Fundação Zoobotânica vai emitir laudos ao DAER por um ano 4c4z5s

Cleber Dioni Tentardini A extinção de oito fundações públicas, já aprovada pelos deputados e sancionada pelo governador José Sartori, não está impedindo  que o poder público recorra aos serviços dessas entidades para atender suas demandas. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam), por exemplo, exige pareceres fornecidos por técnicos da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB) para liberar as obras de pavimentação nas rodovias estaduais. Neste mês de março, o diretor-geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), Rogério Uberti, firmou um Termo de Cooperação com o presidente da FZB, Luiz Fernando Branco, para agilizar as licenças ambientais de obras na malha rodoviária do Estado. Os dois paleontólogos do Museu de Ciências Naturais (MCN), da Zoobotânica, já sabem que terão que se desdobrar a partir da próxima semana para dar conta de tanto trabalho. Na primeira etapa serão monitorados 17,3 km da RS-516, rodovia que liga Santa Maria a São Martinho da Serra, região conhecida mundialmente pelas descobertas paleontológicas. A análise é feita tanto nas estradas como no seu entorno, nas encostas. Além da preparação e catalogação de materiais, istração do setor e orientação de alunos bolsistas, os pesquisadores terão que produzir laudos sobre a possível existência de fósseis na área. Na eventual localização de sítios paleontológicos, deverá ser feita remoção, catalogação e armazenamento dos materiais. Esses relatórios serão anexados ao Estudo de Impacto Ambiental. Mandíbula de Mastodonte coletada em Rosário do Sul/ Fotos Cleber Dioni A parceria envolve também técnicos de outras áreas da FZB para a emissão de laudos sobre a flora e a fauna. “A Fundação Zoobotânica faz pareceres e laudos paleontológicos para minimizar o impacto ambiental das obras rodoviárias”, explicou Luiz Fernando Branco. Para o diretor-geral do DAER, Rogério Uberti, a parceria vai ao encontro de uma nova postura do departamento. “A parceria com a Fundação Zoobotânica vai nos ajudar a tornar nossas ações mais dinâmicas e eficientes, garantindo a excelência na gestão ambiental de nossas obras.” De acordo com o biólogo Luiz Carlos Leite, da Coordenação Técnica de Meio Ambiente do DAER, a cooperação entre os órgãos já se mostrou necessária em diversas oportunidades. “Já houve situações em que a Fepam nos solicitou relatórios para prosseguirmos com esses projetos. Agora, temos uma sistemática definida para atender a essa exigência”, completou. Ao DAER caberá providenciar o deslocamento dos técnicos da FZB.  A parceria tem prazo de um ano podendo ser prorrogado por igual período. Dinossauro raro encontrado em São Martinho Uma das mais importantes descobertas da paleontologia brasileira ocorreu em 1998 na localidade de Água-Negra, no município de São Martinho da Serra, mas só foi anunciada seis anos depois pelos pesquisadores da Universidade de Santa Maria (UFSM) e do Museu Nacional. Trata-se do Unaysaurus tolentinoi, uma nova espécie de dinossauro em território brasileiro e uma das mais primitivas que já andaram pela Terra, há cerca de 225 milhões de anos. Tolentino Marafiga foi o agricultor que encontrou o primeiro fragmento do fóssil do animal, um herbívoro de pequeno porte que, estima-se, pesava cerca de 70 quilos, tinha pouco mais de 2 metros de comprimento e cerca de 0,70m de altura. Uma das mais importantes descobertas da paleontologia brasileira O paleontólogo Jorge Ferigolo, do MCN, explica que esse tipo de descoberta contribuiu para esclarecer a evolução dos dinossauros e reforçar as informações sobre clima, vegetação e fauna da região em épocas distintas. Nesse caso, é do período Triássico, quando os atuais continentes ainda formavam um único e contínuo bloco de terra conhecido como Pangea. “Na Depressão Central do Estado se situam as rochas do Triássico, período em que viveram os dinossauros mais antigos do mundo, entre 215 milhões e 245 milhões de anos, aproximadamente. Esses fósseis são encontrados no Rio Grande do Sul e na Argentina, mas aqui as rochas estão mais expostas”, afirma o pesquisador. Material fóssil coletado em São João do Polêsine,  em preparação para ser estudado Paleontologia do MCN é referência mundial A Seção de Paleontologia do MCN é uma referência em pesquisas de vertebrados fósseis, espécies que estão na ancestralidade dos mamíferos, o que atrai pesquisadores de várias partes do Brasil e de outros países. Jorge Ferigolo coordena