Prefeitura quer fim do e Livre 6r485m

Por Débora Gallas | colaborou Bruno Mattos O suposto aumento dos índices de violência nos dias em que o transporte público é gratuito para a população de Porto Alegre foi apresentado como justificativa da Prefeitura em documento enviado à Câmara em abril pedindo o fim do e livre. A proposta foi enviada pelo Conselho Municipal de Transportes. O presidente do órgão, Jaires Maciel, alegou que o projeto foi apresentado devido à insegurança nos dias de e livre. De acordo com ele, há muita depredação de veículos e quem se utiliza do serviço não o faz com boas intenções. Criado em 1991 pelo então prefeito Olívio Dutra (PT), o e livre acontece uma vez por mês. Nesse dia, os porto-alegrenses podem utilizar os ônibus da capital de maneira gratuita. Ocorre normalmente no primeiro domingo do mês, podendo ser transferido para dias de eleição, vacinação ou para feriados como o Ano Novo e o Dia do Trabalho. É a chance para as pessoas que não podem pagar a agem tenham um dia de cultura ou lazer. Agora, por causa da proposta enviada à Câmara, esta conquista dos cidadãos de Porto Alegre pode ser extinta. Na última sexta-feira, o e livre completou dezoito anos de existência. Nesse dia, saímos às ruas para saber o que a população pensa sobre o possível término do benefício. Em um ônibus da linha Santana, às nove da manhã, Lourdes Pazilato se dirigia à casa de uma amiga. De lá, iriam de carro até o zoológico de Sapucaia do Sul. A aposentada não paga a agem também nos outros dias por ter mais de 60 anos. Por isso, teria feito o programa independentemente do e livre. Lourdes é a primeira a fazer aquela que seria a reclamação mais freqüente do dia: “hoje tem pouco ônibus. As pessoas que trabalham acabam se atrasando”. Disse ainda que o e livre “por um lado é ruim, porque tem muitos que assaltam. Mas tem que ver os dois lados. Tem gente que não tem dinheiro nem pra comprar um pãozinho. Esse é o único dia do mês em que essas pessoas podem ear”. Na parada do Hospital de Pronto Socorro, no bairro Bom Fim, o casal Felipe e Cristina esperava o ônibus Bom Jesus. Felipe, que é funcionário de um estacionamento ali perto, acha o e livre “muito bom, mas que tem pouco ônibus”. Sugere que ocorra em outro dia da semana, para que os desempregados possam sair em busca de trabalho. “Porque o cobrador não ajuda quando tu precisa. Ele te humilha, quase desce o braço em ti. Mesmo quando tu tem agem”. Cristina reclamou da demora, mas concluiu que é um problema recorrente: “O nosso ônibus é sempre assim. Qualquer feriado isso acontece”. Nenhum dos dois acredita que a cidade fique mais violenta por causa do e livre. “A violência não aumenta. A violência já tá em todo lugar, nos bairros, longe do centro. Mas algumas pessoas não podem sair da vila nos outros dias. Na vila tu não tem lazer. Sair de lá e vir pro centro é um refúgio” diz Felipe. Eduardo e Salete Pereira, moradores de Eldorado do Sul, esperavam o ônibus no fim da linha Padre Réus. Levavam seus dois filhos para ar o feriado na avenida Cavalhada. Eduardo pega ônibus todos os dias porque trabalha em Porto Alegre. Apontou para o número reduzido de brigadianos naquela manhã. “Eu vim lá debaixo, desde o Mercado Público, e só vi um. Eles reclamam de violência, mas no dia em que aumenta o fluxo tem redução no policiamento. É por isso que dá tanto assalto”. Família Pereira aproveitou o e livre para visitar Porto Alegre. Questionado sobre o fim do e livre, diz que “já faz tanto tempo que tem isso que já virou um direito do gaúcho. Até pode ter alguns que saem pra assaltar, mas 80 ou 90 por cento de quem usa é pelo lado familiar mesmo”. Perto do meio dia, a família Soares da Silva aguardava pelo ônibus Restinga Velha no viaduto da Borges de Medeiros. Para eles, o e livre “tinha que ser quando a gente trabalha, que a gente não tem opção. Daí sobrava um dinheirinho”. Rosaura Silva, moradora do bairro Mário Quintana, reclamou dos constantes aumentos no preço da agem. “Se o Lula aumentar o nosso salário, a agem vai lá pra cima de novo. Então nem vale a pena”. Família Soares da Silva esperava o Restinga Velha À tarde, a superlotação de um ônibus Camaquã era perturbadora. A maior parte dos usuários era composta de jovens que se deslocavam de um ponto a outro da cidade em busca de diversão. Faziam muito barulho e gritavam xingando o motorista. Alguns batiam no teto. Quase todos desceram na parada do shopping Praia de Belas. No mesmo local, cerca de 15 jovens que pegariam o TI desistiram ao ver a fila enorme, com cerca de 30 pessoas. “Vamos achar outra coisa pra fazer”, sugeriu um deles. Das cerca de 30 pessoas ouvidas, somente três eram contra o e-livre. O motivo: a redução no número de ônibus. “Até é bom, mas lota muito. Eu que tenho criança de colo, tem gente hoje que nem dá lugar” disse Renata Dora, ageira do Rubem Berta – Protásio Alves. Wylmar da Silva, no terminal da rua Uruguai, justificou sua oposição porque “a cidade fica cheia de bêbado e de chapado”. Reclamou também da desorganização nos horários de saída dos ônibus. “Isso é culpa da empresa. am o mês inteiro bem. Mas nesse dia tão pobre, não querem trabalhar. Nem tem carro pra por na rua”. 301w3f