Se os caingangues que ocupam o Parque Natural do Morro do Osso abandonarem o local, irão ter luz, água, telefone público na esquina, ônibus na porta de casa, escola bilíngüe, centro-cultural e muito mais. A promessa é da Prefeitura, em parceria com o governo do Estado. Enquanto espera a decisão do cacique Jaime Kentanh Alves, o município está negociando a desapropriação de uma área de 10 hectares no Beco Otaviano Pinto, no bairro Canta Galo, na zona Sul. O cacique ainda mantém a posição de “não arredar o pé” do Morro do Osso. Apesar da teimosia, foi obrigado pela Justiça Federal a retirar uma casa que a tribo havia construído na área de reserva ambiental do morro. A área que a prefeitura pretende oferecer aos caingangues é um terreno plano, de vegetação nativa das plantas taquara e cipó utilizadas pelos índios na fabricação de utensílios e artesanato. O terreno possui poço artesiano, e, segundo a Emater, tem condições de abrigar dois açudes. O local fica à beira da estrada do Lami, a 30 quilômetros do Centro. O meio de o é o ônibus Canta Galo – Lami, com terminal na avenida Borges de Medeiros. No entorno do terreno tem uma escola e um posto de saúde. A Prefeitura também está estudando a possibilidade de criar uma feira de artesanato junto à Praia do Lami. “Ali eles terão toda infra-estrutura para viverem muito bem. A Secretaria Estadual do Planejamento irá construir um centro cultural, um local para a escola bilíngüe e 26 casas, que serão de excelente qualidade”, diz Kevin Krieger, secretário municipal dos Direitos Humanos e Segurança Urbana. Krieger esteve no local nesta segunda-feira, junto com Dulcimar Portella, coordenador do Programa Indígena da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) para apresentar o terreno ao secretário do Planejamento e a integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal e da Emater. O presidente da comissão de Justiça e Direitos Humanos da Câmara, vereador Ervino Besson (PDT), disse que ficou convencido de que a mudança irá melhorar em 100% a vida dos caingangues. “Não conheço área melhor para eles morarem em Porto Alegre. Sugiro que a Funai venha conhecer. É um lugar excelente”. Na sexta, dia 22, um grupo representante da tribo de 114 adultos e as 53 crianças esteve na área do bairro Canta Galo. A primeira reação foi gostar bastante do lugar. No entanto, mudou de opinião, após uma reunião “interna”. 5q6k7
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Lideranças do PT no Estado pedem expulsão de companheiros d603e
Guilherme Kolling
Duas lideranças regionais do PT gaúcho se manifestaram ontem (28/07) pedindo a expulsão de companheiros do partido, envolvidos em casos de corrupção. “Não consigo entender como ninguém ainda foi expulso”, declarou o deputado Flávio Koutzii (foto), líder da Bancada do PT na Assembléia Legislativa, durante o programa Frente a Frente, na TVE.
Em entrevista ao Jornal JÁ, o ex-prefeito de Porto Alegre João Verle também defendeu a saída de integrantes que cometeram atos ilícitos. “Falha no caráter é uma característica humana e o maior partido do país não ficou imune a isso. Agora devemos expurgar essas pessoas que ferem a nossa ética partidária, um ponto forte que ostentamos. Se isso não acontecer, vamos nos igualar aos demais partidos”, prevê.
Verle é da tendência Democracia Socialista, Koutzii é da Esquerda Democrática. As duas são da ala mais à esquerda do PT, e fazem oposição ferrenha ao Campo Majoritário, que comandou o partido com José Dirceu, Genuíno-Delúbio-Sílvio Pereira. Agora Tarso Genro está a frente, embora o ex-ministro da Educação tenhadeclarado que o Campo Majoritário acabou. Mesmo assim, a oposição ao seu nome é clara.
“Esse Campo Majoritário, direta ou indiretamente, é responsável pelo que aconteceu. Temos que mudar a correlação de forças, reformular o PT. E o PED (Processo de Eleições Diretas) é a grande oportunidade para mudar a direção do partido”, afirma João Verle.
“O PT está com seus valores em crise e a possibilidade de ter o patrimônio destruído. As pessoas expressam dor, vergonha, indignação. E depois de um período de perplexidade, dirigentes petistas e quadros de expressão estão falando em fazer um corte nisso agora. Se não mudarmos a política, não resolveremos a questão. Queremos ganhar a direção do partido aqui e lá (no Estado e no País)”.
As chances de uma vitória da esquerda do PT para dirigir o partido nacionalmente aumentaram em nível diretamente proporcional à crise. “Esse tsunami foi tão violento que deslocou as forças no partido. Sem esses fatos, seria um eio para o Genoíno”, acredita Koutzii.
