sul. A universitária Anna Milanes explicava, durante o protesto, como as plantações de pinus vão acabar com a biodiversidade local.
Sobrou até para Lula, atacado quando o assunto era Amazônia e energia nuclear. “Quem destrói nosso futuro por aqui / Governo Lula avançando e o FMI”, puxava Olinto Ramos Filho, um dos integrantes mais experientes da marcha.
Artistas fizeram performances ao longo da eata
Ao som de flauta e tambores, rodeado de pessoas vestidas em verde e preto, envolto em faixas de protesto. Assim morreu Ulisses, personagem simbólico criado pelos ambientalistas, que foi enterrado no Parcão. Ele é o protótipo do cidadão moderno que vive na Capital e sofre as conseqüências dos danos causados ao meio ambiente. Morava no Centro, fumava cigarro, comia alimentos transgênicos e com agrotóxicos, tomava café em copo de plástico, respirava a fumaça da Borregard e morreu cansado de esperar uma política pública eficiente para o meio ambiente. Essas foram as razões dadas pelo público para a morte de Ulisses.
Julinho também participou
Outra novidade na eata. O movimento ecológico do tradicional Colégio Júlio de Castilhos, criado na década de 70, foi reaberto em 2005 por alunos do 3º ano do Ensino Médio. Depois de anos inativo, o grupo Kaa-Eté voltou com força – já reúne dezenas de estudantes engajados.
Dois deles carregaram uma das faixas na eata “Nada a Comemorar”, na véspera do Dia do Meio Ambiente. Leandro Silva, 20, e Carolina Bulhões, 16, protestaram contra o descaso com a natureza.
Zé da Terreira animou a eata
Logo no início da marcha, o artista Zé da Terreira, 59, empunhou o microfone no meio da avenida José Bonifácio e literalmente parou o trânsito. “Abaixo os automóveis! Abaixo os atumóveis que poluem a cidade. A cidade tem que ser planejada também para o pedestre!”, dizia. E justificou: “Temos que mudar nossa rota para que eles em diariamente. Hoje eles que esperem nossa agem”, sugeriu, em meio a aplausos entusiasmados.
José Carlos Peixoto – vulgo Zé – animou a eata. Lia o que diziam os cartazes e fazia pregações, no seu discurso antropoecológico, isto é, humanista e em defesa da natureza. “Estou puto com a cidade cheia de grades, com os rotweilers nas ruas, com o Guaíba poluído”, desabafa. “Tenho que viajar para tomar banho em uma lagoa. Enquanto isso, nosso lago está aí, entregue ao esgoto”, protestou.

Vereadores adiam mais uma vez decisão sobre o Plano Diretor 32305v

O país parou para ouvir as acusações do deputado federal Roberto Jefferson (PTB) em 14 de junho. Dois dias depois, a Câmara Municipal de Porto Alegre ainda se ocupava quase que exclusivamente da crise em Brasília.
Os vereadores de oposicão ao governo Lula e ao PT acusavam o Planalto de ter “culpa no cartório”. Os petistas e aliados, por seu turno, defendiam o governo e denunciavam o “golpismo de direita”.
Coube ao experiente vereador João Dib (PP) dar um puxão de orelhas nos colegas. Ele observou que a população espera que a Câmara Municipal ofereça soluções para os problemas da cidade e criticou a falta de quórum durante a sessão plenária, no dia 15, o que fez com que os trabalhos fossem encerrados mais cedo.
“Será que é para isto que o povo nos paga?”, questionou, lembrando que o Legislativo ainda precisa discutir a formação da comissão especial para revisar o Plano Diretor.
A discussao sobre o Plano se arrasta desde o ano ado, sem qualquer perspectiva. O secretário do Planejamento, Isaac Ainhorn (PDT), afirmou que a revisão deveria ser concluída em 2005. Mas até agora não mandou os projetos de lei que prometeu enviar a partir de abril. Entre eles está o que trata das áreas especiais de interesse cultural e da revisão das alturas das edificações e dos índices construtivos.
Os vereadores, ao invés de fiscalizar a Prefeitura e cobrar os projetos, se omitem. O presidente da Câmara Municipal, Elói Guimarães, garantiu que se esforçaria para implantar a Comissão do Plano Diretor o quanto antes. Mas na metade do ano, o tema não entrou na pauta dos legisladores. O assunto só é discutido por iniciativa dos moradores, que ocupam a Tribuna Popular para pedir providências quanto às distorcoes introduzidas no Plano.
Enquanto isso, no mesmo dia 16 de junho em que João Dib chamou a atenção dos colegas, foram aprovados quatro projetos instituindo premiações a serem concedidas na Câmara, como o “Prêmio Leonel Brizola de Ética Política”.
Outros três projetos aprovaram o nome para uma rua, para um terminal de ônibus, e para o complexo cultural Porto Seco. Teve um legislador que vibrou com o sinal verde para a instalação de um busto numa praça.
Mais três projetos instituíram um dia para determinado tema (como o dia da Grécia), e a inclusão da Festa do Ridículo no Calendário de Eventos Oficiais de Porto Alegre.
Ainda no dia 16, dois projetos de lei entraram em discussão. Um deles inclui no calendário de eventos oficiais de Porto Alegre o Mix Bazaar. Outro de autoria da vereadora Mônica Leal (PP), concede o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao ex-vereador Pedro Américo Leal, pai da parlamentar.
Ou seja, pelo andar da carruagem, ainda em 2005, diversas ruas da cidade vão ganhar nome. Vários habitantes da Capital irão receber o título de Cidadão de Porto Alegre, mas o município vai continuar sem concluir a revisão de seu criticado e ainda incompleto Plano Diretor.

RBS investe contra jornais de bairro 2x6x5y

Uma mensagem do Departamento Comercial da Zero Hora está chegando às agências de propaganda de Porto Alegre anunciando o lançamento de quatro jornais de bairro, dia 5 de agosto. Bom Fim, Moinhos de Vento, Bela Vista e Zona Sul são as áreas visadas.
Os jornais de bairro serão encartados nos exemplares de s de Zero Hora nestas regiões, mas estarão também a venda nas bancas e terão distribuição gratuita em “pontos estratégicos”. A cada semana circula um dos jornais, sempre às sextas-feiras.
Esta é a segunda tentativa que Zero Hora faz, seguindo o modelo de O Globo no Rio de Janeiro, para ocupar também o espaço do jornalismo comunitário.
Na primeira, em 1992, lançou também quatro cadernos regionais. A experiência durou menos de três anos e foi um fracasso. Os cadernos foram suspensos em 1995, pelo então diretor de redação Augusto Nunes.
O cronograma do relançamento é o seguinte:
– 5 de agosto: Bom Fim (+ Santana e parte de Rio Branco) ;
– 12 de agosto: Moinhos de Vento (+ Auxiliadora, Independencia, Floresta e parte de Rio Branco);
– 19 de agosto: Bela Vista (+ Mont Serrat, Tres Figueiras e Boa Vista);
– 26 de agosto: Zona Sul (Ipanema, Tristeza, Setimo Ceu, Assunção, Vila Conceição).
A Associação dos Jornais de Bairro de Porto Alegre planeja lançar nos próximos dias um manifesto denunciando a “ação predatória de uma grande empresa, contra os pequenos empreendimentos de jornalismo comunitário”.

