Cleber Dioni Tentardini Os servidores da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, ambientalistas e comunidade acadêmica têm feito uma série de questionamentos, desde agosto de 2015, quando o governo gaúcho propôs fechar a instituição responsável pela conservação da biodiversidade no Estado. De lá pra cá, sucederam-se manifestações e eventos em defesa da Fundação, mas o governo não consegue responder por que quer extinguir a FZB e qual o futuro dos acervos e das mais de cem pesquisas que estão em andamento. Agora, uma campanha pela reabertura do serpentário, a exposição de cobras do Museu de Ciências Naturais, promete mobilizar novamente a comunidade ambiental em torno da preservação do patrimônio da Zoobotânica. A ‘Comunidade RS’ criou uma página do Facebook para divulgar o evento marcado para a tarde de domingo do dia 21 deste mês. “Contamos com a sua participação neste dia de domingo, em uma manifestação pacífica para lembrar a direção da FZB que a comunidade está aguardando há quatro meses, desde janeiro, a reabertura do Serpentário, antes que caia no esquecimento por imposição da política do desmonte no RS”, registra em seu chamamento a Comunidade RS, formada por um grupo de simpatizantes às questões ambientais, que prefere o anonimato. Mobilizações começaram em 2015 A ideia de extinguir a Zoobotânica é mais antiga, mas ganhou força logo no primeiro ano do governo Sartori, em 2015. Há 21 meses, em 6 de agosto daquele ano, o então chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi, enviou à Assembleia Legislativa o projeto de Lei (PL) 300, com pedido de urgência para votação. Previa a extinção de três fundações: Zoobotânica, Esporte e Lazer (Fundergs) e Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps). O objetivo, segundo Biolchi, era “tornar a gestão mais moderna e eficiente”. Lá, começaram também as mobilizações em defesa da Fundação. No primeiro sábado de agosto daquele ano, cinco servidores estenderam faixas nas grades do Jardim Botânico. Foram programados piqueniques e abraços simbólicos à instituição, ao longo da avenida Salvador França. Primeira reação ao projeto de extinção /Cleber Dioni Tentardini O corpo técnico da Fundação reuniu-se na tarde daquele sábado para decidir que providências seriam tomadas. Reunião dos servidores da Fundação Zoobotânica / Cleber Dioni Tentardini A bióloga Josy Matos,presidente da Associação dos Funcionários da Zoobotânica, estava naquele grupo e lembra que foi feita uma lista com vários questionamentos para ser entregue à secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini. “Mas a reunião nunca aconteceu”, recorda Josy. O jornal JÁ resgatou aquelas dúvidas e procurou na última semana de abril o presidente da FZB, Luiz Fernando Branco. O ex-coordenador de bancada do PMDB no Parlamento gaúcho mostrou-se disposto a conversar, mas a assessoria de Comunicação da SEMA o desautorizou. Os questionamentos permanecem até hoje entre os funcionários. Secretária itiu que projeto era ruim A única vez em que os funcionários da FZB tiveram um diálogo com a secretária Ana Pellini aconteceu há 20 meses. E não foi bem um diálogo, mas um encontro relâmpago com a titular da SEMA, que teve de ser provocado pelos servidores. No dia 17 de agosto de 2015, amanheceram com megafone, tambores e faixas na entrada do prédio da Secretaria, na Borges de Medeiros,a fim de forçar um diálogo. Na entrada para o trabalho, Pellini viu-se obrigada a atender os manifestantes.E, para surpresa de todos, a secretária itiu que o projeto era ruim e não sabia quem tinha elaborado. “Vocês têm toda a razão, o projeto é ruim e temos de rever nossa posição”, afirmou a secretária em um megafone apoiado pelo professor Paulo Brack, da Ufrgs. “Como está, esse projeto não tem a menor condição de contribuir em nada para o serviço público, continuou. Ato pela retirada do PL que extingue FZB / Foto Rosana Senna Questionada pelo engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, presidente da Agapan, sobre quem fez o projeto, a secretária surpreendeu novamente ao dizer que foi elaborado dentro de um conjunto de outras medidas, mas que “foi um erro”. A declaração animou os funcionários da Zoobotânica e ambientalistas, que viram ali um sinal de que o governo poderia desistir do projeto. No dia 20 de agosto, foi realizada uma audiência pública para mobilizar entidades e universidades e reforçar o apoio à instituição. Audiência pública sobre a FZB / Foto Juarez Junior / Agência ALRS Para uma plateia de 800 pessoas, exprimidas nas galerias do auditório Dante Barone, do Legislativo gaúcho, falaram deputados, professores de universidades públicas e privadas, pesquisadores da Embrapa, Fepagro e Emater, analistas da SEMA e Fepam, representantes do Ministério Público e do Batalhão Ambiental da Brigada Militar. Um dos pontos de maior vibração foi o pronunciamento do professor Ludwig Buckup, cientista renomado e um dos fundadores do Museu de Ciências Naturais, em 1955. Auditório lotado para a audiência/ foto Juarez Junior /Agência ALRS No final daquela manhã, pela primeira vez desde que foi proposta a extinção, o governo do Estado recebeu uma comissão de apoio à Zoobotânica. Foi entregue ao secretário adjunto da Casa Civil, José Kliemann, e à secretária adjunta do Meio Ambiente, Maria Patrícia Mollmann, um documento em que pedia a imediata retirada do PL 300 e uma reunião com o governador José Ivo Sartori. O que nunca ocorreu. Foi entregue também um calhamaço com dois abaixo-assinados contendo 39 mil s e correspondências com demonstrações de apoio à Fundação de 800 instituições, sendo 18 de outros países. Comissão em defesa da FZB foi recebida pelo governo / Galileu Oldenburg / Palácio Piratini Exatamente uma semana depois, o governo do Estado retirou o pedido de urgência no Legislativo gaúcho. Funcionários da Zoobotânica em frente ao Palácio Piratini/ Caroline Ferraz/Sul21 As manifestações de apoio à Fundação Zoobotânica aumentaram ao longo de 2016, a ponto do próprio presidente José Alberto Wenzel fazer um apelo ao governador Sartori, durante evento no Palácio Piratini, em 22 de julho, para que repensasse a ideia de fechar a instituição. Mais tarde, Wenzel gravou outro depoimento. Manifestações de apoio no Legislativo / foto Marcelo Bertani/ Agência ALRS Uma semana depois, Wenzel foi afastado. Ligado ao PSDB, o ex-chefe da Casa Civil no governo Yeda, ficou oito meses à frente da instituição ambiental. Wenzel foi afastado por defender FZB/Divulgação No seu lugar, assumiu Luiz Fernando Branco, ex-coordenador de bancada do PMDB na AL e alinhado ao governo Sartori. Sua nomeação foi publicada no Diário Oficial do Estado no dia 29 de julho de 2016. Luiz Branco (à esq.) com visitantes no serpentário, em 2016 / Cristine Rochol/PMPA Até aquele momento, o famigerado PL 300 estava propositadamente repousando havia meses numa gaveta do deputado Jorge Pozzobom, do PSDB, responsável por emitir um parecer da Comissão de Constituição e Justiça da AL sobre a legalidade do projeto. O futuro do patrimônio do Museu de Ciências Naturais, do Jardim Botânico de Porto Alegre e do Parque Zoológico continuava incerto. Até que, no segundo semestre de 2016, o governo abandonou o PL 300 sem, no entanto, desistir de fechar a Zoobotânica. Apresentou um pacote de medidas, através de dois projetos de Lei,que incluiu a extinção de oito