José Antonio Severo Ele foi um dos integrantes mais destacados da geração de jornalistas riograndenses que se mudaram para o centro do País na década de 1960, participando do desenvolvimento da imprensa brasileira, numa fase em que surgiram as principais revistas e os jornais tiveram reformas modernizadoras. Manera começou no jornalismo em 1967, como fotógrafo da Zero Hora. Nesse ano o chefe de fotografia daquele jornal, Assis Hoffmann, recrutou um grupo de jovens gaúchos para formar um departamento de fotografia diferenciado. Esse grupo foi apelidado de geração Blow Up, porque eram rapazes recrutados nas universidades, embalados pelo sucesso do filme de Michelangelo Antonioni, Blow Up, em que o fotógrafo aparecia como uma figura charmosa e irresitível. Também nesse projeto Assis introduzia no Estado as câmeras de filmes de 35 milímetros, abolia o flash e criava um novo conceito de fotojornalismo. Logo em seguida, Assis Hoffmann, que era o mais famoso fotógrafo do Rio Grande do Sul, foi contratado pela Editora Abril para atuar na sucursal gaúcha e servir mais diretamente à revista Veja, que estava sendo lançada. Manera, ao lado de Sérgio Arnoud e Leonid Straliev, foi convidado a fazer parte da equipa de free lancers da Abril. Ali ele se revelou. Logo se destacou com uma foto sobre a competição acirrada entre os dois gitgantes da indústria de refrigerantes mundial, Coca-Cola e Pepsi-Cola. O Rio Grande do Sul era um teatro singular dessa guerra comercial, pois era o único lugar do mundo em que a Pepsi vencia a Cola. Manera fez a foto emblemática: em frente a um bolicho numa estrada remota do Estado, as duas placas, desgastadas e quase caindo, estavam frente a frente, e na imagem se via um burrico magro ando. Era o retrato dessa luta em todos os espaços. Manera era o autor da foto que vale mais que mil palavras, como se dizia na época. Como fotógrafo free lancer, muitas vezes fazendo coberturas sem repórter, tinha de escrever relatórios para a redação explicando a imagem. Qual não foi sua surpresa ao ser convidado para integrar a equipe fixa da revista Quatro Rodas e saber que o chefe de reportagem, Nilo Martins, o convidava para ser redator da publicação. Daí em diante Manera abandonou o clique pelas “pretinhas”, como se chamavam as letras da máquinas de escrever. Deixou o rio Grande do Sul em 1970 e foi trabalhar como repórter de Quatro Rodas na sucursal do Rio de Janeiro. Transferido para São Paulo, integrou a equipe central da revista. Daí seguiu sua carreira, que incluiu outras publicações da Abril, como Guia rural, do qual foi redator-chefe. Também trabalhou no jornal O Globo, no Rio, e foi chefe da sucursal de Porto Alegre durante algum tempo. Voltando ao grupo da Abril, foi diretor de redação da revista Aero Magazine. Então adoeceu, colhido por uma diabetes violenta, e sua carreira foi perdendo o ímpeto. Ainda assim integrou a última equipe de Sérgio de Souza, o Serjão, na revista Caros Amigos. Depauperado pela enfermidade, aposentou-se e se mudou para Florianópolis, onde viveu até a semana ada, longe de seus dois filhos, um em Porto Alegre e outro no Rio, e das muitas ex-mulheres. 3fo4e
Grande Manera! Baita figura! No Guia Rural, no final dos 80, início dos 90, ele inventou e editou
anuários que ajudaram os jornalistas e os agricultores a compreenderem a necessidade do casamento da economia com a ecologia. Apaixonado por cavalos, Manera fez um guia sobre equinos mostrando em fotos e explicando em textos as 50 pelagens mais comuns no Brasil.