Cardume de invencionices 2u6z39

Há seis ou oito anos, no bar da Feira do Livro, ali ao lado do Museu de Artes do Rio Grande do Sul, na Praça da Alfândega, tive a honra de compartilhar de uma mesa, onde se reuniam, em alarido juvenil, o Walter Galvani, o Cídio Salatino e o Rivadávia de Souza, o nego Riva, para os mais íntimos.
Um pouco antes, a Editora Sulina havia publicado as memórias do Rivadávia de Souza, que li avidamente, surpreso com a vida multifacetada do seu autor, reconstruída, pela memória, desde os seus tempos de guri, em Uruguaiana. Ali, ao redor da mesa, envolvida pela agitação feérica da noite, eu olhava para o Rivadávia e lembrava as agens mais encantadoras de suas memórias, que deveriam ser leitura obrigatória para os jornalistas gaúchos, entre os quais ele disputava o primeiríssimo lugar.
Acompanhado pelo amigo e fiel escudeiro Cídio Salatino e pela esposa, uma espanhola de alma libertária, que conheceu em Paris, após a Segunda Guerra Mundial, Rivadávia, já entrado em anos, mas com a memória faiscante, me contou ter sido o autor da primeira entrevista publicada na imprensa gaúcha com o Lupicínio Rodrigues.
Mais tarde, quando ele e a esposa já haviam voltado para Brasília, onde moravam, me mandou um cartão agradecendo os comentários elogiosos que fiz a respeito do seu livro de memórias. Foi, na verdade, o último contato que tive com o Rivadávia de Souza, que faleceu em Brasília, deixando na saudade uma legião de amigos.
Pois, há duas semanas, reencontrei o Rivadávia de Souza num sebo da rua Riachuelo, espargindo simpatia, ao lado do presidente Getúlio Vargas, na capa do seu livro, intitulado “Botando os Pingos nos Is – As Inverdades nas Memórias de Samuel Wainer”. Os pingos nos is, colocados por Rivadávia de Souza, nasceram da sua indignação ao ler “Minha Razão de Viver”, contendo as memórias de Wainer, organizadas e editadas pelo jornalista Augusto Nunes.
Rivadávia de Souza
Defensor incansável do jornalismo íntegro, a serviço da verdade, Rivadávia de Souza fez questão de escrever o livro para esclarecer erros imperdoáveis de informação contidos nas memórias. Editado pela Record e publicado em 1989, o livro de Rivadávia de Souza é um manancial de informações preciosas a respeito dos bastidores da política brasileira contemporânea, que ele conheceu como poucos, na condição de repórter e, mais tarde, de amigo e assessor de imprensa do presidente Vargas, após a eleição de 1950.
A seriedade com que Rivadávia de Souza encarou a profissão de jornalista não permitiu que ele silenciasse diante dos escorregões do ego inflado de Wainer. Não se conhece na história do jornalismo brasileiro obra tão demolidora, realizada com o único propósito de restabelecer a verdade dos fatos contados e imaginados.
Algumas invencionices do Samuel Wainer receberam tratamento de choque. Afinal de contas, segundo Rivadávia de Souza, as memórias do criador da Última Hora contém “um cardume de invencionices, que pulam e pululam no seu leito”. Eu gostaria de conhecer a opinião do Augusto Nunes a respeito do livro do Rivadávia de Souza. Sempre há tempo para servir à verdade. E, acima de tudo, sempre há tempo para impedir que a história se misture com a ficção.

Relho e Palmatória 69409

O idioma nacional, que herdamos de Portugal compulsoriamente, sem direito de escolha, é um milagre de sobrevivência em razão dos assassinatos diários de que é vítima. E a origem dos assassinos não está apenas nas camadas populares, que mal tiveram tempo para adentrar as salas de aula. Muita gente boa, que freqüentou a universidade e ostenta o diploma no lugar mais visível do escritório, deve ser processada e julgada por ass diariamente o idioma nacional. Incluem-se no grupo de celerados até mesmo jornalistas de razoável prestígio, que escrevem mal, numa incompatibilidade visceral com a grafia e a gramática. Nem perco meu tempo referindo um grande número de políticos, eleitos com expressiva votação, que jamais se arriscaram na travessia das páginas de um livro, com medo de cair de quatro e não levantar mais. A verdade é que o idioma pátrio vive numa situação da mais absoluta orfandade, sem que se note qualquer mobilização da sociedade para defendê-lo. A anarquia tomou conta do pedaço. Só para que os amigos tenham uma idéia. Há poucos dias, faixa colocada na frente de uma loja na Azenha anunciava uma “enchurrada de bons preços”, assim mesmo como o amigo está lendo. E, ao que consta, ninguém foi preso. Nem o celerado que pintou a faixa, nem o proprietário da loja que consentiu na exposição daquela barbaridade. Uma enxurrada de injúrias é o que esses caras merecem. Explico porque o assunto está me cutucando com vara curta. É que a Associação dos Magistrados Brasileiros acaba de organizar um comitê, objetivando desencadear uma cruzada simplificadora da linguagem usada no cotidiano por juízes, promotores e advogados. Nada contra. A linguagem rebuscada e o latinório que alguns profissionais da área do direito usam no trato com pessoas simples resulta da mais antipática ostentação erudita, com a finalidade de humilhar nossos semelhantes iletrados. Mas eu gostaria de ver em ação grupos que se dispusessem a defender o idioma nacional da sanha dos seus agressores. E que esses grupos não ficassem confinados aos salões das academias e universidades. Que saíssem às ruas, com relhos e palmatórias, para castigar severamente a enxurrada de inimigos declarados do idioma nacional que, na fala cotidiana ou na escrita, praticam horrores pérfidos, com o objetivo consciente ou inconsciente de fazer com que o finado Camões se revolva na tumba. Só não me candidato para integrar ao menos um desses grupos porque minhas mãos não têm experiência no uso do relho e da palmatória.

Os Heróis estão fatigados… 6o1c45

Fernando de Oliveira Coutinho, Juiz Corregedor aposentado
15ª. Região T.R.T São Paulo

