Zero Hora foi condenada a pagar uma indenização ao expresidente do Tribunal de Justiça, Marco Antonio Barbosa Leal, por uma nota publicada na coluna da Rosane de Oliveira. Ultraa os 100 mil reais o valor atualizado. Não conheço detalhes do processo, mas estou triplamente assustado. Primeiro: sou testemunha ocular dos fatos que deram origem ao processo. Eu e mais uns 20 repórteres e colunistas que compareceram à entrevista coletiva que o dr. Marcão convocou, no dia 17 de outubro de 2007, para manifestar sua inconformidade com o corte de 75 milhões de reais no orçamento do Poder Judiciário, feito pela govenadora Yeda Crusius. Posso assegurar e acho que os colegas que estavam presentes podem confirmar que a nota da Rosane foi moderada, diante do que o então presidente do Tribunal de Justiça declarou. Os repórteres presentes, talvez por conhecerem o temperamento do dr. Marcão, que se exacerba com facilidade, evitaram reproduzir a íntegra das expressões, mas todos registraram o tom agressivo com que o magistrado se manifestou. Quero dizer: a jornalista Rosane de Oliveira publicou uma informação verdadeira, mesmo assim foi condenada por “dano moral”. Segundo susto: o jornal em que ela publicou a informação verdadeira, decidiu acatar a decisão, sem recorrer. Vai pagar os cento e poucos mil reais e até agora sequer registrou sua inconformidade. Punir um veículo de comunicação por publicar uma informação verdadeira só tem um nome: censura. Meu terceiro susto: a sentença do Tribunal de Justiça, confirmando a decisão anterior de primeira instância, é de 23 de maio e até agora, já em julho, nenhuma entidade de defesa da liberdade de expressão ou de imprensa se manifestou sobre o assunto. A única voz discordante está nos autos. É do revisor Paulo Roberto Lessa Franz, que foi voto vencido no julgamento. Entendeu ele que “a nota jornalística não destoou da realidade fática, não se vislumbrando qualquer intenção da redatora de denegrir a imagem do autor – com o que a pretensão indenizatória deve ser rechaçada”. 3wn1o
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População hostiliza jornalistas na Argentina – maioria acredita que eles mentem 2gw3g
Vai ando quase despercebida – por estar sendo pouco comentada – matéria da Folha de São Paulo de segunda-feira que, por sua importância, chegou a ser publicada no site da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).
É de autoria da jornalista Sylvia Colombo, 39, correspondente daquele jornal na Argentina (Buenos Aires). Sob um título nitidamente partidarizado como “Cristina Kirchner faz cerco à imprensa independente”, Sylvia relata o clima político que vive a Argentina no âmbito da “guerra” entre governo, de um lado, e meios de comunicação do outro.
Todavia, a jornalista faz isso sob a ótica de um dos atores envolvidos no processo, o que, de acordo com o seu próprio ponto de vista, não seria jornalismo. É imperativo ler esse relato porque, descartadas as opiniões e idiossincrasias da autora, revela como um governo de centro-esquerda com propostas e ideais muito parecidos com os do governo
Dilma Rousseff está derrotando a filial argentina da franquia midiático-conservadora que governou ao menos a América do Sul desde sempre até a virada do século XX, e que está mantendo o governo brasileiro literalmente acuado. Se já leu essa matéria, releia (abaixo) e reflita sob a ótica que será proposta.
Se não leu, há que ler.
Cristina Kirchner faz cerco à imprensa independente
Ter, 06 de Dezembro de 2011
Folha de São Paulo
Mundo – Mídia
Governo usa veículos próprios para praticar “jornalismo militante”
SYLVIA COLOMBO, DE BUENOS AIRES
“Você trabalha no ‘Clarín’?”, pergunta mal-humorado o taxista ao repórter do jornal, depois que ele diz o endereço onde quer ir.
Meu colega já vinha se irritando com esse tipo de patrulha. Chegou a dar nomes de ruas paralelas, preferindo caminhar até a redação, só para não ouvir agressões de apoiadores do governo, que está em guerra com a imprensa independente.
