Ele escreveu mais de 400 livros que venderam milhões de exemplares e foram traduzidos para diversos idiomas – o dinheiro foi todo doado para obras de caridade. Trabalhou de forma incansável pelos pobres. Ficou famoso mundialmente, mas manteve até o fim a humildade. Esse é Francisco Cândido Xavier, o Chico, ícone do espiritismo no Brasil, eleito o “Mineiro do Século” pela população de seu Estado. Dono, sem dúvidas, de uma grande biografia, já publicada em livro e que em breve deve ser levada às telas de cinema. Antes, a história chegou aos palcos. Teve estréia concorrida na terça-feira, 31 de agosto, no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro, a peça “Um Homem D’Outro Mundo”, inspirada na vida e obra de Chico Xavier. Em cartaz até o final de outubro, deve cumprir depois temporada pelo país, incluindo Porto Alegre. É um espetáculo que conta agens emblemáticas da trajetória de Chico, como a descoberta da mediunidade, o encontro com seu guia espiritual Emmanuel, a primeira matéria que o Jornal O Globo publicou sobre ele, em 1935, revelando seu dom da psicografia, e até o registro de sua morte, que ocorreu no mesmo dia em que o Brasil conquistou o pentacampeonato, em 30 de junho de 2002. O momento é registrado logo na abertura, lembrando o desejo do médium de desencarnar num dia em que o povo estivesse feliz e preocupado com outro acontecimento. Logo entram em cena os atores comemorando o título da seleção, enquanto cantam a primeira canção da peça. Músicas originais vão ilustrando os acontecimentos da vida de Chico, o que, acompanhado por histórias de personagens por ele retratados – a mulher da sociedade fofoqueira, o esposo infiel, a criança mal-educada – am a mensagem de seus livros e dão grande agilidade ao espetáculo. Até para expressar o que o médium pensa de temas como aborto, eutanásia e sexo, utiliza-se o artifício de um programa de entrevistas, em que o convidado é Chico Xavier. “Não queria uma peça pesada, dogmática. A proposta era fazer um texto que transmitisse o conteúdo divertindo o público”, explica Ivens Godinho, diretor e autor do espetáculo. Gaúcho, radicado no Rio há 35 anos, ele conta que evitou fazer qualquer apologia à crença ou religião. “Não é uma peça espírita”, resume. Na prática, retrata virtudes e mazelas humanas, sempre com muito humor. Respeitosa, a platéia resiste a dar gargalhadas quando se está falando do ícone do espiritismo. Mas o público não contém o riso em cenas como a em que Chico é levado a um prostíbulo por um amigo, a mando de seu pai. Ao chegar no local, surpreso e tímido, ele é convidado pela dona do estabelecimento a rezar. Logo a função da noite é encerrada para que todas as meninas façam a oração com o ilustre visitante, revoltando os clientes da casa. O ícone do espiritismo é representado com grande desenvoltura por Alexandre Teves. Com mais experiência de palco como cantor do que ator, ele estudou gravações, entrevistas e vídeos do médium, obtendo uma bela performance, tanto na imitação da voz e do sotaque mineiro, como nos trejeitos, que ganham força também pela bela caracterização do figurino. Outro ponto forte do espetáculo são os números musicais. Além de Teves, Alexander Zimmer, Carla Nascimentto, Jerusa Castellucci, Lozano Raia e Luana Farajk cantam as diversas músicas com grande competência, entusiasmando a platéia – uma das performances mais belas é a canção que conta a história da cortesã espanhola Lola. Tudo isso vem intercalado por textos de grandes autores que Chico psicografou, como o jornalista Humberto de Campos e os poetas Augusto dos Anjos e o português Bocage. O resultado é um trabalho que empolga a espíritas e não-espíritas, não só pelos ensinamentos da vida de Chico, mas também pela humanidade de seus personagens e pela leveza do texto. Vivência com Chico Autor, diretor e produtor de “Um Homem D’Outro Mundo”, Ivens Godinho vem gestando a idéia de um espetáculo sobre Chico Xavier há anos. Bem antes disso, ainda na sua infância, conheceu o médium mineiro, a quem visitaria diversas vezes ao longo de sua vida. Como revela o programa da peça, os pais de Godinho, Ivandel e Iolanda, viajavam todos os anos à cidade de Uberaba (MG), onde Chico viveu. “É um personagem que percorreu o imaginário de minha infância”, conta o diretor. E marcou fatos de sua vida adulta. Após a morte, seu pai escreveu uma carta para a mãe Iolanda através do médium – o texto, guardado como relíquia, foi ampliado para servir de pano de fundo do cenário de “Um Homem…”, trabalho de George Bravo e Letícia da Hora. A peça é um momento especial na carreira de Godinho, que desde 1971 vem atuando nos palcos cariocas, onde trabalhou com diretores consagrados, como Ziembinski, o francês Claude Regy, Pernambuco de Oliveira, Luiz Antônio Martinez Correa, Aderbal Freire, Maurice Vaneau e Ary Koslov. Também como ator, participou de espetáculos importantes como “Chiquinha Gonzaga”, “Um Bonde Chamado Desejo” e “Ópera do Malandro” e de filmes como “Pra Frente Brasil” e “Se Segura Malandro”. Mais informações sobre “Um Homem D’Outro Mundo” em www.chicoxavier.kit.net 5u1tn
Categoria: X.Categorias velhas 1a206v
Artistas protestam contra abandono da cultura 5g3x5o
Adriana Lampert
Empunhando cartazes, rufando tambores e repetindo a frase: “Burrocratas da Cultura: se não têm o que fazer, demitam-se!”, quase uma centena de artistas do Movimento de Grupos de Investigação Cênica protestaram nas ruas do Centro de Porto Alegre na tarde de terça-feira (06) pelo que consideram a total falta de projetos culturais tanto por parte do Município, como do Estado e União. A manifestação começou às 13h, só terminando por volta das 17h, após o grupo ter ado pela Secretaria Estadual de Cultura (Sedac), Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A marcha partiu do Museu do Trabalho, seguindo pela Rua dos Andradas até a Esquina Democrática. Lá, o grupo vestido com pijamas, estendeu colchonetes para tirar uma soneca. Caras pintadas, perucas, pantufas, chupetas e narizes de palhaço foram os órios usados para o figurino principal. Ocuparam todo o eixo central da Esquina, e foram rodeados de curiosos, fotógrafos, repórteres e câmeras de televisão.
Usando microfones, explicaram que a manifestação chamada “Dia de Imobilização da Cultura” pretende chamar a atenção da opinião pública e dos órgãos responsáveis. “O que vemos é um cenário de total inércia. Não há iniciativa dos funcionários para a criação de projetos na área cultural, tanto a nível municipal, como estadual e federal”, reclamou o diretor do Depósito de Teatro, Roberto Oliveira, quando o grupo chegou à Sedac e foi recebido pelo secretário Victor Hugo, que está substituindo Roque Jacoby na pasta estadual da Cultura.
O diretor de teatro Jessé Oliveira entregou ao secretário substituto uma carta onde o Movimento solicita uma reunião com o titular da Secretaria. A proposta é apresentar questionamentos e sugestões, promovendo uma discussão sobre a política cultural no Estado.
