Os três Estados do Sul do Brasil formalizaram nesta terça-feira (2/9) na Expointer um inédito pacto sanitário em defesa da imagem de qualidade do leite, comprometida por fraudes no transporte do produto dos sítios para as indústrias lácteas. A cúpula da agropecuária sulina perfilou-se no auditório do Parque Assis Brasil diante de três de dezenas de jornalistas sedentos por leite bom, “livre de porcarias adicionadas no caminho”, como disse o secretário da Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, natural de Frederico Westphalen, RS. O secretário da Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies, que fez mestrado na Nova Zelândia e doutorado na Austrália, países que lideram a exportação mundial de lácteos, disse que o Brasil tem melhores condições naturais do que esses países de assumir uma posição de liderança no mercado internacional. Basta que cuide da sanidade do rebanho leiteiro e zele pela qualidade do transporte até as indústrias de laticínios. Esses são os objetivos imediatos da Aliança Láctea Sul Brasileira para eliminar a desconfiança reinante no mercado consumidor de leite. “Formamos no Sul um bloco técnico-político-econômico para liquidar esse crise para sempre”, disse aos repórteres o secretário da Agricultura do RS, Claudio Fioreze. Por conta de “adulterações bizarras” com “substâncias hediondas” como formol, ureia, água oxigenada e soda cáustica, sete pessoas já estão cumprindo penas que variam de dois a 18 anos de reclusão. Mais de 40 caminhões foram apreendidos e três indústrias obrigadas a fechar por falta de matéria-prima. Outras condenações estão a caminho. As fraudes foram investigadas pelo Ministério Público Federal, a partir de denúncias do Ministério da Agricultura, que “cansou de combater sozinho”, como disse Roberto Schroeder, representante do MAPA no RS. Envolvendo 300 mil propriedades rurais, a maior parte de pequenas ou médias dimensões e tocadas por famílias, a cadeia produtiva do leite é a mais extensa do Sul do Brasil, superando a de calçados, têxteis e a construção civil como geradora de empregos. Em vias de superar o Sudeste, o Sul produz atualmente 11 bilhões de litros de leite por ano (o mesmo volume da Argentina) e projeta chegar a 19 bilhões em 2020, quando o Brasil estará produzindo 45 bilhões de litros por ano. j416i
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Agrifam, a face oculta do agronegócio gaúcho 154y7
Nunca a diversidade da agropecuária gaúcha esteve tão bem representada como na 37ª Expointer, que vai até o dia 7 de setembro no Parque Assis Brasil, em Esteio. Ali estão os animais, as máquinas, os técnicos em agronomia, veterinária e cooperativismo, os grandes fazendeiros e os agricultores familiares, todos amparados por órgãos de governo (MDA, Seapa, SDR, IRGA), apoiados por entidades privadas (Farsul, Federacite) e prestigiados pelo sistema bancário, que se reveza na oferta do crédito rural oficial. “Faça chuva ou faça sol, a cada dia a Expointer mobiliza 30 mil pessoas”, afirma o veterinário Honório Franco, chefe do serviço de feiras e exposições da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Nessa “cidade” remontada a cada ano dentro do Parque de Esteio, os espaços mais amplos e vistosos pertencem à indústria de máquinas e implementos agrícolas, em cujos estandes se encontram pelotões de recepcionistas e vendedores uniformizados, todos aptos a manipular aparelhos de vídeo, chá e café.
Nas cocheiras e baias, move-se um exército de peões cuidando da alimentação e do asseio dos 5 mil animais inscritos para disputar algum troféu. Andam todos por ruas e becos numa rotina que reproduz boa parte da vida nas fazendas de onde vieram para esta temporada de tensão e festa nas vizinhanças da capital do Estado.
Para alimentar tanta gente, o parque oferece uma enorme variedade de comida: desde filés recheados nos restaurantes das associações de raças animais até churrasquinhos e churros em treilers licenciados para matar ou morrer por clientes despilchados. Há também diversos restaurantes que oferecem bufê ou pratos feitos. Este ano, embora não estejam expostos para concorrer, os suínos e os peixes estão presentes em recintos gastronômicos especializados. Até nisso a Expointer é internacional.
AGROINDÚSTRIA FAMILIAR
Já nos espaços mais exíguos se acotovelam os representantes da agroindústria familiar, com seus estandes de 3 x 2 metros cheios de doces, pães, cucas, embutidos, queijos, sucos, cachaças, mel e produtos artesanais, desde cuias até roupas.