fundações estaduais, mais a Corag. O PL 246 autorizou a extinção das fundações de Ciência e Tecnologia (Cientec), de Economia e Estatística (FEE), a Piratini (TVE/FM Cultura), a do Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), e de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), além da entidade ambiental. Já, o PL 240, envolveu as fundações Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF) e a de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) Na madrugada do dia 21 de dezembro, os deputados aprovaram ambos os projetos. O primeiro, pelo placar de 30 votos contra 23, e o segundo PL, por 29 votos a 23. de votação com placar sobre PL 246 O ano de 2017 iniciou com problemas na segurança da FZB, que registrou invasões, depredações e tentativas de roubo de animais e equipamentos. No dia 10 de janeiro, mais indignação: é publicada no DOE a nomeação de seis pessoas para cargos comissionados na Zoobotânica, os chamados Ccs. Perguntas sem respostas Josy é representante dos funcionários da Zoobotânica Josy Matos reforça que a maior preocupação dos funcionários extrapola a ameaça de perder os seus empregos. “Como ficam as mais de cem pesquisas que estão em andamento e o que será feito do material genético sobre a biodiversidade gaúcha, questiona. O conhecimento acumulado aqui entre os pesquisadores é indispensável à preservação do meio ambiente no Estado e no país”, completa a bióloga. Apenas as coleções científicas do sexagenário Museu de Ciências Naturais, cuja a criação foi estimulada pelo botânico e padre jesuíta gaúcho Balduíno Rambo, somam 450 mil exemplares, entre plantas, animais e fósseis. Há o serpentário, único no Estado a fornecer veneno de serpentes cobras ‘locais’ para produção de soro antiofídico. Há o banco de sementes, o viveiro, a coleção de plantas vivas espraiadas por 36 hectares de outro sexagenário, o Jardim Botânico. Acácia Winter, tratadora de animais silvestres do NOPA, com alunos da Ufrgs/Divulgação Outra dúvida dos servidores refere-se ao Zoológico: Se dá prejuízo financeiro, qual empresa se interessaria a assumir a gestão e manutenção dos mais de mil animais do Zoo? E, por que o governo do Estado não levou em consideração a proposta de readequação do Zoo e do Horto, elaborada pelos próprios servidores? Uma gestão privada manteria funcionando o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), que recebeu, em 2016,mil animais machucados, órfãos ou resgatados do tráfico? Ficam os questionamentos sem respostas, mais uma vez: 1. A FZB participa de grupos de trabalho criados pela SEMA para tratar de questões como controle de javalis e dos impactos de pombas em lavouras, e ainda de reservas biológicas como o Banhado do Maçarico, em Rio Grande. Quem a substituirá? 2. A Zoobotânica faz parte de vários Planos de Ação Nacionais para a conservação de espécies ameaçadas, integra o Comitê Nacional de Zonas Úmidas, responsável por definir as estratégias políticas de uso de áreas úmidas em atendimento a convenções internacionais das quais o Brasil é signatário. Como fica a participação do Rio Grande do Sul? Oficina do ICMBio na FZB do Plano de Ação Nacional para conservação dos répteis e anfíbios nos campos sulinos/Rosana Senna Oficina do ICMBio na FZB do Plano de Ação Nacional para conservação das aves nos campos sulinos/Rosana Senna 3. Por ser uma fundação de pesquisa, a FZB pode angariar financiamentos para as pesquisas através dos órgãos de fomento nacionais e internacionais, como ocorreu com o RS Biodiversidade, implementado de 2011 a 2016, com recursos de órgãos estrangeiros. A SEMA, por ser uma secretaria de Estado, não tem o a esses fundos. Quem irá executar as atividades, cumprindo os prazos e gerando os resultados estabelecidos nos contratos? 4. A Fundação executa o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande, com prazo estabelecido pelo Ministério Público Estadual para ser concluído. Quem fará o trabalho? 5. Quem substituirá os pesquisadores da FZB, que foram excluídos dos Comitês de Bacias Hidrográficas, Conselhos de Unidades de Conservação, Câmaras Temáticas, que atuam diretamente na gestão e na formulação de políticas públicas ambientais? 6. Como ficam os laudos paleontológicos obrigatórios em processos de licenciamento ambiental nas dezenas de municípios com potencial para abrigar sítios paleontológicos, atribuição exclusiva da FZB, conforme legislação? Recentemente foi renovada a parceria com o DAER para emissão de laudos a fim de executar obras perto de Santa Maria, famosa pelos fósseis descobertos. 7. Quem fará a atualização das listas de fauna e flora ameaçadas de extinção no Estado, instrumentos fundamentais para o planejamento, a gestão e o licenciamento ambiental? A lista de espécies da flora deve ser atualizada em 2018. É uma obrigação legal do Estado. 8. Através da Fundação são feitos convênios de cooperação com universidades e agências de financiamento à pesquisa, estadual e federal,por meio dos quais são mantidos atualmente dezenas de bolsistas de iniciação científica e de estagiários curriculares. Quem irá assumir a responsabilidade pelos contratos vigentes? 9. O corpo técnico e as informações científicas da FZB fariam parte do Sistema Integrado de Regularização Ambiental (Siram), que iria centralizar todas as informações ambientais para agilizar e qualificar o licenciamento ambiental no Estado. A Fepam, por exemplo, recorre aos técnicos da FZB na busca de informações que exigem um conhecimento mais específico ou para a construção de pareceres, termos de referência e instrumentos normativos. Há pouco, foi feito licenciamento de 35 linhas de transmissão da Eletrosul, bem como auxílio no zoneamento de parques eólicos. Por que encerraram o Siram? 10. Como fica a produção de soro antiofídico que seja eficiente ao veneno de cobras nativas do Rio Grande do Sul, se o Núcleo de Ofiologia de Porto Alegre, o NOPA, na FZB, é o único a extrair peçonha no Estado? E quem irá assumir o manejo das mais de 300 serpentes mantidas ali? 11. Sem a FZB, quem vai integrar os programas de qualificação junto ao setor produtivo, que busca agregar valor a produtos gerados com a adoção de ações ambientalmente sustentáveis? Os Butiazais de Tapes, por exemplo, que potencializam os usos do butiá para geração de renda à população. A Alianza Del Pastizal, que integra uma parcela expressiva da comunidade de pecuaristas no RS, e permite, através de parcerias com instituições internacionais, agregar valor à carne produzida no Pampa com conservação de campos nativos. 401o3b
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Governo contratou consultoria para privatizar Zoológico de Sapucaia 291535

Annelise disse que estuda a legislação para que o horto seja enquadrado como área de preservação.
Além das iniciativas da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público examinará a lisura desse contrato, anunciou Steigleder. “Uma das preocupações, no caso do Zoológico ser privatizado, é com o bem estar dos animais”, observou.
No caso do Horto Florestal, a promotora lembrou que essa área localizada entre os municípios de Sapucaia e São Leopoldo vem sendo palco de muitos conflitos fundiários.
“Esse espaço precisa ser mantido como unidade de preservação ambiental. A ideia do MP é judicializar essa questão também para que não percamos o Horto Florestal”, acrescentou a promotora.