As principais reclamações são a inexistência de projetos e o descaso por parte do Instituto Estadual de Artes Cênicas (Iacen). Entre as exigências, querem a transparência no processo de seleção da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) e a implementação do Fundo Estadual da Cultura. Após o protesto, os artistas saíram do prédio da Sedac com a promessa de que o secretário Roque Jacoby irá atende-los na sexta-feira ( 09 ), às 11h.
Na Casa Torelly, o grupo entregou a mesma carta à secretária adjunta Ana Fagundes. As principais reivindicações giram em torno do projeto de Descentralização da Cultura (que promove oficinas de arte nas periferias) e do Fumproarte. Os 23 projetos em andamento pelo Fumproarte estão esperando as verbas que deveriam ter saído em julho, e que estão previstas somente para o final do ano. “Não existe nenhuma lei que responsabilize o Município pelo descumprimento do contrato. Mas se o proponente não cumprir o previsto, é punido”, ressalta Inês Hubner, da Comissão de Proponentes do Fumproarte.
A atriz Sandra Possani diz que está havendo um desmonte na cultura municipal. “Os oficineiros da Descentralização foram dispensados sob a alegação de que a Prefeitura não tem dinheiro para pagar os cachês”, observou. Deitados na sala de recepção da Casa Torelly, os artistas ouviram de Ana Fagundes algumas explicações. “Concordo com a maior parte do que vocês reivindicam. Mas realmente não temos condições de implantar nada no momento. Não tem verba”, argumentou a secretária adjunta da Cultura municipal.
No Iphan, os artistas também entregaram a mesma carta. Quem recebeu o grupo foi Rosana Dalsasso, representante do ministro Gilberto Gil.
“Dormindo” na sala de recepção do Instituto, reclamaram do descumprimento de promessas do Ministério da Cultura, incluindo editais que não foram realizados e reivindicando os R$ 30 milhões para o setor anunciados pelo ministro Gilberto Gil no início do mandato. Também cobraram aumento para 2% do Orçamento da União destinados à Cultura.
Audiência pública sobre pedágios mantém indefinição 475g5k
Adriana Lampert
Para Mac Dowel, aumento do prazo de concessão pode ser uma saída (Foto Mauro Schaeffer/AL/JÁ)
O debate sobre os contratos dos pedágios que ocorreu na tarde de segunda-feira (5) no Plenarinho da Assembléia Legislativa não foi conclusivo. Após três horas de audiência pública o presidente da Comissão Especial das Rodovias Concedidas, deputado Márcio Biolchi (PMDB), encerrou os trabalhos com a certeza de que ainda serão necessárias mais considerações técnicas e sociais, para que finalmente sejam construídas alternativas para o ime.
Ele garantiu que a exposição do professor Fernando Mac Dowel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – principal personagem do encontro – contribuiu porque traz uma visão externa do assunto, mas ite: “Falar em concessão no Rio Grande do Sul é um assunto indigesto. No entanto, é nosso dever levantar subsídios para o debate que antecede a votação do projeto entregue pelo governador Germano Rigotto”.
Segundo Mac Dowel, ampliar as concessões de 15 para 25 anos pode ser uma saída, dividindo as opiniões do público que ocupou quase todas as 120 cadeiras do Plenarinho. Estavam presentes representantes do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) e associações e sindicatos de empresas de transporte de cargas e das concessionárias.
Entre outras coisas, Mac Dowel lembrou que erro de previsão de tráfego é um problema que deve ser de responsabilidade das concessionárias. Para ele, quanto mais curto o prazo de um investimento, mais impacto terão as tarifas. Opinou ainda que se o programa atual não tivesse sido modificado, as tarifas estariam mais baratas.
As considerações apresentadas por Mac Dowel se basearam em estudo feito por ele para o Governo do Estado, antes da do termo aditivo do Programa Estadual de Concessão de Rodovias (PECR), em 2001. Ele ressaltou que antes da explanação desta segunda-feira, leu o levantamento apresentado pela Agergs ao governo gaúcho e o adaptou aos dados de seu estudo. “Ao ler o levantamento da Agers, fiquei tranqüilo porque vi que o programa tem saída no processo” disse.
O presidente da Associação Gaúcha de Concessionárias de Rodovias (AGCR), Sérgio Coelho da Silva, concordou com Mac Dowel: “Se o programa inicial fosse mantido, estaríamos hoje com tarifas de R$ 3,20 e não de R$ 4,70”. Já o presidente Sindicato das Empresas Transportadoras de Cargas do RS (Setecergs), Sérgio Gonçalves Neto, disse que a categoria não é contra os pedágios, mas que entende que os valores são exacerbados e que não estão sendo destinados a investimentos nas rodovias. “Aumentar as tarifas é incompatível”
O relatório final da Comissão será apresentado até o dia 15 de setembro, antecipando o prazo, que terminaria dia 19. Amanhã o presidente da Comissão Especial das Rodovias Concedidas da Assembléia Legislativa se reunirá com a equipe técnica para novas avaliações.
A proposta assinada pelo governador Germano Rigotto está em discussão na Assembléia Legislativa desde 29 de agosto e deverá ser encaminhada à Comissão de Justiça até o próximo dia 12. Caso os prazos não sejam alterados, a tramitação do projeto vai até o final do mês. Depois vai para a pauta do dia no plenário para ser votado pelos deputados.
Até agora, a maioria dos parlamentares é contrária ao projeto. Ele prevê reajuste de 10% para o pólo de Santa Cruz (em quatro parcelas de 2,5%), 5% para o pólo de Lajeado (quatro parcelas de 1,25%) e de 20% para os outros cinco contratos (quatro parcelas de 5%), Estes reajustes vão se somar ao percentual anual de aumento das tarifas, que ocorre em janeiro.
Originalmente o projeto de lei nº 194/2005 estipulava um reajuste linear de 20% nas tarifas dos sete pólos rodoviários do Estado – dividindo este valor em quatro parcelas de 5% para todas as concessionárias. Essa proposta foi rejeitada e, sob pressão da Agergs, modidicada.
Mesmo assim, os deputados não estão a fim de assumir este projeto impopular. Argumentam que o Executivo poderia decidir sozinho o reajuste dos pedágios. Para eles, o governador Rigotto está querendo dividir o ônus. Os deputados estão sugerindo ao Executivo sua retirada, mas até agora, Rigotto não cedeu.
Conforme Giovani Cherini (PDT) os percentuais de reajuste, baseados em índices apresentados pelas empresas, “não são confiáveis”. Ele também acredita que o momento não é adequado para aumento. Elmar Schneider (PMDB) ressalta que “nos últimos quatro anos os valores dos pedágios já tiveram um aumento de 100%.” O líder do governo, deputado Fernando Záchia (PMDB) disse que o Palácio Piratini insiste que os deputados devem se manifestar sobre a proposta, como fizeram em 2000. itiu no entanto, que se a Assembléia Legislativa entender que é melhor prorrogar os prazos, o executivo aceitará a decisão.
Afinal, o prejuízo vai ficar com quem?