É nesse espaço que se pode receber folhetos sobre o trabalho de órgãos públicos como a Emater-RS, comprar por R$ 5 o boné do MST ou conversar com os representantes da Via Campesina, entidades que trabalham pelo resgate da base social em que já atuam órgãos sindicais oficiais como a Fetag e a Fetraf, esta comprometida com a agricultura familiar, aquela com os trabalhadores rurais. Ambas oferecem hospedagem e alimentação para os expositores da agroindústria familiar durante os dias da feira.
itida na Expointer a partir de 1999, a agricultura familiar (que já merece uma sigla como agrifam) está em Esteio com pouco mais de 200 estandes e caminha para dispor de estandes maiores, se na próxima exposição lhe for oferecido um segundo pavilhão de igual tamanho, ao lado do atual.
O pavilhão 2 da agrifam, orçado em R$ 2,5 milhões, ficou no alicerce por conta uma divergência burocrática entre a direção do Parque Assis Brasil e a empreiteira contratada no primeiro semestre. Pelo cronograma inicial, deveria ser entregue no início de outubro deste ano. Até 2015 deve ficar pronto.
Além de crescer por conta própria, a agrifam conta com o crescente apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), da Seapa e da Secretaria do Desenvolvimento Agrário, do Cooperativismo e da Pesca, esta criada em 2011 pelo governador Tarso Genro, que não perde ocasião para citar a inclusão social e a produção agrícola dos assentamentos rurais do RS – em 2011, além de 13 mil famílias assentadas, havia 14 mil índios e 3 900 quilombolas.
METAMORFOSE
Das 400 mil propriedades rurais estimadas pelo Censo Agropecuário de 2006 para o Rio Grande do Sul, apenas 8 mil informaram que transformavam e comercializavam sua própria produção agropecuária. Fora 560 agroindústrias legalizadas, a grande maioria dessas empresas caseiras estava na informalidade, podendo ser alvo de interdição por motivos ambientais ou sanitários. Foi nesse meio que começou a atuar em 2011 a SDR, entregue ao comando do deputado federal Ivar Pavan, originário de uma pequena propriedade rural de Aratiba, no norte do RS.
Numa palestra a estudantes e professores da Faculdade de Economia da UFRGS, na noite de 24 de agosto de 2011 (véspera da 34ªExpointer), o secretário Pavan fez um relato assustador sobre a realidade do agro sulino. Começou lembrando que 54% dos rapazes e 74% das moças do Sul não queriam ficar na roça, o que vem criando um problema socioeconômico: quem vai tocar os sítios e fazendas do futuro se a sucessão familiar for desfalcada pela evasão dos jovens rurais? Na última década antes do último censo, 287 mil pessoas deixaram o campo, onde vivem apenas 1,6 milhão de habitantes.
No momento daquela palestra, três anos atrás, havia 135 mil famílias rurais gaúchas cadastradas no Bolsa Família, sintoma da precariedade da vida nas roças. Uma crise, enfim. Era preciso começar trabalhando para elevar a qualidade de vida das famílias rurais, recuperar sua autoestima e inseri-las no mercado de consumo e nas cadeias de produção por meio da qualificação tecnológica.
Um dos estímulos mais fortes se concentrou na produção de leite. Por experiência própria o secretário da SDR sabia que a pecuária leiteira (não só do RS, mas do Brasil) estava aquém das exigências sanitárias estabelecidas em 2002 pela Instrução Normativa nº 62, do Ministério da Agricultura. Era preciso priorizar a melhoria das condições sanitárias dos sítios produtores, muitos deles sem instalações elétricas adequadas para conservar o produto antes da chegada dos caminhões de leite.
O que não se esperava é que, à revelia dos agricultores, algumas cargas estivessem sendo adulteradas por transportadores mancomunados com algumas indústrias lácteas, como comprovaria em 2013 o Ministério Público Federal.
PRONAF, 20 ANOS
Não nasceu com os governos do PT a convicção de que a agricultura familiar precisa do apoio oficial, sem o qual não tem condições de sobreviver ao confronto com o Mercado. Criado em 1994, o Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf) vem ajudando milhares de famílias a modernizar seus processos e estruturas de produção. Os financiamentos via Pronaf, que começaram em 1994 com juros de 12% ao ano, hoje operam com índice médio de 2%.