Se houver vitória do Campo Majoritário, ainda que não usando este nome, haverá um racha no partido. “É possível sim que alguns nomes saiam do PT. Mas não se pode dizer, ‘se perdermos, vamos sair’. Isso não tem sentido”, analisa Verle. Flávio Koutzii também acredita que o partido pode sofrer um encolhimento.
“Já perdemos gente no início do Governo Lula, na Reforma da Previdência, na definição do salário mínimo, na expulsão dos companheiros que formaram o P-SOL. Até os intelecutais que líamos se afastaram. O PT é um patrimônio inestimável, que vive sua maior crise histórica. Só a eleição direta pode dar uma mexida nesse quadro”, aponta o líder da bancada do partido na Assembléia.
Campo Majoritário não existe mais, diz Olívio Dutra 5y5g6l
Helen Lopes
ava das 21h, quando o ex-ministro Olívio Dutra (foto) apontou no saguão de desembarque do Aeroporto Internacional Salgado Filho, na sexta-feira (29). Na confusão, todos queriam falar, apertar a mão ou ouvir uma declaração do ex-ministro. Para a imprensa, Olívio disse que não tem mágoa do presidente Lula e que não tem vocações individuais – em relação a sua provável candidatura à presidência estadual do PT. Questionado sobre o falado “racha” que pode ocorrer no partido, caso o Campo Majoritário ganhe a executiva nacional, Olívio exclamou: “Olha, o Campo Majoritário, pelo que eu saiba, não existe mais”. E lembrou: “Eu e o presidente Lula, como fundadores do PT temos a responsabilidade de resgatar o verdadeiro sentido do nosso partido”. Aos militantes e representantes de movimentos sociais, Olívio falou: “Bom final de semana e muito boa luta, todos os dias”.
Centenas de pessoas o esperavam desde às 19h30min da noite empunhando cartazes de boas-vindas e bandeiras do PT, todas unidas no coro: “Ô, Lula muito obrigada, com o Olívio eu tô bem acompanhado!” Entre eles, André Martins, vice-presidente do diretório municipal do PT de Charqueadas, que veio até Porto Alegre por respeito e iração ao ex-ministro.
Para o deputado Raul Pont, que também estava presente na recepção, Olívio tem o respaldo da militância e representa o partido. Ele enfatizou também que houve um erro político na mudança de Lula. Pont refere-se à substituição do ex-governador por Márcio Fortes do PP, a pedido do presidente Lula.
Militantes de várias cidades do Estado foram saudar o ex-ministro
A esperança na “refundação” do partido
Na manifestação, o neto do ex-ministro, Lorenzo aguardava o avô no colo do pai e parecia não entender o que gritava a multidão a sua volta. Eram palavras de ordem que há tempo não ecoavam em Porto Alegre: “Eu sou petista, eu sou guerreiro, eu sou amigo do galo missioneiro!” “Rigotto pode esperar que o Olívio vai voltar!” Segundo o vereador Adeli Sell esse é o espírito do momento. “A refundação do partido aconteceu aqui de uma forma muito palpável, encontramos os principais construtores do PT em 25 anos, nesse ato” declarou. Para o vereador, Olívio deveria aceitar conduzir o PT estadual.
Um dos “puxadores” do coro, Mauricio Zimmermann, militante da juventude do PT, acredita que o partido não está morto e deve ser “salvo” por figuras como Olívio. “Nesse momento vemos a importância de estar fortalecendo um nome como Olívio. Ele faz o contraponto do que está acontecendo na política nacional”.
“Bandidos privatizaram as ruas” 523o3p
Guilherme Kolling
O secretário municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic), Idenir Cecchim, denuncia que “bandidos privatizaram as ruas do Centro de Porto Alegre” e as alugam para camelôs. São “donos” de espaços cadastrados para o comércio ambulante, que recebem R$ 300 a R$ 400 por mês de terceiros.
“Eles justificam que essas pessoas são auxiliares, mas de auxiliar elas não têm nada. São autônomos, que simplesmente pagam uma taxa ao mês”, revela. O executivo da Smic aponta, ainda, o grupo como principal interessado em que os camelôs continuem nas ruas, liderando a resistência. “É óbvio, pois com a criação dos Centros Populares de Compras, eles perderiam uma fonte de renda”, explica.
O secretário ite que a negociação é difícil e que há um bom percentual de ambulantes que preferem a rua. Na área em frente ao Chalé da Praça XV, onde há 400 barracas, o grupo está dividido. E aumenta a cada dia.