O Governo afirma que o projeto de lei busca o reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos firmado com as concessionárias Metrovias, Coviplan , Convias, Brita Rodovias, Sulvias, Rodosul e Santa Cruz Rodovias. De acordo com o presidente da Associação Gaúcha de Concessionárias de Rodovias (AGCR), Sérgio Coelho da Silva, o aumento das tarifas não é solução para os prejuízos que as empresas vêm sofrendo. Para ele, existem outras maneiras de resolver o problema.
A sugestão é que o governo abra novas praças, como está previsto na lei criada em 1998, durante o governo Britto.“O fechamento de rotas de fuga e ampliação dos prazos dos contratos de concessão, (acertados em 15 anos) seriam outras duas formas de reaver os investimentos”. Ele lamenta a opção feita pelo governo do Estado para corrigir as distorções e que afetam o setor. “O projeto despreza os estudos técnicos feitos pela Agergs e pelo Daer, que apontam um desequilíbrio superior a 50%”, declarou Silva em nota oficial à imprensa.
A Secretaria Estadual de Transportes garante que o Governo levou em consideração os estudos apresentados pela Agergs, e lembrou que os dados do Daer são muito semelhantes, tendo sido a principal fonte da decisão do índice de reajuste das tarifas.
A Agergs contesta tal afirmação. “Não sabemos quais os números foram considerados pelo Governo, porque não fomos solicitados a esclarecer os dados do nosso estudo”, diz a presidente da agência reguladora do Estado, Maria Augusta Feldman (foto). “O diagnóstico da Agergs não apresenta este valor, mas sim vários cenários para que haja o reequilíbrio. Entre eles, a abertura de novas praças de pedágios”, completa. Maria Augusta também critica a falta de diálogo entre as partes e diz que há risco de um colapso no setor, caso não seja encontrada uma solução adequada.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do RS (com 400 filiados), Sérgio Neto, diz que a entidade é contra o aumento das tarifas e não acredita nos números apresentados pelas concessionárias. “Estas empresas alegam que há um desequilíbrio econômico-financeiro nos contratos, então porque não recindem os contratos?”, indaga.
Ele interpreta que governo e sociedade são reféns “do acordo equivocado feito pelo governo Britto”. Segundo ele, o contrato de concessão sequer prevê que os pedágios tenham obrigação de construção de novas estradas. “A arrecadação só serve para a manutenção, que é feita de forma pífia”. Sérgio Neto alega que a situação das estradas não são boas, “no máximo regulares”. “Com exceção da Free way , onde a Concepa fez novas pistas, melhorou pisos e realizou outras melhorias”.
Neto ressalta que o aditamento feito durante o governo Olívio Dutra também contribuiu para esta situação. “Deixaram de fazer reajustes, mas também cobraram menos investimentos e qualidade”. A Agergs confirma: No aditivo de 2000 (governo Olívio) o índice de qualidade e de investimentos exigidos foi reduzido. E mesmo assim, as empresas só cumpriram 80%.
Sérgio Coelho , da AGCR contesta: “as empresas vêm cumprindo de forma séria e responsável os contratos assinados, apesar dos sucessivos descumprimentos do Governo desde a implantação dos serviços, em 1998”. E ameaça: “Se não houver uma solução, aí sim, entre as muitas conseqüências estarão a degradação das rodovias por falta de manutenção e o afastamento de investidores de programas futuros”.
Concessionárias enfrentam ações judiciais
A informação de que as concessionárias estão no prejuízo é confirmada pelo diagnóstico realizado pela Agergs entre outubro e fevereiro deste ano. Os prejuízos fazem parte dos riscos de contratos, comuns neste caso das concessionárias. Entre eles, estão as rotas de fuga. “Está dito no contrato que são as empresas que têm de dar conta deste problema. Mas o governo também não cumpriu algumas questões, como a abertura de novas praças e o parcelamento de tarifas”, explica a presidente da Agergs.
Outro fato que resulta em redução de receita são as ações judiciais. Somente no pólo de Caxias do Sul deverão ser gastos R$ 26 milhões devido aos processos. Em Viamão, o Ministério Público entendeu que os moradores da cidade não devem pagar pedágio na rodovia. Em Farroupilha a praça de pedágio ficou 23 meses parada enquanto decidiam sua legitimidade.
Em rodovias onde falta efetivo da Polícia Rodoviária, as concessionárias também foram obrigadas a assumir a permanência de para-médicos e guinchos, além da implantação da infra-estrutura (ambulâncias, por exemplo.) da qual já eram responsáveis.
Participação popular está enfraquecida 3o1c5w
Guilherme Kolling
A Prefeitura convocou um seminário para debater planejamento e participação nesta sexta-feira, 2 de setembro, no Senac da rua Cel. Genuníno. A idéia era ouvir os delegados e conselheiros para melhorar a parceria população-Prefeitura nas decisões. Cerca de 200 pessoas participaram.
Representantes dos oito Fóruns de Planejamento do Município, que integram o Conselho do Plano Diretor, apontaram uma série de problemas no funcionamento dessas estruturas. Em resumo, pode-se concluir que, depois de oito meses de gestão do Governo Fogaça, houve enfraquecimento dos Fóruns. Em algumas regiões, os encontros foram esvaziados. Em outras, nem ocorreram reuniões.
Há também queixas pela ausência de representantes da Prefeitura e falta de infra-estrutura – local para os debates, computador e gente para fazer as atas e documentos. Pior, nas regiões em que o trabalho está funcionando, o poder público não responde às demandas apresentadas, queixa que, aliás, já se ouvia na istração do PT.
O conselheiro da Região de Planejamento 8 (Extremo Sul e Restinga), Nilson Lopes Coelho, diz que o grupo era um dos mais atuantes da cidade, mas que em 2005 houve diminuição da participação e se perdeu o foco dos encontros. “A Prefeitura só enviou representante agora, na última semana de agosto. Esperamos que esse seminário possa ser o início de uma nova arrancada”.
Na RP 4 (zonas Leste e Nordeste), o conselheiro Otávio da Silva Oliveira conta que só há reunião quando tem algum processo importante sobre o local, para prestar contas à comunidade. “O Município se fez presente em poucas ocasiões. Deveria convocar mais os Fóruns, mas acho que isso é uma questão de tempo”, acredita.
Lauro Rossler, da RP 5 (Glória, Cruzeiro e Cristal), fez a primeira reunião do ano em agosto, em parceria com a RP 6 (Zona Sul). “Nosso último encontro tinha sido em dezembro de 2004. Precisamos de infra-estrutura, computador, uma sala, um secretário para fazer as atas”, reivindica.
Os representantes da Zona Sul também sentem a falta da presença da Secretaria do Planejamento, como informa Liana Seifriz, secretária da RP 6. O conselheiro da Região, César Seifriz, reitera o pedido de apoio, já que os encontros são num espaço cedido pela Igreja Nossa Senhora das Graças.
Rolf Nauman, da RP 2 (Norte e 4º Distrito) revelou o empenho do grupo na elaboração do Plano de Ação Regional, apontando problemas e necessidades da zona. “Fizemos um compêndio dessa grossura e recebemos uma resposta fraca do Executivo”, lamentou. Ele sugeriu que cada Fórum faça um balanço anual das discussões para entregar à Secretaria do Planejamento Municipal. “Sem o apoio da SPM não dá para fazer um trabalho satisfatório”.