Nesse dia, respondeu: “Não, estou indo lá só para entregar um envelope”. Depois, pensou no absurdo que tinha sido levado a dizer. Uma outra colega, que faz um curso de pós-graduação numa universidade local, havia se interessado pela aula de determinado professor. Um dia, foi pedir recomendações de leitura.
Ele, simpático, a recebeu e perguntou a que se dedicava. Ela, orgulhosa, encheu a boca e disse: “jornalista”. Quem já está há algum tempo na profissão acostumou-se a ouvir comentários positivos depois de uma apresentação assim.
Em grande parte do mundo ocidental, considera-se o jornalismo uma atividade nobre e importante para a sociedade. Pois o professor dessa minha amiga parou de sorrir quando ouviu essa palavra. “Aqui não gostamos de jornalistas”, disse.
Comigo acontece também direto. Numa ocasião, numa barulhenta sala de espera de um dentista, enquanto preenchia minha ficha, a secretária perguntou minha profissão. Quando disse, fez-se silêncio, quebrado apenas pelo comentário desconcertante de uma senhora: “No seu país vocês são mentirosos também?”
Em debate do programa “6,7,8?, atração da TV estatal cuja finalidade é malhar a imprensa crítica ao kirchnerismo, o comentarista Orlando Barone soltou a seguinte pérola: “O jornalismo é inevitavelmente de direita porque a democracia é de direita.
O jornalismo nasce para defender a democracia, dentro dos cânones instituídos da propriedade privada”. O governo Cristina Kirchner, que começa um novo ciclo no próximo sábado, é louvável em alguns aspectos: tirou a Argentina da prostração econômica pós-2001, levou militares responsáveis pela repressão da ditadura (1976-1983) à prisão e aprovou o matrimônio gay.
Porém, sua relação belicosa com a imprensa assusta. Para defender-se da imprensa, o governo montou um grande conglomerado. Seus veículos defendem as políticas do governo, mas, principalmente, atacam a cobertura de jornais tradicionais e, o que é mais grave, questionam a própria utilidade da mídia independente.
A proposta dos meios kirchneristas é implantar o que chamam de “jornalismo militante”, que prega a ideia de que o compromisso do jornalismo deve ser com “causas”, citando explicações da professora da faculdade de comunicação de La Plata, Florencia Saintout. Intelectuais como ela se defendem dizendo que, como o jornalismo nunca é objetivo, é melhor escolher de uma vez um lado da trincheira.
As “causas” do jornalismo militante, obviamente, não são quaisquer causas. Em essência, coincidem com as bandeiras do governo. O governo já anunciou que reforçará a execução da Lei de Meios, que tirará poderes de grupos como o Clarín e dará mais espaço a “meios militantes”.
Os próximos quatro anos serão, portanto, um desafio para o jornalismo independente, essencial para o funcionamento das instituições da Argentina. Cristina, que dá sinais de que prefere se alinhar ao Brasil de Dilma, mais do que à Venezuela de Chávez, deveria baixar o tom contra a imprensa independente.
Nada a fará mais parecida com o líder venezuelano do que acuar o jornalismo e fazer com que jornalistas tenham vergonha de declarar o que fazem em público.
Do blog* www.blogcidadania.com.br
Resistência JÁ! Que resistência é essa? 6b64d
No primeiro encontro, arregimentadas pela internet, 38 pessoas comprareceram à sete da ARI no dia 11 de setembro, um sábado chuvoso.
Todos haviam lido os artigos do Luiz Cláudio Cunha no Observatório da Imprensa, estavam a par dos fatos narrados no site do JÁ sobre o processo que, em seus desdobramentos políticos, vem estrangulando o jornal. Queriam saber o que fazer.
Primeira conclusão que surgiu das mais de duas horas de discussões: o caso do JÁ pode ser o mais grave, o mais evidente, mas não é isolado.
Ele se insere num contexto que condena à inanição qualquer tentativa de jornalismo independente, fora do discurso das corporações.
Esse processo envolve desde o controle das verbas, dos canais de distribuição, a conivência dos governos, até a insensibilidade do judiciário em relação aos pequenos veículos independentes.
