Mazeko concentra a ação do filme nos anos 1950, tendo, como cenários, principalmente: a redação da revista Drum – fundada pelo inglês Jim Bailey, e que foi o primeiro veículo a tratar sobre o estilo de vida dos negros africanos; e o bairro Sophiatown, em Joanesburgo, um reduto cosmopolita, boêmio, violentíssimo, e insubmisso as leis do apartheid impostas a partir de 1948. Nesses ambientes, reina uma atmosfera de puro jazz, filme noir e aventura, onde tudo aparenta ser um convite a escrever narrativas. É neles que, movidos a muito álcool, circulam Nxumalo (interpretado pelo ator americano Taye Diggs) e sua turma – jornalistas e escritores negros de Joanesburgo, entre os quais Can Themba (1924-1968). Todos brindam ao lema romântico: viver rápido, morrer jovem, ser um belo cadáver”. Ditado que Nxumalo, não por sua vontade, cumpriu a risca. Natural da província de Natal, África do Sul, Henry Nxumalo viveu pouco, apenas 38 anos, tempo suficiente para se tornar um dos maiores ícones do jornalismo do continente negro e inspiração para qualquer jovem repórter. Para fazer suas reportagens, Nxumalo colocava, literalmente, as mãos na merda. Empregou-se como camponês para poder investigar o trabalho semiescravo, que incluía castigos físicos, nas plantações. Noutra ocasião, fingindo-se de bêbado, desacatou as autoridades para ser preso e, através de sua experiência, denunciar o tratamento desumano e abjeto das prisões sul-africanas. Matérias que têm como pano de fundo a luta antiapartheid. É neste contexto que, no filme, aparece o jovem Nelson Mandela (Lindane Nkosi), liderando uma eata contra a exigência de salvo-condutos para circulação dos negros em certas zonas, e cuja sentença dita pelo policial encarregado de reprimir a manifestação resume o espírito colonial, não há negociação possível: “nós mandamos e vocês nos servem”. Mazeko livrou-se dos clichês conhecidos do politicamente correto e coloca algumas mazelas existenciais – incluindo sexo inter-racial – pois, além da cor da pele há toda uma complexidade subjetiva gerada pelo colonialismo europeu, onde as vítimas também se deixam manusear por seus carrascos, como salienta o diálogo, no final do filme, entre Nxumalo e o gangster, seu suposto assassino. Nxumalo, quando foi morto, fazia uma reportagem sobre a prática de abortos clandestinos. No filme, o crime ocorre após a denúncia sobre o que estava por trás da reurbanização bairro de Sophiatown, onde seus antigos moradores – negros, indianos – foram expulsos, suas casas destruídas, para dar lugar a um empreendimento imobiliário destinado à população branca. Em muitos aspectos, Henry Nxumalo faz lembrar o jornalista gaúcho Tim Lopes, assassinado por narcotraficantes no Rio de Janeiro, em 2002, quando colhia elementos para uma reportagem sobre o comércio de drogas e o crime organizado nas favelas cariocas. Tim, ganhador de um prêmio Esso – e que chegou a internar-se numa clínica de dependentes químicos para fazer uma matéria sobre o assunto – conhecia a arte da reportagem e também seus riscos. Como Nxumalo, pagou com a sua vida por aquilo que julgou, enquanto jornalista, ser a sua missão: narrar a vida, contar a verdade. Programação: Mostra de Cinema Africano. Sessões gratuitas. Cine Bancários (Rua General Câmara, 424). 28 de novembro: 15h – Tabataba; 17h – Heremakono – à espera da felicidade; 19h – Minha voz 20h30min: debate com Mahomed Bamba, autor do livro “Filmes da África e da diáspora: objetos de discursos”, de 2012. 29 de novembro: 15h – Drum; 17h – Djeli; 19h – Tabataba 30 de novembro: 15h – Jom ou a história de um povo; 17h – O vento; 19h – Minha Voz Primeiro de dezembro: 15h – Identidade; 17h – Buud Yam; 19h – Sessão Baobá de cinema: “Raça, Um filme sobre a igualdade”, de Joel Zito Araújo e Mecan Mylan, 2012. 4m4xc