Fragmentação da esquerda pode reabilitar o velho PCB 4x155o

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(Foto: José Cruz/Abr/JÁ)

José Antonio Severo, de Brasília.
Como 1968, o Ano que Não Terminou, este mês de agosto só vai acabar dia 18 de setembro, quando se decidir mais uma vez o futuro da esquerda brasileira.
O professor Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula, mas, principalmente, um dos mais destacados pensadores políticos do País, compara o perigo de estilhaçamento do PT com o grande racha do Partido Comunista em 1964.
Naquele ano, impactado pela derrota ante o golpe militar, o Partidão fracionou-se sem conseguir reaglutinar-se, reunindo os dissidentes numa nova organização. Isto levou a esquerda fracionada para embates isolados, sofrendo um revés após outro até se reencontrar no PT, um partido que, como diz Marco Aurélio, unia pelo político, não pelo ideológico, criando-se, assim, uma nova força que chegou ao poder numa campanha fulminante, geometricamente crescente desde sua fundação até a vitória de Lula em 2002.
O temor de uma volta aos velhos tempos não é infundado. As lideranças descontentes e já em marcha batida para a dissidência movimentam-se celeremente à procura de abrigos na teia partidária existente.
Ante à certeza da vitória da tendência Campo Majoritário, não há outra saída para as correntes que pretendem manter-se no processo político eleitoral. A legislação em vigor dá um prazo fatal para a adesão, dia 3 de outubro, um ano antes das eleições gerais.
Quem pretender disputar, precisa estar filiado a uma agremiação que lhe dê a necessária legenda para candidatar-se. ite-se, como é, aliás, normal, que o PT negará legenda aqueles que se desfiliarem.
Nesse cenário, os grupos operam junto às legendas de esquerda que detém o registro de partidos legais habilitados a disputar eleições. Nesse processo, teme-se a fragmentação da esquerda, novamente.
Segundo Marco Aurélio, não há uma movimentação social que leve à reaglutinação desses grupos numa nova e consistente agremiação, o que poderia criar um espaço para negociação e formação de uma nova aliança. Esta seria a sina da esquerda, diz ele, como nos idos dos anos 60, quando se fracionou e não produziu fatos populares que gerassem o novo partido composto pelas dissidências comunistas engrossadas pelos demais grupos à esquerda, como Polop, Ação Popular e outros.
O único fenômeno de massas, naquele tempo, foi a eata dos 100 Mil, no Rio, que ele hoje vê como uma espuma de classe média, sem profundidade, deslocando-se na contra-mão da história: os militares tinham mudado o país e vinham obtendo crescente apoio da população, um fato não reconhecido e até desqualificado naquele tempo, hoje incontestado pelo processo que se formou no governo Medici. O Milagre cooptou as massas e foi se extinguindo, pouco a pouco, com o esgotamento da “revolução” até se desmanchar na grande mobilização das Diretas Já, mais de 10 anos depois.
O que se vê hoje em Brasília é uma busca desenfreada por legendas para evitar que o racha petista deixe ao léu um grupo de forte poder eleitoral. Uma das alternativas que está em exame e negociação é a retomada da legenda do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão, que, ao contrário do que se pensa, não se extingiu com a fundação do PPS, para onde se deslocaram os antigos líderes comunistas.
A legenda PCB tem registro e pode disputar eleições e receber adesão de congressistas, ao contrário do PSOL, que ainda não tem vida legal para o processo eleitoral e não poderá participar do pleito de 2006. No entanto, o velho PCB está controlado por um grupo de velhos militantes, extremamente radicalizados, que reluta em receber os quase ex-petistas, por considerá-los muito conservadores. Ou, melhor dizendo, pouco revolucionários por aceitarem o processo das eleições burguesas.
A crise da esquerda é, de fato, a grande crise deste momento. Os problemas do governo, os embates das comissões, tendem a extinguir-se quando esse ime petista mostrar seu epílogo. No centro do processo está a recandidatura do presidente Lula. Mas este já será um novo capítulo desta mini-série. Apenas uma piada ficaria: o PCB volta à cena à esquerda do PcdoB.

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