O conselheiro da RP 1 (área central), Samuel Quintana, lembrou a proposta de vencer o Estado-centrismo, unindo o saber técnico dos funcionários municipais com o saber prático da população. Ou seja, colocar em prática as decisões conjuntas. “Precisamos de investimentos para acelerar essas políticas de planejamento urbano ambiental”, alertou.
João Vieira, da RP3 (Eixo Baltazar) pediu a regulamentação dos Fóruns Regionais de Planejamento e que haja uma interatividade entre o Conselho do Plano Diretor e os outros 22 conselhos municipais, como o do Meio Ambiente (Comam) e o do Patrimônio Histórico Cultural (Compahc). “São áreas afins, mas nem sequer nos conhecemos”, observou.
Eduíno de Mattos, da RP7 (Partenon – Lomba do Pinheiro) apontou o diferencial de sua região, onde há um Grupo de Planejamento Local, que já elaborou projeto para a Lomba do Pinheiro. Mesmo assim, itiu que as reuniões estão esvaziadas. “A istração municipal precisa ter mais coragem para que haja uma co-gestão entre Fóruns e Governo. Não somos adversários, somos parceiros”.
Prefeitura promete dar resposta
A Prefeitura promete apoiar a retomada dos Fóruns das Regiões de Planejamento. O secretário Isaac Ainhorn disse que já designou uma equipe para dar para atendimento e acompanhar as reuniões nas diversas regiões da cidade.
“Esse seminário representa a valorização dos Fóruns, que vão receber infra-estrutura e vão retomar sua rotina. A proposta do Governo é intensificar as atividades em cada uma das regiões. E em 40 dias vamos enviar projeto para regulamentar os Fóruns das Regiões de Planejamento”, garante.
O prefeito José Fogaça também defendeu a participação da comunidade nas políticas de desenvolvimento urbano de Porto Alegre. Mas lembrou que antes de encaminhar o texto à Câmara Municipal, o Executivo promoverá o diálogo com a população para ouvir, trocar idéias e buscar soluções para trabalhar em conjunto. “Queremos um processo democrático de decisões”, afirmou.
Chico Buarque : mensalão não dá samba 425a4q
Na chegada em o Fundo, durante a Jornada Literária na semana ada, o compositor e escritor Chico Buarque de Holanda deu uma entrevista coletiva. Falou que está compondo novamente, nada diretamente político, está pensando em “algo mais atemporal”, já tem quatro ou cinco canções, mas ainda não sabe o que vai ser. “Você quer que eu faça um sambão do mensalão, é isso? Pelo amor de Deus, não dá”. Essa foi a reação de Chico Buarque quando um repórter perguntou se a crise política atual vai influenciar o novo disco que ele está gestando.
Revelou, mais uma vez, o temor de que a canção popular, como ele sabe fazer, seja um gênero musical do século ado, como foi a ópera foi no século XIX. Talvez ele não tenha mais o “élan juvenil que a música requer”.
Os escritores presentes ao evento torceram o nariz, provavelmente consideram Chico um intruso na literatura. Os mais agressivos creditaram o prêmio a uma atitude marqueteira dos organizadores, pois Chico sempre dá mídia. O poeta Ivan Junqueira, presidente da Academia Brasileira de Letras, quando soube que a aglomeração no auditório era uma entrevista do Chico Buarque comentou: “Então, deixa eu ar ao largo”.
Com as mulheres (grande maioria no evento) foi diferente. Chico foi alvo de ruidosa tietagem de avós, mães e filhas, de menos de 15 aos 60 e poucos. Paciente, deu autógrafos, recebeu beijos e abraços e posou para fotografias com as fãs. “Essa foto é para ela”, explicava a avó com a netinha no colo. “Ai, acho que vou chorar”, dizia a mocinha beijando o cartão com o autógrafo.
A entrevista foi fraca. Era como se os repórteres, mais de vinte, estivessem constrangidos diante daquela figura pequena, desamparada na ampla mesa, segurando o microfone, disposta a responder perguntas. Mas o velho Chico não decepcionou.
Música popular está sem espaço, sendo sufocada?
Chico – Não vejo assim. Talvez exista um bloqueio na grande mídia, na tevê principalmente, que tende a uma certa homogeneização, mas as manifestações existem em todos os Estados, todas as regiões. Talvez a tevê seja hoje menos aberta do que já foi. O rádio…eu quando comecei a me interessar por música ouvia tudo no rádio, não só música brasileira, todo o tipo de música popular, americana, latina, sa, italiana. Talvez hoje a difusão seja mais difícil, mas as manifestações existem.
Com relação ao governo?
Chico – Bem, eu já disse, estou decepcionado. Não creio que o meu sentimento seja mais importante do que o sentimento de outras pessoas. Gosto do Lula, votei nele, mas não estou contente, a eleição dele foi importante para a democracia… estou triste, mas isso é tão importante quanto a alegria raivosa dos que nunca gostaram do Lula.
E o novo disco?
Chico – Estou querendo fazer música. Tenho feito isso, descansar da música escrevendo e descansar da literatura fazendo música.
Como foi escrever Budapeste?
Chico – O livro me custou dois anos de trabalho. Escrevia todos os dias, rasgando, jogando fora. Jogar fora também é escrever, é melhor, as vezes, do que escrever propriamente. Enfim, escapar de armadilhas, definir o tom, importante não perder o tom, comer, dormir, sonhar com o livro. Mas não havia disciplina, havia uma obsessão. Não teve sacrifício não. Não tenho grande prazer em escrever, gosto mais de ler.
Diferença entre escrever e fazer música?
Chico – Quando comecei escrever o Estorvo (NR: seu primeiro livro) já estava há um tempo sem escrever música. Precisava criar, comecei a pensar será que terei o que dizer mais com a música, de repente teria que encontrar outro instrumento. Talvez a música dependa mais de um certo elán juvenil…A literatura requer mais reflexão, menos arroubo. Talvez, então, inconscientemente, eu comecei a preparar a cama para trabalhar até mais tarde. Isso acontece com muitos compositores de música, de repente esgota e não conseguem criar mais.
O público…
Chico – Talvez a música popular seja uma forma do século vinte, talvez a música do século vinte e um seja outra coisa que não essa que eu sei fazer.
Quais são as suas leituras, seus autores?
Chico – Quem leio? Leio os contemporâneos. Tem escritor que não lê os contemporâneos, depois se queixa que não é lido, se nem ele, que é escritor, lê os que estão escrevendo, quem vai ler? Gosto de ler, leio o que aparece. Não tenho muitas amizades no meio, Rubem Fonseca, Veríssimo, uns seis ou sete. Já tive mais amigos entre os literatos, mas depois que comecei a escrever perdi alguns.
A crise política inspira?
Chico – Você quer saber se vou escrever sobre o mensalão, o sambão do mensalão…Pelo amor de Deus. Não, estou até meio parado, porque fiz uma operação no dedo, não estou conseguindo tocar violão. As quatro ou cinco letras que escrevi foram anteriores a essa crise, de qualquer modo não creio que o momento político seja inspirador, estou pensando em algo mais atemporal.
Fragmentação da esquerda pode reabilitar o velho PCB 4x155o
(Foto: José Cruz/Abr/JÁ)
José Antonio Severo, de Brasília.
