Luis Nassif Na atual campanha presidencial, os candidatos abusam da propaganda negativa. Não chega aos pés da campanha de 2010, na qual o candidato José Serra logrou jogar o nível nas tubulações de esgoto. Mesmo assim, a cantilena dos três candidatos é maçante. Aécio Neves repercute as denúncias da revista Veja – que têm desanimado até os demais veículos de imprensa, pela leviandade. Marina Silva pratica a lamúria permanente e Dilma tenta convencer o eleitorado que haverá um segundo governo menos centralizador. *** Mesmo assim, as circunstâncias da economia e da política acabaram quase que conduzindo a um modelo de gestão que vai acabar se impondo. No âmbito dos jornais e das redes sociais, persiste uma radicalização anacrônica entre esquerda e direita. Cada proposta é analisada sob esse prisma. As grandes transformações brasileiras foram eminentemente pragmáticas, sem a tentativa de dividir o mundo entre medidas de esquerda ou direita. Abaixo da espuma tem a substância, um conjunto de políticas públicas quase inescapáveis, se se quiser de fato aspirar a uma nova etapa do desenvolvimento nacional. No plano estratégico, o país terá que definir políticas industriais consistentes, em cima de aspectos competitivos: os mercados que proporcionam ganhos de escala e os setores que podem se beneficiar de políticas de compras públicas. E necessita continuar desenvolvendo todo o macroambiente competitivo. No plano microeconômico, os sistemas de inovação, as ferramentas de financiamento, o aprimoramento das compras públicas, enfim, um autêntico receituário desenvolvimentista. Mas não poderá adiar mais as reformas microeconômicas, a desburocratizaçao, colocar ordem na parte fiscal e outras medidas destinadas a melhorar o ambiente econômico e que, em geral sao vocalizadas pelos chamados setores neoliberais. *** Tem que apoiar setores estratégicos, como propõem os desenvolvimentistas, mas corrigindo os exageros das decisões unilaterais, como defendem os neoliberais. A política econômica precisa ser proativa e, ao mesmo tempo, previsível. Trata-se de desafio perfeitamente factível desde que se tenha um plano de vôo. Precisa-se de um Estado forte, mas para cumprir o papel de indutor do setor privado. A contrapartida ao Estado forte é a exigência de definição de regras claras na concessão de benefícios, que impeçam as práticas odiosas dos benefícios a empresas ou setores, de acordo com a vontade do governante. Há a necessidade de uma política fiscal transparente, mas o ajuste não pode contemplar apenas as despesas correntes, mas encarar definitivamente a questão dos juros. *** A postura da política monetária não é de ser a favor ou contra o capital, mas de mudar o rumo do dinheiro, da renda fixa e da aplicação preguiçosa em títulos públicos para o financiamento do desenvolvimento e a busca das aplicações de risco. *** Caso Dilma seja reeleita, terá que aprender que política econômica proativa só se legitima se for absolutamente transparente e discutida com todos os setores sociais e econômicos. Terá que trocar a roupa de gerente pela de Estadista. Se conseguirá, é uma incógnita. 3h1e12
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Dilma vem, mas vai ter que ouvir 6y5p4l
Está confirmada a participação da presidente Dilma Rousseff no Fórum Social Temático (FST), que acontece entre os dias 24 e 29 de janeiro nas cidades de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo. Ela será a estrela do “Diálogos da Sociedade Civil com os Governos”, no dia 26 de janeiro, às 19 horas, no Gigantinho. A presidente vai dividir o palco com seu colega uruguaio José Pepe Mujica – que volta a Porto Alegre dois meses depois de ter sido recebido pelo governador Tarso Genro.
O nome do debate no qual os mandatários latino-americanos vão estar não é decorativo. Nele será aberta uma janela para que as organizações possam apresentar ideias e proposições sobre os rumos de cada um dos países e do bloco regional como um todo.
“Estamos discutindo uma metodologia de trabalho para permitir essas intervenções. Mais do que saber o que os países pensam em fazer queremos que o Estado ouça os movimentos sociais”, pontua o presidente da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT-RS), Celso Woyciechowski, que pertence ao Comitê Organizador do evento.