A Prefeitura quer resolver o problema com os Centros Populares de Compras, o novo nome que a istração municipal está dando aos shopping populares, a pedido dos próprios camelôs. O objetivo é ar uma idéia de local mais ível, não elitista.
A Smic quer criar três shoppings populares em prédios do Centro, já a partir de outubro. O projeto de lei vai para a Câmara Municipal no início de agosto. Depois, a Secretaria licencia a atividade em três prédios escolhidos. Os camelôs vão pagar menos do que hoje, R$ 200 a R$ 250. “Para eles é vantajoso. É um custo menor do que o gasto com depósito e aluguel”, compara Cecchim.
A partir da inauguração dos Centros Populares de Compras, a fiscalização será intensificada. “Ao invés de organizar as bancas cadastradas, os funcionários da Smic vão cuidar de quem estiver na rua, com o apoio da Brigada Militar e câmeras de monitoramento”, projeta o secretário de Indústria e Comércio.
À espera de projeto h3o10
Guilherme Kolling
Na tarde de uma segunda-feira ensolarada de julho, o comércio na avenida Osvaldo Aranha era um contraste. De um lado, lojas com liquidações de inverno, gente ando em frente às vitrines a todo momento, e até uma fila de candidatos a emprego numa ferragem.
Ali em frente, no Parque da Redenção, jazia o Mercado Bom Fim, quase as moscas. Das 25 lojas do local, nada menos que treze estavam fechadas. E o movimento era fraco nas abertas.
É um problema e ao mesmo tempo uma grande oportunidade para a Prefeitura redefinir um projeto para o local. Mesmo num ponto nobre, o centro de compras reaberto há cinco anos não deslanchou.
Agora, uma dezena de espaços do Mercado estão com a permissão de uso vencendo. Outros quatro são ocupados por projetos do Município. E alguns não funcionam há meses. Cabe à Secretaria da Produção, Indústria e Comécio (Smic) escolher a futura utilização do prédio.
O executivo da Smic, Idenir Cecchim, desde o início do ano fala em criar um mix de lojas para dar nova cara ao Mercado. “Temos que ver o tipo de comércio e serviços que as pessoas querem. Devemos atender o maior número de pessoas possível”, prevê.
“O projeto é que não haja mais entrada pelos fundos, criando mais os pela frente, sem grandes transformações arquitetônicas. Já temos interessados em instalar restaurantes temáticos. Mas primeiro temos que limpar a área, senão os investidores não aparecem”, justifica.
O secretário diz que esbarrou em liminares na Justiça, como a do Bar Escaler, e que está negociando com atuais permissionários. Cecchim já adiantou que não pretende renovar a permissão de uso dos bares, que em alguns casos afastam o público.
Seu próximo o é abrir licitação para os espaços vazios. Outra proposta é promover a idéia de o porto-alegrense ar o dia no local. “Primeiro, o visitante olha as lojas, leva a criança no parquinho de diversões, almoça no Mercado, depois eia, toma um café. Vamos fazer um link entre as atrações”, projeta.
Um dos comerciantes mais tradicionais do ponto, Antenor Guerra, do Luar Luar, sugere a diversificação de atividades, exemplificando com dois ramos – restaurante e florista – que, na visão dele, “já tem demais”.
Exclusivo: a última entrevista do velho João 2e3e51
Guilherme Kolling
Quando o Bar João completou um ano e seis meses fechado, em 31 de novembro de 2004, o Jornal JÁ foi ouvir o fundador, João Brum. A reportagem ou uma tarde no acanhado apartamento do senhor de 89 anos, no Parque dos Mais. Lúcido e animado, ele ainda falava com energia quando lembrava histórias da Osvaldo Aranha.
O estabelecimento para o qual ele deu seu nome continua fechado. Foi atingido por uma retroescavadeira que demolia o Baltimore em 2003. Júlio Leite, dono do bar, entrou com uma ação na Justiça para embargar a obra vizinha, que prevê um centro comercial e residencial. Também pediu indenização pelos prejuízos. A decisão ainda corre no Judiciário.
Enquanto isso, o Bom Fim perdeu um de seus personagens históricos, o velho João, que morreu no dia 23 de maio, de doença pulmonar e parada A seguir, republicamos matéria veiculada em dezembro de 2004, a última entrevista de João Brum.
“Os melhores anos da minha vida”
Aos 89 anos, João da Silva Brum está bem lúcido, e lembra detalhes do bar que criou e batizou com seu nome. Ele vive no bairro Parque dos Maias, de onde sai raramente. Recebe notícias do Bom Fim através dos filhos, que também trabalham no comércio, um deles na Osvaldo Aranha.
