Os documentários Pina, de Wim Wenders, e Carta para o futuro, de Renato Martins, estão incluídos na programação de encerramento, nesta quinta-feira (15/03), da oitava edição do Festival de verão do RS de cinema internacional, com exibições, a partir das 19h30min, no Espaço Itaú de Cinema, no shopping Bourbon Country. Os longas, finalizados em 2011, traçam insólitos percursos: artístico, no caso de Wim Wenders que em 3D retrata aspectos da vida e da carreira da coreógrafa e bailarina Pina Bausch, morta em 2009; antropológico, em Cartas para o futuro, no qual Renato Martins, através de gravações de partes do dia-a-dia de três grupos familiares cubanos – a partir de material audiovisual coletado durante sete anos – faz um interessante panorama comportamental da sociedade cubana atual. Martins foge dos estereótipos que, desde a Revolução Cubana, há mais de 50 anos, acostumou-se, sobretudo em produções audiovisuais, a retratar-se a ilha de Fidel. Ele construiu sua narrativa através de depoimentos, concentrados principalmente na família Torres, onde a professora Miriam é o principal elo de quatro gerações de cubanos que, apesar das dificuldades, seguem fiel ao programa socialista. A ela, tipicamente de classe média, somam-se os outros núcleos familiares compostos pela família de Luiz Alberto, taxista, e de Michel, negro, cujas condições de vida se assemelham a de um favelado brasileiro. Apesar dos desníveis evidentes, do racismo que a revolução não conseguiu apagar, do bloqueio econômico, que estrangula a ilha, imposto pelos Estados Unidos, do pãozinho diário que cada cidadão tem direito, a pergunta: Afinal por que continuamos lutando? Pelo futuro, responde Miriam, cujo filho Júlio, emigrou para o país de George Bush, que é a representação do próprio diabo no imaginário de Diego, o neto. Portanto, num país onde tudo parece faltar, mas que, segundo Martins, a noção de tempo é completamente diferente, menos estressante, a melhor opção seja aderir a ALCA, que segundo a professora significa: “al carajo el bloqueo”. PINA Um dos maiores nomes da Dança do século XX, a alemã Pina Bausch morreu há quase dois anos sem poder ver a riqueza de possibilidades que a tecnologia 3D ofereceria ao seu trabalho, da profundidade que daria aos movimentos dos bailarinos da companhia que dirigiu e hoje leva seu nome, a Tanztheater Wuppertal Pina Bausch. Wim Wenders tem uma maneira muito original de tratar biografias. Em Pina, da mesma forma como já havia feito em Tokio-Ga – quando retratou a vida do cineasta japonês Yasujiro Ozu – Wenders faz uma excelente mistura imagética de arquivos, depoimentos, e novas encenações baseadas na herança artística do biografado, caso da engraçada coreografia das quatro estações. Tendo como principal cenário a cidade alemã de Wuppertal – sede do Tanztheater e famosa por seu trem monotrilho, suspenso – o documentário recupera o conjunto da obra da coreógrafa, incluído trechos do espetáculo Café Muller, um dos raros documentos em que Bausch aparece dançando. Ao agregar a dança elementos do teatro, do cabaré, Bausch renovou a linguagem corporal. E o cinema, através da decupagem em planos, mais a tecnologia 3D, ajuda acentuar os movimentos que sob a direção de Wenders se tornam extremamente sensuais, dando a impressão, às vezes, que se pode tocar no corpo, no sexo da bela bailarina latina. Mas não é apenas sensualidade. O documentário, através de primeiros planos e closes, capta os elementos narrativos da estética de Bauch feita de pulsões, que fazia seus bailarinos falarem, chorarem, transmitir expressões de medo, angústia, e também de humor, e vigor. Multiétnico e transnacional, o Tanztheater conta em seu quadro com a bailarina brasileira Regina Advento que, apesar de falar alemão, no filme dá um depoimento em português, pois uma das propostas de Wenders – como era da coreógrafa – é a de tornar seus espetáculos organicamente cosmopolita: falam-se os idiomas inglês, espanhol, francês, chinês. Mesmo tratamento dado a trilha, do clássico ao pop, e onde se pode ouvir O leãozinho de Caetano Veloso. Por Francisco Ribeiro 2uh52