Como 1968, o Ano que Não Terminou, este mês de agosto só vai acabar dia 18 de setembro, quando se decidir mais uma vez o futuro da esquerda brasileira.
O professor Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula, mas, principalmente, um dos mais destacados pensadores políticos do País, compara o perigo de estilhaçamento do PT com o grande racha do Partido Comunista em 1964.
Naquele ano, impactado pela derrota ante o golpe militar, o Partidão fracionou-se sem conseguir reaglutinar-se, reunindo os dissidentes numa nova organização. Isto levou a esquerda fracionada para embates isolados, sofrendo um revés após outro até se reencontrar no PT, um partido que, como diz Marco Aurélio, unia pelo político, não pelo ideológico, criando-se, assim, uma nova força que chegou ao poder numa campanha fulminante, geometricamente crescente desde sua fundação até a vitória de Lula em 2002.
O temor de uma volta aos velhos tempos não é infundado. As lideranças descontentes e já em marcha batida para a dissidência movimentam-se celeremente à procura de abrigos na teia partidária existente.
Ante à certeza da vitória da tendência Campo Majoritário, não há outra saída para as correntes que pretendem manter-se no processo político eleitoral. A legislação em vigor dá um prazo fatal para a adesão, dia 3 de outubro, um ano antes das eleições gerais.
Quem pretender disputar, precisa estar filiado a uma agremiação que lhe dê a necessária legenda para candidatar-se. ite-se, como é, aliás, normal, que o PT negará legenda aqueles que se desfiliarem.
Nesse cenário, os grupos operam junto às legendas de esquerda que detém o registro de partidos legais habilitados a disputar eleições. Nesse processo, teme-se a fragmentação da esquerda, novamente.
Segundo Marco Aurélio, não há uma movimentação social que leve à reaglutinação desses grupos numa nova e consistente agremiação, o que poderia criar um espaço para negociação e formação de uma nova aliança. Esta seria a sina da esquerda, diz ele, como nos idos dos anos 60, quando se fracionou e não produziu fatos populares que gerassem o novo partido composto pelas dissidências comunistas engrossadas pelos demais grupos à esquerda, como Polop, Ação Popular e outros.
O único fenômeno de massas, naquele tempo, foi a eata dos 100 Mil, no Rio, que ele hoje vê como uma espuma de classe média, sem profundidade, deslocando-se na contra-mão da história: os militares tinham mudado o país e vinham obtendo crescente apoio da população, um fato não reconhecido e até desqualificado naquele tempo, hoje incontestado pelo processo que se formou no governo Medici. O Milagre cooptou as massas e foi se extinguindo, pouco a pouco, com o esgotamento da “revolução” até se desmanchar na grande mobilização das Diretas Já, mais de 10 anos depois.
O que se vê hoje em Brasília é uma busca desenfreada por legendas para evitar que o racha petista deixe ao léu um grupo de forte poder eleitoral. Uma das alternativas que está em exame e negociação é a retomada da legenda do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão, que, ao contrário do que se pensa, não se extingiu com a fundação do PPS, para onde se deslocaram os antigos líderes comunistas.
A legenda PCB tem registro e pode disputar eleições e receber adesão de congressistas, ao contrário do PSOL, que ainda não tem vida legal para o processo eleitoral e não poderá participar do pleito de 2006. No entanto, o velho PCB está controlado por um grupo de velhos militantes, extremamente radicalizados, que reluta em receber os quase ex-petistas, por considerá-los muito conservadores. Ou, melhor dizendo, pouco revolucionários por aceitarem o processo das eleições burguesas.
A crise da esquerda é, de fato, a grande crise deste momento. Os problemas do governo, os embates das comissões, tendem a extinguir-se quando esse ime petista mostrar seu epílogo. No centro do processo está a recandidatura do presidente Lula. Mas este já será um novo capítulo desta mini-série. Apenas uma piada ficaria: o PCB volta à cena à esquerda do PcdoB.
Plano Diretor: movimentos de bairro retomam mobilização v473n
Guilherme Kolling
Os movimentos de bairro estão retomando a mobilização para revisar o Plano Diretor de Porto Alegre. Desta vez, o assunto é a preservação do patrimônio histórico. A Secretaria do Planejamento Municipal está para enviar à Câmara o projeto das áreas especiais de interesse cultural.
De novo, Moinhos de Vento e Petrópolis lideram comunidades para tratar do assunto. As associações convocaram reuniões com os moradores e convidaram a arquiteta Ana Lúcia Meira, superintendente regional do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para palestrar sobre o tema.
Em 23 de agosto, a reunião foi no clube Leopoldina Juvenil. “O objetivo do encontro foi mostrar a importância do projeto das áreas culturais para a preservação das características do bairro e também preparar o grupo para o debate que vem pela frente”, explica Alda Velloso, vice-presidente do Moinhos Vive.
O presidente Raul Agostini destaca o grande número de moradores presentes e o interesse crescente sobre o tema. Ele teme as alterações que estão sendo feitas no texto original, entregue no final do ado. “O novo estudo é uma caixa preta, não sabemos o que esperar das modificações”, conta.
O título da palestra “Das igrejas barrocas à Casa da Estrela” faz menção ao imóvel símbolo da defesa de preservação no Petrópolis – o movimento do bairro já fez duas manifestações ao redor da casa. Além de mostrar a história da preservação do patrimônio histórico-cultural na cidade, no Brasil e no mundo, a arquiteta explicou conceitos na área.
“Houve uma ampliação na definição do que é patrimônio. Não se trata mais só do que histórico ou artístico. Agora é incluída também a questão do patrimônio cultural, o que a sociedade dá valor. E não é algo necessariamente monumental, mas uma referência importante. Sob esse aspecto, a Casa da Estrela, no Petrópolis, e o casario da Luciana de Abreu, no Moinhos de Vento, são patrimônio”, explicou.
Ana Meira também falou de tombamento, esclarecendo que a medida não é sinônimo de “congelamento”, nem perda da propriedade. “Só não é permitido demolir e descaracterizar”, observa. Ela diz ainda que, nos debates, o Sinduscon costuma confundir tombamento de determinados bens com áreas de interesse cultural.
“Não é verdade que esses locais são tombados ou congelados. O que ocorre é a criação de um disciplinamento urbano que preserva as características desses locais. Como se fossem uma pequena zona do Plano Diretor, com seu regime urbanístico e índices construtivos específicos”.
A arquiteta elogia o texto original, feito pela Equipe do Patrimônio Histórico Cultural (Ephac) da Prefeitura em parceria com professores da Ritter dos Reis. “É um trabalho reconhecido, criterioso, que faz simulações sobre o possível futuro dessas áreas, estabelecendo medidas compatíveis. Se ocorrer uma revisão nesses parâmetros sem critérios, pode haver uma distorção, podendo resultar na perda das qualidades que tornaram aquela área especial, isto é, podem se tornar áreas comuns”, projeta Ana Meira.
A nova istração do Município retirou o projeto de lei encaminhado à Câmara no final de 2004, na gestão de João Verle, com a proposta de revisar o texto e fazer eventuais modificações. Cinco arquitetos da Secretaria do Planejamento trabalharam nas mudanças e as discutiram com funcionários da Secretaria da Cultura nesta semana. A proposta deve seguir ao prefeito e depois ser apresentada ao Conselho do Plano Diretor, para depois seguir á Câmara Municipal.