Nada melhor para retratar a atual situação do que a produção, na França, do filme de Yves Montand, no início da década de 1950, denominado “Os heróis estão fatigados…” De igual forma como participei do Primeiro Congresso da Paz, em dezembro de 1952, em Viena, quando proclamávamos:
“Por mais paradoxal que se nos afigure, aqui estamos nós reunidos, em seção preparatória de um Congresso Mundial da Paz, a fim de soltarmos o nosso grito de guerra. Grito de guerra contra todos aqueles que se quedam mudos e imíveis diante do soluçar da dor da humanidade sofredora. Em terras longínquas, mas a nós irmanadas por sentimentos de solidariedade humana, corre sangue inocente e culpado. É necessário sustar-se a medonha carnificina que, em colheita horrenda, nos leva vidas humanas. É necessário por um fim aos vendilhões da dignidade humana. Não se pode mais tolerar os céticos e apáticos. Não se pode mais itir torres de marfim onde se escondem apavorados os covardes, egoístas e indiferentes de todas as castas.
O sangue que hoje corre, amanhã correrá com maior intensidade. E o que eram partículas ficarão gotas, o que eram gotas transformar-se-ão em riachos, os riachos em rios, rios em maré e, dia haverá que seus vagalhões atingirão as mais altas torres de marfim. Nada permanecerá íntegro. A pestilência da guerra atingirá os mais recônditos esconderijos e não haverá máscara que os proteja, a não ser a derradeira máscara da morte. É necessário que nosso grito de guerra penetre através das “cortinas de ouro” onde se acastelam os “profiteurs” da guerra. E, a cada um, o povo julgará conforme seu caminho.
E o nosso grito de guerra é um cântico de Paz. E a nossa caminhada, como a dos deuses, fecundará o deserto. Porque a união e a fé divinizam o Homem.
É o grito que sai das entranhas da mãe por ver, desde cedo, na fisionomia do filho, estampada a morte inglória. É o grito de Paz do pai, que percebe e vê refletido em seu próprio filho, o destino de morrer. É o grito de Paz da noiva, que desvenda no olhar do prometido a inutilidade de construir um lar que perecerá em virtude de guerra odiosa. É o grito lancinante do infante que não quer morrer assim, dessa forma assim… É o grito gemente da criança que, ao primeiro raciocínio, percebe seu trágico destino, ditado por mercadores. É o grito do militar, do magistrado, do sacerdote, do intelectual, do tecelão, que a par do tecido, tece a grandeza da pátria, do ferroviário, que percorre em suas máquinas todos os rincões do país, do marinheiro que sulca todos os mares, do sacrificado mineiro, do aviador, que percorre céus livres e não quer tombar em inútil holocausto, dos camponeses que regam a terra que não é sua, com seu suor que é muito seu.
É o grito de Paz de toda multidão que sofre e trabalha e não quer morrer por um ideal que não comunga, qual seja, o de amealhar dinheiro recolhido às arcas de poucos com os sacrifícios de muitos. Não desejamos mais: Suor – Lágrimas – Sangue. Queremos Paz – Trabalho – Fraternidade. E o nosso grito de Paz ecoará por terras e mares, céus e subsolos, porque é mais poderoso que as bombas atômicas e hidrogênicas. Mais poderoso que todos os artifícios de guerra, porque é o grito que parte da vontade soberana e indomável do homem que sabe e quer escolher seu próprio destino. É o grito de Paz definitiva. Queremos viver e produzir. Amar e ser amados. Queremos o direito que a nossa dignidade humana exige: o direito de viver! O direito de saber porque e por quem morremos. E eu vos afirmo que a Paz não somente deve ser salva. Eu vos afirmo que a Paz não somente pode ser salva. Eu vos afirmo que a Paz há de ser salva, haja o que houver, custe o que custar, porque essa é a nossa vontade.”
Naqueles idos estava em guerra a Coréia, guerra que durou de 1950 a 1953, e por pressão mundial, terminou com a divisão daquela nação em Coréia do Norte e do Sul e cuja fronteira foi delimitada pelo chamado paralelo 37. Em 1954 a luta argelina por sua auto-determinação. As maiores barbaridades então ocorreram com crimes terríveis cometidos por ses e argelinos, como o corte de mãos, a castração e a decapitação. Nada mais atual. Mudou o palco, outros são os participantes. A colheita ceifadora prossegue em sua faina de exterminar a vida humana. A morte, em si, é uma verdade universal. O homem originou-se do pó e ao pó retornará. O assalto à moda do “gangsterismo” operou-se no Iraque. Colocaram uma cangalha na mocidade norte americana e de cambulhada foi enviada ao matadouro. O assalto ao Iraque se estriba no tripé: ganância, ambição e megalomania “sherifiana”.
A base é lastreada em mentira deslavada e hipocrisia despudorada.
O sr. Bush, como chefe da nação norte americana, ao enviar sua juventude para uma morte inglória, heróis sem causa, diuturnamente se transforma em um filhicídio, fratricídio e resvala pelas fronteiras do genocídio.
Os heróis estão fatigados… não querem tombar vítimas de uma bala certeira ou estilhaçados. Não querem cair com os braços abertos em forma de cruz ou serem mortos como animais caçados. A boca aberta, os olhos escancarados, o sangue a jorrar. Querem a Vida que é deles. Muito deles. Só deles!
É hora de parar. Há tempo de guerra. Há tempo de Paz! Bem compreendeu a Espanha, que em sua sabedoria retirou em tempo seus filhos. Os heróis estão fatigados… começam a entender que foram enganados. Sabem que são reféns dos senhores da guerra. Se apercebem que se não forem mortos, retornarão estropiados, mutilados, aleijados, paraplégicos, recauchutados, em frangalhos. Ao retornarem, serão atirados no lixo, como é usual. Os heróis estão fatigados… em tempo compreenderam que não se implanta a democracia como quem planta batatas. Que a ceifadora é sedenta de sangue e é cega na escolha. Os heróis estão fatigados… em suas mentes começam a ressoar as palavras do poeta “Sou sempre o mesmo, o último e primeiro, assim que cresço e fico moço, morro!” E ao cair da noite sonham.
“Eu quero arar os campos para o trigo, quero vigiar os rebanhos nas encostas, cantar nos estaleiros e altos fornos. Mas me arrancam das aulas e dos teares. E me atiram no lodo das trincheiras. Não adianta chorar Malamatemia! Corta as entranhas, para que eu não nasça”.
Sr. Bush, não queira ar para a história com o cognome Mr. Butcher, que como carniceiro bem lhe assenta. Não ouse se travestir em novo Polifemo e queira prosseguir com sua manopla triturando companheiros e seres humanos. Novos Ulisses surgirão e os papéis se inverterão. Não queira em sua lápide o epitáfio “aqui jaz um fratricida universal”. Cessa enquanto é tempo. Os heróis estão fatigados… e quando fatigados se tornam uma tsunami humana com efeito devastador e imprevisível.
Os heróis estão fatigados… que se veja em todos os sites, em todos os quadrantes da terra, as palavras imorredouras de Bilac:
“Nunca morrer assim; nunca morrer num dia assim; de um sol assim!”