o setor. Foi pra lá em 1982, a convite de Carlos de Paula Couto, autor de trabalhos de relevância mundial, e quem fundou a Seção enquanto ocupava a presidência da FZB em 1974. Paula Couto foi orientador no mestrado e doutorado de Ferigolo. Prof. Paula Couto fundou a Seção Paleontologia do MCN Nos mais de 40 anos de funcionamento da seção, já foram produzidos diversos trabalhos científicos sobre vertebrados de diferentes períodos, do Permiano, Triássico, Cretáceo, Paleoceno, Oligoceno, Mioceno e Quaternário. “Atualmente, o maior foco de pesquisa são os mamíferos sul americanos, bem como suas formas predecessoras, os cinodontes que habitaram a região em que se encontra o Estado há mais de 200 milhões de anos”, explica. A outra sala é ocupada pela paleontóloga Ana Maria Ribeiro, a atual curadora da coleção científica da seção. Ela foi orientanda de Ferigolo na pós-graduação de Geociências da Ufrgs e, hoje, é ela quem orienta os onze alunos bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado. Ana diz que Santa Maria está praticamente em cima de sítios fossilíferos/Cleber Dioni “Somos apenas dois e, às vezes, recebemos vários pedidos para elaboração de laudos de empresas privadas. Normalmente, nós sabemos onde há possibilidade de existirem fósseis, mas de qualquer maneira temos que ir lá verificar. Por isso, precisaríamos de mais uma ou duas pessoas para nos auxiliar aqui”, diz. Segundo a pesquisadora, dependendo do o ao local e do tamanho da área, pode levar um dia ou uma semana o trabalho em campo, e se for achado fóssil, leva mais tempo porque tem que ser removido o material e estudadas medidas mitigatórias. “Nas encostas há muitos afloramentos de dois e três metros, e vem o barranco, principalmente em Candelária. A região de Santa Maria está praticamente em cima de sítios fossilíferos”, completa Ana Maria. Coleções têm mais de 10 mil peças A coleção paleontológica foi iniciada em 1971 pelo professor Carlos de Paula Couto e hoje conta com mais de 10 mil peças, cerca de 8 mil (paleovertebrados), 1.738 (paleoinvertebrados) e 368 (paleobotânica) espécimes catalogados, pertencentes na sua maioria aos períodos Permiano, Triássico, Paleoceno, Mioceno e Pleistoceno. Restos esqueletais do arcossauro carnívoro Decuriasuchus A curadoria da coleção foi exercida por Paula Couto até 1982 e, hoje, é de responsabilidade da professora Ana Maria. Em 1982, a coleção recebeu por doação de Ferigolo uma coleção de répteis e invertebrados do Permiano (idade aproximada de 280-270 milhões de anos), todos procedentes do RS, e uma coleção de peixes do Cretáceo (cerca de 130 milhões de anos), procedente do nordeste do Brasil. Em 1983, iniciaram-se as coletas de mamíferos do Pleistoceno (entre 120 e 11 mil anos) do RS, estes representados principalmente por mamíferos (e.g. gliptodontes, toxodontes, mastodontes e preguiças-gigantes). Crânio de rincossauro coletado em Santa Maria, estudado pelo prof Tupi Caldas em 1932 A partir de 1996, com pesquisas também sobre o Triássico (250-202 milhões de anos) do RS, o acervo foi enriquecido com material de importância mundial: dinossauros primitivos, cinodontes (ancestrais dos mamíferos) e esfenodontídeos, ancestrais do atual Tuatara da Nova Zelândia, o réptil atual mais primitivo do Mundo. Inclui ainda plantas fósseis, como algumas das mais antigas coníferas, além de invertebrados antes desconhecidos, como coleópteros de 220 milhões de anos. O acervo também recebeu doações de material pleistocênico, como o material referente à tese de doutorado de Francisco SekiguchiBuchmann (UFRGS) e de Luiz Rota, de Santa Vitória do Palmar, que inclui vários milhares de espécimes, entre eles mais de quatro mil dentes fósseis de tubarão. Bolsista estuda roedores de 20 mil anos A bióloga Simone Neves, de Pelotas, concluiu seu mestrado e agora desenvolve sua tese de doutorado na Geociências da Ufrgs, com apoio da Seção de Paleontologia do Museu. É bolsista do CNPq e desenvolve pesquisas sobre os sigmodontinos, pequenos roedores que viveram há 20 mil anos, período conhecido como Quaternário. A bióloga Simone Neves/Cleber Dioni Mandíbulas de camundongos   “É um período recente para os pesquisadores. Meu objetivo é entender a mudança na distribuição biogeográfica desses ratos e camundongos, que ocorreram predominantemente na América do Sul”, ressalta.   