Audiência debate futuro do Zoológico e da área mais cobiçada da RMPA 612t20
Cleber Dioni Tentardini
Os 780 hectares mais cobiçados da Região Metropolitana de Porto Alegre estarão em debate logo mais à noite na audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa.
A questão central é a intenção do governo de rear a concessão do Parque Zoológico à iniciativa privada e o desmembramento da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo.
O encontro também vai abordar o destino e guarda das coleções vivas e do material genético do Museu de Ciências Naturais e do Jardim Botânico de Porto Alegre, ambos vinculados à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB), que foi extinta pelo governador José Ivo Sartori em janeiro deste ano.
A audiência foi proposta pela deputada Regina Becker (REDE), de atuação marcante em defesa dos animais. Do governo, foram convidados representantes das secretarias estaduais do Meio Ambiente, Casa Civil, Fazenda, além do governador José Ivo Sartori.
Os servidores da Fundação Zoobotânica, ongs ambientalistas, estudantes e comunidade em geral prometem lotar o Auditório Dante Barone, do Parlamento gaúcho.
Localizado em Sapucaia do Sul, quase divisa com São Leopoldo, o Parque Zoológico ocupa 160 hectares, com o espaço para os animais e prédios que abrigam as seções do Hospital Veterinário, de Nutrição, de Zoologia, de Manutenção e Conservação, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) e a área de visitação.
Os outros 620 hectares pertencem à reserva, que faz homenagem ao religioso e botânico gaúcho, autor do clássico A fisionomia do Rio Grande do Sul (1942). Parte da área da reserva chega às margens do Rio dos Sinos e protege a mata ciliar por mais de 10 quilômetros de extensão.
Inaugurado em maio de 1962 pelo governador Leonel Brizola, o Zoo é um dos oito maiores do Brasil em extensão e em número de espécies animais da América, Ásia, Europa, África e Oceania: ao todo, 1.024 espécimes (indivíduos), distribuídos em 125 espécies, sendo 51 mamíferos, 60 aves e 14 répteis. Não estão incluídos aí os animais em atendimento no Cetas.
Em 2016, o Zoo registrou 115 nascimentos, dentre eles animais ameaçados de extinção, como a anta, bugio-preto, bugio-ruivo, mico-leão-da-cara-dourada, entre outros. A fim de reduzir os custos de manutenção dos animais, o Zoológico dispõe de lavouras destinadas à produção de forragem que ultraou, em 2014, 365 toneladas/ano.
Naquele ano, as despesas com manutenção foram praticamente iguais às receitas, a partir de bilheterias e concessões. Os gastos foram de R$ 3,291 milhões e a arrecadação, de R$ 3,113 milhões.
A visitação em 2016 foi de 417.290 mil pagantes, neste total não estão incluídos aquelas entidades que possuem gratuidade.
O ingresso é ível à população de baixa renda (R$ 10,00 para adulto e crianças até 5 anos não pagam, estudantes e idosos pagam metade. Carros pagam R$50,00, sendo que este valor inclui todos os ocupantes do veículo.
No início de 2015, o IBAMA, juntamente com o setor de fauna da Secretaria Estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, realizou uma vistoria e atestou a qualidade no tratamento destinado aos animais.
Um dos serviços mais solicitados do Zoo é o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), responsável pela manutenção, tratamento e destinação dos animais apreendidos em fiscalizações dos órgãos ambientais. No ano ado, o Cetas recebeu aproximadamente 1.000 animais em situação de risco, a grande maioria é vítima de tráfico, outros chegam até o Zoo machucados em decorrência de atropelamentos, choques elétricos, ataque de animais domésticos ou mesmo órfãos.
Área cobiçada por mais de 50 anos
A área do Zoológico pertencia à Companhia Geral de Indústrias e, em 1930, foi adquirida pelo Estado. Em 1934 o espaço foi consolidado como uma propriedade da antiga Viação Férrea do Rio Grande do Sul.
Mais de 25 anos depois, no dia 16 de março de 1957, foi promulgada pelo presidente Juscelino Kubitschek a Lei Federal nº 3.115 ando todos os bens da Viação Férrea para a União. Somente a área atual do Zoológico permaneceu sob domínio do Rio Grande do Sul.
No dia 27 de julho de 1959, João Caruso, secretário de Obras Públicas na ocasião, entregou um estudo contendo sugestões para criar um parque público. A partir de então, a responsabilidade da área ficou com a Comissão Estadual de Prédios Escolares (CEPE), sob a denominação de Grupos de Parques e Jardins. A sede era no próprio Horto Florestal.
Atualmente a Reserva Florestal tem vários problemas fundiários. Centenas de famílias moram ilegalmente em seu interior. Os funcionários da Zoobotânica temem que a especulação imobiliária acabe fatiando a reserva. A pressão para venda da área é histórica. Em 1957, a justificativa era pela necessidade de recursos para a execução do plano que previa a construção de mil escolas no RS. Em 2011, a área poderia viabilizar a expansão de um polo de tecnologia da Unisinos, a Tecnosinos, e, em 2015, levantou-se a hipótese de ter parte cedida a um congregado empresarial alemão, o Medical Valley, que reúne indústrias e centros de pesquisas na área biomédica, responsáveis por 43% da área de patentes na Alemanha.
Em 2015, uma comitiva do governo Sartori visitou a Alemanha e ouviu dos empresários a necessidade de uma área física para viabilidade logística do complexo empresarial e benefícios fiscais para as empresas deste chamado “Cluster de Tecnologias para Saúde”.
O diretor-executivo do Medical Valley, Tobias Zobel, retribuiu a visita no final de 2015. Durante palestra no Badesul, em Porto Alegre, disse que o plano de internacionalização da Medical Valley é criar uma rede de colaboração internacional entre Brasil, Estados Unidos e China. No caso do Brasil, o estado escolhido foi o Rio Grande do Sul. Os países atuarão em estreita cooperação no fomento da indústria e da pesquisa em saúde.
Professor pesquisa substâncias no cocão que podem agir sobre a dopamina 4qp48
Cleber dioni tentardini
O professor e farmacêutico Arno Hofmann Junior está estudando uma espécie de cocão da coleção viva de plantas raras do Jardim Botânico de Porto Alegre para desenvolver sua tese de doutorado junto ao Laboratório de Toxicologia (Labtoxico), da Faculdade de Farmácia da UFRGS.
Essa espécie, encontrada somente no Sul do Brasil, é do mesmo gênero da planta da coca, de onde se obtém a cocaína, e está criticamente ameaçada de extinção. “O Jardim Botânico está tendo fundamental importância pois possibilitou a coleta de espécie de difícil identificação na natureza”, destaca o pesquisador.
Sua orientadora na Universidade é a professora Renata Limberger, farmacêutica especializada em Toxicologia e coordenadora do laboratório.
Hofmann busca identificar os componentes que essas espécies produzem e avaliar a influência de algumas destas plantas sobre a neurotransmissão da dopamina, substância presente no cérebro de mamíferos e que está relacionada a doenças como Mal de Parkinson, Dependência Química e Esquizofrenia.
“Meu objetivo não é relacionar às doenças, mas a identificação de espécies que atuem sobre este neurotransmissor, o que possibilitará futuros estudos sobre suas potencialidades toxicológicas e terapêuticas, afirma o docente e coordenador do Curso de Farmácia, da Faculdade IDEAU, no município gaúcho de Getúlio Vargas.
Hofmann explica que o gênero Erythroxylum é conhecido principalmente por ser a fonte natural de alcaloides com núcleo ecgonina como a cocaína. “É verificado que outros compostos presentes nas folhas da ‘coca’ são biologicamente ativos e contribuem para os efeitos verificados pelo chá e pela pasta de coca, como os danos à saúde e a redução da fome e do cansaço. Devido às espécies pesquisadas no sul do Brasil pertencer ao mesmo gênero da ‘coca’, é possível que alguns destes componentes também estejam presentes”, ressalta Arno.
(Cleber Dioni Tentardini)
Pesquisadora da Zoobotânica encontra planta rara descrita no século 19 6v1k1g
Cleber Dioni Tentardini
A bióloga Rosana Senna, coordenadora da Seção de Botânica do Museu de Ciências Naturais, na Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, encontrou uma planta rara, que foi descrita uma única vez no Brasil, há 150 anos, pelo Barão de Capanema.
Esta segunda coleta registrada da espécie ocorreu em dezembro de 2015, mas só agora teve confirmado seu reconhecimento pelo Instituto de Biociências da Ufrgs, em artigo publicado nesta terça-feira, 11, na Revista Brasileira de Biociências. O texto é assinado por Rosana e por sua colega botânica na FZB, Andréia Carneiro.
Rosana encontrou a planta no Balneário de Quintão, município de Palmares do Sul. Analisou em laboratório e através de pesquisas localizou apenas uma coleta de Limosella australis no Rio Grande do Sul, que pertence ao Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
A coleta foi realizada no século 19 por Guilherme Schüch, Barão de Capanema (1825-1908), um engenheiro e naturalista do segundo império brasileiro, que tinha um apurado interesse em botânica, e a maioria de suas coletas está depositada no herbário no RJ.
A Limosella australis é um gênero aquático caracterizado por plantas de pequeno porte que habitam solos lamacentos e encharcados.
É possível que o material de Limosella, coletado por Capanema seja oriundo do Litoral Norte gaúcho, sustenta a bióloga. “A partir do ano de 1865, Capanema, então diretor da Repartição Geral dos Telégrafos no Brasil, esteve em Torres para início da implantação da telegrafia no estado, mesmo ano da coleta de Limosella.
O gênero ocorre na América, desde o Canadá, até a Argentina e Antilhas, e na Europa, África, Ásia, Austrália, Nova Zelândia
“As plantas de Limosella australis são de difícil percepção no ambiente devido ao tamanho reduzido e flores diminutas entre as folhas filiformes. E ainda, quando observadas em campo, desprovidas de flores e frutos, podem ser confundidas com algumas espécies de juncus, que também podem ocorrer em ambientes urbanos associados às áreas úmidas litorâneas”, alerta a bióloga.
O material testemunho, que serviu de base para descrição morfológica, foi depositado no herbário Prof. Dr. Alarich Schultz (HAS) da FZB.
A bióloga Josy Matos, da Seção de Botânica do MCN, ressalta que a descoberta mostra a importância da manutenção das coleções de espécies para a ciência. Segundo Josy, diversos trabalhos científicos utilizam as informações de herbários para relacionar as espécies nessas coleções com a época em que foram coletadas e suas áreas de distribuição.
“Assim ficamos sabendo onde elas encontravam condições adequadas para viver, ou até mesmo o estado de conservação do ambiente na época, podendo fazer comparações com as mesmas áreas nos dias de hoje”, destaca.
A botânica acrescenta que, além da importância para a ciência, este tipo de informação serve para ajudar a entender quais as melhores áreas para a conservação das espécies e seus habitats, o que auxilia nos processos de licenciamento ambiental e na tomada de decisões dos governantes.
(Cleber Dioni Tentardini)
MP pede agilidade da Justiça para proteger patrimônio da Zoobotânica 44769
Cleber Dioni Tentardini
A Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Porto Alegre ingressou nesta segunda-feira, 10, com pedido de “apreciação imediata” da Ação Civil Pública ajuizada contra o Estado do Rio Grande do Sul para proteger o Jardim Botânico e o Museu de Ciências Naturais, ambas as instituições vinculadas à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.
Conforme a promotora de Justiça, Ana Maria Marchesan, parte do muro que separa o terreno do Jardim Botânico da vila foi derrubado, tornando o local sujeito a novas invasões. “A destruição faz periclitar o incrível patrimônio ambiental e cultural dos dois equipamentos”, observou.
A ação civil pública foi ajuizada pelo MP em fevereiro deste ano. Pede que o Estado apresente um estudo técnico que mostre quem fará a guarda e manutenção dos acervos e onde ficarão depositados na Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMA). Trata-se do patrimônio cultural e natural das instituições.
“Os trabalhos do Museu são relevantes ainda para questões ligadas à saúde da população, pois os venenos extraídos das serpentes vivas que lá estão são usados para fabricação de soro antiofídico e outros medicamentos”, ressaltou a Promotora, lembrando que há também um patrimônio genético catalogado no Museu.
Recentemente, a promotora do Meio Ambiente de Porto Alegre, Ana Marchesan, realizou uma vistoria nas coleções do Museu de Ciências Naturais, tendo em vista a possível extinção da FZB e de seus equipamentos vinculados.
Acompanhada da assessora historiadora do MP, Cintia Vieira Souto, e de representantes do Conselho Federal e Estadual de Museologia, a promotora constatou o “incrível trabalho de memória científica desenvolvido há anos pelos pesquisadores das mais diversas áreas e a importância que ostentam para programas de conservação da biodiversidade e do meio ambiente como um todo, sem falar na relevância como fonte para trabalhos científicos”.
Foram vistoriadas as coleções de insetos, plantas vasculares e líquens, algas (ficologia), poríferos, entomologia (insetos), malacologia (moluscos), ictiologia (peixes), erpetologia (répteis e anfíbios), ornitologia (pássaros), mamíferos (mastozoologia), paleontologia e o serpentário.
Afora as coleções históricas (recebidas prontas pelo Museu), todas as demais são coleções vivas, ou seja, continuam recebendo diuturnamente materiais novos para estudos e catalogação, necessitando de curadoria permanente.
Ana Marchesan avalia que a perda parcial ou total desse acervo representará danos irreversíveis à memória científica não só nacional como até internacional. “O Museu recebe consultas e estabelece intercâmbios com diversas instituições estrangeiras como o Museu Britânico e o Museu de História Natural de Berlim”, destacou.
Zoobotânica tem mais de cem pesquisas em andamento 3c2d10
Laboratório de Liquenologia do MCN, por exemplo, abriga trabalhos tão importantes ao meio ambiente como desconhecidos.
Cleber Dioni Tentardini
O Museu de Ciências Naturais (MCN) e o Jardim Botânico de Porto Alegre, duas das três instituições vinculadas à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB), têm mais de cem projetos de pesquisa em andamento.
Envolvem áreas como ecologia, conservação e história natural, diversidade, sistemática e taxonomia, anatomia e morfologia, paleontologia, monitoramento de qualidade e impactos ambientais, monitoramento e inventário de fauna e flora, eco-epidemiologia.
