A marcha do FST começou sob um calor escaldante, 36 graus, minimizado por grossas nuvens que, às 16 horas, pairavam sob o Largo Glênio Peres. Estavam todos lá: partidos políticos de esquerda, como o PC do B; centrais de trabalhadores e organizações sindicais, como a CUT, CTB, e os petroleiros; e grupos organizados de mulheres, homossexuais, negros, ambientalistas. Todos bastante animados. Alguns viajaram 72 horas para participar do Fórum, como o Grupo Crítica Radical, do Ceará, um total de 20 pessoas formado, em sua maioria, por estudantes, como a universitária Luana Carolina Monteiro, que cursa o segundo semestre de Ciências Sociais, e que definiu, assim, a proposta do coletivo: “não somos socialistas ou, tampouco, anarquistas, mas um grupo, fundado há 15 anos, antifetichista em relação ao materialismo, e somos pela construção de uma sociedade solidária e anticapital”. Na altura da Avenida Borges de Medeiros com a Salgado Filho, o confronto sonoro entre a musica regionalista, do carro de som da CUT, e o pagode da CTB, ganhou seu ápice, com a vitória dos gaudérios – dois gaiteiros e um violonista – e suas músicas de protesto, falando sobre as condições do campo e reivindicações trabalhistas. Mais a frente, um grupo de mulheres – congregando feministas e homossexuais – batucavam latas coloridas. Outras, diante de conservadores e perplexos olhares provenientes da fila de ageiros da linha Intendente Azevedo, empunhavam cartazes com palavras de ordem como: “Tirem os rosários dos nossos ovários”, ou “Sou mulher que gosta de mulher”. Na frente do grupo, Claudia Prates, militante da Marcha Mundial das Mulheres, salientava a importância do FST para alertar sobre o possível aumento da prostituição, devido ao turismo sexual, durante a Copa de 2014. Já Ana Naiara Malavolto, da Liga Brasileira de Lésbicas, vê o Fórum como mais uma plataforma contra a lesofobia e o machismo, “de reafirmação de uma longa luta por direitos igualitários e pela construção de uma sociedade mais justa”. Entre os participantes estrangeiros, destaque para os argentinos da Alba de los movimientos, e em especial ao grupo Juventud Rebelde, de Buenos Aires, do qual participa Cecília Córdoba, estudante de Educação que, num quase portunhol, afirmava que eventos como o FST são fundamentais para “discutir questões relevantes, tais como o ensino, formas de produção, ecologia, pois são problemas que concernem a todos os povos latino americanos”. Prefeito de Porto Alegre durante a realização do 1º Fórum Social Mundial, o deputado petista Raul Pont ressaltou que as abordagens propostas pelos participantes do FST ajudam, através da troca de experiências, na reflexão do momento atual da sociedade. E que também “contribuem para criação de fóruns nacionais e internacionais em torno de temas como a sustentabilidade, materializando as reivindicações”. Já o prefeito atual, José Fortunati, e o governador, Tarso Genro, em desabalada correria, destacaram o pioneirismo de Porto Alegre em sediar eventos de tal ordem. Isso, segundo Fortunati, “contribuirá para tornar a capital gaúcha à sede permanente do Fórum Mundial Social”. Por volta das 17h40min, quando a multidão cruzava o Largo dos Açorianos, um forte temporal refrescou os cerca de 12 mil suarentos participantes da Marcha. Foram poucos os que procuraram refúgio junto às paradas de ônibus ou prédios públicos. A maioria, devido ao calorão, viu o aguaceiro como um sinal de boas vindas aos participantes do FST, e um motivo a mais para reforçar a batucada em tom de carnaval. Mas era só mais uma chuva de verão. Vinte minutos depois o sol brilhava forte e a Marcha seguiu tranquilamente rumo ao destino final, o Anfiteatro Pôr-do-Sol. Ali, com a temperatura amenizada pela brisa fresca do Guaíba, vendedores de cachorro-quente, milho verde, pipoca e, principalmente, cerveja, atendiam a um público esfomeado e sedento pelas duas horas de caminhada. O cheiro do carvão em brasa proveniente das bancas de churrasquinho, mais a fumaça, misturava-se aos odores dos diversos tipos de cigarros acendidos pelas pessoas que se acomodavam no gramado ainda molhado, sob o zunido de cigarras que saudavam mais um verão. O carioca Paulo Silva, junto a Débora, namorada mineira, ambos estudantes de Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, balançavam os corpos jovens e sarados em harmonia com os ritmos afro que o DJ, no palco do anfiteatro, procurava esquentar o público. Era apenas uma palhinha para os shows ao vivo que seguiriam noite adentro. “Isso é só começo”, dizia Paulo, acrescentando: “Nos próximos quatro dias a luta continua”. Por Franciso Ribeiro 6od6w