A avenida traz ótimas recordações para o velho João. “Foram os melhores anos da minha vida”, lembra. Trabalhou no local por mais de quatro décadas, “os 365 dias do ano”. Nesse período, presenciou a transformação da área, com a construção do Hospital de Pronto Socorro e do Mercado Bom Fim.
ou por diversos estabelecimentos até iniciar seu negócio. Veio como empregado do lendário Bar do Serafim, mais conhecido como “Fedor”. O irmão de Serafim tinha o bar Dalila, na Azenha, e um certo dia disse para João: “Olha, tu és muito trabalhador e não merece ficar aqui. Vou arranjar trabalho melhor para ti”.
E assim João começou no Fedor, em 1937. Logo foi promovido a gerente. “Eu era muito atencioso com a freguesia”, explica. Até hoje ele arregala os olhos quando lembra do movimento. “Aquilo fervia. Tinha até cancha de jogo do osso”, conta.
Depois de 11 anos no Bar do Fedor, João montou o Bar Imperial com um sócio, na Osvaldo Aranha, 1344. “Levei toda a clientela comigo. O Serafim ficou louco de raiva”. A sociedade durou quatro anos. Foi quando ele comprou o Bar Azul, também na Osvaldo Aranha, número 1008. Ali nasceu o Café-Bar João.
Ficava num sobrado comprido e espaçoso. No andar de cima morava o senhor Lewgoy, que saiu depois de uns meses por causa do barulho. João, que morava nos fundos, reformou o espaço, colocou umas mesas de snooker e foi morar no segundo pavimento. “Era imenso, tinha 13 peças. O problema é que eu quase não podia dormir, ava um barulhão pelo forro de madeira”. Mesmo assim, morou lá 27 anos.
O velho João conta que o salão do bar era muito familiar, com toalha e flores nas mesas. O movimento começava às 5h da madrugada: eram leiteiros, açougueiros, fiscais da saúde – gente que trabalhava cedo e que ia tomar café lá. Seguia aberto até a meia-noite ou o último cliente. Tinha dias que ficava 24 horas sem fechar.
Era freqüentado pelos mais variados tipos – funcionários do HPS, professores, médicos, marginais, advogados, jornalistas, estudantes. “A freguesia era muito boa”, resume João. “E o ambiente agradável. Os velhos judeus ficavam horas lá, jogando pauzinho. Também se falava muito em futebol. O Carangate, um judeu “gremista doente”, era famoso também porque falava muito alto. A maioria no bar era gremista. Eu fui até sócio”, conta.
Café e snooker
O café era uma atração a parte. Cheiroso e moído na hora, vendia 4kg por dia. “Não tinha quem não parasse para tomar um”, garante João. Para dar conta do movimento, duas copeiras e dois garçons, um deles cuidando do snooker.
Bilhar – “Mesa de bilhar dá um lucro extraordinário, mas é um desastre”. O jogo causou algumas confusões no Bar João que, segundo o antigo proprietário, quase nunca tinha briga. “O problema é o jogo, que sempre atrai malandro”, explica o pioneiro. Com seu 1,68m de altura, João Brum deu fim a desentendimentos sérios, quase sempre na base da conversa.
“Uma vez me meti num conflito e fiquei sob a mira de um revólver. Tudo por causa de um cruzeiro que o cara não queria pagar. Consegui levar o sujeito armado lá para fora e conversei com ele: ‘Ô, rapaz, tu é casado, tem filho, vai se meter com malandro e deixar um tiro e estragar tua vida?!’. Ele respondeu ‘o senhor tem razão’, e me disse: ‘Vou continuar vindo armado, mas o revólver fica no balcão’, prometeu”. E assim foi feito.
Em 1979, João Brum vendeu seu bar. “Foi um dinheiro bom”. Mas garante que não enriqueceu com o estabelecimento. “Fui muito roubado. Não tinha como ter controle do dinheiro que entrava”. Ao invés de se aposentar, abriu um bar no Centro, que durou quatro anos, e encerrou a carreira no Colégio Vera Cruz, onde comandou a cantina por 11 anos.
Com o novo proprietário, Júlio Leite, o Bar João ficou no número 1008 da Osvaldo Aranha até 1992 – o sobrado foi demolido para a construção de uma garagem. Daí, se mudou para o número 1026, onde está a fachada até hoje.
Jornal condenado a pagar indenização à mãe do governador 6x5b5t
O Jornal JÁ foi condenado a pagar uma indenização de R$31.654,33 à mãe do governador Germano Rigotto, sra. Julieta Diniz Vargas Rigotto. A sentença é do juiz Giovanni Conti.