A indústria de tratores lançou vários modelos voltados para as atividades das pequenas propriedades. Enquanto a agricultura empresarial mobiliza R$ 160 bilhões por ano, o Pronaf gira R$ 16 bi. Melhorou muito, mas só crédito não basta. Para os dirigentes de entidades como a Fetraf, a questão central para a animação da agrifam é a assistência técnica com foco na sustentabilidade ambiental, social e econômica.
Para compreender esse conceito, é interessante procurar na 37 ª Expointer a área reservada á Emater-RS, numa das extremidades da banda oeste do parque de Esteio.
É um reduto rústico e acolhedor, com cabanas de madeira e caminhos forrados de cavaco de eucalipto (no ano ado, esse local foi inundado pela cheia de um afluente do rio dos Sinos), onde os técnicos da antiga associação, depois empresa de assistência técnica e extensão rural, dão mostras da existência de um movimento de resistência ecológica contra o furor do agronegócio. Ali tem até um apiário de abelhas nativas.
Numa das cabanas, eles exibem (e vendem) amostras de sementes crioulas de feijão, milho e outras espécies vegetais. São frutos de um esforço de conservação biológica realizado por agricultores jovens e velhos identificados como “guardiães de sementes”. Eles preservam material genético rejeitado pela indústria de sementes híbridas, modificadas e patenteadas.
Pacífica, meio acanhada, é uma resistência que se nutre da convicção de que é preciso preservar a biodiversidade diante dos excessos do agronegócio no uso de processos mecânicos e químicos. Enquanto a agricultura empresarial aposta nos agrotóxicos e nos transgênicos, a agrifam é naturalmente mais cautelosa e amiga da natureza, daí sua maior habilidade e disposição para produzir alimentos orgânicos, isentos de substâncias potencialmente nocivas à saúde humana e animal.
No estande da Emater, é possível perceber também a diferença entre as agriculturas empresarial e familiar. Enquanto esta (em áreas pequenas e médias de até 200/300 hectares) se caracteriza pela busca da subsistência a partir de diversas práticas agrícolas, inclusive trabalhando como prestadora de serviços avulsos à vizinhança – e morando no campo –, a outra (em áreas mais extensas que configuram os latifúndios e as monoculturas) tem como objetivo principal tirar renda da agricultura mediante o emprego das técnicas mais avançadas oferecidas pelo mercado, desde o crédito rural até os vínculos mais ou menos estreitos com fornecedores de insumos e compradores da produção agrícola.
No Rio Grande do Sul, a produção rural incluída “dentro da porteira” representa 10% do Produto Interno Bruto. A soma disso com a “porteira afora”, que abrange o transporte, a armazenagem, o beneficiamento e o comércio, inclusive a exportação, dos produtos agrícolas, pesa de 30% a 40% do PIB. Aí está a força do agronegócio, que a maioria das pessoas identifica com a agricultura empresarial, mais voltada para a exportação.
Na realidade, porém, um agrifam pode ser moderno e não é incomum que um agricultor aparentemente empresarial esteja mergulhado no atraso técnico e praticando violações ao meio ambiente. Na realidade, desde os anos 1970, cerca de metade da produção agrícola brasileira sai da agrifam, que também gera excedentes exportáveis, embora em quantidades pequenas. Por isso ela vem merecendo atenção especial dos governos federal e estadual.
COOPERATIVISMO
Como a metade das propriedades rurais não recebia assistência técnica regular, em 2011 a SDR contratou duas centenas de técnicos da Emater que aram a trabalhar ancorados em comunidades rurais (antes, a Emater esteve em vias de extinção). Sete equipes de sete especialistas (, advogado, agrônomo, contador, veterinário, sociólogo e mais um técnico) viajam pelo Estado para ajudar na organização e assistência de 200 cooperativas que possuem 46 mil sócios ligados à agrifam.
Algumas cooperativas nasceram há pouco, outras eram antigas com problemas operacionais, mas o trabalho de assistência técnica e promoção social da SDR resgatou o espírito das pioneiras Ascar, cuja história foi mantida a pau e corda pelas Emater. O sistema cooperativo tem mostrado condições de ser uma ponte organizacional entre as bases rurais, os órgãos públicos e as diversas instâncias do mercado. No Rio Grande do Sul, o cooperativismo soma 2,5 milhões de associados.
