Tenho dito aqui: o processo de democratização do país está a exigir uma imprensa menos “paulo coelho”, com todo respeito ao Paulo Coelho. A cobertura que a mídia faz não está à altura das necessidades do processo de democratização, pela mesmice, pela superficialidade. Vejo que essa carência se torna cada vez mais evidente. Vejam o que diz Ricardo Noblat, editor e diretor de redação de importantes veículos da mídia brasileira, como Veja, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense: “A mídia está em crise – e as redações cada vez mais enxutas. Não se dão mais o luxo de ouvir um leque numeroso e variado de fontes. Porque a mídia sempre gostou, e agora mais ainda, de receber pratos feitos. Se lhe dão bons releases ou relatórios abrangentes, ela se vale do que se encontra ali”. “As razões são as mesmas. Nos últimos três anos, mais de mil vagas de jornalistas foram cortadas nos jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão. As redações perderam – e continuam perdendo – seus quadros mais experientes. Elas se tornam bastante jovens – e, por tabela, inexperientes. De resto estão cada vez mais sobrecarregadas. Não têm muito tempo pra nada. De preferência, apuram a maioria das notícias por telefone. E tentam enriquecê-las pesquisando dados pela internet”. Noblat menciona o caso dos Conselhos Tutelares: “Existem municípios em que o Conselho de Direitos da Criança, por exemplo, não é representativo da sociedade. Metade das cadeiras é ocupada por integrantes do governo, como manda o Estatuto. Entretanto na outra metade dos assentos, que deveria ser da sociedade civil, sentam-se vereadores”. “A abordagem desta distorção pela imprensa seria fundamental para que esses conselhos resgatassem o caráter democrático – e para manter o daqueles que não apresentam distorções. Além disso, renderia uma denúncia política interessante para o veículo. Mas, é claro, isso também não tem visibilidade na imprensa. Em grande parte porque os jornalistas não conhecem nem o papel nem o funcionamento desses conselhos”. “É um problema de formação – ou da falta dela. De crise da mídia. De escassez de repórteres. E de insensibilidade dos seus chefes. A solução do problema a por uma catequese permanente dos jornalistas sobre a importância dos conselhos, mas a principalmente pela reinvenção do conteúdo das diversas mídias. Tal inversão é mais urgente no caso dos jornais. Eles estão cada vez mais distantes do seu público. E se limitam a oferecer o que o leitor já sabe. É urgente privatizar o noticiário da mídia em geral – e dos jornais em particular. A mídia devia olhar mais para a sociedade e menos para os governos. Lugar de repórter é na rua – não nos ambientes acarpetados e refrigerados do poder. Creio nisso, mas não acho que ocorrerá a curto prazo”. * * * Sempre que ouço esse discurso em defesa da liberdade de imprensa, lembro da frase do general Geisel, reproduzida no livro do Elio Gaspari: “Recebi todos donos dos órgãos de comunicação. Nenhum me pediu o fim da censura”. 6b6j39