Desde os líquens que se agregam às árvores em Porto Alegre, e que são indicadores dos níveis de poluição na cidade, até as propriedades medicinais de uma espécie de cocão, um parente da coca colombiana, que está ameaçada de extinção.
Além das pesquisas em seus laboratórios, a Zoobotânica abre seus acervos a centenas de estudantes de todos os níveis de ensino, principalmente da graduação e pós-graduação, de várias cidades gaúchas, de outros estados e países.
Líquen, bioindicador ambiental
Dentre os diversos projetos, financiados pelo governo federal através bolsas de iniciação científica do CNPq, Capes e Fapergs, principalmente, o Laboratório de Liquenologia da FZB abriga trabalhos cujos resultados são tão importantes ao meio ambiente como desconhecidos.
Apesar da desinformação, são considerados biomonitores da qualidade do ar muito eficientes, a exemplo dos testes químicos feitos pela Fepam em áreas conhecidas de Porto Alegre como defronte à Estação Rodoviária.
Os líquens indicam a presença na atmosfera de gases como enxofre, ozônio, nitrogênio, e de metais pesados como cromo, zinco e mercúrio. Começaram a ser testados também para monitorar as mudanças climáticas.
A bióloga Suzana de Azevedo Martins, do Museu de Ciências Naturais da FZB, uma das maiores especialistas em líquens no Brasil, explica que esses organismos resultam da união de fungos com algas ou cianobactérias (responsáveis pelo gosto de terra na água).
“Como são extremamente sensíveis, esses organismos são bioindicadores da qualidade do ar muito eficientes. São “indicadores ambientais” que podem nos dar muitas respostas sobre mudanças climáticas, inclusive”.
Os líquens na verdade estão por toda parte: “Eles são considerados epífitos, não sugam nada, não retiram nutrientes de uma planta, por exemplo. Estão ali no tronco como podem estar num telhado, em uma folha, no chão, em diferentes tamanhos, colorações e formatos, porque as algas estão ali naturalmente, é o habitat delas. Agora, o fungo que forma o líquen não existe sozinho. A parte reprodutiva do fungo libera um esporo, que vai cair num determinado local, e esse substrato é usado apenas para sustentação, captação de luz e de água”, afirma.
Como esses organismos produzem várias substâncias, também são utilizados na medicina, como recuperação de queimados, fabricação de antibiótico. As indústrias de cosméticos, perfumaria, desodorante, almíscar, aproveitam também os líquens como fixadores de aromas.
Deduz-se que existam em torno de 5 mil espécies de fungos liquenizados no Brasil. No RS, já foram descobertas 1.200. “Há espécies endêmicas (características de determinadas localidades) mas são praticamente pan-tropicais, ocorrem no mundo inteiro, porque se adaptam bem”, garante a especialista.
Tem que amar para estudá-los, diz bióloga
Suzana trabalha há 37 anos na Fundação, onde ingressou como estagiária. Hoje coordena o Laboratório de Liquenologia, da Seção de Botânica de Fanerógamas, no Museu de Ciências Naturais da FZB.
Seu primeiro contato com os líquens foi durante a implantação do Polo Petroquímico, em Triunfo. A Zoobotânica foi contratada para fazer o diagnóstico da área antes da implantação do Polo e, naquela época, como estudante, Suzana foi como auxiliar no projeto. “Meus orientadores foram a professora Maria Henriqueta Homrich, e dois alemães, o Winkler e o Grüninger, especialistas em líquens. A professora sugeriu trabalhar com esse grupo porque não havia ninguém estudando eles no Estado. Elaboramos um projeto e o CNPq aprovou uma bolsa de iniciação científica”, lembra.
Sua tese de doutorado em São Paulo teve como orientador o cientista Marcelo Marcelli, então o maior liquenólogo brasileiro. “Ali, ele já me advertiu que só iria me aceitar como orientanda porque eu já estava familiarizada com o assunto, pois era mestre em Ecologia, do contrario, ele não o faria, recorda. Porque é muito difícil, tem que avaliar vários fatores além das especificidades de cada líquen, como o ph da casca da árvore, a rugosidade, temperatura do microambiente, umidade, luminosidade etc”.
A bióloga deu aula por 15 anos na Faculdade de Nutrição do IPA, onde lecionava a disciplina de Biologia Geral, e, hoje, dedica-se, com o mesmo entusiasmo de quando começou, a orientar os futuros liquenólogos. E faz questão de adverti-los logo no início: “É preciso amar os líquens para estudá-los a fundo porque são tão apaixonantes como complexos”, ressalta.
Estudo começou em 1979 no Polo Petroquímico
Os estudos com líquens tiveram início no Rio Grande do Sul pelas pesquisadoras Lia Martau e Lúcia Aguiar, em 1979, no então denominado Núcleo de Vegetais Superiores e Intermediários. Os fungos foram utilizados por ocasião dos estudos de diagnóstico ambiental nos municípios de Triunfo e Montenegro, objetivando o licenciamento para implantação do Pólo Petroquímico.
Espécie nova na APA do Caraá
Suzana é co-orientadora, ao lado dos professores universitários, de quatro bolsistas, ligados a diferentes universidades. A estudante Jéssica Araújo, da Uniasselvi, iniciou recentemente o projeto dos “Líquens como indicadores biológicos na APA Municipal do Caraá/RS”. “Já encontramos a uma espécie nova de líquen para ciência”, diz.
Reserva preservada no Lami
A bióloga Daniela Weber, da Unilasalle, desenvolve pesquisa com os líquens na Reserva Biológica do Lami desde agosto de 2015. Ela está avaliando a diversidade e a quantidade de líquens em nove tipologias vegetacionais da reserva, como a mata alta, mata baixa, restinga, banhado e campo sujo.
“Meu objetivo é comparar que tipo de líquen há em cada tipologia, e se há diferenças ou não. A partir de coletas de uma colega e das que eu realizei, já conseguimos verificar que há diferença entre a mata baixa 1 e restinga, na primeira é mais úmida e tem uma quantidade maior de líquen. Conseguimos coletar mais de 120 exemplares de líquen lá. Nossa próxima coleta é a Ponta do Cego, a área mais preservada”, projeta.
Outros dois projetos no laboratório do MCN tratam da ‘Utilização de líquens pelas aves na construção de seus ninhos’ e ‘Líquens como indicadores da qualidade do ar no município de Campo Grande, MS’. Neste, desenvolvido na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Suzana é colaboradora de sua ex-aluna de doutorado.
São poucas pesquisas, mas com bons resultados
O Brasil ainda está engatinhando nas pesquisas de líquens, segundo Suzana, mas há boas perspectivas. “Há poucos liquenólogos brasileiros, mas fazemos parte de um grupo brasileiro e outro latino-americano, em ambos somos muito unidos, e do qual participam dois especialistas europeus com quem trocamos muitas experiências”, diz a bióloga.
Suzana está otimista diante dos bons resultados das pesquisas. “Agora mesmo nós formamos a Fabiane Lucheta no mestrado da Feevale. Ela trabalhou ao longo da Bacia do Rio dos Sinos, comparando as localidades em diferentes municípios, analisando a diversidade e riqueza de espécies de líquens. E posso dizer que ela teve excelentes resultados porque ela trabalhou nas áreas rural, rural-urbana e urbana industrial.”