FLORICULTURA
Não é apenas no pavilhão da agroindústria familiar da Expointer que se pode tomar conhecimento da capacidade de inclusão social da agrifam. Faça-se uma visita ao pavilhão da floricultura e se verá que por trás de tantos vasos e floreiras está uma atividade capaz de empregar oito pessoas por hectare, um índice só alcançado por raras atividades agropecuárias – a olericultura, por exemplo.
Com uma produção de R$ 2 bilhões por ano, a floricultura emprega cerca de 250 mil pessoas no Brasil. O maior produtor é o Estado de São Paulo. Segundo a Associação de Floricultores do Estado, o Rio Grande do Sul é o segundo maior mercado de consumo per capita de flores, superado apenas pelo Distrito Federal.
Irga propõe fim da monocultura do arroz 6m2067
“A monocultura é a mãe da crise do arroz”. Com essa afirmação, o presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Claudio Pereira, abriu sua participação no debate “A crise do arroz foi debelada?”, realizado na segunda-feira, 1°, na 37ª Expointer. A atividade fez parte do Dia do Arroz, promovido pelo Irga em parceria com o Canal Rural.
Ainda participaram do debate, Elton Doeler, presidente do Sindicato das Indústrias do Arroz no Rio Grande do Sul (Sindiarroz RS) e Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
De acordo com Cláudio Pereira, é essencial que o ciclo da monocultura seja interrompido. “Se tivermos a rotação de grãos, ampliamos o alcance de sustentabilidade no negócio”, afirma. Ele explica ainda que a venda de arroz intercalada com outras culturas como o milho e, principalmente a soja, dilui a oferta de arroz sem prejudicar seu valor.
Conforme Pereira, há uma diferença entre o grão entrar em crise e o produtor estar em adversidade. “Obviamente se o produtor planta apenas arroz, ele fica muito mais vulnerável a todo tipo de situação adversa”, pondera.
Já Henrique Dornelles, defendeu o profissionalismo do produtor uma vez que a rizicultura exige um investimento bastante alto de produção, maquinário potente e alta tecnologia. O presidente da Federarroz ainda sugere que o setor não perca o foco no mercado interno, porque “estaríamos engatinhando no que diz respeito às exportações”, embora ele reconheça que a viabilização do terminal portuário arrozeiro em Rio Grande, na zona sul do Estado, “tenha sido um grande avanço neste sentido”‘.
Visão da Indústria
Elton Doeler, do Sindarroz, se mostrou reticente em afirmar que a crise no setor teria sido debelada. Conforme ele, houve avanços, mas ainda há a necessidade de mais diálogo entre todos os elos da cadeia, incluindo o setor varejista, “que sempre coloca muita pressão na indústria”. Entre esses avanços, cita a quebra de barreiras tributárias no Rio Grande do Sul para alcançar mercados onde o arroz gaúcho não chegava. “Nosso desejo é de que o valor seja justo, nem tão baixo para o produtor, nem tão alto para o consumidor”, concluiu.
Para o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Claudio Fioreze, o Rio Grande do Sul pode plantar mais arroz, mas não o faz porque falta mercado. “Se continuarmos com esse processo de crescimento do consumo das classes C, D e E , a tendência é aumentarmos esse mercado”. Além disso, segundo Fioreze, o bom trabalho do setor também contribuiu muito para a ampliação e comercialização do arroz. “Outro fator preponderante para o sucesso da rizicultura gaúcha vem sendo a redução do uso da água e o aumento da área plantada, evidenciando a sustentabilidade do negócio”, finalizou o secretário.
O diretor técnico do Irga, Rui Ragagnin, reforçou a necessidade de rotação de culturas junto às lavouras de arroz, especialmente com soja e milho. Falou sobre técnicas de semeadura e de irrigação para mesclar essas novas culturas com a rizicultura. Ragagnin lembrou ainda da integração da pecuária como alternativa viável, inclusive para reduzir o uso de adubos.
Cultura tida como melhor opção para o plantio consorciado ou alternado com o arroz, a soja tem números expressivos. Conforme dados do IRGA, para a safra 2014/2015 existe a intenção de plantar soja em rotação com arroz numa extensão de 320.649 hectares, área 5,83% maior do que a do ano anterior, quando foram plantados 302.975 hectares. A região da Campanha tem a maior área, 97,5 mil hectares, seguida da Zona Sul que deve semear 81,5 mil hectares.
