Estabelecido em Bom Princípio, no vale do Caí, o meliponicultor Evald Gossler ou o dia de ontem (28) no Centro de Treinamento da Emater em Montenegro. Ali se realizou um evento que atraiu cerca de 400 pessoas, entre apicultores veteranos, jovens, mulheres, pequenos agricultores e vendedores de equipamentos e insumos próprios para a criação de abelhas. O sucesso do encontro é uma prova do bom momento da apicultura e, especialmente, da meliponicultura, que pode ser exercida em jardins e quintais urbanos, sem risco de ferroada. Especializado na reprodução de enxames de abelhas nativas, Gossler armou sua banca debaixo de uma lona clara num dos jardins da Emater e não teve mais sossego. “Eu não produzo mel”, dizia, explicando a curiosos e aficcionados que se especializou na reprodução de enxames de abelhas nativas, as melíponas ou sem ferrão, que exercem um papel importante na polinização da flora nativa e, de quebra, produzem modestas quantidades de méis vendidos a pelo menos R$ 80 por quilo, quatro vezes mais valorizados do que o mel comum de abelha melífera. Gossler mostrou ao vivo e em cores porque se dedica exclusivamente à reprodução de abelhas indígenas — no Rio Grande do Sul, há 24 espécies identificadas, quatro delas sob risco de extinção: guaraipo, manduri, mandaçaia e uma das nove mirins. Após um breve diálogo com um meliponicultor experiente, vendeu por R$ 300 um enxame de mandaguari com a respectiva caixinha de madeira de lei. No chão ele tinha outras caixas com abelhas. Sobre a capota da camioneta, entrando e saindo de uma caixinha, um colônia de mandaçaia chamava a atenção. Mesmo sob o chuvisco que começou a cair às 11 horas, as abelhinhas continuavam buscando néctar nas redondezas. De vez em quando o vendedor de enxames abria a caixa das mandaçaias para mostrar como operam. Elas se alvoroçam, enquanto o meliponicultor permanece tranquilo. Sem comparação com as abelhas melíferas. Considerada sob ameaça de extinção na natureza, a abelha mandaçaia é uma das espécies mais procuradas para criação em meliponários, mas apresenta uma vulnerabilidade que se manifesta no fim do verão. “São tantas mortes sem causa aparente que chamamos o fenômeno de março negro”, diz Nelson Angnes, presidente da Associação dos Meliponicultores do Vale do Taquari (Amevat), criada em 2014 em Lajeado. Na manhã de sábado, 1 de dezembro, a mortandade da mandaçaia será debatida num seminário no campus da UFRGS em Eldorado do Sul. 635x4r