Arte e feminismo no MARGS 1f231t

Até 23 de março o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) abrigará a primeira exposição retrospectiva de Ana Norogrando: obras 1968-2013. A mostra, que tem a curadoria do diretor do museu, Gaudêncio Fidelis, reúne uma produção eclética: pintura, escultura, instalações e videoinstalações. Nela se destaca o caráter feminista que a artista imprime ao seu trabalho, fruto de sua intuição, inquietação, de um grande embasamento teórico, que forma um conjunto de obras de grande qualidade estética e, principalmente, ousadia. Natural de Cachoeira do Sul, Ana Norogrando viveu 30 anos em Santa Maria, onde desenvolveu sua trajetória artística e acadêmica. Seu currículo impressiona pela solidez e aplicação dos conhecimentos adquiridos em várias áreas: desenho, pintura, tecelagem, litografia, xilogravura, escultura, fotografia, vídeo, design, pesquisas com luz e movimento. Tradição E embora seu trabalho não deixe de denotar engajamento político e social, o feminismo de Ana não vem propriamente de uma militância que, se há, está nas suas obras. Estas a designam como uma artista contemporânea sem, contudo, perder o vínculo com a tradição, sobretudo aquela ligada ao trabalho e a cultura italiana que herdou de seus pais, agricultores. Nesta exposição retrospectiva – que como tal impõe uma cronologia do seu percurso enquanto artista – consta inclusive o quadro “Modelo negra”, óleo sobre tela, feito em 1968, quando, ainda em Cachoeira do Sul, frequentava o curso intensivo de Pintura II, ministrado por Ado Malagoli. Ela aproveitaria a década de 1970 para aprimorar seus estudos e viajar pela Europa para conhecer museus e coleções de arte. Sua grande guinada profissional foi nos anos 1980, quando começou a trabalhar com fibra metálica. Há nisso uma alusão a persona, ao temperamento feminino: “esse material, aparentemente, quando submetido, de longe, ao olhar, é suave. No entanto, é forte, rígido, resistente, adjetivos que também definem as qualidades da mulher”, salientou Ana Norogrando. É desse período varias obras desta exposição, como, por exemplo: “Tramas e tensões”, de 1986, e “Peneiras”, de 1987. Esses trabalhos, cuja inspiração é o artesanato milenar com fins utilitários, ganham através de sua intervenção e do material empregado (tela metálica galvanizada, fios de cobre, barra de ferro), um diálogo com o mundo industrial. Mas foi através de “Vul-crário”, de 1993 – uma escultura cuja forma lembra uma vagina – que Ana Norogrando produziu o seu trabalho mais polêmico, cuja visualização provoca no público um voyeurismo sensual. Contudo, esta obra – constituída de fibra metálica galvanizada, barra de ferro, massa plástica e tinta acrílica, e que faz parte do acervo do MARGS – é puro onirismo, flerte com o surrealismo. Prazer ou nascimento E mesmo nestes rincões a longe do conceito baudelairiano de “épater le bourgeois” (chocar, escandalizar o burguês). Há outras peças cujas formas lembram a genitália feminina e pelos pubianos e que, dependendo da imaginação, assumem ares de portal rumo ao prazer ou nascimento. Ou seja, convidativas e sem dentes que ameacem o falo imaginário de algum machista imprudente. Ana, uma mulher alta e elegante, não é uma feminista “enragée”. Gaudêncio Fidélis, num dos textos que escreveu no livro homônimo ao da exposição, faz uma analogia entre “Vul-crário” e alguns trabalhos da americana Georgia O’Keeffe (1887-1986): “uma das precursoras de uma abordagem feminista nas artes visuais no contexto americano, tendo realizado pinturas biomórficas abstratas em que a forma do órgão sexual feminino ‘aflora’ literalmente através de imagens de flores voluptuosamente pintadas em grandes formatos”. As referências não param por aí. Se “Vul-crário” remete as flores de O’Keeffe, e suas vulvas, a instalação “Terra” lembra o trabalho de outro artista norte-americano, Robert Smithson (1938-1973), um dos expoentes da Land Art, famoso por seu “Broken circle”, espiral de terra localizada em Emmen, Holanda, realizada em 1971. Ana, em sua instalação, coletou 33 tipos de terra entre Porto Alegre e Santa Maria, inserindo discos de arados danificados encontrados no interior do estado. Trata-se de uma clara homenagem ao árduo e sofrido (33, idade de Cristo) labor dos camponeses gaúchos e sua religiosa fé na redenção pelo trabalho. Também é interessante a escultura “Klein, Desomenagem”, de 2013, construída a partir de um manequim, água, anilina e tecido artesanal de seda e algodão. Nela há uma forte alusão ao monocromatismo do artista plástico francês Yves Klein (1928-1962), e sua obsessão pelo azul, levando-o a criar o YKB (Yves Klein Blue). Esse trabalho não deixa de ser um convite ao público a checar, na Fundação Iberê Camargo, algumas obras de Klein que integram a Exposição Zero. Já a videoinstalação “Interlúdio”, gravada em 2012, mostra imagens dos pores do sol a partir da Ilha dos Marinheiros, Porto Alegre, casa-atelier de Ana Norogrando. Essa incursão de Ana no audiovisual não se circunscreve somente a vídeo-arte. Ela realizou trabalhos que se inserem no gênero documentário, mostrando a natureza e a pobreza das populações ribeirinhas, assim como a necessidade de preservação ambiental do Delta do Jacuí. Isso a levou fazer um trabalho socioeducativo, incluindo oficinas, junto a estas pessoas que são, também, seus vizinhos. Em seu conjunto, percebe-se que a obra de Ana Norogrando está bem sintonizada com a arte contemporânea. Suas influências têm um toque brasileiro, antropofágico, tão bem representado pela sua escultura “O canibal”, de 2000, que simboliza nossa forma de apreensão e recriação das coisas. Tudo isso torna a visita ao MARGS um ótimo programa para quem estiver ou ar pela capital gaúcha durante este verão. [notice]Ana Norogrando: obras 1968-2013 MARGS (Praça da Alfândega) De terça a domingo, das 10h às 19h. Até 23 de março[/notice]   1d1825

