Ex-empregados tomam calote do Estaleiro 592a2u

Por Daiane Menezes  Anunciado como grande negócio para Porto Alegre, aquele que poderia revitalizar a orla do Guaíba, o projeto do Pontal Estaleiro ainda não saiu do papel, mas já tem pelo menos 600 perdedores. São os ex-funcionários da empresa, que deveriam ter recebido 14 milhões em salários. O leilão do imóvel do Estaleiro Só para pagar as dívidas trabalhistas foi determinado pela Justiça em 1999, a venda saiu em 2005, mas até hoje a turma não viu a cor do dinheiro. Em 2004, de acordo do Moacyr da Rocha Curi, representante dos ex-empregados do Estaleiro, a área estava avaliada em R$ 26 milhões. Estranhamente, em 2005, quando os empregados já esperavam por seu dinheiro a seis anos, o terreno foi arrematado por 7,2 milhões, quase quatro vezes menos do que a avaliação e pouco mais da metade do valor da dívida com os empregados. Dos 7,2, metade ficou retido pelo síndico da massa falida. Os trabalhadores recorreram novamente à Justiça tentando tentando receber a parte que lhes cabe – e o processo está à deriva no Judiciário. Moacyr conta que por muitos anos “trabalhar no Estaleiro Só era motivo de orgulho”. Nos anos 70 a empresa tinha um centro de formação de soldadores, caldeireiros, tubuladores e eletricistas. Segundo ele, ainda hoje ter na carteira de trabalho que foi empregado lá abre muitas portas. Nos tempos áureos, até os presidentes da República compareciam nos batismos de navios. Na entrega de um deles, em que general Castello Branco compareceu, o navio “não quis descer da rampa onde foi construído, ficou envergonhado”, brinca Moacyr, talvez fazendo referência à ditadura que vigorava na época. “Quem veio aqui há quinze anos... Eu nem gosto de andar muito aqui dentro”, diz Moacyr Curi. (Foto: Thiago Piccoli)  No entanto, a vida dos operários não era moleza. Até a década de 80, o mestre de obras não chamava os funcionários pelo nome. Ele simplesmente apitava, e todos tinham que olhar para saber com quem o chefe queria falar. Mesmo no inverno, os navios eram colocados na água com força humana. Para combater o frio, o mestre dava um cálice de conhaque para o operário que saía do rio. A situação começou a melhorar quando os superiores da velha guarda se aposentaram e o estaleiro começou a modernizar-se. Porém, em seguida vieram anos ruins para o setor naval, que deixou de receber tantos financiamentos estatais. A orientação do governo da ditadura militar mudou para investir nos transportes ferroviário e rodoviário. O Estaleiro Só diversificou suas atividades, fabricando caldeiraria, peças de metal para maquinário industrial, o que chegou a dar uma sobrevida à empresa. O ponto mais crítico foi uma violenta explosão, provocada por um soldador que perfurou a base de óleo de um navio. Nessa ocasião, o fogo invadiu as instalações. Em seguida, centenas de funcionários foram demitidos. Poucas coisas não foram furtadas do local. O cofre onde se guardavam os segredos industriais, os raios X dos navios, é uma delas. (Foto: Thiago Piccoli) Os últimos es alugaram o local para as escolas de samba Bambas da Orgia, Imperadores do Samba e Restinga. O negócio também não funcionou. Elas fizeram uma dívida de 12 milhões em água e luz. Hoje, fora os seguranças que se revezam cuidando o local, a situação é de completo abandono. Nos escombros há restos que mostram que ali já houve uma grande empresa. Ela chegou a ter 3 mil funcionários. Todos querem, ex-empregados e porto-alegrenses, que a área seja bem aproveitada. A questão é: às custas de quem ? Estaleiro Só: ruínas e dívidas. (Foto: Thiago Piccoli) 4w6s51

0 comentário em “Ex-empregados tomam calote do Estaleiro” 5w2yz

  1. Parabens pela bela reportagem que mostra a negligência de nossas Promotorias e de nossa justiça.
    Tudo no Brasil se resume ao Bla! Bla! Bla!, ninguem faz nada sem ter benefício próprio.
    Para se concederem aumentos os nossos juristas e políticos fecham acordos e o resto que se dane.
    Até quando?

  2. Como acho consigo telefone ou endereço deste Sr Moacyr da rocha, pois preciso averbar tempo de serviço do ano de 80 ate 83. atenciosamente

  3. Nosso processo trabalhista já fez 18 anos. É realmente um absurdo, pois boa parte desses colegas que têm que receber o que é nosso, uma vez que os créditos são de salários, férias não pagas enquanto laborávamos naquela empresa, em que, todos nós, demos “sangue” para manter ativo a grande indústria naval no Rio Grande do Sul. Hoje, como todos sabem, o Polo Naval está em franco progresso.
    Mas, TEM QUE SER DADO PRIORIDADE NA “JUSTIÇA” PARA NÃO SER INJUSTA PARA CONOSCO, EX-EMPREGADOS E QUE ESTAMOS TODOS NECESSITANDO, PRINCIPALMENTE AS VIÚVAS E FAMILIARES REMANESCENTES.
    É CASO DE CONSCIÊNCIA, MORAL, DO JUDICIÁRIO.
    LUIZ ANTONIO ARAUJO PERES

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