A mãe do governador processou o jornal por ter publicado uma reportagem de autoria do jornalista Elmar Bones sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Lindomar Rigotto, irmão do governador, assassinado em fevereiro de 2001 em Capão da Canoa. A reportagem foi premiada pela Associação Riograndense de Imprensa – ARI – naquele ano.
Intimado na tarde da terça-feira, dia 12 de julho, com 24 horas para saldar o débito, o jornalista Elmar Bones, diretor do Jornal Já, se declarou surpreso com a decisão. Na condição de autor da reportagem, o jornalista respondeu processo por calúnia e difamação, também movido por Julieta Rigotto, sendo absolvido em primeira instância. “Não entendo como a mesma matéria pode ter duas sentenças opostas”, disse Bones.
Jornalista absolvido, jornal condenado 4s315o
A reportagem “O caso Rigotto – Um golpe de US$ 65 milhões e duas mortes não esclarecidas”, publicada no Jornal Já em maio de 2001, já fora examinada pela Justiça, nos autos de uma ação criminal proposta por Julieta Rigotto, mãe do governador gaúcho Germano Rigotto.
Em primeira instância, a juíza Isabel Rocha julgou improcedente a acusação contra o autor (Elmar Bones) de calúnia, difamação e injúria à memória de Lindomar Rigotto, irmão do governador e personagem central da reportagem.
Em dezembro de 2003, a apelação de dona Julieta à 5ª Câmara Criminal do TJ-RS foi derrotada por voto unânime de sete desembargadores. Eles consideraram que “em nenhum momento o texto estava contaminado pela inverdade”, acrescentando que “existe inquestionável interesse público”…e que (na reportagem) “revela-se a clara intenção de narrar fatos…sem descer às raias do insulto e da ofensa à honra do falecido”.
O caso parecia encerrado. Mas, não satisfeita, dona Julieta foi à Vara Cível contra o Jornal Já, pedindo indenização por danos morais. Em primeira instância nova absolvição. Entretanto, em recurso, o juiz Giovani Conti condenou o jornal – e não Bones, o autor da matéria.
Reportagem polêmica e premiada
A matéria que deu origem aos processos foi premiada pela Associação Riograndense de Imprensa em 2001. Ela traça um perfil do empresário Lindomar Rigotto, assassinado com um tiro na manhã de Quarta-Feira de Cinzas do Carnaval de 2001, durante perseguição a quatro homens que tinham assaltado uma de suas boates, na praia de Atlântida.
Quando morreu Lindomar estava com todos os seus bens indisponíveis por causa de um processo sobre desvio de verbas públicas. Em dezembro, ele fora também indiciado pela morte de uma prostituta de 24 anos – ela caiu, nua, da janela do apê dele na rua Duque de Caxias, no centro de Porto Alegre, em circunstâncias nunca esclarecidas. Com a morte dele, o caso foi encerrado.
Os problemas de Rigotto com a Justiça começaram em março de 1987. Ele assumiu o cargo de “assistente da diretoria financeira” da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), indicado pelo irmão Germano, à época líder do governo Pedro Simon na Assembléia Legislativa.
Segundo depoimento de Alcides Saldanha, então secretário de Minas e Energia, em I da Assembléia gaúcha, “houve resistência à indicação do nome, mas o irmão exigiu a nomeação”.
O assessor se tornou um gerente de fato da CEEE. Negociou dois contratos da estatal no valor de 145 milhões de dólares com dois consórcios de 11 empresas, para construção de onze subestações de energia.
No final do mesmo ano apareceram indícios de irregularidades nos contratos. No ano seguinte, Dilma Rousseff, hoje na Casa Civil de Lula, assumiu a secretaria de Minas e abriu sindicância, comprovando as irregularidades. Auditores concluíram que a CEEE fora lesada em 65,9 milhões de dólares.
Somente em maio de 1995 a oposição conseguiu s para abrir uma I – a esta altura Lindomar Rigotto não estava mais no governo. Estava dono da rede de casas noturnas Ibiza.
A I durou ano e meio e concluiu que houve “prática de enriquecimento ilícito por parte de Lindomar Rigotto”. O sigilo bancário dele foi quebrado e encontrados em sua conta valores de fonte não esclarecida. As 11 empresas do consórcio foram condenadas “por conluio para lesar os cofres públicos”.
Ainda na I, outro implicado, o diretor da CEEE Silvino Marcon, revelou que parte do dinheiro flagrado em sua conta era proveniente de “sobras de campanha”, indicando que o desvio fora usado em campanhas do PMDB – a investigação não identificou os beneficiários do desvio.