A Planície Costeira Interna irá plantar 62,19 mil hectares de soja em áreas de arroz. A Depressão Central, 45,23 mil hectares, a Fronteira Oeste, 16,64 mil hectares e a Planície Costeira Externa, 17,56 mil hectares.
Fim da crise?
A motivação dos debates promovidos pelo IRGA é fundamentada nos números apresentados pela entidade durante a 37ª Expointer. Na safra 2014/2015, os produtores gaúchos devem semear 1,1 milhão de hectares de arroz com plantio que se inicia nos primeiros dias do mês de setembro. A área é equivalente a da última safra.
Quanto à produtividade, a expectativa é de que retorne ao patamar próximo aos 7,5 mil quilos por hectare. A capacidade dos mananciais, tanto de barragens e açudes, quanto de captação direta em rios e arroios é plena em todas as regiões.
Há 25 anos o Rio Grande do Sul contava com 650 indústrias de arroz. Hoje não am de 250 e as 50 maiores beneficiam 70% do arroz gaúcho. (Carlos Matsubara/Ascom/Expointer)
Emater projeta a maior safra de grãos da história do Estado 2d681x
A safra de grãos das culturas de verão deve ser a maior da história do Rio Grande do Sul, com 27,6 milhões de toneladas colhidas, um aumento de 2,82% em relação ao ano anterior, prevê a Emater-RS/Ascar. Os dados foram divulgados na segunda-feira, 1º, na Expointer.
“Estamos considerando apenas as culturas de soja, arroz, feijão e milho, e esperamos uma grande safra, pois temos todas as condições para isso. No que toca ao Governo do Estado, estamos disponibilizando crédito para todas as culturas, capacitação e assistência técnica aos produtores. E, quando reunimos boas condições climáticas, o trabalho dos nossos agricultores e a assistência dos órgãos públicos, não tem como dar errado”, aposta o secretário de Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, Cláudio Fioreze.
O presidente da Emater/RS, Lino De David, registra que em um período de 10 anos a produção de grãos da cultura de verão praticamente dobrou, ando de 15 milhões de toneladas para mais de 27 milhões. Este é um trabalho de Estado, estamos capacitando e formando diversos produtores nestes últimos anos no intuito de fortalecer o agronegócio e a agricultura familiar nas pequenas propriedades”, ressaltou.
Entre os itens apontados como determinantes para a projeção da supersafra estão o o ao crédito, investimentos em tecnologia, preços dos produtos aquecidos e boas condições climáticas. O aumento da área cultivada em mais 1,49%, chegando aos 7,187 milhões de hectares cultivados, também está relacionado. “A agricultura e o agronegócio são muito importantes para a economia gaúcha; somados, representam algo em torno de 70% do PIB do Estado. Cabe ressaltar o aumento da participação da agricultura familiar neste processo, através da diversificação das culturas, e não apenas com grãos. Estamos invertendo uma curva que seria nefasta para nossa economia, pois muitas propriedades não tinham mais descendentes para tocar a agricultura e a pecuária nessas terras. Como, com o auxílio do Governo do Estado, a pequena agricultura voltou a ser rentável, estamos conseguindo manter as famílias no campo”, acrescentou o secretário de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Elton Scapini. (Ascom/Expointer)
Público na Expointer já supera os dois últimos anos 5h5u73
Nos dois primeiros dias de feira, até as 17 horas de domingo, 119.558 pessoas haviam ingressado para conhecer as novidades da maior feira do agronegócio da América Latina. Supera os dos dois últimos anos da feira, no mesmo período.
Os portões da Expointer estão abertos das 9h às 20h até o próximo domingo (07/09). Os ingressos custam R$ 12,00 para a entrada inteira, R$ 6,00 para estudantes e R$ 30 para veículos, com direito à entrada do motorista.
Carne de cordeiro reanima a ovinocultura 58113z
Por Geraldo Hasse
Ainda é possível avistar placas rústicas anunciando “Temos Ovelha” na entrada de sítios e chácaras perto de cidades do interior gaúcho, mas o que era (e não deixou de ser, em muitas regiões) uma oferta mais ligada ao Natal está ando por uma mudança mercadológica visível até em anúncios na Internet, onde o reclame antigo vai sendo substituído por outro bem mais preciso e atemporal: CARNE DE CORDEIRO.