Para estes não valem os “sagrados direitos de liberdade de expressão” e de “liberdade de imprensa”, pelos quais a Associação Nacional dos Jornais se mantém sempre tão vigilante.
Estas foram as questões que levaram à criação do “Resistência JÁ”, um movimento para impedir a falência do jornal e também fazer essa discussão mais ampla, com base no conceito do direito à informação. Foi formado um Comitê Executivo para estabelecer e coordenar uma pauta de ações.
A primeira ação externa foi o evento do dia 8 de outubro na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Os chargistas da Grafar fizeram uma exposição de cartuns em solidariedade ao movimento.
Também foi montada uma exposição dos 25 anos do JÁ e distribuido um “número zero” anunciando o relançamento do jornal no fim de outubro. A necessidade de se construir alternativas à mídia convencional, foi o ponto comum nas manifestações.
Apesar de ser uma sexta-feira, véspera de feriadão, 80 pessoas am o livro de presença e as duas principais entidades de representação dos jornalistas gaúchos – Associação Riograndense de Imprensa e Sindicato dos Jornalistas – manifestaram seu apoio ao movimento através de seus presidentes, Ercy Pereira Torma e José Nunes.
Também manifestaram apoio as seguintes entidades: ARI, AJURIS, IAB, OAB, AGAPAN, Amigos da Gonçalo de Carvalho, ACJM/RS, Movimento Defenda a Orla, SINDJORS, FENAJ, SindBancários, CUT/RS, Força Sindical, Federação das Mulheres Gaúchas, Sindicato dos Servidores Públicos Federais – Sindiserf/RS, Grafar.
Pressão da Assembleia faz RBS mudar reportagem 173z2w
A reportagem sobre deputados que nas quintas-feiras assinam o ponto e vão embora foi preparada durante duas semanas. Poucos minutos antes de ir ao ar no programa TeleDomingo, veio a ordem da direção para retirar o nome dos deputados que eram mencionados na matéria.
A reportagem ganhou repercussão já na terça-feira quando o deputado Dionilson Marcon deu um safanão no repórter Giovani Grizotti. Grizotti tentava gravar uma entrevista com o deputado, que marcara presença na sessão e imediatamente se ausentara do plenário. O incidente mereceu destaque nos telejornais da casa naquele dia.
Durante a semana, intensificou-se a pressão dos deputados sobre repórteres e editores do programa. Todos alegavam que é uma praxe do Legislativo, principalmente em época de campanha: na quinta-feira, na última sessão plenária da semana, muitos deputados apenas marcam presença, para não terem desconto no salário, e se retiram para “trabalhar junto às bases”.
Na sexta-feira, o próprio presidente da Assembleia, deputado Giovani Cherini, entrou em contato com a direção da RBS, argumentando que a reportagem seria prejudicial à imagem do parlamento estadual, porque aria ao público uma idéia errada do trabalho dos deputados, que não se restringe à atuação em plenário, sendo mais importante muitas vezes suas atividades em comissões ou mesmo no interior, junto às suas bases eleitorais.
Todos os quinze deputados que nas duas quinta-feiras em que foi gravado o programa am presença e se retiraram do plenário, foram ouvidos pela reportagem. Alguns, como Leila Fetter, do PP, explicaram com naturalidade que se trata de uma prática consagrada na casa.
O deputado marca presença na sessão e se retira, muitas vezes para viajar ao interior.
A alegação de todos é que a reportagem aria ao eleitor uma imagem errada do trabalho dos parlamentares. Marcon foi o único que reagiu agressivamente.
A pressão sobre os jornalistas se intensificou no fim de semana e o assunto foi examinado pelo departamento jurídico e pela direção da empresa. Quando faltavam dez minutos para o programa ir ao ar, houve a intervenção – o assunto ara para o nível “das relações institucionais” entre a Assembleia e a RBS. Um editor foi chamado às pressas, e a reportagem foi revisada – foi “amenizada” em alguns pontos e o nome e as entrevistas dos deputados faltosos foram suprimidos.