Fabiane defendeu sua dissertação em 20 de fevereiro deste ano. O trabalho “Líquens como indicadores ambientais na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos: Estrutura Comunitária e Análise Funcional teve como orientador o professor Jairo Schmitt, da Universidade Feevale, e co-orientadora, a especialista da FZB.
O estudo foi realizado em nove municípios – Caraá, Rolante e Santo Antônio da Patrulha (trecho superior – matriz rural), Parobé e Sapiranga (trecho médio – matriz rural/urbana), Estância Velha, Novo Hamburgo, São Leopoldo (trecho inferior – matriz urbana/industrial), que apresentam diferentes níveis de urbanização e industrialização.
“Observamos que com o aumento da industrialização nas cidades localizadas ao longo do Rio dos Sinos (do trecho superior ao inferior) houve mudanças também nas comunidades de líquens. O número de espécies diminuiu e a quantidade de espécies tolerantes e generalistas aumentou nos municípios localizados no trecho inferior. Já nos municípios do trecho superior, registramos um maior número de espécies exclusivas e características de ambientes mais úmidos. Líquens são importantes indicadores das mudanças ambientais causadas por ações antrópicas, como o desmatamento e a transformação de florestas em áreas urbanas, como demonstramos com esse estudo”, ensina Fabiane.
Pesquisa sobre qualidade do ar em bairros da Capital
Outra aluna de Suzana, a bióloga Márcia Kaffer, fez sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia, da UFRGS, tendo como orientadora a Vera Vargas, do Setor de Biologia da Fepam (atualmente desativado).
Seu trabalho, defendido em 2011, comparou a biodiversidade de líquens em 32 bairros da área urbana de Porto Alegre e um ponto no Parque de Itapuã, em Viamão. “Usei duas metodologias. No ivo, foram avaliados a comunidade de líquens nestes bairros, mapeando diferentes árvores. Como resultado tivemos um expressivo número de espécies, com registro de novas espécies para ciência, novas ocorrências para o Brasil e RS. Também aprimorei um índice de qualidade do ar (empregado no Hemisfério Norte) para tornar ele mais sensível e adequado para o Hemisfério Sul. No ativo, fiz a exposição de duas espécies de líquens em três bairros da capital (Santa Cecília, Anchieta e Jardim Botânico). Analisei a presença de alguns metais pesados, enxofre e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no talo das espécies de líquens, além da realização de análises morfofisiológicas”, explica Márcia.
As análises de mutagênese foram realizadas por um teste (Salmonella/microssoma) utilizando partículas do ar retirados dos filtros de ar das redes de monitoramento da Fepam. Esta análise foi realizada pela equipe da minha orientadora nas dependências do Setor de Biologia da FEPAM.
Testes com líquens para Braskem duraram 16 anos
A Laboratório de Liquenologia do MCN capitaneado por Suzana prestou serviços para a Braskem durante 16 anos, de 1999 a 2015. “Na antiga Copesul avaliávamos tanto gases como metais pesados. Mas esses dados não podem ser divulgados sem autorização da Braskem”, diz Suzana.
Também houve parcerias com a GKM do Brasil, onde foram analisados metais pesados durante dois anos; para uma termelétrica a carvão, de Canoas, onde foi monitorado enxofre; assim como na Refinaria Alberto Pasqualini – Refap, onde o gás poluente analisado era o enxofre também.
“Quando uma empresa nos contrata para realizar um monitoramento da qualidade do ar em seu entorno, primeiro vamos conhecer o ramo da indústria para saber o que está sendo lançado na atmosfera. Se for do ramo coureiro-calçadista, provavelmente são metais pesados, então é isso que vou buscar nas amostras”, ressalta a bióloga.
A fim de padronizar as espécies para saber como irão reagir perante determinados poluentes, são utilizadas câmeras de fumigação, existentes na Ufrgs. “Então fumigamos um determinado gás em diferentes concentrações, por certo tempo de exposição, para ver como reagem esses organismos a diferentes gases. Depois, observamos isso na natureza, próximo de alguma indústria, para ver se ela é potencialmente poluidora ou não. Também já utilizamos outros vegetais, como goiaba, alfafa, feijão, bromélia”, destaca a pesquisadora.
Apesar dos resultados confiáveis, até agora os liquenólogos da FZB só fizeram parcerias com a iniciativa privada. A Fepam, por exemplo, nunca utilizou líquens no monitoramento da qualidade do ar. Uma vez chegou às minhas mãos um laudo sobre essa termelétrica em Canoas e a bióloga que fez um levantamento citava a ocorrência de uma espécie de líquen que nem ocorria no Brasil. Depois de um tempo, a indústria nos chamou para fazer uma análise e identificamos 72 espécies. Quase ninguém conhece a fundo esse organismo.
Por isso, a importância de multiplicar esse conhecimento. Existe um tipo de reprodução dos líquens que chama sorédios, então eu brinco que eu já lancei meus sorédios por aí”, brinca Suzana.
Preocupa destino do patrimônio genético
Além de pesquisadora e editora-assistente da Revista Iheringia Série Botânica, é curadora de três coleções no MCN – de Fungos, Líquens e Briófitas, conservadas no Herbário Alarich Schultz. O HAS possui registros da flora gaúcha e muitas coletas de outros estados. As coleções têm 12 mil amostras de líquens, 500 de fungos e umas 100 amostras de briófitas, que começou há pouco. O herbário como um todo tem mais de 120 mil amostras, contando com as algas e as plantas vasculares.
“Está tudo armazenado aqui e a gente quer saber para onde serão enviadas as coleções. E tem os typus, que são os primeiros testemunhos de uma nova espécie. E tudo isso é patrimônio genético. Porque em 2002, a nossa Fundação foi reconhecida como fiel depositária de um banco genético. Então, muitas amostras são enviadas para nós. Eu recebo muito fungo do pessoal da UCS, de Caxias do Sul”, completa.
Jardim Botânico pode integrar o Patrimônio Cultural e Histórico de Porto Alegre 1l5k21
Cleber Dioni Tentardini
O vereador Marcelo Sgarbossa (PT) apresentou projeto que propõe o tombamento do imóvel onde está a sede do Jardim Botânico de Porto Alegre. Se aprovado o projeto, o imóvel ará a integrar o Patrimônio Cultural e Histórico do Município de Porto Alegre, ficando vedadas alterações que o modifiquem ou descaracterizem.
O Jardim Botânico é considerado um dos cinco maiores do Brasil, possuindo um acervo significativo da flora regional. Em 2003, tornou-se também patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul. “Com a missão de realizar a conservação integrada da flora nativa e dos ecossistemas regionais, tornando-se um centro de referência para a pesquisa, a educação, a cultura e o lazer, contribuindo para a qualidade de vida, o Jardim Botânico possui 8 mil exemplares de 650 espécies da flora nativa do Estado”, afirma o vereador.
Além do manejo, da manutenção e da ampliação das coleções vivas de plantas, o Jardim Botânico realiza pesquisas com plantas ameaçadas de extinção e diversas atividades educativas e culturais. “E um pulmão verde da Capital, um dos locais mais aprazíveis da cidade, notabilizando-se pela guarda de significativas coleções científicas”, completa Sgarbossa.
Fundação Zoobotânica vai emitir laudos ao DAER por um ano 4c4z5s
Cleber Dioni Tentardini
A extinção de oito fundações públicas, já aprovada pelos deputados e sancionada pelo governador José Sartori, não está impedindo que o poder público recorra aos serviços dessas entidades para atender suas demandas.