Exclusivo: a verdade sobre o Plano Diretor 6i3z2k

Guilherme Kolling
O Plano Diretor de Porto Alegre completou cinco anos em 27 de março. Quem poderia comemorar preferiu ficar quieto, porque o clima não está para festa.
“O princípio que orientou o Plano foi deturpado”, diz o arquiteto argentino Rubén Pesci, que foi consultor especial da equipe que formulou o Plano Diretor, que ou a ser a constituição da cidade a partir do ano 2000.
O Plano que era avançado e previa um desenvolvimento harmônico da cidade não saiu do papel. Apenas a parte que se referia à construção foi posta em prática.
A principal consequência dessa distorção os porto-alegrenses já “sentem na pele”: a proliferação de novos edifícios em bairros consolidados como Moinhos de Vento, Petrópolis, Bela Vista, Rio Branco e Menino Deus.
Há dois anos os moradores se deram conta da acelerada substituição de casas por espigões e reagiram. A mobilização começou no Moinhos de Vento, onde os antigos casarões que dão identidade ao bairro começaram a ser derrubados. Hoje, sob a sigla “Porto Alegre Vive”, o movimento envolve quase vinte associações comunitárias que querem corrigir o que consideram “distorções do Plano”.
O alvo principal da campanha dos moradores é a questão das alturas. Eles querem retroagir, diminuir o tamanho, baixar os índices construtivos (o que é previsto no Plano) e colocar em prática a proteção do patrimônio histórico e do ambiente natural.
Os empresários, por outro lado, trabalham para manter a conquista que obtiveram depois de oito anos (1993-2000) de trabalho. O que a discussão de hoje evidencia é a forma como foi feito o Plano Diretor de Porto Alegre. Não houve equilíbrio de forças. A população não foi informada e, portanto, não estava lá.
Por outro lado, o setor da construção civil esteve presente. “O Sinduscon participou de todas as reuniões ao longo desses anos. Até nos locais mais longínquos eles estavam. E para fazer o seu papel: construir mais e mais alto”, revela Newton Burmeister, secretário do Planejamento que conduziu a avaliação da Plano de 1979 e a criação da nova lei.
Além de Burmeister, o JÁ ouviu outro protagonista da elaboração do Plano Diretor: Rubén Pesci, o arquiteto argentino que deu consultoria à Prefeitura da Capital. Eles se pronunciaram depois de cinco anos de silêncio. A seguir, duas entrevistas exclusivas, que revelam como foi feito o Plano Diretor e por que não está saindo como planejado.
As sete estratégias para a cidade
O Plano Diretor de Desenvolviemento Urbano Ambiental é composto por sete estratégias, que têm os seguintes objetivos:

Estruturação Urbana
Promover a estruturação do espaço na cidade e a integração metropolitana;

Mobilidade Urbana
Qualificar a circulação e o transporte urbano, proporcionando os deslocamentos na cidade e atendendo às distintas necessidades da população;
Uso do Solo Privado
Disciplinar e ordenar a ocupação do solo privado, através dos instrumentos de regulação que definem a distribuição espacial das atividades, a densificação e a configuração da paisagem urbana no que se refere à edificação e ao parcelamento do solo;

Qualificação Ambiental
Qualificar o território municipal, através da valorização do Patrimônio Ambiental, promovendo suas potencialidades e garantindo sua perpetuação e a superação dos conflitos referentes à poluição e degradação do meio ambiente, saneamento e desperdício energético;
Promoção Econômica
Estabelecer políticas que busquem a dinamização da economia da cidade, a melhoria da qualidade de vida e a qualificação da cidadania, através de ações diretas com a comunidade e com os setores produtivos, assim como a articulação com outras esferas de poder;
Produção da Cidade
Capacitar o Município para a promoção do seu desenvolvimento através de um conjunto de ações políticas e instrumentos de gerenciamento do solo urbano que envolvem a diversidade dos agentes produtores da cidade e incorporam as oportunidades empresariais aos interesses do desenvolvimento urbano como um todo.
Sistema de Planejamento
Garantir um planejamento dinâmico e contínuo, que articule as políticas da istração municipal com os diversos interesses da sociedade, promovendo instrumentos para o monitoramento do desenvolvimento urbano.
O que mudou nas alturas dos prédios
As mudanças nas alturas máximas das edificações ocorreram em dois momentos distintos. Em 1987, o prefeito Alceu Collares promoveu alterações nas áreas próximas a grandes avenidas. O atual Plano, por sua vez, aumentou o limite da estatura das edificações no interior dos bairros, em 1999, quando a igualou a das áreas de entorno das grandes avenidas.

“O Plano mudou na Câmara”

Desde que se afastou da Secretaria do Planejamento, ao final da gestão de Raul Pont, o arquiteto e urbanista Newton Burmeister, 67, não se pronunciou mais sobre Plano Diretor.
Ele não participou, por exemplo, de nenhuma das reuniões de avaliação da lei, que ocorreram a partir de 2003 e que seguem até hoje. Relutou para falar no assunto.
“Mas eu nem estou mais envolvido com isso, porque vocês querem me ouvir?”, questionou, ao ser sondado pelo JÁ. Depois de certa insistência, aceitou romper o silêncio, que já durava cinco anos.
“Não estou participando porque quero um distanciamento para poder dar uma contribuição melhor. Se entrasse no debate agora, iria defender o meu trabalho”, justificou.
Ele itiu que continua acompanhando o assunto – reuniu em uma peça de sua casa centenas de anotações e documentos –, pretende escrever sobre o tema.
Autoridade para isso ele tem. Burmeister foi secretário de Obras na gestão de Olívio Dutra (1989-1992) e do Planejamento, com Tarso Genro (1993-1996) e Pont (1997-2000), o que significa dizer que acompanhou todo o processo de elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA).
Ele recebeu o JÁ, em 28 de março, na sua residência, na Três Figueiras, para uma conversa de pouco mais de uma hora. Ao final, confessou: “Fazia tempo que eu não falava desses assuntos”.
Como começou a discussão do novo Plano Diretor?
Era a reavaliação do Plano Diretor de 1979, que depois ou a ser a proposta de um novo Plano. Eu istrei essa discussão, que começou na gestão do Tarso (Genro). O grande ime foi estabelecer uma metodologia. Tivemos contatos com diversos grupos locais, faculdades de arquitetura. Depois com a FLACAN (Fórum Latino-Americano de Ciências Ambientais), através do (arquiteto argentino Rubén) Pesci e seu grupo. Isso ocorreu pela quantidade de profissionais da própria Secretaria do Planejamento que tinham feito cursos de metodologia, de pós-graduação lá na Argentina. O grupo do Rubén Pesci tinha experiência em método para avaliação, discussão e proposição de Planos Diretores. Eles têm nome internacional, por trabalhos na Argentina, América Latina, Espanha e Itália.
O resultado foi um Plano elogiado no papel. Mas se diz que só a parte construtiva foi posta em prática.
É uma característica geral da aplicação de Planos Diretores. Eles devem trazer uma visão propositiva para uma estratégia de desenvolvimento da cidade. Todavia, a nossa estrutura do poder público sempre deu muito mais ênfase para a questão da ocupação do lote urbano. O novo Plano Diretor tentou assegurar que além de as secretarias desenvolverem seus aspectos cotidianos, de manutenção, conservação, elas tivessem representação dentro do Conselho do Plano Diretor, para acompanhar, corrigir, reavaliar as questões que envolvem o desenvolvimento estratégico da cidade. Mas essas estruturas tecno-burocráticas têm uma cultura muito forte de só cuidar de como se edifica na cidade: taxa de ocupação do terreno, afastamento, altura, etc. Elas desdobram pouca coisa além disso. Nas secretarias de Obras e de Planejamento existe uma grande quantidade de técnicos muito bons, capacitados, aptos, mas que ficaram dentro das camisas-de-força do “construir”. É a cultura de cuidar só de como se constrói na cidade, que não é a coisa mais importante. Perde-se muita massa crítica fazendo coisas menores, quando poderia se usar ela na questão do pensamento estratégico da cidade.
E a participação da população no Plano?
Houve muita falta de informação. Hoje, lendo o noticiário, vejo manifestações até de pessoas que estão no atual governo e que nunca apareceram nas centenas de debates sobre o Plano Diretor. Nunca! E, de repente, aparece o cara e acha que o negócio está mal. Algumas estruturas estão sendo acionadas hoje, na continuidade da discussão do desenvolvimento urbano: as 16 regiões do Orçamento Participativo e as 8 dos Fóruns de Planejamento. Isso criou uma base que está sendo utilizada, não existia antes. Então, há os que criticam essas situações mas que utilizam as estruturas que o novo Plano propôs. Agora, um Plano Diretor não é impositivo, mas sim um plano de diretrizes, de ação permanente, de avaliação periódica. E se as pessoas acham que as coisas que foram propostas não são boas, é preciso ver isso sob a ótica do que a sociedade está dizendo, os moradores, as estruturas organizadas, etc. Tem que dizer não está bom.

Mas o Plano não a a ser impositivo, na medida em que dezenas de associações, organizadas, representativas, dizem, desde 2003, que não estão de acordo, por exemplo, com a verticalização e densificação da área central, e não conseguem mudar isso?
O Plano define alguns parâmetros, a partir de informações, características da cidade, pela qual ela foi construída, dividida, e joga isso para dentro do espacial. São situações baseadas na experiência dessa própria cultura interna do Município, na experiência de pessoas bastante vivenciadas. Claro que nessas coisas tem disputas. O Sinduscon esteve permanentemente dentro de todos os grupos de trabalho, de todas as comissões, nunca se omitiu das reuniões, nem das que eram lá nos confins da cidade. Estiveram lá e tinham sua estratégia, seus objetivos, legítimos. Qual é a posição do Sinduscon? Eu quero construir mais, mais alto, etc. O que alguns setores faziam? Não, não pode ser tanto assim, tem que manter situações, etc. Mas acontece é que o Plano Diretor é montado, depois é feito um projeto de lei que é mandado para a Câmara. E a Câmara tem outra sensibilidade.
O Plano mudou na Câmara?
Mudou na Câmara.
O quê?
Mudou a altura, afastamentos. E veja: continua na discussão do “construir”. As visões estratégicas da cidade sequer transitaram lá, não teve discussão. Agora, quando chegou na questão da altura, da taxa de ocupação, do índice de aproveitamento… A Câmara tem outras sensibilidades, outros canais de comunicações, que não são os que a estrutura que concebeu o Plano tinha. Ali as partes interessadas falam direto com os vereadores. E havia ainda, felizmente, a equipe técnica da Câmara, mas que não estava lá com a visão dos grupos que estavam discutindo fora. As informações foram gestionadas no âmbito da Câmara. E o processo legal, democrático, é esse. É feito um projeto de lei, que se acredita, é o melhor que o Executivo pode propor para a cidade, ouvindo os grupos envolvidos. Agora, quando entra para a Câmara, entra para a Câmara. E essas situações foram muito fortemente contestadas, especialmente a questão de alturas. Na proposta original, eram praticamente mantidos os mesmos padrões de alturas existentes no Plano Diretor. Houve uma pequena mudança de taxa de ocupação e de afastamento – ou de 1/20 para uma outra fraçãozinha que aumentava mais 50cm, algo assim… As partes interessadas nesse processo disputavam o centavo.

E antes da Câmara, a população estava alheia ou houve embate?
Essa situação apareceu na Três Figueiras, por causa do Projeto Hermes, que foi aprovado na legislação anterior. Houve algumas mobilizações, até com contrariedades pessoais ao projeto, alegando que aquelas edificações no terreno no Projeto Hermes iriam comprometer o bairro Três Figueiras como um todo.

Foi um caso isolado? Houve outras queixas sobre alturas?
Isso não apareceu nos debates feitos nas diversas regiões. Essa situação que tem a ver com a altura das edificações, e nada mais, não apareceu. Apareceu em algumas disputas. O Sinduscon reivindicou mais altura, trazendo técnicos e provando argumentos sobre esse aspecto. E os dois pólos se conformaram com o acordo que foi feito.
Mas as lideranças comunitárias só se deram conta quando sentiram na pele o efeito. O Moinhos Vive, por exemplo, só surgiu no final de 2002.
Mas aí é outra coisa, trata-se de manter a identidade do bairro. O que é o Moinhos de Vento? É um bairro que foi estruturado nos anos 1940, 50, 60, com casas unifamiliares de muito bom nível, como havia também na Carlos Gomes. Residências que desfrutavam das melhores condições de localização na cidade. É o caso do Petrópolis, Rio Branco, Bela Vista, todos com essas características. O que aconteceu? As famílias que se estabeleceram nos anos 50, 60, faziam casas com 4 quartos. Aí a família cresce, um se casa, outro se casa… e a residência fica de herança. Ela deixa de ser a casa unifamiliar e a ser uma herança, cujo regime urbanístico anterior previa a possibilidade de se construir um edifício. Chega um cara e propõe: “Eu compro essa casa, construo um edifício e te dou apartamentos”. Essa situação não apareceu agora, ela vem da cultura do desenvolvimento da cidade.
Mas esse exemplo foi a regra?
A cidade disponibiliza infra-estrutura, que é cara. Então, tem-se que jogar com o potencial de densidade que ela assimila. Numa quadra que permitia fazer 50, 60 unidades, ou a existir um potencial de aproveitamento da infra-estrutura existente, do sistema viário, da iluminação, energia, água, esgoto, que possibilitava uma densificação maior.
Isso já era possível, não foi mudado pelo Plano Diretor?
Já era, sim. O que aconteceu nesses períodos, na sucessão dos diversos planos existentes, e nas suas readequações, foi o aproveitamento das infra-estruturas que possibilitavam aumentar as densidades, o que significa construir em altura. Isso foi apresentado por um professor da UFRGS nos debates do Plano, fazendo com que as pessoas entendessem o porquê da densificação. Agora, não dá para congelar um bairro pura e simplesmente para manter a sua paisagem, porque é uma deseconomia para a cidade. E Porto Alegre teve aumentos consideráveis de população a partir dos anos 60. Nós dobramos a população de 1960 para 2005. Isso significa que temos que organizar o espaço urbano para que ele assimile esse crescimento da população.
O conflito entre essa idéia de aproveitar a infra-estrutura e o desejo de manter as características do bairro não seria atenuado se as outras estratégias fossem implementadas, como a qualificação ambiental, a proteção do patrimônio histórico… Mas todas essas questões foram abordadas no conjunto.
Mas não saíram do papel.
São diretrizes para o desenvolvimento urbano.
Não implantadas. A Zona Sul, por exemplo, está sendo preservada?
A Zona Sul tem uma característica extremamente peculiar. Tanto que surgiu nesse novo Plano o chamado espaço Rururbano, que é uma característica de desenvolvimento sustentado que se busca para esse região, identificando nele a questão de paisagem. Isso está muito bem explicitado no Atlas Ambiental de Porto Alegre, foi muito bem caracterizado.
Bem caracterizado no mapa. Mas está protegido por lei?
O mapa é uma espacialização de intenções. Agora para isso acontecer, providências devem ser tomadas pelo Poder Executivo, pelas associações comunitárias. Porque a gestão desse Plano não é exclusiva do Executivo, é uma gestão dos Fóruns das Regiões de Planejamento, que tem essa capilaridade, permite que o morador informe que há ocupação em áreas de valor ambiental, situações como esses novos tipos de condomínios que vem sendo construídos…