Os contratos foram suspensos em dezembro de 1994, depois que a CEEE já tinha pago aos consórcios 141 milhões de dólares, sendo 42 milhões por superfaturamento e avaliação indevida da correção monetária.
A I concluiu que Lindomar Rigotto fora o “verdadeiro gerente das negociações dos dois consórcios”. O caso foi à 2ª vara da Fazenda Pública em abril de 1999 – onde corre até hoje, em segredo de justiça.
Nua no pátio
Na terça-feira 29 de setembro de 1998 um corpo de mulher foi encontrado no pátio do edifício Solar Meridien, na rua Duque de Caxias. Ela caíra do apartamento de Lindomar Rigotto, do nono andar.
O empresário foi visto pelos porteiros saindo do prédio na hora da morte. No dia seguinte um advogado dele compareceu à polícia para comunicar o suicídio da mulher, Andréa Viviane Catarina, uma garota de programa.
Um informante anônimo disse à polícia que ela tinha sido jogada da apê pelo empresário. Uma testemunha disse que viu Lindomar na janela no momento da queda. Ele foi indiciado – mas com sua própria morte o caso foi encerrado.
Movimento ambientalista gaúcho volta às ruas y5g6b
Aquecimento global, desmatamento da Amazônia, aprovação da hidrelétrica de Barra Grande, fim do Pró-Guaíba, parques estaduais em mau estado de conservação, ocupação desordenada dos morros de Porto Alegre, legislação ambiental tratada como empecilho ao progresso.
Por esses e outros motivos, cerca de 200 pessoas entre ambientalistas, estudantes universitários, artistas e simpatizantes à defesa da natureza se reuniram na manhã do sábado, 4 de junho, véspera do Dia do Meio Ambiente. “Nada a comemorar” foi o tema da eata, que saiu do Monumento ao Expedicionário, na Redenção, percorreu o Caminho dos Parques e chegou até o Parcão.
Pode-se dizer que foi um momento marcante para o movimento ecologista gaúcho, pois trouxe de volta a manifestação de rua, coisa que não acontecia desde o final da década de 80, pelo menos nessas proporções.
Outro destaque. A apresentação de uma militância renovada – 90% dos integrantes da marcha eram jovens. Com tambores, apitos, intervenções teatrais, palavras de ordem e cartazes, o grupo parecia um bloco da marcha de abertura do Fórum Social Mundial.
E era saudado pela população nas ruas do Bom Fim, Rio Branco e Moinhos de Vento. Alguns poucos motoristas chiaram pela breve interrupção no trânsito das avenidas José Bonifácio e Osvaldo Aranha, mas não houve incidentes.
O evento foi organizado pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGa), coordenado pelo biólogo Rodrigo Cambará Printes, 33. Ele é remanescente da fase áurea do movimento ambientalista, quando as ONGs estavam sempre nos jornais com protestos e propostas.
“Já estava na hora de resgatar isso. Os ecologistas não podem restringir o trabalho à participação nos conselhos de meio ambiente que não decidem nada!”, radicalizou. Depois emendou. “Claro, tem que estar presente, até porque a legislação é feita nesses fóruns”.
Organizações ecológicas tradicionais, como Agapan e Núcleo Amigos da Terra apoiaram a iniciativa. Militantes mais experientes ficaram satisfeitos. Caso de Arno Kayser, 44. “A última grande manifestação que eu me lembro foi o abraço ao Guaíba, no final da década de 80. É ótimo que estes bons tempos estejam de volta. Fico feliz porque vi filhos de colegas ambientalistas que conheci crianças e agora estão aqui”, comemorou.
A presidente da Agapan, Edi Fonseca, concordou que há muito tempo não acontecia uma ação como esta. “Essa renovação do movimento é muito positiva. E o protesto demonstra, ao mesmo tempo, que muita coisa vai mal na questão do meio ambiente”, apontou.
A jornalista Lillian Dreyer, autora da biografia de José Lutzenberger, caminhava e usava seu apito. Considera que demorou tempo demais para esta retomada de manifestação. O engenheiro José Vilhena, 50, ex-militante do PV, também se encantou com o protesto. “É um movimento ético, que busca a melhoria da sociedade, carente de uma política ambiental”.
“O esgoto venceu, Pró-Guaíba morreu”
Lara Ely
O descaso com o Lago Guaíba foi tema do queixume generalizado na marcha do movimento ambientalista. A estudante de Biologia da UFRGS, Luisa Lokchain, 23, levava o primeiro cartaz, que dizia “Nada a Comemorar”. — Mas o que quer dizer isso?