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam), por exemplo, exige pareceres fornecidos por técnicos da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB) para liberar as obras de pavimentação nas rodovias estaduais.
Neste mês de março, o diretor-geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), Rogério Uberti, firmou um Termo de Cooperação com o presidente da FZB, Luiz Fernando Branco, para agilizar as licenças ambientais de obras na malha rodoviária do Estado.
Os dois paleontólogos do Museu de Ciências Naturais (MCN), da Zoobotânica, já sabem que terão que se desdobrar a partir da próxima semana para dar conta de tanto trabalho.
Na primeira etapa serão monitorados 17,3 km da RS-516, rodovia que liga Santa Maria a São Martinho da Serra, região conhecida mundialmente pelas descobertas paleontológicas. A análise é feita tanto nas estradas como no seu entorno, nas encostas.
Além da preparação e catalogação de materiais, istração do setor e orientação de alunos bolsistas, os pesquisadores terão que produzir laudos sobre a possível existência de fósseis na área.
Na eventual localização de sítios paleontológicos, deverá ser feita remoção, catalogação e armazenamento dos materiais. Esses relatórios serão anexados ao Estudo de Impacto Ambiental.
A parceria envolve também técnicos de outras áreas da FZB para a emissão de laudos sobre a flora e a fauna. “A Fundação Zoobotânica faz pareceres e laudos paleontológicos para minimizar o impacto ambiental das obras rodoviárias”, explicou Luiz Fernando Branco.
Para o diretor-geral do DAER, Rogério Uberti, a parceria vai ao encontro de uma nova postura do departamento. “A parceria com a Fundação Zoobotânica vai nos ajudar a tornar nossas ações mais dinâmicas e eficientes, garantindo a excelência na gestão ambiental de nossas obras.”
De acordo com o biólogo Luiz Carlos Leite, da Coordenação Técnica de Meio Ambiente do DAER, a cooperação entre os órgãos já se mostrou necessária em diversas oportunidades. “Já houve situações em que a Fepam nos solicitou relatórios para prosseguirmos com esses projetos. Agora, temos uma sistemática definida para atender a essa exigência”, completou.
Ao DAER caberá providenciar o deslocamento dos técnicos da FZB. A parceria tem prazo de um ano podendo ser prorrogado por igual período.
Dinossauro raro encontrado em São Martinho
Uma das mais importantes descobertas da paleontologia brasileira ocorreu em 1998 na localidade de Água-Negra, no município de São Martinho da Serra, mas só foi anunciada seis anos depois pelos pesquisadores da Universidade de Santa Maria (UFSM) e do Museu Nacional. Trata-se do Unaysaurus tolentinoi, uma nova espécie de dinossauro em território brasileiro e uma das mais primitivas que já andaram pela Terra, há cerca de 225 milhões de anos. Tolentino Marafiga foi o agricultor que encontrou o primeiro fragmento do fóssil do animal, um herbívoro de pequeno porte que, estima-se, pesava cerca de 70 quilos, tinha pouco mais de 2 metros de comprimento e cerca de 0,70m de altura.
O paleontólogo Jorge Ferigolo, do MCN, explica que esse tipo de descoberta contribuiu para esclarecer a evolução dos dinossauros e reforçar as informações sobre clima, vegetação e fauna da região em épocas distintas. Nesse caso, é do período Triássico, quando os atuais continentes ainda formavam um único e contínuo bloco de terra conhecido como Pangea.
“Na Depressão Central do Estado se situam as rochas do Triássico, período em que viveram os dinossauros mais antigos do mundo, entre 215 milhões e 245 milhões de anos, aproximadamente. Esses fósseis são encontrados no Rio Grande do Sul e na Argentina, mas aqui as rochas estão mais expostas”, afirma o pesquisador.
Paleontologia do MCN é referência mundial
A Seção de Paleontologia do MCN é uma referência em pesquisas de vertebrados fósseis, espécies que estão na ancestralidade dos mamíferos, o que atrai pesquisadores de várias partes do Brasil e de outros países. Jorge Ferigolo coordena o setor. Foi pra lá em 1982, a convite de Carlos de Paula Couto, autor de trabalhos de relevância mundial, e quem fundou a Seção enquanto ocupava a presidência da FZB em 1974. Paula Couto foi orientador no mestrado e doutorado de Ferigolo.
Nos mais de 40 anos de funcionamento da seção, já foram produzidos diversos trabalhos científicos sobre vertebrados de diferentes períodos, do Permiano, Triássico, Cretáceo, Paleoceno, Oligoceno, Mioceno e Quaternário. “Atualmente, o maior foco de pesquisa são os mamíferos sul americanos, bem como suas formas predecessoras, os cinodontes que habitaram a região em que se encontra o Estado há mais de 200 milhões de anos”, explica.
A outra sala é ocupada pela paleontóloga Ana Maria Ribeiro, a atual curadora da coleção científica da seção. Ela foi orientanda de Ferigolo na pós-graduação de Geociências da Ufrgs e, hoje, é ela quem orienta os onze alunos bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado.
“Somos apenas dois e, às vezes, recebemos vários pedidos para elaboração de laudos de empresas privadas. Normalmente, nós sabemos onde há possibilidade de existirem fósseis, mas de qualquer maneira temos que ir lá verificar. Por isso, precisaríamos de mais uma ou duas pessoas para nos auxiliar aqui”, diz.
Segundo a pesquisadora, dependendo do o ao local e do tamanho da área, pode levar um dia ou uma semana o trabalho em campo, e se for achado fóssil, leva mais tempo porque tem que ser removido o material e estudadas medidas mitigatórias. “Nas encostas há muitos afloramentos de dois e três metros, e vem o barranco, principalmente em Candelária. A região de Santa Maria está praticamente em cima de sítios fossilíferos”, completa Ana Maria.
Coleções têm mais de 10 mil peças
A coleção paleontológica foi iniciada em 1971 pelo professor Carlos de Paula Couto e hoje conta com mais de 10 mil peças, cerca de 8 mil (paleovertebrados), 1.738 (paleoinvertebrados) e 368 (paleobotânica) espécimes catalogados, pertencentes na sua maioria aos períodos Permiano, Triássico, Paleoceno, Mioceno e Pleistoceno.
A curadoria da coleção foi exercida por Paula Couto até 1982 e, hoje, é de responsabilidade da professora Ana Maria.
Em 1982, a coleção recebeu por doação de Ferigolo uma coleção de répteis e invertebrados do Permiano (idade aproximada de 280-270 milhões de anos), todos procedentes do RS, e uma coleção de peixes do Cretáceo (cerca de 130 milhões de anos), procedente do nordeste do Brasil. Em 1983, iniciaram-se as coletas de mamíferos do Pleistoceno (entre 120 e 11 mil anos) do RS, estes representados principalmente por mamíferos (e.g. gliptodontes, toxodontes, mastodontes e preguiças-gigantes).
A partir de 1996, com pesquisas também sobre o Triássico (250-202 milhões de anos) do RS, o acervo foi enriquecido com material de importância mundial: dinossauros primitivos, cinodontes (ancestrais dos mamíferos) e esfenodontídeos, ancestrais do atual Tuatara da Nova Zelândia, o réptil atual mais primitivo do Mundo.
Inclui ainda plantas fósseis, como algumas das mais antigas coníferas, além de invertebrados antes desconhecidos, como coleópteros de 220 milhões de anos.
O acervo também recebeu doações de material pleistocênico, como o material referente à tese de doutorado de Francisco SekiguchiBuchmann (UFRGS) e de Luiz Rota, de Santa Vitória do Palmar, que inclui vários milhares de espécimes, entre eles mais de quatro mil dentes fósseis de tubarão.
Bolsista estuda roedores de 20 mil anos
A bióloga Simone Neves, de Pelotas, concluiu seu mestrado e agora desenvolve sua tese de doutorado na Geociências da Ufrgs, com apoio da Seção de Paleontologia do Museu. É bolsista do CNPq e desenvolve pesquisas sobre os sigmodontinos, pequenos roedores que viveram há 20 mil anos, período conhecido como Quaternário.
“É um período recente para os pesquisadores. Meu objetivo é entender a mudança na distribuição biogeográfica desses ratos e camundongos, que ocorreram predominantemente na América do Sul”, ressalta.
Entidade repudia extinção da FZB
A Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP) encaminhou ao governador José Ivo Sartori uma manifestação de repúdio em relação ao fechamento da Fundação Zoobotânica do RS.
O texto assinado pelo presidente da entidade, Max Cardoso Langer, observa que “a Fundação Zoobotânica constitui patrimônio da sociedade gaúcha, e que qualquer tipo de intervenção que resulte no desmantelamento ou na extinção dessa importante instituição pública é motivo de indignação”.
A professora Annie Schmaltz Hsiou, do Departamento de Biologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFLCRP), da Universidade de São Paulo (USP), fez estágio na FZB, depois ganhou uma bolsa de iniciação científica na Seção de Paleontologia do MCN onde cursou até o pós-doutorado, sempre sob a orientação do professor Jorge Ferigolo.
“Além de ser um polo formador de pesquisadores possui coleções de grande valor científico sobre a fauna e flora do RS. Não consigo imaginar a FZBRS fechando suas portas. Não imagino ver colegas e amigos serem demovidos de seus cargos. Não consigo imaginar uma Porto Alegre e um estado inteiro sem este patrimônio da história natural do RS”, afirma Annie.
Estados também são responsáveis por fósseis
A Constituição de 1988 define que os fósseis são bens da União e que há a responsabilidade dos estados e dos municípios na defesa de patrimônio natural. Os “sítios de valor paleontológico” também são considerados como patrimônio cultural brasileiro.
O Artigo 23 fala da competência de proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens notáveis e os sítios arqueológicos; e impedir a evasão, a destruição e descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural.
Recentemente, a promotora do Meio Ambiente de Porto Alegre, Ana Marchesan, realizou uma vistoria nas coleções do Museu de Ciências Naturais, tendo em vista a possível extinção da FZB e de seus equipamentos vinculados.
Acompanhada da assessora historiadora do MP, Cintia Vieira Souto, e de representantes do Conselho Federal e Estadual de Museologia, a promotora constatou o “incrível trabalho de memória científica desenvolvido há anos pelos pesquisadores das mais diversas áreas e a importância que ostentam para programas de conservação da biodiversidade e do meio ambiente como um todo, sem falar na relevância como fonte para trabalhos científicos”.
Foram vistoriadas as coleções de insetos, plantas vasculares e líquens, algas (ficologia), poríferos, entomologia (insetos), malacologia (moluscos), ictiologia (peixes), erpetologia (répteis e anfíbios), ornitologia (pássaros), mamíferos (mastozoologia), paleontologia e o serpentário.
Conforme Ana Marchesan, o trabalho foi realizado tendo em vista a ação civil pública ajuizada em fevereiro de 2017 contra o Estado do Rio Grande do Sul com o objetivo de preservar o patrimônio cultural e natural do Museu de Ciências Naturais e do Jardim Botânico.
“Os trabalhos do Museu são relevantes ainda para questões ligadas à saúde da população, pois os venenos extraídos das serpentes vivas que lá estão são usados para fabricação de soro antiofídico e outros medicamentos”, ressaltou a Promotora, lembrando que há também um patrimônio genético catalogado no Museu.
Afora as coleções históricas (recebidas prontas pelo Museu), todas as demais são coleções vivas, ou seja, continuam recebendo diuturnamente materiais novos para estudos e catalogação, necessitando de curadoria permanente.
Ana Marchesan avalia que a perda parcial ou total desse acervo representará danos incomensuráveis à memória científica não só nacional como até internacional. “O Museu recebe consultas e estabelece intercâmbios com diversas instituições estrangeiras como o Museu Britânico e o Museu de História Natural de Berlim”, destacou.
"Governadores plantavam mudas aqui", diz primeiro jardineiro do Botânico 62g1x
Cleber Dioni Tentardini
De Ildo Meneghetti a Simon, todos os governadores gaúchos que Julião de Mello Prado conheceu pessoalmente estiveram no Jardim Botânico de Porto Alegre para plantar mudas de árvores nativas. “Eles faziam questão de vir aqui, uns mais que os outros como o Brizola, o Triches, lembro também do Guazelli, do Jair Soares, o Collares”, eu me dava muito bem com eles porque comecei os jardins aqui e no Palácio Piratini”, diz.
Seu Julião é um dos primeiros funcionários do Jardim Botânico. Começou em 1957, há 60 anos, portanto, ao lado do padre Teodoro Luiz, o fundador, quem o convidou para trabalhar como jardineiro. O local ainda não havia sido aberto ao público.
Acompanhou a criação da Fundação Zoobotânica, e quando achou que seria devolvido à Secretaria de Obras Públicas, onde estava registrado, o primeiro diretor da FZB, o professor gaúcho Albano Backes, o convidou para continuar no JB e com um salário maior.
Neste domingo, 19 de março, foi um dia especial para esse jovem alegretense de 93 anos e memória irretocável. Foi dia de visitar seu antigo local de trabalho e moradia, contar causos, rir, se emocionar, rever árvores que ele plantou há pelo menos 50 anos e visitar a famosa placa que registrou o plantio de mudas 1959 pelo governador Brizola, e que ele não deixou ser quebrada pelos desafetos do líder trabalhista.
A cada dez os, parava e indagava ao filho Julio: “Essa aqui é aquela figueira que eu plantei?” Sim, pai, há 50 anos. E o angico? E aquelas com frutas? Algumas caíram com o temporal no verão ado. O filho Julio conhece cada palmo do local. Foi morar com o pai lá quando tinha um ano, e trabalha há 40 no JB. É um dos três funcionários mais antigos em atividade por lá.
Um ou dois anos depois da abertura do JB, foram construídas seis casas para servir de moradia aos funcionários. Irmão Teodoro entendeu que assim a área ficaria mais segura, porque era quase tudo campo aberto, sem cercas, e transitavam livremente por lá criadores de animais e os pacientes da colônia agrícola do São Pedro.
“Eu e mais outros dois que plantamos todas essas árvores mais antigas aqui. O Irmão Teodoro era muito rigoroso com tudo, nada ava sem ele perceber, nem os milhos que eu plantei na frente da minha casa, escondido dele, quer dizer, achava que ele não sabia, mas eu estava enganado”, diz.