Talvez se possa conferir a intensidade da mudança nos restaurantes da Expointer 2014.
Dependendo da região do Estado, os preços da carne de cordeiro vivo oscilam entre R$ 4 e R$ 4,80 por quilo. Há cinco anos, esse valor girava em torno de R$ 3.
Um cordeiro-mamão de três a quatro meses pesa de 30 a 40 quilos; o rendimento da carcaça vai de 42% a 50%. Nos açougues, uma paleta de cordeiro sai por R$ 10 o quilo. Nos supermercados de Porto Alegre, até poucos anos, só se encontrava carne ovina congelada do Uruguai. E não era barata. Ultimamente, o consumidor encontra carne de frigoríficos do interior. Este mês, na rede Zaffari, estiveram em oferta – por R$ 30 o quilo – cortes congelados de cordeiros abatidos em Pântano Grande pelo ComeSul. Sabe-se de abatedouros de ovinos ativos em Caçapava do Sul, Encruzilhada do Sul e Lavras do Sul, mas a oferta ainda não parece suficientemente organizada para atender a um mercado em expansão.
Iguaria antes reservada aos patrões das fazendas e/ou oferecida em finais de churrascadas para agradar autoridades e visitas importantes, a carne de cordeiro está construindo um nicho especial no mercado de carnes vermelhas, embora talvez esteja por merecer uma classificação diferente, pois se trata de uma carne mais rosada, pouco picante e até levemente adocicada.
E, eis a grande diferença, sem o excesso de sebo que fez a fama negativa da carne de ovelha ou carneiro (animais com mais de um ano), tradicionalmente consumida nas fazendas pelos peões e descartada em açougues de periferia ou quartéis da fronteira. Quanto à carne ovina, eram esses os costumes na época em que as grandes fazendas de gado mantinham milhares de ovinos para a produção de lã, mercadoria que, segundo a lenda centenária, pagava todo o custeio das fazendas de gado.
Com a ascensão das fibras sintéticas, feitas de nafta, os fios naturais como a seda e a lã se desvalorizaram. Em consequência, o rebanho ovino gaúcho caiu de 12 milhões de cabeças em 1980 para 4 milhões atualmente. Se está se levantando, uma das alavancas é a carne de cordeiro. A lã deu uma melhorada, mas continua sendo um negócio encardido, cheio de altos e baixos determinados por importadores europeus que contam com intermediários plantados no Uruguai e com livre circulação no pampa riograndense.
Quem mais vem se beneficiando dessa metamorfose são os pecuaristas familiares, estabelecidos em pequenas propriedades e que operam avulsos ou organizados em associações comunitárias, como ocorre há sete anos no terço superior da bacia do rio Camaquã, no pampa de maior altitude, na Serra do Sudeste. Nos 800 mil hectares dessa região dominada pelos chamados campos sujos, que se caracterizam pela existência de pastos entremeados de matos e rochas, vive uma população campeira (40 mil habitantes) que foi praticamente deixada de lado pela agricultura moderna, intensamente mecanizada e dependente de insumos químicos.
Não por acaso os técnicos da Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, viram nesse “atraso” a oportunidade para executar um projeto de produção de alimentos ecológicos, pois 70% da vegetação nativa (campos ou matos) nunca foram mexidos. O coordenador do projeto é o pesquisador Marcos Borba, que não esconde o orgulho pelos resultados já alcançados.
Segundo o último levantamento, o Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã reúne 413 famílias organizadas em 21 diferentes associações comunitárias em oito municípios: Bagé, Caçapava, Lavras, Piratini, Pinheiro Machado, Santana da Boa Vista, Encruzilhada do Sul e Canguçu.
Nas propriedades rurais que variam de 25 hectares a 300 hectares, como não há espaço para a agricultura de larga escala nem para a pecuária extensiva, o que parece ser mais sustentável é uma mescla de atividades que tem a carne de cordeiro como o carro-chefe mas inclui outros produtos como o leite/queijo, o mel, o artesanato de lã e couro, frutas, pães, bolos e geléias. Ou, seja, o projeto envolve os familiares dos produtores. Até o turismo rústico começa a ser incentivado nessa região tipicamente serrana.