Escutar as demandas das organizações vai ser um desafio para Dilma Rousseff. A presidente vem sendo atacada por movimentos ecologistas por estar a frente de um governo cujas políticas de desenvolvimento – assim como as costuras partidárias necessárias no governo de coalizão – muitas vezes atropelam o cuidado com o meio ambiente.
A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e a recente aprovação do novo Código Florestal certamente serão alvo de questionamentos. “A presença das presidente representa a possibilidade que teremos de apresentar nossas críticas ao modelo de desenvolvimento do Brasil e da maior parte do mundo, que não é sustentável. E Belo Monte está no centro dessa discussão”, alfineta Woyciechowski.
Outro elemento indicativo de que a presidente deve estar preparada para ser questionada é o fato de que o Fórum Social Temático é um evento preparatório para a Cúpula dos Povos da Rio+20, a conferência que vai refletir sobre as duas décadas que se aram desde a Eco92.
Apesar de o lema deste ano ser mais amplo – Crise capitalista, justiça social e ambiental – o FST vai ser dominado por atividades relacionadas à preservação da natureza. Mesmo debates que abordem os demais assuntos anunciados no subtítulo do evento serão abordados sob a ótica ecologista.
Um exemplo será o Fórum Mundial da Educação, um encontro paralelo que também está ligado ao Fórum Social Mundial. Ainda que a discussão se centre, naturalmente, no sistema educacional e suas problemáticas, ela será atravessada pelo tema meio ambiente.
“Sabemos que educação e meio ambiente estão fortemente relacionados. Nosso desafio vai ser justamente mostrar esse vínculo, como os problemas na natureza afetam a educação e como podemos trabalhar diante dessa realidade”, analisa o coordenador do evento, Albert Sansano Estradera.
Também fazem parte da programação atividades do Fórum Mundial de Saúde e do Fórum de Mídia Livre.
Cidades, habitação e água como subtemas
Outro exemplo de que todas as discussões serão permeadas pela temática da Rio+20 é a forma como as atividades nas cidades da Região Metropolitana foram organizadas. Ainda que tratem de questões diversas, elas estão intimamente ligadas à ecologia.
Em Canoas, os seminários vão abordar a questão das Cidades; São Leopoldo concentrará as abordagens sobre Habitação e Novo Hamburgo sediará as reflexões sobre Água.
Assembleia dos movimentos sociais, que será realizada no dia 28, às 13h, no mezanino da Usina do Gasômetro, vai definir os encaminhamentos para a Rio+20. “Queremos entregar um documento com propostas concretas de acordos para este outro evento”, ponderou outro organizador do FST, Mauri Cruz.
Novos líderes terão espaço próprio
Além dos chefes do Executivo brasileiro e uruguaio, o Fórum Social Temático vai receber participantes tradicionais do evento – mais de 400 conferencistas estão sendo esperados.
“Teremos aqueles convidados históricos como Leonardo Boff, Boaventura de Souza Santos, Ignacio Ramonet e Frei Betto”, anunciou o membro do Comitê Organizador, Mauri Cruz.
São ativistas que deverão atrair um público estimado entre 20 e 50 mil pessoas. O destaque, entretanto, para Cruz, serão os encontros diários com as “novas lideranças políticas mundiais”, como ele se refere.
Trata-se dos protagonistas dos movimentos contemporâneos que mais tem questionado o modelo econômico e político mundial vigente. São membros do Ocuppy Wall Street, que condena a concentração de riquezas e de poder nas mãos dos integrantes do sistema financeiro, dos Indignados, cuja mobilização pede uma renovação nas ideias e propostas dos governos europeus, e integrantes das revoluções que deram origem à chamada Primavera Árabe, a sequência de manifestações populares que derrubou ditaduras longevas em países como Egito e Líbia e que mantêm a população vigilante em outras nações do norte da África e do oriente Médio.
“Será uma troca muito rica entre os jovens de hoje e os que protagonizaram a ECO92, que já estão mais velhos”, aponta Cruz.
As conferências dos novos líderes mundiais acontecerão diariamente das 12h às 14h no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, no final da tarde, na Casa de Cultura Mario Quintana.
A programação completa do Fórum Social Temático pode ser ada aqui: http://www.fstematico2012.org.br/imagens/programacao.pdf
Por Naira Hofmeister