Há queixa que esses condomínios estão mudando a chamada Cidade Jardim.
São situações sobre as quais se tem determinado controle, mas não controle absoluto. Define-se a densidade, o tamanho de área… Eu me criei na Vila Assunção. Quando me mudei eu dizia: “meu Deus!, mas isso é lá no fim do mundo”. O bairro onde eu moro hoje, o Três Figueiras, em 1960 era um lugar em que se vinha fazer piquenique, era a Chácara do seu Müller. Então a cidade tem essa característica dinâmica. Temos que entender isso. Não se pode avaliar a cidade de 2002 para 2003, ela tem que ser medida em décadas.
E nessa meia década de Plano. Já dá para sentir algum efeito?
Ele aparece preliminarmente nas edificações. Primeiro porque o plano estratégico da descentralização é mais demorado. O Plano anterior tinha duas décadas de implementação e subsidiou essa nova proposta com aquilo que ele previa, tanto o que ocorreu como o que ele previa e não ocorreu. Aí dá para fazer uma avaliação crítica, sólida. Agora, quando se aprova um Plano em 2000, e em 2003 se diz que ele não está bom, analisando só a questão da edificação, é um equivoco. É um desenfoque do caráter estratégico que tem um Plano Diretor.
Mas se analisa só a construção porque o resto não saiu do papel.
Bom, mas isso são ações estratégicas que devem ser implementadas, o que requer ações de implantação e consolidação paulatinas. Tem que haver insistência em manter aquela diretriz, porque caso o contrário, o Plano corre o risco de se esvair. As pessoas esquecem, fica a letra morta da lei. Os corredores de centralidade tem que ser insistentemente buscados.

E o plano viário do cidade?
As diretrizes são boas, mas tem que existir uma ação articulada das secretarias. Não pode só a Secretaria do Planejamento ser a responsável por isso. Ela tem que se articular com Smam, EPTC, Smic. E também os serviços de infra-estrutura, Smov, DEP, Dmae, eles devem estar presentes porque têm as medidas do que existe e das necessidades. A questão do sistema viário é importante, também porque é um fator indutor de novas centralidades. Por exemplo, o corredor Anita-Nilo alcança as bordas da cidade, para o lado do Parque Chico Mendes.
Mas isso é para muitos anos…
Tem que começar assim. Porque se essa perspectiva for analisada a curto prazo, não se realiza. Tem que ser ações estratégicas, porque senão am a ser ações momentosas, de uma ansiedade precipitada. O planejador tem que relativizar o tempo. Existem coisas que acontecem em longo prazo. A Terceira Perimetral, por exemplo, foi concebida em 1959 e consolidada em 1963. E se realizou 40 anos depois. Esse percurso de 12km, seria impossível se não fossem tomadas providências de afastamento, deixar disponíveis terrenos para fazer a via. Seria impossível pelos valores de desapropriação, que a cidade não seria capaz de pagar. São situações que podem vir a ocorrer daqui 30, 40 anos. São gerações que precisam ser articuladas, mobilizadas, convencidas, e que devem estar informadas. Essa ação que vocês (Jornal JÁ) estão fazendo agora, de informar, publicar, antecipar o debate, fazer as pessoas pensarem no assunto, é de grande valia, é extremamente útil para a cidade, porque só através desses meios as pessoas podem se mobilizar, se interessar e participar dessas estruturas de planejamento.
Rubén Pesci: “O princípio do projeto foi deturpado”

A experiência internacional do arquiteto argentino Rubén Pesci, 62, chamou a atenção da Prefeitura de Porto Alegre, que o convidou para dar consultoria aos técnicos que fariam o novo Plano Diretor da cidade. Foram seis meses de trabalho, de março a outubro de 1996. Vários profissionais da Secretaria de Planejamento tinham feito cursos de pós-graduação na FLACAM (Fórum Latino-americano de Ciências Ambientais), dirigido por Pesci.

Autor de Planos Diretores e de Gestão Ambiental de várias cidades do mundo, o trabalho do argentino tem uma preocupação com a área ambiental – ele criou em 1974 a Fundação CEPA (Centro de Estudos e Projetos Ambientais).
Pesci está apavorado com a destruição do ambiente em Porto Alegre, especialmente na Zona Sul. Ele diagnostica: “O Plano só foi implantado na parte que trata das edificações. E teve alterações na Câmara, que o tornaram mais conservador, com índices de aproveitamento máximos”.
Mas para o arquiteto, o principal problema foi a falta de informação, tanto dentro do governo quanto na população. A idéia de adequar o Plano ao interesse da comunidade foi esquecida.
Rubén Pesci esteve em Porto Alegre em janeiro, para participar do Fórum Social Mundial. Foi quando deu essa entrevista exclusiva para o Jornal JÁ.

Que tipo de assessoria vocês prestaram ao Plano Diretor de Porto Alegre?
Foi um trabalho feito pela Fundação CEPA da Argentina, solicitado pela Prefeitura de Porto Alegre, porque já conhecíamos muitos dos funcionários e o Secretário de Planejamento da época. Já havia todo um relacionamento. Então fomos chamados para fazer a Coordenação Metodológica e o Enfoque Conceitual.
E quanto tempo durou este trabalho?
Seis meses, de março à outubro de 1996. Depois nos chamaram novamente para capacitar o pessoal técnico e desenvolver alguns projetos integrados.
E o que aconteceu entre a concepção e a prática?
A Câmara de Vereadores fez algumas modificações que no princípio não nos pareceram muito preocupantes, o problema foi que só discutiam um aspecto do Plano, a questão das edificações, deixando de lado os outros seis: os corredores de centralidade, os espaços abertos (para lazer e convívio social), a questão ambiental, o saneamento, a modificação do sistema de transporte e trânsito, o desenvolvimento econômico e social (moradias). Quando o Plano finalmente foi aprovado em 2000, imaginei que tudo fosse possível e que as modificações na estratégia de aproveitamento do solo não fossem tão graves. O problema começou depois.
O que aconteceu?
Aí começamos a ter solicitações da população, chegamos a fazer um ciclo de conferências de dois dias na Sociedade de Engenharia com a participação de arquitetos, do Sinduscon, vereadores e moradores. Então começamos a ver que as estratégias de Desenvolvimento Sustentável não estavam sendo aplicadas, pequenas coisas como alargamento de vias e altura de prédios, não vinham sendo respeitadas, o que causava enormes brigas.
E que tipo de interesse travou isso?
Quanto a isso tenho que ser muito prudente, porque na verdade, não sei. O que acho à princípio, é que não foi bem divulgada a essência do Plano, coisa que advertimos desde o início. O principal problema foi a falta de informação sobre o Plano tanto dentro do governo quanto para a comunidade.

Foi na Câmara de Vereadores que ele sofreu modificações?
Eu não segui o processo na Câmara. Sei que uma quantidade enorme de assessores foram consultados, não sei se houve algum interesse político-partidário. Sei que aquilo que era um Plano moderno e desenvolvido para qualquer lugar do mundo, acabou sendo um Plano conservador. Os índices de aproveitamento eram máximos, mas a comunidade podia reunir-se e baixar estes índices, porém o Governo não divulgou isso. O Plano era maleável e poderia adequar-se ao interesse da comunidade, mas isso foi esquecido.
E o Plano que saiu da Câmara estava muito diferente?
Sim. Me parece que só na Estratégia 5, porque as outras não haviam sido discutidas e, ingenuamente, achei que não fosse por falta de interesse e sim porque estava tudo certo.