REMÉDIO CONTRA O ABIGEATO
Criar carneiros e ovelhas ao redor de casa nas pequenas propriedades familiares é o melhor remédio contra o abigeato, a mais antiga e resistente praga da ovinocultura gaúcha. Em busca de carne boa para abastecer festas familiares, os ladrões sempre contaram com a escuridão da noite e o isolamento dos animais longe das casas para fazer sua faina.
Para evitar furtos, a regra agora é manter os lanudos à vista dos donos e ficar de olho em movimentos noturnos estranhos. Esse é mais um dos motivos do aquerenciamento da ovinocultura em pequenas e médias propriedades do da Serra do Sudeste, onde se concentram atualmente pelo menos 20% do rebanho gaúcho, segundo o pesquisador Marcos Borba, da Embrapa de Bagé.
O abate furtivo de animais é um problema tão grande quanto as doenças mais graves da ovinocultura, como a verminose e a clostridiose. Ainda sem remédio ou vacina, o abigeato exaspera e desanima os criadores porque supera de longe as chamadas perdas naturais, provocadas por gaviões, lobos campestres e cães vadios de cidades ou fazendas.
Esses predadores, reforçados recentemente pelos temíveis javalis, fazem uma espécie de limpeza ecológica, pois geralmente abatem os cordeirinhos doentes ou mais fracos. Os abigeatários não: mesmo operando no escuro, só pegam os animais mais saudáveis.
As denúncias à Brigada Militar desencadeiam operações que reduzem temporariamente as ocorrências, mas o relaxamento da vigilância logo resulta em novos desfalques nos rebanhos. Por isso a última moda em fazendas mais organizadas é a contratação de serviços de vigilância eletrônica e de patrulhas privadas que a horas incertas percorrem a propriedade duas ou três vezes por jornada noturna.
Ao contrário do que se supõe, o abigeato não se esgota em si mesmo. Por estar intimamente ligado aos abates clandestinos e ao comércio informal de carne de ovelha, ele impede que o mercado se organize. Em anos ados, matadouros tradicionais pararam de abater ovinos e frigoríficos planejados não operam senão esporadicamente suas linhas de ovinos por falta de regularidade na oferta de animais. Talvez porque os criadores se contentem em fazer vendas avulsas para atender a consumidores que preferem fazer encomendas diretamente na fonte, o mercado formal de carne de cordeiro demora a deslanchar.
No início do século XX, chamou a atenção um ensaio de organização feito por pecuaristas de Herval do Sul. Eles criaram o Herval . Em Caçapava do Sul um grupo de criadores lançou o Cordeiros da Província. Recentemente, inspirada nesses exemplos, a associação dos agricultores familiares do Alto Camaquã criou um selo para identificar seus próprios produtos.
O cordeiro continua sendo seu alvo preferencial. Para sustentar o contrato para garantir 40 cordeiros por mês ao Shopping da Carne, de Porto Alegre, os criadores do Alto Camaquã compraram um caminhão-boiadeiro e um caminhão-frigorífico com financiamento favorecido pelo governo do Estado, que tem um apreço especial pela agricultura familiar.
TOSQUIA MODERNA
Dentro de um mês começa em algumas fazendas do interior a produção precoce de lã, que em alguns casos pode estender-se até o final do verão. Mas já se foi o tempo em que a tosquia quebrava a rotina das fazendas, quando um grupo de alegres forasteiros suava o topete para tirar a lã dos animais com as chamadas tesouras-martelo. Eram os tosquiadores ou esquiladores organizados em comparsas.
“As tesouras cortam em um só como/enrijecendo o braço do esquilador”, diz o clássico Esquilador, de Telmo de Lima Freiras, vencedor da 9ª Califórnia da Canção Nativa, de 1979, em Uruguaiana, o município onde se concentravam os maiores rebanhos, com até 20 mil ovelhas numa única fazenda.
Hoje em dia, mesmo em pequenas propriedades rurais, a tosquia é feita predominantemente com máquinas elétricas. Órgãos técnicos como o Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar) disseminam a tosquia australiana (Tally Hi), introduzida no Brasil em 1972. Não é preciso manear o animal, como no método tradicional.
Sem precisar de ajuda, o tosador coloca o animal sentado sobre os quartos e o segura pela queixada contra as próprias pernas. A esquila moderna acaba em menos de cinco minutos. Além de não ferir os bichos e exigir menos esforço do esquilador, facilita a classificação da lã. Pena que a produção esteja reduzida a um terço do que já foi.
