Eduardo Lorea Os cartazes colados na fachada da Ótica Bom Fim na segunda feira 4 de abril anunciavam mais uma vítima da violência, que, em 22 anos de funcionamento, nunca havia sido assaltada. Mas, no início do mês, o estabelecimento entrou na onda que atinge o comércio da região. Entre 9h e 10h da manhã, a loja sofreu uma “limpa”. Ela não foi a única. As duas farmácias contíguas à loja – localizada na esquina da avenida Osvaldo Aranha com a rua Ramiro Barcelos –, Drogabel e Pharmaplus, também receberam a visita de ladrões armados. A 50 os dali, do outro lado da avenida, a loja Paquetá foi vítima de dois assaltos. E, para completar, a loja O Boticário, também na Ramiro, teve mercadorias e dinheiro do caixa levados. Na Ótica, os criminosos eram dois homens armados – “e muito bem vestidos”, afirma a gerente Mirian Baladão. Eles entraram, renderam quatro funcionários e dois clientes. Levaram celulares, semijóias, óculos solares, armações, o pouco dinheiro dos caixas e até uma sacola com sabonetes. Mirian não contabilizou as perdas, mas lembra que entre os objetos roubados estavam mercadorias com preço de custo acima de R$ 500. Revoltada com o ocorrido, a gerente voltou suas críticas ao Palácio Piratini e ao Paço Municipal. “Onde está a segurança que o Rigotto e o Fogaça prometeram? Como cidadã, tenho direito de saber o que eles estão fazendo, até porque votei nos dois. Para ela, os meses de dezembro e janeiro ados haviam sido “perfeitos” no que diz respeito à segurança. Na época, foi instalada uma torre com policial na esquina da Ramiro com Protásio Alves. O pedestal foi desativado e agora está na Osvaldo Aranha esquina Fernandes Vieira, em frente ao Posto Policial. “Falta efetivo, e eles não conseguem contratar mais policiais porque os salários são baixíssimos”, acredita Mirian. A Brigada Militar convocou uma reunião com os lojistas no dia 7 de abril. Ocorrências se tornaram banais A freqüência das ocorrências policiais torna os casos banais. Na loja Paquetá da Protásio Alves próxima a Ramiro Barcelos, os funcionários fazem as contas para ver quem bate o recorde de assaltos. Só em março foram dois, com intervalo de dez dias entre um e outro. O vendedor Jonas Flores é novo na loja, mas já tem histórias para contar: sofreu seis assaltos em quatro meses. Mas a campeã é Fernanda de Moura Borges, que atingiu a marca de 15 assaltos em três anos, todos eles realizados por homens armados. “Não temos segurança nenhuma para trabalhar”, reclama. Seu colega André Teixeira – dez ocorrências em um ano – vem observando a ação dos criminosos. Ele conta que estão mudando o “estilo”. “Antes, vinham de moto, com rosto coberto pelo capacete. Agora aparecem aqui de carro, bem arrumados”, afirma. Ainda assim, tranqüiliza os colegas: essa não é a loja mais visada. “Na Assis Brasil é muito pior”, conforma-se. Segundo ele, sempre que os assaltos acontecem a loja contrata um segurança privado, como o que vigiava a porta no dia da visita do repórter. Mas a proteção é temporária: quando “baixa a poeira”, sai o segurança e voltam os assaltos. Os funcionários, assim como os outros comerciantes entrevistados, garantem que no período em que a torre da Brigada Militar esteve instalada, entre dezembro e janeiro, não houve ocorrências. “Adiantou muito, estava mais tranqüilo”, afirma Flores. Policiais sem condições de trabalho Dois policiais militares encontrados nas redondezas dos estabelecimentos assaltados confirmam: falta efetivo e material de trabalho para que a Brigada proteja adequadamente a população. “São duas motos e uma viatura para cobrir mais de seis bairros”, disse um deles, deslocado para a área depois das últimas ocorrências. O outro brigadiano, que trabalha há dez anos no Bom Fim, diz que um dos problemas é a falta de meios de comunicação. “Às vezes acontece alguma coisa aqui perto e a gente nem fica sabendo, porque não tem celular nem rádio para nos avisarem”. Mas os dois concordam que a maior carência é a de pessoal. “O efetivo está muito pequeno e o equipamento sucateado. Hoje viemos para cá por causa desses assaltos, mas até quando ninguém sabe. Enquanto estamos aqui, outros lugares que também tem comércio muito visado estão desprotegidos”, alertam. 1n3u5q