O Executivo também teve responsabilidade pela não aplicação do Plano Diretor?
Sim. Na compreensão, divulgação e mudança de interesses. Aquele Executivo do início, o secretário (Newton) Burmeister e o prefeito Tarso Genro compreendiam perfeitamente. Depois quando o governo foi mudando, mudou também o entendimento sobre o assunto. Cada setor da sociedade tem interesses específicos na sua área e só quer debater sobre esse assunto. O setor de moradia só se interessava em falar sobre a política de habitação social, o setor de construção só sobre o aproveitamento do solo, etc.

No Plano está prevista uma revisão, ainda se pode recuperar a concepção inicial?
Não posso falar como um expert em Porto Alegre, mas me parece que poderia perfeitamente ser feita uma retomada daquele Plano.

No Moinhos de Vento se criou um movimento de moradores para preservar a identidade do bairro…
O plano continha essa idéia de fazer uma consulta aos moradores para que limitassem a altura das futuras construções, mas os moradores não foram informados. O problema central foi uma total falta de comunicação. A população não ficou sabendo.
Outro caso preocupante parecer ser a Zona Sul da cidade…
Ali o crescimento tinha que ser muito bem regulado por isso que os corredores centrais fluíram para a Zona Oeste e não para a Zona Sul. Na Zona Sul deveríamos preservar grandes áreas ambientais que seriam uma reserva de natureza, mas isso não está ocorrendo…
O que está ocorrendo?
Eu andei por lá agora, me assustei. É muito grave. Se nada for feito, em cinco anos a Zona Sul estará numa situação muito ruim, estará ambientalmente destruída, com enormes problemas de circulação, etc.
O que está sendo feito nesta região?
Bom, havia um projeto de desenvolvimento para esta região, com construções de condomínios e transporte, mas dentro de certos limites de grande respeito ambiental e produtivo, tinha que manter as qualidades turísticas e de produção ruralS, como a de pêssegos e pesca. Todos os morros e a orla tinham que ser imediatamente protegidos, evitando invasores e loteamentos clandestinos que crescem muito a cada dia. A proliferação de condomínios de luxo também é problema sério… O problema essencial é a desinformação que tira o direito que o Plano dá e leva a brigas imensas em que só ganham os que têm os interesses mais perigosos.
Você disse que ou de um Plano propositivo para um Plano impositivo?
Perfeitamente. O Plano dava grandes incentivos a investidores que fariam crescer a cidade. Existem muitos corredores. O ideal seria fazer projetos integrados com os moradores vizinhos, investidores e Prefeitura, mas…

“Em 5 anos a Zona Sul será destruída”

Marília e Luiz Antônio Azevedo não são especialistas em planejamento urbano, mas têm o mesmo prognóstico que o experiente arquiteto argentino Rubén Pesci para o efeito da primeira década do novo Plano Diretor: “Se continuar assim, em cinco anos vão destruir a Zona Sul”.
Casados há 46 anos, eles decidiram se mudar de um apartamento do Bom Fim para a região mais arborizada e menos povoada da cidade, no início da década de 70.
“Queríamos sossego e espaço para nossos filhos brincarem. O contato com o verde é importante”, justificam. E assim cresceram as quatro crianças. A família se instalou no Jardim Isabel, bairro entre Ipanema e o Morro do Osso. É um loteamento com apenas 24 ruas, 700 casas e 3 mil moradores.
A comunidade é unida, organizada, com direito a entidade representativa: a Associação Comunitária do Jardim Isabel (Ascomjip). O engenheiro agrônomo Luiz Antônio, 69, e a advogada Marília – casal recém mencionado – se tornaram lideranças depois que se aposentaram.
“Desde então, me dedico 24 horas por dia à Associação”, garante Luiz Antônio, que já foi presidente da Ascomjip duas vezes. Ele se orgulha de ter inaugurado a sede da Associação, em 1996. É sempre solicitado quando há um problema na vizinhança, seja o entupimento de uma boca-de-lobo, seja para acionar a polícia em caso de roubo.
Apesar de todo esse engajamento no bairro, o casal não esteve presente em nenhum debate da discussão do Plano Diretor, na década de 90. Deram-se conta do que foi aprovado só quando sentiram o efeito: 39 novos condomínios em cinco anos. Cerca de 2 mil novos moradores, ou seja, a população quase duplicou.
O problema é que os novos imóveis têm uma característica diferente dos originais: ao invés de pátios arborizados, aproveitam todo o terreno com área construída – pudera, onde antes havia uma casa, colocam quatro ou cinco sobradinhos, todos geminados.
A perda de área verde já causou pelo menos um efeito: alagamentos nas ruas mais baixas, fato inédito, até então. Luiz Antônio e Marília se mobilizaram. aram a representar a comunidade na avaliação do Plano Diretor. Desde 2003, marcam presença nos debates da Prefeitura e da Câmara.
Marília é mais discreta. Mas seu marido faz questão de exibir cartazes imensos, que sempre carrega com ele. São fotos dos novos condomínios e dos alagamentos que eles trouxeram. “Essas imagens mostram a barbaridade que está acontecendo na Zona Sul”, costuma dizer, sempre em manifestações fortes.
A esposa concorda. “No papel, o Plano Diretor diz que a Cidade Jardim (Ipanema, Tristeza, Assunção e arredores) deve ter baixa densidade, com predominância de casas circundadas por áreas verdes. Mas não é isso que está acontecendo”, protesta, enquanto lê o artigo da lei, grifado por ela com caneta hidrocor.
Polêmica é a ocupação
A discussão que pipoca na cidade é a mesma: densificação. Mas se na região central a grita é pelo tamanho dos prédios, na Zona Sul a questão é o tamanho dos terrenos. Moradores defendem uma área de 250m2 a 300 m2 por casa. Mas a prática tem sido quatro ou cinco residências nesse tamanho de gleba.
A mudança veio com o novo Plano Diretor, que ite uma economia (casa) a cada 75m2. Por outro lado, a mesma lei chama a região de Cidade Jardim, uma área especial de interesse do ambiente natural. E com isso, a ocupação voltaria a ser 300m2 por residência, garantindo amplas áreas de arborização, dentro dos imóveis.
No meio deste vazio jurídico – ou melhor –, como as áreas especiais do ambiente natural não foram regulamentadas, está se adotando a construção de quatro casas por lote. “O que eles querem é área. Mas isso vai contra a vocação desses bairros e destrói a arborização interna”, avalia Nestor Nadruz, arquiteto e coordenador do Movimento Porto Alegre Vive.
O ambientalista Guilherme Dornelles, da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural) diz que a especulação imobiliária está igualando a Zona Sul à Zona Norte. “Ipanema está sofrendo a maior agressão. Em dois meses, derrubam a casa, as árvores, colocam um tapume e impermeabilizam todo o terreno”, descreve o ecologista.
Outro problema da Zona Sul destacado por Dornelles são os loteamentos clandestinos. “São pessoas de baixa renda que se instalam em áreas de preservação e degradam o ambiente. Depois, o dono pede reintegração de posse e pode construir no terreno”.
O ambientalista trabalha ainda pela preservação da orla, especialmente no trecho entre o Lami e a Ponta Grossa, que ainda não está construído. “Já tem projetos para esta faixa, mas ela é de preservação do ambiente natural e é área especial de interesse cultural”, ressalta Dornelles.
O caso Loteamento Ipanema
Além de condomínios horizontais, existe preocupação com os projetos especiais na Zona Sul. Um deles é o Loteamento Ipanema, da Maiojama, que prevê vários blocos de 10 pavimentos.
O projeto é antigo e foi travado na Justiça. A questão é a preservação da Mata Atlântica, existente no local, e a canalização do Arroio Espírito Santo. O Poder Judiciário deu parecer favorável ao empreendimento, em decisão apresentada em novembro de 2004, mas a promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Ana Maria Marchesan, vai recorrer, levando o caso até Brasília.
Moradores se queixam, ainda, da descaracterização que o empreendimento causaria na região. “É um local residencial, antigo, com tradição de casas de veraneio e querem colocar um monte de espigões”, explica o ambientalista Guilherme Dornelles, morador da Zona Sul.
“Projetos especiais como esse alteram bairros centenários, degradando a zona costeira”, diz Marçal Davi, da Tristeza. Ele cita outro empreendimento, na rua Mário Totta, que também é formado por prédios altos, ao invés de casas.
Procurada diversas vezes pelo JÁ, a Maiojama não concedeu entrevista, conforme havia prometido o departamento de marketing da empresa construtora.
“Quem se muda para cá quer contato com verde”
O advogado Astélio Santos é outro que está insatisfeito com as mudanças na Zona Sul. Ex-representante da comunidade no Fórum da Região de Planejamento, é uma das lideranças da Associação dos Moradores do Balneário Ipanema, a Ambi.
Foi para a Zona Sul em 1983, em busca de sossego. “Isso aqui era uma maravilha”. Antes, morou na avenida Venâncio Aires, na década de 70. Achou que o local estava ficando movimentado demais. Foi para o Menino Deus, onde viveu alguns anos, até perder o sol, quando construíram um prédio ao lado.
“Quem vem para cá (Ipanema) quer o verde. Isso é qualidade de vida. E estão acabando com a arborização, que está nas casas”, protesta. “Esse Plano Diretor foi feito para fomentar a construção civil! Não foi feito para o morador!”, diz, em tom exaltado.
Ele acredita que os moradores que participaram da discussão não tinham cultura urbanística para entender a pressão dos construtores. “Não houve contraponto. E a Prefeitura aceitou, para ganhar dinheiro com impostos sobre os imóveis”, acredita.
Entre as queixas, o pouco recuo dos novos condomínios. Exemplo, em sua região, é o que não falta. Quem chega na Zona Sul logo percebe que a região parece um canteiro de obras. Nas ruas internas, entre as principais avenidas, são dezenas, centenas de pequenos condomínios horizontais.
As preocupações, além do esgoto in natura, que vai para o Guaíba, e dos crescentes alagamentos, é com o adensamento e a falta de infra-estrutura: mesmo as vias principais são estreitas para a quantidade cada vez maior de automóveis.
“Não temos uma malha viária para ar mais veículos. E falta infra-estrutura: escolas, postos de saúde, saneamento. Isso aqui vai virar outra Goethe”, prevê o advogado Marçal Davi, uma das lideranças do bairro Tristeza.

