A consulta popular sobre o Pontal do Estaleiro foi o tema dominante do programa “Conversa de Jornalista” deste sábado, transmitido da sede da Associação Riograndense de Imprensa, para a Rádio da Universidade. Leia os principais trechos da discussão: Ercy Thorma (presidente da ARI) – A importância de que a pessoa vote bem é essa: a consulta é só sobre a área do Estaleiro Só, mas certamente o que for decidido para aquela área será depois questionado para toda a orla do Guaíba. Por isso é importante o porto-alegrense se posicionar: para, nas próximas ações, não chegarmos a esse ponto – do sim ou não. O cidadão deveria ter sido consultado bem antes da fase de elaboração de projetos. Era o que deveria ter acontecido lá atrás, quando foi elaborada a lei permitindo a construção de edifícios comerciais ali. Era quando a discussão deveria ter sido mais ampla. Glei Soares (apresentador)- A consulta é válida como experiência. Ercy – É claro, pode ser um exemplo para o Brasil. Mas estamos numa encruzilhada, não aborda mais nada. (…) Glei – Eu sou contra porque não sei exatamente o que vou votar. E sou jornalista. Imagine quem mora lá no Sarandi, Alvorada, se vai poder decidir. É só a área do Estaleiro Só. Elmar Bones (diretor do Jornal JÁ) – O Jornal JÁ está lançou uma edição especial sobre o Pontal justamente por isso: não se sabe claramente o que se está votando. A maneira como a pergunta foi formulada é ambígua, inclusive facciosa, porque já induz a uma conclusão, e distorce um pouco a questão. Glei – Aquela história: quer o progresso ou não quer o progresso? Elmar – Concordo com o Ercy, a consulta é uma iniciativa importante e mostrou que a população está disposta a discutir e se envolver. A discussão é total na cidade sobre o Pontal. É um mérito. Mas a verdade é que não temos clareza sobre o que estamos votando. Em primeiro lugar: mobilizamos a cidade inteira para discutir sobre um terreno, sobre um empreendimento privado, etc. Trata-se de um processo que já dura ano e meio, a Câmara de Vereadores já votou duas vezes, já teve veto do prefeito e, ao mesmo tempo, a discussão do Plano Diretor, que inclui toda a Orla do Guaíba, está trancada há seis anos. Ercy – Devo lembrar que a autorização para construção de prédios comerciais foi autorizada no governo Tarso Genro. Esta discussão deveria ter sido travada lá atrás. Elmar – Esta edição extra do Jornal JÁ mostra minuciosamente como foi a aprovação da Lei 470 na gestão Genro. Porém, esta lei de agora não é a mesma. Esta lei foi construída com diretrizes que prevêem até 43 metros de altura dos prédios, 14 andares. A lei 470 (que está em vigor, porque a nova depende desta consulta popular), permite 12,5 metros, 4 andares. Isto foi excluído do que se pergunta à população. Por isso digo que a pergunta não foi bem formulada. O fato deste projeto do Estaleiro ser polêmico chamou as pessoas à discussão, que não vai parar aí, e acho que a cidade vai sair ganhando com ela. Ercy – É extraordinariamente importante, e é importante o quanto isso abriu espaço na imprensa, que não tocava no assunto. A consulta fez a imprensa abir espaço. A comissão eleitoral, que integrei, foi visitar os veículos de comunicação, com a única restrição à matéria paga, que mostra o poder econômico, mas felizmente todos os veículos abriram espaço nobre à discussão. E estão oferecendo informações à sociedade que ela desconhecia. Elmar – Fizemos um retrospecto desde que faliu o Estaleiro Só. Sem a perspectiva histórica, não se consegue entender o problema. Ercy -Um parênteses, que a imprensa hoje esquece: nenhum fato, por mais significante que seja, é isolado. Elmar – Nossa edição faz este retrospecto, até esta discussão final. É uma edição para ser vendida – nas bancas, nas ruas –e isso tem um sentido didático: o leitor tem que se conscientizar que precisa pagar se quiser informação de qualidade. Se ele não se disp a isso, não terá a informação de que precisa, terá a informação que querem dar a ele. A base de sustentação dos grandes veículos não é a venda avulsa, é a publicidade. Esta nossa edição foi feita graças ao trabalho de vários jornalistas voluntários, que insistiram conosco em fazer este trabalho. Tirar uma edição extra neste momento foi complicado pra nós, mas fazemos um esforço para trazer um acréscimo de informações sobre este processo, que vai continuar. Glei- Onde está sendo distribuído? Elmar – Em bancas, nos parques haverá gente vendendo, em pontos de grande movimentação da cidade, no calçadão de Ipanema. É um teste para todos. Estamos aprendendo a viver numa sociedade que se democratiza aceleradamente e precisa de informações. E às vezes a informação não existe não é nem por má vontade, é porque a informação custa. A captação, a elaboração dela custa, é preciso investimento, e o leitor muitas vezes não se dispõe a pagar por ela, acha que está disponível de graça. Não é bem assim. Falta uma mudança de mentalidade. Enio Rockenbach (radialista e diretor da ARI) – Só pra não perder a oportunidade: só o Estaleiro está Só, os interesses estão bem em conjunto… m15v