Novo capítulo na história da preservação
A arquiteta Ana Meira estuda a preservação do patrimônio histórico desde 1975, quando decidiu dirigir sua carreira para esse campo, então pouco desenvolvido no Brasil. Hoje a especialista é superintendente regional do IPHAN.
Em 2004, lançou pela Editora da Universidade o livro “O ado no futuro da cidade: políticas públicas e participação popular na preservação do patrimônio cultural de Porto Alegre”. O estudo abrande o período entre as décadas de 1970 e 90.
Para ela, o surgimento dos movimentos de bairro – Moinhos Vive, Petrópolis Vive, Porto Alegre Vive – no início dos anos 2000 representa um novo capítulo na história da preservação do patrimônio da cidade. “É uma surpresa maravilhosa ver tantas pessoas se preocuparem com o tema. E são preparadas, é só dar espaço para que elas se manifestem”, aponta.
Ela identifica o surgimento desses grupos a partir dos primeiros efeitos do Plano Diretor de 2000, quando muitos aram a “sentir a pressão imobiliária no quintal de casa e começaram a se organizar”.
A arquiteta destaca ainda que as pessoas já são conscientes sobre a importância de preservar o patrimônio cultural, lembrando que o movimento surgiu de forma espontânea e com muita clareza nos objetivos que buscam.
“Esse novo momento traz vitalidade para a discussão da preservação, pois o assunto deixa de ser uma coisa vista só por especialistas. Interessa a todos”, observa.
Ana Meira lembra que o início da participação popular ocorreu ainda nos anos 60, quando intelectuais da cidade como Alberto André, Leandro Telles, Riopardense de Macedo escreviam artigos sobre o tema. Depois foi se ampliando, englobando outros profissionais. Anos depois, Paulo Sant’Anna escreveu uma coluna protestando contra a possível demolição do Mercado Público para a construção de um estacionamento.
Seguem-se abaixo-assinados para evitar a destruição de casas em diversos pontos da cidade. Até que em 1989, num momento emblemático, proprietários do casario na rua Félix da Cunha, bairro Moinhos de Vento, pediram o tombamento dos próprios bens.
O período do final dos anos 80 e os anos 90 retrata a popularização do tema em toda cidade. Conforme apurou Ana Meira, demandas do Orçamento Participativo pedem o tombamento de imóveis em diversos bairros da cidade: no Partenon, na Vila Nova, em Belém Novo.
A superintendente do IPHAN conta ainda que “Porto Alegre é uma das cidades que mais tem leis que se referem à preservação do patrimônio. Ao lado de Florianópolis, é uma das duas primeiras capitais do Brasil a ter lei municipal do tombamento e mecanismos de preservação no Plano Diretor” – falta implementar as áreas especiais de interesse cultural.
Jovens presos por agressão a judeus são soltos 5q6x3n
Laureano, Valmir, Leandro e Israel no Fórum, com o alvará de soltura (Fotos Naira Hofmeister)
Guilherme Kolling
O caso do ataque de skinheads a três rapazes judeus na Cidade Baixa, em 8 de maio, teve uma reviravolta. A Justiça itiu nesta quinta-feira, 25 de agosto, que os quatro jovens acusados pelo crime são inocentes.
A juíza de Direito Marta Borges Ortiz, da 2a Vara do Júri, concedeu alvará de soltura para Valmir Machado Jr., 26 anos, Israel da Silva, 24 anos, Laureano Vieira Toscani, 20, e Leandro Braun, 26. Depois de o documento de liberdade, eles voltaram para o Presídio Central para recolher os pertences – é o fim de uma jornada de mais de 100 dias na cadeia. A liberdade é provisória.
Juíza Marta Ortiz: surpresa com a semelhança física dos presos com novos acusados
Estava previsto o depoimento das três vítimas para esta manhã, mas apenas uma compareceu ao Fórum Central. A sessão foi suspensa. Havia grande expectativa dos familiares e advogados dos presos, pois no dia 3 de agosto, um dos judeus agredidos inocentou os supostos skinheads, ao não reconhecê-los como os atacantes, conforme revelou o Jornal JÁ Porto Alegre na edição de agosto.
Mesmo com o depoimento suspenso, por volta das 9h10 a juíza chamou advogados e o promotor para comunicar que havia um fato novo na investigação, o que a obrigava a liberar os acusados. “É algo totalmente inusitado para todos nós, magistrados, defensores, promotores”, disse depois à imprensa.
“As investigações do delegado (Paulo Cesar Jardim) apontam outros 3 participantes do ataque. E a polícia identificou um quarto nome. O que causa perplexidade é a semelhança impressionante entre os acusados e os novos suspeitos”, afirmou a juíza.
Ou seja, os quatro indiciados foram pegos por serem muito parecidos com os reais agressores. “Parecem gêmeos”, garante a juíza. “Mostraram a foto de um dos novos suspeitos ao advogado e ele reconheceu como seu cliente, mas não era”, ilustra ela.
Segundo a magistrada, um novo inquérito deve ser aberto em uma semana, quando a polícia tiver informações mais conclusivas. A juíza Marta fez um pedido aos jornalistas antes da entrevista. “Que o fato tivesse o mesmo espaço e a mesma repercussão que tiveram as notícias após a prisão dos acusados, em maio”.
Entre familiares e os jovens presos – agora livres –, o clima era um misto de alegria e revolta. A felicidade, claro, pela libertação dos acusados, depois de 100 dias. Abraços apertados, felicitações e choro.
Amor incondicional: Valmir dá abraço emocionado em sua mãe, Dona Zeonilda
Por outro lado, queixas contra a polícia, a Justiça e a imprensa. “Antes de o nome do meu filho aparecer no inquérito, ele foi citado na TV como um dos criminosos”, queixou-se a mãe de Laureano, enquanto enxugava as lágrimas de alegria pela libertação do filho.
Israel da Silva fez questão de deixar um recado para os jovens atacados. “Quero muito agradecer a eles pela sinceridade, que permitiu a nossa libertação. Não os conheço, nem pretendo conhecê-los, mas quero dizer obrigado”, falou.
Israel agradeceu pela sinceridade de jovem agredido
Bastidores da liberação dos skinheads 231o4d
Guilherme Kolling
Na manhã da quinta-feira 25 de agosto, o movimento começou cedo no saguão de espera da 2a Vara do Fórum Central de Porto Alegre. Dava para notar que algo de importante estava por acontecer ali. Às 8h30 da manhã, uma equipe de TV estava a postos.
Um segurança vigiava qualquer movimento no local, ostentando seu revólver na cintura. Parecia tenso. Não parava quieto, jogando o peso do corpo de um lado para o outro, como se fosse um joão-bobo.
A espera era pelo depoimento dos três judeus que foram vítimas do ataque de skinheads em 8 de maio no Bar Pingüin, na Cidade Baixa. Eles iriam falar do caso que levou à prisão de quatro suspeitos: Israel da Silva, Valmir Macahdo Jr., Leandro Braun e Laureano Vieira Toscani.
