Higino Barros O bar Ocidente, um dos templos da contracultura em Porto Alegre, sempre foi um local onde se criaram lendas, histórias e acontecimentos que não ocorrem em outros locais de diversão e lazer noturno na capital gaúcha. No início dos anos 1980, toda segunda-feira, era dia da comunidade gay, lésbica e outras tribos, ocuparem o lugar e mostrar a que veio. O lugar mais disputado: o balcão do bar, melhor lugar para ver e ser visto. Para chegar lá e se manter, havia todo um ritual, quase hierárquico, rígido e obedecido por todos. Mas era frequente, chegar gente que nunca havia frequentado ou não sabia de suas leis não escritas e se instalava de imediato no balcão. Era quando se aproximavam as frequentadoras veteranas, donas do pedaço e perguntavam para a aspirante à glória; “ tu é miss o quê?”. A maioria era Misss Rodoviária Cacimbinhas, Miss Segura ou Miss sem importância nenhuma e era praticamente escorraçada do balcão. Lá era território sagrado de Miss Parada Gay, ou algo semelhante e as Miss consagradas tinham status, importância e zelavam por suas conquistas. Foto Ricardo Stricher/JÁ Miss masculina Pois nesse domingo, dia 1º de julho, o Parque da Redenção foi ocupado por dezenas de Miss masculinas, de todos os lugares e recantos, de todos os status, cor, credo e orientação política para celebrar a Parada Gay. O dia com sol ameno e céu azul, depois de três finais de semana com cinzentos com chuva e frio, contribuiu também para levar muita gente ao local. Segundo os organizadores cerca de 50 mil pessoas participaram do evento. Maioria jovem que se enfeitou, se coloriu, cobriu-se com as cores do arco íris e acima de tudo se divertiu, sem que houvesse distúrbios ou ocorrências de violência. A Brigada Militar estava presente e fazendo um policiamento ostensivo e eficiente. Quem esteve ausente foi o poder público municipal e estadual, que em anos anteriores fizeram parcerias com as entidades civis organizadores da Parada, em prol da saúde, de sexo seguro e de outras iniciativas coletivas, que são obrigações dos governantes. A presença de famílias, com idosos, crianças, adolescentes e de todas as faixas de idade foi uma mostra que considerável parcela da sociedade gaúcha participa dessa celebração.Que torna Porto Alegre mais fraterna, mais tolerante e em dia com as práticas mais avançadas no que diz respeito a Direitos Humanos e Diversidade Sexual. As fotos são de Ricardo Stricher. Foto Ricardo Stricher/JÁ 5m6e4v