“É uma lamentação a todo o contexto ambiental. Em Porto Alegre, além da ocupação dos morros, destaco a poluição do Guaíba como problema principal”, explica. Cartazes tratavam do assunto. No burburinho constante, reclamações sobre o fim do Pró-Guaíba. Até que, no meio da avenida José Bonifácio, o grito explodiu e logo ganhou força: “O esgoto venceu! / Pró-Guaíba morreu!”, cantavam os participantes.
Mais faixas de protesto: “Abaixo pinus e eucaliptus”; “Hidrelétricas com processos fraudulentos”. Mais palavras de ordem: “Fraude! / Crime! / Descaso Social! / Não vamos deixar afogar o pinheiral!”. Outros cartazes: “Ocupação imoral dos morros em Porto Alegre”. Mais grita: “No Brasil! / Corrupção! / A natureza em extinção!”.
Servidores da Sema reforçam protesto
Depois do protesto na posse de Mauro Sparta, executivo da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), no final de 2004, os funcionários do órgão voltaram a se manifestar. Desta vez, os técnicos-científicos estão respaldados por trabalhadores da Fepam e da Fundação ZooBotânica, que também assinam o manifesto “Atual gestão ambiental faz mal à saúde do meio ambiente”. Panfletos foram distribuídos para chamar sobre a falta de importância dada aos órgãos ambientais, transformados em “escada política” (JÁ Porto Alegre, junho 2005). O grupo também denuncia o sucateamento da infra-estrutura, salários atrasados, falta de continuidade e de transparência dos órgãos ambientais.
“A Sema está reduzida ao papel de viabilizar o crescimento econômico. A realização de um concurso público é urgente. A falta de pessoal concursado foi preenchida com indicações políticas – cargos de confiança, estagiários ou pessoal terceirizado”, diz o texto. O projeto de desenvolvimento do Governo Rigotto também foi atacado, o que inclui a questão dos transgênicos e os plantios florestais previstos para a Metade Sul. A universitária Anna Milanes explicava, durante o protesto, como as plantações de pinus vão acabar com a biodiversidade local.
Sobrou até para Lula, atacado quando o assunto era Amazônia e energia nuclear. “Quem destrói nosso futuro por aqui / Governo Lula avançando e o FMI”, puxava Olinto Ramos Filho, um dos integrantes mais experientes da marcha.
Artistas fizeram performances ao longo da eata
Ao som de flauta e tambores, rodeado de pessoas vestidas em verde e preto, envolto em faixas de protesto. Assim morreu Ulisses, personagem simbólico criado pelos ambientalistas, que foi enterrado no Parcão. Ele é o protótipo do cidadão moderno que vive na Capital e sofre as conseqüências dos danos causados ao meio ambiente. Morava no Centro, fumava cigarro, comia alimentos transgênicos e com agrotóxicos, tomava café em copo de plástico, respirava a fumaça da Borregard e morreu cansado de esperar uma política pública eficiente para o meio ambiente. Essas foram as razões dadas pelo público para a morte de Ulisses.
Julinho também participou
Outra novidade na eata. O movimento ecológico do tradicional Colégio Júlio de Castilhos, criado na década de 70, foi reaberto em 2005 por alunos do 3º ano do Ensino Médio. Depois de anos inativo, o grupo Kaa-Eté voltou com força – já reúne dezenas de estudantes engajados.
Dois deles carregaram uma das faixas na eata “Nada a Comemorar”, na véspera do Dia do Meio Ambiente. Leandro Silva, 20, e Carolina Bulhões, 16, protestaram contra o descaso com a natureza.
Zé da Terreira animou a eata
Logo no início da marcha, o artista Zé da Terreira, 59, empunhou o microfone no meio da avenida José Bonifácio e literalmente parou o trânsito. “Abaixo os automóveis! Abaixo os atumóveis que poluem a cidade. A cidade tem que ser planejada também para o pedestre!”, dizia. E justificou: “Temos que mudar nossa rota para que eles em diariamente. Hoje eles que esperem nossa agem”, sugeriu, em meio a aplausos entusiasmados.
José Carlos Peixoto – vulgo Zé – animou a eata. Lia o que diziam os cartazes e fazia pregações, no seu discurso antropoecológico, isto é, humanista e em defesa da natureza. “Estou puto com a cidade cheia de grades, com os rotweilers nas ruas, com o Guaíba poluído”, desabafa. “Tenho que viajar para tomar banho em uma lagoa. Enquanto isso, nosso lago está aí, entregue ao esgoto”, protestou.