A sessão começava às 9h, mas bem antes já tinha gente esperando. Uma das primeiras a chegar foi a esposa de Israel. Ficou quieta num canto até ser abordada. Garantiu a inocência do marido. “Na hora do crime, ele estava comemorando o nosso aniversário de casamento e o aniversário da mãe dele”, balbuciou.
Mais jornalistas chegaram e formaram uma rodinha. Havia estranheza sobre a já divulgada mudança de rumo no caso. “Mas eles não tinham sido reconhecidos?”, perguntou um repórter. “Não entendo o que aconteceu”, disse o colega. “A gente fez a matéria, as vítimas reconheceram os caras”, comentava, mostrando o xerox do jornal da época.
Um outro círculo logo reuniu parentes dos acusados. Na maioria, mulheres, que vinham esperançosas, otimistas, como se soubessem da reviravolta no caso. Cochichavam informações a todo o momento para em seguida trocar abraços e até chorar de alegria.
Às 9h05, um rapaz e um senhor aram reto por todos sem desviar o olhar do horizonte. Posicionaram-se bem em frente à porta da 2a Vara. Logo, a dupla entrou. O jovem era uma das vítimas do ataque dos skins. Foi o único dos três a se apresentar. Em seguida, entraram os advogados dos presos.
Duas senhoras que vieram dar apoio ao único depoente ficaram aguardando do lado de fora. Trocavam um olhar de desconfiança mútuo com parentes dos acusados. O ápice da tensão ocorreu quando o pai de Laureano, um dos presos, resolveu tirar satisfações. Houve um início de bate-boca, mas a esposa logo tratou de tirar o marido da confusão.
O homem justificava a revolta. “Meu filho ficou 100 dias preso. E ele é um cara bom. A gente ia lá na cadeia e ele dizia: ‘Pai, só quero um pedido de desculpas’. Imagina. E o rapaz perdeu o semestre na faculdade. Um absurdo”, protestava.
Às 9h15, 9h20 e 9h40, a funcionária do Fórum chamou os outros dois judeus atacados. A ausência da dupla causou temor entre os familiares dos presos. “Eles não vêm?”, perguntavam-se. A expectativa era pela confirmação do testemunho de uma das vítimas, que inocentara os skinheads ao não reconhecê-los, conforme estampava a manchete do Jornal JÁ Porto Alegre.
Dona Zeonlida, mãe de Valmir Machado Jr., outro acusado, carregava um exemplar. Ao ser abordada por repórteres, exibia a matéria como prova da inocência do filho e, em meio à leitura dinâmica dos jornalistas, comentava o caso. “Meu filho foi crucificado!”, protestava.
Nesse meio tempo, o advogado Clodes Bernardes deu uma escapada da audiência e confirmou que a juíza iria soltar os presos. A notícia foi dada aos cochichos para parentes. Depois confirmada em tom triunfal:“A farsa caiu”, anunciou Bernardes.
A frase foi repetida por familiares dos presos, que imediatamente começaram a ligar para parentes e amigos. E para os pais de Leandro Braun, que moram em Caxias e não foram ao Fórum. A esposa de Israel correu para um orelhão para contar tudo para o pessoal de Guaíba, onde mora.
Não demorou até a juíza chamar a imprensa para uma coletiva.
“Experimentem a liberdade!”
Somente a imprensa e os advogados das vítimas tiveram o à sessão em que foi comunicada a liberação dos skinheads. Ao receber os repórteres, a juíza Marta Borges Ortiz explicou a confusão que foi feita em tom de pesar, salientando que a semelhança entre os presos e os novos acusados é incrível, até em detalhes do rosto. Depois, organizou a sessão em que a liberação dos réus foi oficializada.
Juíza instrui os réus (Fotos: Naira Hofmeister)
Por volta das 10h30, os quatro entraram na sala algemados, em silêncio e de cabeça baixa. A juíza perguntou o nome de cada um e solicitou que os guardas tirassem as algemas. Incentivou os fotógrafos a registrar o momento.
Em seguida, explicou a suspensão da audiência que previa o depoimento das vítimas, já que na véspera (24/08), o delegado (Paulo César Jardim) havia entregue novos elementos da investigação. Por isso, ela iria conceder liberdade provisória aos acusados. Justificou que a prisão fora legítima, pois havia indícios suficientes com o que havia sido apurado até então.
O promotor Sílvio Miranda Munhoz falou da correção do trabalho da polícia, que seguiu na busca pelos responsáveis do crime. Insistiu na impressionante semelhança entre os novos acusados e os presos – “parecem gêmeos”. Adiantou ainda que os rapazes agredidos serão chamados novamente para depor e fazer o reconhecimento dos novos acusados.
Em nome da defesa, o advogado Marcelo Bertolucci observou que todos podem errar, mas pediu que a imprensa restabeleça a dignidade dos acusados e familiares, ao dar uma cobertura na mesma proporção da que foi feita na época da prisão. Ainda deu uma alfinetada na conduta do Movimento de Justiça Diretos Humanos neste caso.
Depois de 105 dias na prisão, jovens confirmam a liberdade
Finalmente, os jovens foram chamados pela juíza para receber o alvará de soltura. Antes ela deu um recado: “Experimentem intensamente a liberdade. Vivam próximos do bem. Vocês ficaram presos esses 100 dias por um desígnio maior, nada é por acaso. Experimentem intensamente a liberdade!”, repetiu. Os libertos, apenas acenaram com a cabeça.
Investigação paralela A juíza Marta Borges Ortiz elogiou a polícia, afirmando que não tem dúvidas sobre a eficiência do trabalho: “Na próxima semana deveremos ter os nomes dos possíveis autores da agressão”. O promotor Sílvio Miranda Munhoz fez coro a ela.
Mas os jovens presos mostravam revolta. Eles teriam indicado os reais agressores. “Na rua todo mundo sabia quem eram os responsáveis, só a polícia que não”, disse Laureano Vieira Toscani. Segundo ele, os autores do crime, que se rotulam skinheads, vangloriavam-se publicamente do feito, e debochavam “dos otários que foram presos”.
“Não foi a polícia quem descobriu, fizemos nossa investigação. Minha mãe procurou na rua, no bar, na internet. Se não fosse isso ainda estaríamos presos”. Sobre a explicação de que os quatro novos acusados seriam muito parecidos com eles, Laureano é direto: “Essa história não bate”, resume, lembrando que só uma vítima os reconheceu.
O advogado do jovem, Marcelo Bertolucci, diz que um fato novo já estava no inquérito há bastante tempo, mas que não havia sido observado. É que uma das testemunhas não reconheceu os quatro como os agressores. O promotor Munhoz observa que os jovens não tinham delatado os autores para não ar por dedo-duro, mas acabaram identificando outros possíveis atacantes. “Agora dizem que éramos parecidos com os outros caras. Mas a verdade é que desde junho já podiam ter nos liberado. A polícia sabia que nós não éramos os culpados”, garante Leandro Braun, que contou estar num show em Caxias do Sul na hora do crime. “Tenho 27 testemunhas”.
Valmir Machado Jr. falou que a polícia é incompetente, “principalmente o delegado que tentou se promover em cima de nós”. Ele justificou que só fazia estudos sobre Segunda Guerra Mundial e que criaram uma confusão.
