Tarciso Flecha Negra Por Marcelo Gigante Ortiz Não são muitos os privilegiados que entram na política por sugestão de nada mais, nada menos que Leonel de Moura Brizola. Da mesma forma, poucas pessoas tiveram a satisfação de ganhar um título mundial de clubes e jogar na seleção brasileira de futebol. Sendo assim, pode-se dizer que José Tarciso de Sousa, mais conhecido como Tarciso Flecha Negra, é um sujeito de sorte. Afirmação que pode ser sublinhada por mais uma das conquistas do ex-jogador do Grêmio: uma vaga na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, eleito com 6232 votos, pelo PDT. Mas o virginiano de 57 anos não aceita a sorte como justificativa para o seu sucesso. Nascido na cidade mineira de São Geraldo, próxima ao Estado do Rio de Janeiro, ele enfatiza a educação que ele e seus irmãos receberam dos pais como determinante para chegar aonde chegou. “Nós éramos nove. Nossos pais eram muito humildes, mas eles nos ensinaram muito sobre o respeito, a educação, o companheirismo e o coleguismo. Acho que a maior herança que eu e meus irmãos ganhamos”, conta o ex-jogador. Tarciso, hoje com 1,77m e 79kg, reconhece a infância humilde, mas não faz melodrama por conta da falta de dinheiro. Pelo contrário, prefere comemorar o equilíbrio emocional que adquiriu para enfrentar a vida “com dignidade”. Talvez por valorizar muito os ensinamentos dos pais ele tenha decidido que não iria reá-los apenas aos três filhos, Gabriela (34), Marcelo (31) e Roberta (28). Em 1991, após abandonar a carreira de jogador, o Flecha Negra abriu uma escolhinha de futebol para crianças de 7 a 14 anos, com o intuito de formar cidadãos. Ao falar de seus alunos, e das crianças como um todo, o vereador de primeira viagem se empolga e vai longe. Por suas mãos já aram Cláudio Pitbull, Michel Bastos (que hoje joga na França) e até Ronaldinho Gaúcho, quando era bem pequeno. Mas isso não o deixa vaidoso. Tarciso fica feliz em ver seus alunos trabalhando em escritórios, em grandes empresas, ou em qualquer outro lugar que se sintam bem e tenham sucesso. Suas escolas não dão base para que os jovens necessariamente virem jogadores, mas para que aprendam a enfrentar a vida. O vereador afirma que não faz diferenciação entre os pequenos, independente da cor ou da classe social. “Não importa se tem uma família rica ou uma família que não tem muitas condições. Criança é criança”, comenta. Inclusive, fica contrariado quando se diz que ele trabalha só com jovens desassistidos, embora o próprio deixe escapar o termo algumas vezes. Foi dessa experiência com as crianças que Tarciso conseguiu o seu know-how para entrar na política. Não espere dele discursos teóricos sofisticados. Marx, revolução liberal sa, princípios democráticos norte-americanos dificilmente serão citados. O ex-jogador gosta é de falar do que experimentou em sua vida prática, da sua convivência com as comunidades e com os pequenos indivíduos. É o que faz os seus olhos brilharem. Mas o ídolo gremista tem uma referência política de peso: o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro Leonel Brizola. O líder trabalhista, além de ser ídolo de Tarciso, foi um dos entusiastas para que ele se candidatasse a vereador em 2004, quando o Flecha Negra não conseguiu se eleger. Outro nome que o ex-jogador gosta de citar é o do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Tarciso, inclusive, diz ter planos de ler a sua biografia. Sobre outros livros, ele afirma gostar do autor norte-americano Sidney Sheldon. Em relação à música, ouve Cidade Negra e, para namorar, Roberto Carlos. Ele também lê Veja, gosta de filmes policias e sempre que pode assiste ao canal Record News – que tem programação noticiosa 24 horas. “Eu gosto de saber tudo que está acontecendo em São Paulo, no Rio, no Brasil”, afirma. Ainda sobre Obama, o vereador concorda com a afirmação do democrata de que “o mundo está mudando”. Aliás, Tarciso também está mudando. Hoje em dia é pescador – termo que no futebol caracteriza o jogador que fica parado no ataque esperando a bola chegar –, coisa que no campo ele nunca foi. Mas falando sério, o hobby de Tarciso é pescar mesmo. “É uma terapia espetacular. Tu não pensas em nada. Mesmo que tu devas um milhão tu não pensas”, diz. O que não deve sair da cabeça do vereador são as conquistas que teve na carreira de jogador. Em seu gabinete estão colados dois pôsteres do tempo em que atuava nos gramados. Um, do Grêmio campeão do mundo em 1983. O outro, da seleção brasileira de 1978, da qual Tarciso fazia parte. Quando não está na Câmara, trabalhando na escolhinha, ou pescando, Tarciso divide um apartamento no centro de Porto Alegre com a segunda esposa, “a Jô”, que trabalha como ouvidora na RBS. Outra curiosidade sobre o Flecha Negra? Ele nasceu no dia 15 de setembro, mesmo dia em que o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, clube em que jogou 13 anos, faz aniversário. Com certeza, um predestinado. 2z5k2x