Frágil e Interações podem ser visitadas até sexta 2v5c5x

Duas exposições de artes plásticas estão abertas para visitação até dia 27 deste mês na Câmara Municipal de Porto Alegre (Avenida Loureiro da Silva, 255). Na Galeria Clébio Sória (térreo), Léo(nardo) Pereira apresenta pinturas em técnica mista da série Frágil. No T Cultural Tereza Franco (2º piso), Helio Grinke apresenta a mostra Interações, que reúne desenhos em resina grafitada sobre papel.
LÉO(NARDO) – Papelão, tecido, linha de costura, corda, plástico de garrafa pet e até cimento tingido servem de matéria-prima para as pinturas da exposição Frágil, de Léo(nardo). São obras supercoloridas que combinam materiais alternativos e elementos tradicionais de pintura e desenho, como tintas a óleo e acrílica, grafite e giz pastel. O título da mostra tem origem no aviso Cuidado Frágil!, estampado nas caixas de papelão para produtos delicados, que aparecem transfiguradas nas pinturas. Nascido em 1975 em Porto Alegre, Léo(nardo) é bacharel em Artes Plásticas/Pintura pela Ufrgs.
HELIO GRINKE – Os desenhos de Helio Grinke reunidos em Interações resultaram de experimentos realizados entre julho de 2008 e fevereiro de 2010 com resina grafitada e pigmentos sobre papel. As obras são apresentadas em painéis interativos, algumas entremeadas por espelhos, com as quais o artista sugere a fusão de duas linguagens: “A primeira com uma resolução técnica, intuitiva e pictórica (quadrículas); a outra em linguagem subjetiva (espelhos), em que é proposta ao espectador uma auto-reflexão do seu papel no contexto social”. Grinke nasceu em 1955 em Porto Alegre. Em 2002, ingressou no curso de Artes Visuais da Ulbra e, paralelamente, até 2004, participou do Atelier Koralle.
As exposições têm entrada franca e podem ser visitadas das 9 às 18 horas, de segunda a quinta-feira, e das 9 às 16 horas na sexta-feira. Informações no setor de Exposições do Memorial da Câmara: (51) 3220-4392, e-mail [email protected]

Uma oportunidade para conhecer Fuhro 4y5u62


Abre dia 1º de dezembro a primeira exposição da obra de Henrique Léo Fuhro, artista incompreendido na cidade onde viveu, Porto Alegre, embora reconhecido por muitos artistas e críticos como uma das grandes expressões das artes plásticas do Brasil.

É uma “exposição panorâmica”, com curadoria de Renato Rosa, reunindo gravuras, desenhos e pinturas. Algo inédito, cuja importância aumenta quando se sabe que uma parte considerável – para alguns a mais importante – da obra de Fuhro foi destruída.
Atendendo o que seria um pedido do artista, familiares queimaram as matrizes (“tacos”) de todas as suas xilogravuras.
Fuhro nasceu em Rio Grande, em 1938, morreu em Porto Alegre, em 2006.
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MARGS, de 3a a domingo, das 10 às 19 horas

Oficinas preparam a sétima Bienal do Mercosul 3l76e

Por Bruno Cobalchini Mattos
Os preparativos para a sétima Bienal do Mercosul, que ocorre em Porto Alegre de 16 de outubro a 29 de novembro, entraram na etapa final final.
“Grito e Escuta” é o título do evento, que apresenta este ano uma mudança metodológica.
A ênfase será no processo de criação – e não em um tema específico. O objetivo é apresentar as diversas etapas da criação de uma obra de arte, mostrando como, por quem e – principalmente – por que razão elas são produzidas.
Além disso, serão mostrados os diferentes papéis e função que os artistas assumem junto à sociedade.
A argentina Victoria Noorthoorn (curadora geral da exposição ao lado do chileno Camilo Yáñez) esteve em Porto Alegre para a Mesa de Encontros, onde foram apresentadas as principais diretrizes do evento.
Em seguida, teve início o Curso de Mediadores, responsável pela formação da equipe que fará contato com o público nas diversas instalações.
Agora, em agosto, começam as oficinas dos artistas em residência.
O objetivo é aproximar os artistas da Bienal dos cidadãos, através de oficinas que ocorrerão em espaços públicos diversos, tais como escolas, praças e parques.
Nas diversas atividades os participantes poderão desenvolver suas próprias obras. A ideia é desmistificar a prática artística mostrando que, assim como qualquer outra, é uma atividade que depende mais de pesquisa, trabalho e dedicação, sendo possível a qualquer pessoa e independendo de algum “dom divino”.
Outra novidade da 7ª Bienal do Mercosul é o projeto radiovisual, que pretende ampliar ao máximo o público atingido pelo evento.
A rádio FM Cultura de Porto Alegre irá levar ao ar diariamente um programa de uma hora que contará com depoimentos de artistas, mediadores, curadores e, principalmente, do público das exposições.
Ao que tudo indica, esta será a Bienal do Mercosul de maior alcance desde a sua criação, doze anos atrás.