“Nos venderam como culpados e pegou. Olharam o nome pelo outro processo (agressão de skinheads a um punk, no qual o jovem foi indiciado) e como estávamos mais íveis nos levaram”, afirmou o jovem que acredita em armação e afirma que só não os liberaram em seguida por pressão da comunidade judaica.
Israel da Silva preferiu ser diplomático. “Não tenho nada a falar da Justiça, nada contra comunidade nenhuma. E posso dizer que dentro da cadeia a gente aprende a perdoar”. Solidariedade na prisão Os quatro acusados de ter agredido jovens judeus na Cidade Baixa aram mais de 100 dias presos. Eles são unânimes ao classificar a cadeia como um inferno. Mas tiveram o apoio de parte dos colegas de Presídio Central. “Sofremos represália da polícia. Só os presos nos respeitaram”, contou Valmir Machado Jr. Depois da exibição do vídeo de uma banda skinhead no programa Fantástico, da Rede Globo, que está entre o material apreendido pela polícia, não houve retaliações na cadeia.
“Os presos da nossa ala eram legais. Viram que éramos inocentes, não havia cobrança. O problema era um outro setor, chamado ‘país livre’, onde há leis próprias. Lá era perigoso”, testemunha Leandro Braun.
“Sofremos várias ameaças. Ninguém sabe o que é estar lá dentro”, conta Laureano Toscani. Ele soube pela televisão que seria preso e resolveu se entregar. “Fiz isso porque tinha certeza da minha inocência”, disse.
A mãe de Valmir, Dona Zenilda, revela que até quando os rapazes foram depor, no Fórum Central, a Susepe fez represálias. “No meio de 60 presos eles anunciaram que os quatro eram skinheads. Não aconteceu nada para o meu filho nesses dias porque eu estava em cima o tempo todo”.
Leandro revela que a polícia fazia pressão psicológica para “ferrar” com os outros. “Nos interrogatórios, o delegado dizia: ‘Entrega 5 ou 6 nomes que a gente te libera'”. Valmir confirma a história.
Fora isso, as tradicionais precariedades da estrutura carcerária. “A comida é um lixo. A Brigada te trata que nem lixo, para eles tu é um animal”, compara Valmir. “Enfermaria não existe. Tá com dor de dente? Pega um AAS infantil e volta para cela”, relata o ex-detento.
Pelo menos agora o jovem vai desfrutar do comida da mamãe. O cardápio do dia da volta era bife à milanesa, prato predileto de Valmir.
Agora, os quatro voltam a tocar a vida. “Vou retomar minha rotina, voltar para Caxias, mas o trauma, o dano psicológico fica, é para sempre”, observa Leandro Braun.
Os advogados falam em pedir reparações, entrar com uma ação na Justiça contra o Estado e exigir a responsabilização dos atos das autoridades que cometeram equívocos, “estragando a vida dos rapazes e trazendo essa humilhação”. Apenas o representante de Laureano, Marcelo Bertolucci, disse que vai aguardar o encerramento do caso e esperar a definição da família.
Vítima inocenta skinheads presos 4dj48
Renan Antunes de Oliveira
Uma das vítimas (cujo nome é mantido em sigilo a pedido da família) do ataque de skinheads a judeus na noite de 8 de maio num bar da Cidade Baixa, não reconheceu os quatro homens presos pela agressão.
Mais: ele disse que a polícia e algumas testemunhas preparadas por ela fabricaram depoimentos para incriminar os acusados apenas para “satisfazer as exigências de segurança da comunidade judaica”.
No incidente, um grupo de 11 skinheads atacou três jovens, E.N.S., R.F.M. e A.F.G., aparentemente escolhidos para a violência entre os fregueses do bar Pingüim porque usavam “kipá”, um chapéu de cerimônias religiosas judaicas.
Uma das vítimas recebeu quatro facadas, no baço, fígado e pulmões. ou 30 dias internada no HPS e ainda se recupera de cirurgias reparatórias. As outras sofreram apenas ferimentos leves.
Dias depois do incidente, que teve repercussão nacional (ocorreu no dia em que se comemora a derrota do nazismo com o fim da Segunda Guerra Mundial), o Departamento de Polícia Metropolitana localizou, prendeu e indiciou quatro dos 11 skinheads por tentativa de homicídio qualificado, formação de quadrilha e crime racial – todos foram para o Presídio Central aguardar julgamento porque o crime é inafiançável.
Os acusados são Israel da Silva, 24 anos, Laureano Vieira Toscani, 20, Valmir Machado Jr, 26, e Leandro Braun, 26, apontado no inquérito como o mais violento do grupo – o sobrenome dele é, por coincidência, o mesmo da mulher de Hitler, Eva.
Punição por tabela
Na quarta-feira (3/8), às 17 horas, na sede do JÁ, um dos jovens atacados examinou fotos dos acusados, as mesmas usadas no inquérito policial para identificá-los. Ele disse que “nunca” viu três deles, Leandro, Laureano e Valmir. Do quarto, acha que pode ser um dos atacantes “porque tinha os olhos puxadinhos, parecidos com os deste cara”. Mas ressalvou: “Não tenho certeza se é o mesmo”.
Ele falou que não disse à polícia que aqueles eram os agressores. Como então ela chegou àquela conclusão? “Não chegou. Pegou os quatro porque já eram fichados”, disse a testemunha.
O delegado Paulo César Jardim, chefe das investigações, disse que “várias testemunhas identificaram os agressores”. Mas, outras testemunhas também garantem que nenhum dos quatro estava no local na hora da agressão.
Mais do informante do JÁ: “Conversei com um dos meus amigos (dos outros dois atacados) dias depois do ataque, e ele me confessou que “fez uma coisa errada”, mas que “desta vez iríamos pegar eles”, referindo-se aos skinheads. Eu entendi que era uma denúncia falsa, mas que atingira os propósitos” (de prender skinheads).
Três dos acusados apresentaram testemunhas de que estariam em outro lugar na hora dos fatos. Leandro estaria em Caxias, Valmir dando expediente numa danceteria. Laureano num churrasco com amigos. O Jornal JÁ verificou os testemunhos independentes e confirmou as versões.
Tanto a acusação como a defesa dos skinheads se dá exclusivamente através de testemunhas oculares. Sobre a confiabilidade delas é bom notar esta estatística do judiciário americano: de 160 condenações equivocadas, 75% foram obtidas com base em testemunhas visuais.
No mundo skinhead
Como a polícia concluiu que os quatro estavam no mesmo bando? Porque nos arquivos eles aparecem como acusados num mesmo inquérito de 2003. Mas em 2005 Israel, Leandro, Valmir e Laureano não poderiam estar juntos simplesmente porque eram rivais.
Na ocasião, para safar-se de acusações, Israel denunciou outros skinheads, ficando marcado pelo grupo. Tanto que no presídio, Israel está em ala separada, para evitar contato com os supostos amigos – eles só estiveram juntos em julho, quando foram apresentados à Justiça.
Um investigador que trabalha no caso afirma que não importa se os quatro acusados foram ou ainda são neonazistas: “O que queremos é intimidá-los e dar uma lição nestes quadros. Todos já estiveram envolvidos em ataques anteriores e escaparam da Justiça”.
Leia íntegra da reportagem na edição de agosto do Jornal JÁ Porto Alegre, que está nas bancas.