Falta Imprensa na Democracia brasileira 342w5n

Tenho dito aqui: o processo de democratização do país está a exigir uma imprensa menos “paulo coelho”, com todo respeito ao Paulo Coelho. A cobertura que a mídia faz não está à altura das necessidades do processo de democratização, pela mesmice, pela superficialidade. Vejo que essa carência se torna cada vez mais evidente. Vejam o que diz Ricardo Noblat, editor e diretor de redação de importantes veículos da mídia brasileira, como Veja, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense:
“A mídia está em crise – e as redações cada vez mais enxutas. Não se dão mais o luxo de ouvir um leque numeroso e variado de fontes. Porque a mídia sempre gostou, e agora mais ainda, de receber pratos feitos. Se lhe dão bons releases ou relatórios abrangentes, ela se vale do que se encontra ali”.
“As razões são as mesmas. Nos últimos três anos, mais de mil vagas de jornalistas foram cortadas nos jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão. As redações perderam – e continuam perdendo – seus quadros mais experientes. Elas se tornam bastante jovens – e, por tabela, inexperientes. De resto estão cada vez mais sobrecarregadas. Não têm muito tempo pra nada. De preferência, apuram a maioria das notícias por telefone. E tentam enriquecê-las pesquisando dados pela internet”.
Noblat menciona o caso dos Conselhos Tutelares: “Existem municípios em que o Conselho de Direitos da Criança, por exemplo, não é representativo da sociedade. Metade das cadeiras é ocupada por integrantes do governo, como manda o Estatuto. Entretanto na outra metade dos assentos, que deveria ser da sociedade civil, sentam-se vereadores”.
“A abordagem desta distorção pela imprensa seria fundamental para que esses conselhos resgatassem o caráter democrático – e para manter o daqueles que não apresentam distorções. Além disso, renderia uma denúncia política interessante para o veículo. Mas, é claro, isso também não tem visibilidade na imprensa. Em grande parte porque os jornalistas não conhecem nem o papel nem o funcionamento desses conselhos”.
“É um problema de formação – ou da falta dela. De crise da mídia. De escassez de repórteres. E de insensibilidade dos seus chefes. A solução do problema a por uma catequese permanente dos jornalistas sobre a importância dos conselhos, mas a principalmente pela reinvenção do conteúdo das diversas mídias. Tal inversão é mais urgente no caso dos jornais. Eles estão cada vez mais distantes do seu público. E se limitam a oferecer o que o leitor já sabe. É urgente privatizar o noticiário da mídia em geral – e dos jornais em particular. A mídia devia olhar mais para a sociedade e menos para os governos. Lugar de repórter é na rua – não nos ambientes acarpetados e refrigerados do poder. Creio nisso, mas não acho que ocorrerá a curto prazo”.
* * *
Sempre que ouço esse discurso em defesa da liberdade de imprensa, lembro da frase do general Geisel, reproduzida no livro do Elio Gaspari: “Recebi todos donos dos órgãos de comunicação. Nenhum me pediu o fim da censura”.

Por que o leitor não importa mais para os jornalistas? 1t6d5z

Interessante como a pergunta que nos fazíamos nos “velhos tempos da Coojornal” continua atual: Os profissionais serão capazes de construir uma alternativa?
A imprensa empresarial convencional continua a mesma. Justificou arbítrio em outros tempos, hoje justifica o desemprego.
É uma situação que não vai mudar com críticas, com bla, bla, bla. Mas com ações concretas, com os profissionais que se dispem a se organizar e produzir uma nova imprensa.
O novo não surge de cabeças iluminadas, surge da estrutura nova.
Todos os jornais dizem que vivem para o leitor, o leitor é o seu senhor. Mas o leitor hoje para os jornalistas não tem nenhuma importância.
Os jornalistas é que são importantes hoje. São estrelas, celebridades, um pobre leitor se intimida perto deles.
Importante para o jornalista é a autoridade, o grande empresário, o figurão. Ele tem claro que esse é o sujeito que o sustenta, não o leitor. O leitor está vendido nesta parada.
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