Um trabalho primoroso feito com amor e pesquisa. Ele fez o mesmo com as 31 raças equinas criadas no Brasil. E depois repetiu a dose com as nossas árvores mais importantes. Nos ensinou assim a aplicar a intuição no nosso ofício. Ao lado de Nivaldo Manzano, José Pedro Santiago, Luiz Antonio Maciel, Decio Bar, Celso Goes, Mouzar Benedito, Luigi Mamprim, Alex Branco, Flavio Dieguez, Sérgio Lucas, Celso Paraguaçu, Gitânio Fortes, Josué Machado, Fran Netto, Cacalo Kfouri, Julio Bernardes, Roberto Barbatto, Dagoberto Azzoni, Antonio Arena Filho, Sonia de Castilho, Cláudia Rodrigues, Tania Rabello, Tião Magalhães, Marcos de Oliveira et allii, Manera foi um dos cavaleiros que fizeram o resgate do jornalismo rural das garras do economês (o monstro que havia se apoderado das editorias de economia&negócios&serviços & afins). Ele também nos ensinou com seu fabuloso senso de humor. Ou, seja, Manera está vivo no rural que nos habita, no arvoredo que nos acompanha e na cavalhada que alegra nosso viver. Quer conferir? Vá a uma biblioteca ou a um sebo e peça um dos anuários do Guia Rural feitos entre 1985/92.
Geraldão é o dono da razão também neste caso, de relembrar o Robertito depois de sua morte. Conheci-o quando ei por Quatro Rodas num instante em que ele se arrumava com o Guia Rural. Vi-o pela última vez como repórter da editoria de Transportes da Gazeta Mercantil quase no fim. Deve estar em algum lugar — não me arrisco a dizer qual — em papo furado com Serjão de Souza e Ruy Fernando Barbosa.
A história desse homem
Nas horas mais bravas, a elegância. Nas felizes, a melhor companhia. Nas conversas, as impagáveis histórias muitas vezes sob a suspeita de terem ado por uma dose a mais de floreio. Até poderiam, mas não havia importância. Os textos eram sempre mágicos. Me deu a chance de ser alguém nas pretinhas como ele denominava as letras datilografadas, pois foi a base de onde absorvi as referências para estruturar um texto. Ele e as leituras do Lucas Mendes. Foi um editor que defendia com unhas e dentes a melhor condição de trabalho de quem era ligado à ele. Isso pouco existe hoje. Era jornalista de fazer a pauta na mesa do bar. Genialidade rara hoje. É um norte para ser espelhado quando se perde a referência. Esse cara é Roberto Manera, falecido no meio de setembro deste 2013. Apesar de recluso nos últimos dias, viveu rodeado das melhores gerações de pessoas. Conheci na redação da Aero Magazine. Era nome conhecido na Quatro Rodas. Gostava de cavalos. A aviação ganhou muito com a chegada dele ao jornalismo deste segmento. E ele segurou muita bronca, de textos ruins aos interesses comerciais. Trabalhei para ele em anos de ouro de aprendizado e me arrependo amargamente de não ter dinheiro suficiente para pagar pelos seus serviços quando lancei a HiGH. Nosso último encontro foi numa coletiva da Airbus. Eu via no rosto dele que gostaria de poder colaborar com o seu talento. Tremi de medo de não poder cumprir com a responsabilidade de tê-lo na nossa equipe e não aceitaria que fizesse seu trabalho por migalhas. Agora ele se foi. Mas o aprendizado ficou. Agora é fazer por merecer.
Essa história de jornalista morrer em Florianópolis…sei não. Outro dia morreu lá Ruy Fernando
Barbosa, jornalista de primeira linha que tinha o veio musical e compunha canções bem-humoradas, como o Samba do Procotolo, inspirado num officeboy apaixonado por uma secretária boazuda. Ele foi da Veja, Playboy, Panorama de Londrina. No final da carreira, formado em psicanálise, trabalhou alguns anos na assessoria de imprensa da Justiça Federal e se aposentou em alto nível. eando no Rio, foi atingido por uma bala de fuzil que lhe atravessou o quadril e o obrigou a usar cadeira de rodas. Apesar dessa tragédia, manteve a capacidade de amar os semelhantes (atendia pacientes terminais de aids e câncer) e rir de si mesmo. Ruy e Manera, grandes figuras humanas.
Puxa, fiquei triste com a notícia da morte do Manera. Não trabalhei com ele nem era tão amiga, mas fui colega de uma de suas ex-mulheres, na revista Carícia, e conheci ou trabalhei com muitos desta lista acima, como Nivaldo Manzano, Decio Bar, Mouzar Benedito, Luigi Mamprim, Flavio Dieguez, e tantos outros da editora Abril e da Azul. Meus sentimentos.