As declarações do presidente eleito, no Jornal Nacional, de cortar verbas publicitárias dos veículos de imprensa que propagarem mentiras tinham um alvo direto e explícito: a Folha de São Paulo. Mas a ameaça se estende a toda a imprensa e contém também um recado à Globo, que tradicionalmente abocanha a maior parte das verbas da propaganda oficial. Na sua primeira entrevista, dada mais cedo, à TV Record, Bolsonaro foi comedido. Afirmou que não vai atuar para impor limites à liberdade de expressão, deixando a tarefa aos cidadãos. — Quem vai impor limite é o leitor. Tem certos órgãos de imprensa que caíram em descrédito por ocasião das eleições. Estão perdendo s ou telespectadores. Quem vai limitar isso vai ser o cidadão na ponta da linha — disse Bolsonaro, sem citar nomes. No Jornal Nacional, ele avançou: citou a Folha de S.Paulo e afirmou que veículos que mentirem não terão propaganda oficial do governo. “Sou totalmente favorável à liberdade de imprensa, mas temos a questão da propaganda oficial do governo, que é uma outra coisa”, disse Bolsonaro no JN. “Não quero que ela (Folha) acabe, mas, no que depender de mim, da propaganda oficial do governo, imprensa que se comportar mentindo descaradamente, não terá apoio do governo federal”, acrescentou. Bolsonaro citou especificamente como mentira a reportagem da Folha que revelou que empresários apoiadores de sua candidatura teriam pago R$ 12 milhões pelo envio em massa de mensagens forjadas contra a campanha de Fernando Haddad. Há uma investigação em andamento apurando esta denúncia. Normalmente, o corte de verbas publicitárias do governo, além das campanhas do executivo, inclui também a propaganda de estatais, como a Caixa Federal, o Banco do Brasil que estão entre os maiores anunciantes do país. Bolsonaro tem mirado a Globo, com quem ele teve atrito durante a campanha e a quem preteriu em sua primeira entrevista, dada à Record, do bispo Edir Macedo que o apoiou ostensivamente. A Globo sempre ficou com a maior fatia das verbas da publicidade oficial e já foi muito beneficiada por essa forma de censura econômica que atingiu concorrentes seus durante os governos militares. 383j54