Usina de R$ 1 milhão está abandonada há cinco anos 359g
Débora Cruz
Porto Alegre daria um salto no reaproveitamento de garrafas PET (uma resina plástica) se tivesse usina de beneficiamento de plástico. Um projeto previa a instalação do maquinário na Restinga, Zona Sul da cidade.
Além de incentivar uma ação ecológica – o recolhimento de plástico –, o equipamento ajudaria a solucionar o problema da falta de empregos, já que prevê 30 funcionários para operá-lo. Além disso, aumentaria a renda dos trabalhadores do galpão de triagem de lixo seco que, mesmo organizados em uma associação de recicladores, ainda sofrem com os atravessadores.
Embora não funcione, o prédio existe. O local que seria a usina foi construído com um investimento de R$ 1 milhão. Fica no último endereço do Distrito Industrial, na rua Diretiz 7119, nº 385. Um cadeado no portão revela que não há – nunca houve, na verdade – fluxo de funcionários.
Apesar do abandono, o local conta com segurança. O guarda explica que trabalha ali há dois anos. Diz que técnicos e diretores do DMLU visitam o local com freqüência. “Eles tiram fotos, examinam, mas tudo continua parado”. E lamenta: “Sempre aparece alguém interessado, mas todos desistem”.
Desde que o prédio ficou pronto, em 2000, várias tentativas de colocar a usina em funcionamento fracassaram. Secretários municipais, diretores do DMLU, políticos e até prefeitos já anunciaram a inauguração do espaço. A promessa nunca se efetivou. Sempre faltava uma coisinha, um detalhe.
Quem não esperou foram os larápios. Em 2004 levaram motores de máquinas e até a fiação. Assim, quem assumir o novo empreendimento terá que gastar um pouco mais na reposição do que foi levado pelos gatunos.
A obra é uma conquista do Orçamento Participativo não implementada – o prefeito Fogaça garante que irá cumprir os projetos dos anos anteriores. A idéia original era processar 360 toneladas de plástico por mês, dando serviço para moradores do bairro, que trabalhariam em sistema de cooperativa. Tudo ainda está no papel.
“Falta vontade política. Estes cinco anos representam um atraso e prejuízo imensos para os catadores”, diz Eliane Nunes Peres, da Federação das Associações de Recicladores de Resíduos Sólidos do RS. Ela conta que fará reuniões com representantes dos galpões de reciclagem de Porto Alegre para apresentar uma proposta para colocar o espaço a funcionar.
A líder comunitária e presidente do Centro de Educação Ambiental da Vila Pinto, Marli Medeiros, sugere que a Prefeitura compre o material separado das Unidades de Triagem para processar na Restinga, já que, pelo alto consumo de energia, “a usina só seria viável se operasse com capacidade máxima”, acredita.
A reportagem do JÁ tentou contato com a assessoria de imprensa do DMLU que não se pronunciou sobre o atraso no funcionamento da usina.
Brasil é o quarto do mundo em reciclagem
O Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial da reciclagem de plástico, reaproveitando 16,5% do total produzido. Está atrás apenas da Alemanha (31%), EUA (20%) e da Áustria (19,1%). Alcançou melhor desempenho do que a Europa Ocidental (12,8%) e a União Européia (14,8%).
O país poderia ser líder mundial se ampliasse a coleta seletiva. Este foi um dos resultados apontados por estudo da Maxiquim Assessoria de Mercado em conjunto com o IBGE, apresentado no I Simpósio Plastivida – Instituto Sócio-Ambiental do Plástico, em 19 de maio, em São Paulo. O estudo, encomendado pela entidade, foi feito em 2004 em todo o país. Revela que apenas 352 municípios brasileiros fazem a coleta seletiva.
“A capacidade ociosa do Brasil é de 26%”, calcula o economista Paulo Mibielli, do IBGE. As regiões que apresentam maior percentual de plástico reciclado são a Sul e a Sudeste, com quase 20% do total gerado. As demais ficam em patamares baixíssimos.
A indústria da reciclagem de plástico mecânica é composta em todo Brasil por 492 empresas recicladoras, com tempo médio de atuação de 11 anos. Nova, portanto e com muito a crescer. A capacidade total de reciclagem de plástico gira em torno de 1,06 milhões de toneladas por ano.
Porém, deste potencial, apenas 780 mil toneladas/ano são aproveitadas. Outro argumento pró- reciclagem: o Brasil tem capacidade para reaproveitar muito mais do que faz de fato. Mesmo assim, a indústria da reciclagem emprega, segundo o estudo, 11.501 pessoas faturando R$ 1,3 bilhão. Imagine se a coleta seletiva estivesse a pleno.
Carlos Matsubara, enviado especial a SP.