Entidade repudia extinção da FZB A Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP) encaminhou ao governador José Ivo Sartori uma manifestação de repúdio em relação ao fechamento da Fundação Zoobotânica do RS. O texto assinado pelo presidente da entidade, Max Cardoso Langer, observa que “a Fundação Zoobotânica constitui patrimônio da sociedade gaúcha, e que qualquer tipo de intervenção que resulte no desmantelamento ou na extinção dessa importante instituição pública é motivo de indignação”. A professora Annie Schmaltz Hsiou, do Departamento de Biologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFLCRP), da Universidade de São Paulo (USP), fez estágio na FZB, depois ganhou uma bolsa de iniciação científica na Seção de Paleontologia do MCN onde cursou até o pós-doutorado, sempre sob a orientação do professor Jorge Ferigolo. “Além de ser um polo formador de pesquisadores possui coleções de grande valor científico sobre a fauna e flora do RS. Não consigo imaginar a FZBRS fechando suas portas. Não imagino ver colegas e amigos serem demovidos de seus cargos. Não consigo imaginar uma Porto Alegre e um estado inteiro sem este patrimônio da história natural do RS”, afirma Annie. Estados também são responsáveis por fósseis A Constituição de 1988 define que os fósseis são bens da União e que há a responsabilidade dos estados e dos municípios na defesa de patrimônio natural. Os “sítios de valor paleontológico” também são considerados como patrimônio cultural brasileiro. Pata de arcossauro carnívoro Decuriasuchus, coletado em Dona Francisca O Artigo 23 fala da competência de proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens notáveis e os sítios arqueológicos; e impedir a evasão, a destruição e descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural. Recentemente, a promotora do Meio Ambiente de Porto Alegre, Ana Marchesan, realizou uma vistoria nas coleções do Museu de Ciências Naturais, tendo em vista a possível extinção da FZB e de seus equipamentos vinculados. Promotora Ana Marchesan conhece as coleções/MPRS Acompanhada da assessora historiadora do MP, Cintia Vieira Souto, e de representantes do Conselho Federal e Estadual de Museologia, a promotora constatou o “incrível trabalho de memória científica desenvolvido há anos pelos pesquisadores das mais diversas áreas e a importância que ostentam para programas de conservação da biodiversidade e do meio ambiente como um todo, sem falar na relevância como fonte para trabalhos científicos”. Foram vistoriadas as coleções de insetos, plantas vasculares e líquens, algas (ficologia), poríferos, entomologia (insetos), malacologia (moluscos), ictiologia (peixes), erpetologia (répteis e anfíbios), ornitologia (pássaros), mamíferos (mastozoologia), paleontologia e o serpentário. Restos fósseis de madeira e ossos de mesossauro coletado em São Gabriel Conforme Ana Marchesan, o trabalho foi realizado tendo em vista a ação civil pública ajuizada em fevereiro de 2017 contra o Estado do Rio Grande do Sul com o objetivo de preservar o patrimônio cultural e natural do Museu de Ciências Naturais e do Jardim Botânico. “Os trabalhos do Museu são relevantes ainda para questões ligadas à saúde da população, pois os venenos extraídos das serpentes vivas que lá estão são usados para fabricação de soro antiofídico e outros medicamentos”, ressaltou a Promotora, lembrando que há também um patrimônio genético catalogado no Museu. Afora as coleções históricas (recebidas prontas pelo Museu), todas as demais são coleções vivas, ou seja, continuam recebendo diuturnamente materiais novos para estudos e catalogação, necessitando de curadoria permanente. Impressão do esqueleto do mesossauro coletado em São Gabriel Ana Marchesan avalia que a perda parcial ou total desse acervo representará danos incomensuráveis à memória científica não só nacional como até internacional. “O Museu recebe consultas e estabelece intercâmbios com diversas instituições estrangeiras como o Museu Britânico e o Museu de História Natural de Berlim”, destacou. Pata do dinossauro Guaibasaurus. coletado em Candelária Impressão das pegadas de réptil do Triássico, coletado em São João Polêsine, Quarta Colônia 123k4j

Um comentário em “Fundação Zoobotânica vai emitir laudos ao DAER por um ano” 6j1e13

  1. Achei ótimo,porém acho que os fósseis da nossa região deveriam vir para o Centro de Pesquisas Paleontológicas da Quarta Colonia,pois fizemos um grande esforço para a organização destavárea de pesquisa e vejo que ainda temos fósseis de nossa região em outros locais.Mas…parabéns pela materia

Deixe um comentário Cancelar resposta 102b43

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *