(Elmar Bones) – Na reta final da campanha presidencial, o embate governo versus imprensa tornou-se tão acirrado quanto a própria disputa eleitoral, que parecia definida. Esse embate durante a campanha projeta a questão que será central no governo Dilma. O conflito das grandes corporações da mídia com Lula e o PT não é novo e tende a se agravar com Dilma. Atribui-se à mídia a derrota de Lula para Collor e FHC. Desde então, Lula tem vencido. Sua primeira eleição ou por cima do cadáver da mídia. A crise do Mensalão foi a chance da desforra, alguns jornais por pouco não anunciam a queda do presidente. O governo cambaleou, Lula entregou a cabeça de José Dirceu, Genoíno, Palocci e todos mais, mas não caiu. Saiu fortalecido, tanto que se reelegeu. Ali, ficou claro que a mídia convencional, ou mídia corporativa – os cinco ou seis grupos que ainda controlam o negócio da comunicação no país – já não comanda mais a opinião publica. Depois aconteceu o que se viu. A mídia destacou o Lula analfabeto, populista, fanfarrão, metido aonde não devia. A opinião pública consagrou Lula como o presidente mais popular da história do país. Surgiu a candidatura Dilma. Saltaram os “colunistas bem informados” a dizer que jamais o nome dela conseguiria transitar no Partido dos Trabalhadores. Era uma adventícia, sua origem era o PDT de Brizola… Quando o PT digeriu a candidatura Dilma, o discurso mudou: Dilma era uma técnica, sem qualquer carisma, nenhum jogo de cintura, nunca havia disputado um cargo… Dilma candidata, estava fadada a um fracasso, segundo os analistas da imprensa. Não tinha luz própria, era um boneco do Lula e voto não se transfere assim no mais. Não faltaram nem exemplos históricos, de grandes lideres populares que tentaram impor sucessores e fracassaram. Agora, Dilma supera tudo isso e se elege na primeira eleição que disputa… A velha mídia não vai perdoar, ela nunca foi tão humilhada. Por outro lado, a desconcentração dos meios, a abertura do mercado oligopolizado é uma pressão antiga, decorre do próprio processo democrático. Os oligopólios por suas limitações naturais já não dão conta das demandas por informação, geradas pela democratização da sociedade, com os movimentos de ascenção social. Mas eles, os grandes grupos da mídia, dominam um mercado deformado pelo seu próprio poder, exacerbado ao ponto de decidir na prática quem pode ou não pode entrar no negócio. O governo tende a ser um agente na mudança desse quadro, que remonta ao regime militar. Começa pela distribuição das verbas, termina pelo dever de regulamentar ou fazer valer regras que já existem e não são cumpridas. Obviamente, vai encontrar toda a resistência do mundo, desde o primeiro dia. 1z6q1w
Duvido que a Dilma tenha condicões para desbancar o poder dos grandes grupos da mídia. É mais fácil tentar cooptá-los, como o PT vem tentando fazer desde o Governo Olívio no RS…. Mas vamos ver. Adoraria morder minha língua nessa questão…
No seu discurso da vitória Dilma falou: “Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras.” Bela frase, mas precisamos ver como ela vai reagir às pressões dos bastidores da supermídia, que envolvem agências, veículos, marqueteiros dentro e fora do governo. Se der força concreta (e não apenas no discurso ou no papel) para os canais alternativos e emergentes de comunicação, estará fazendo mais do que Lula.