MOSTARDEIROS NO PAMPA
Enquanto a região do Alto Camaquã luta para regularizar a oferta de carne de cordeiro especialmente no mercado de Porto Alegre, a região costeira que vai de Torres a São José do Norte pela costa leste da Laguna dos Patos desfruta de uma demanda que se aquece especialmente no verão. Quem a sustenta são os milhares de veranistas que não am a temporada sem degustar os decantados cordeiros-mamões em rituais quase sagrados.
Como sobra dessa safra de verão, os criadores litorâneos, que contam com pouco pasto e muito vento, ficam com os pelegos e a grossa lã ovina menos valorizada por conter areia e sal da maresia, mas habilmente transformada em ponchos e cobertores mostardeiros, típicos de Mostardas, a cidade povoada por descendentes de açorianos. Há cerca de duas décadas, essa região exportou artesãos para pequenas cidades do interior, onde eles trabalham com o restolho da pura lã do pampa. Seus artigos aparecem em oferta na beira das rodovias e nas lojas de artigos gauchescos.
CRENÇAS COM VALIDADE VENCIDA
Ainda há quem acredite que, segundo pregavam técnicos em pecuária ovina, seja altamente recomendável criar ovelhas junto com bois, porque os ovinos assimilam e reciclam os vermes dos bovinos. Hoje em dia na Faculdade Veterinária da UFRGS se aprende que os ovinos precisam ficar sozinhos para dar conta das próprias verminoses.
Outra lenda em fase de revisão é que as ovelhas podiam viver misturadas aos bois porque se contentariam com a “rapa” dos pastos comidos pelos bovinos. Na realidade, isso acontece em campos pobres em alimentação. Onde há comida à vontade, a ovelha só consome a pontinha dos filés das pastagens.
Também é falsa a idéia de que, quanto mais retardada a esquila, maior será a produção de lã. A lã cortada no fim do verão pesará mais, mas renderá menos dinheiro. Na classificação final, a lã do tarde perde valor por causa do excesso de cera acumulada durante o auge do calor.
Quanto custa exibir um animal na Expointer 5786x
Por Geraldo Hasse
Nesta segunda-feira (25/8) serão abertos os portões do parque Assis Brasil em Esteio para a entrada dos quase 5 mil animais inscritos este ano para a 37ª Expointer, o mais tradicional encontro da agropecuária gaúcha. A redução de 10% em relação ao número de animais inscritos em 2013(ver a tabela abaixo) indica que uma parcela dos produtores decidiu fazer economia. O custo de expositor não é baixo porque exige ficar fora de casa por pelo menos 15 dias.
Entre transporte, ração, hospedagem e diárias dos proprietários e cuidadores dos animais, uma fazenda não gasta menos de R$ 1 mil por cada animal de grande porte exposto durante os nove dias do evento, que este ano vai de 30 de agosto a 7 de setembro. E nunca se leva somente um animal, é sempre uma tropilha. Todos disputam medalhas e títulos, o que valorizará os seus descendentes, mas alguns bichos são tratados como estrelas.
Os animais de argola de raças bovinas europeias, por exemplo, são preparados com meses de antecedência, o que inclui alimentação exclusiva, banho diário, escovação e cuidados especiais, dos cascos aos cílios. Ganhando um prêmio, o animal pode se pagar nos leilões que se realizam durante e depois da Expointer.
O custo corrente da participação começa a ser definido no mês de maio, quando cada associação de criadores estabelece uma taxa de inscrição que este ano vai de R$ 10 por cada pássaro até R$ 300 reais para algumas raças bovinas e equinas. Cavalo vai de R$ 90ª R$ 300. “Vaca holandesa, por exemplo, paga 100 pilas para se inscrever”, informa o veterinário Honório Franco, do setor de feiras e exposições da Secretaria da Agricultura, mas a associação dos criadores dessa raça só fica com o valor se o animal inscrito não for apresentado; aos produtores que confirmam a inscrição, o valor é devolvido.
Em alguns casos, não faltam apoiadores ou patrocinadores. A Cooperativa Santa Clara, de Bom Princípio, que possui 3 mil leiteiros associados, banca a ração das vacas expostas em Esteio e recolhe diariamente sua produção de leite, atenuando as despesas dos expositores. No caso do leite, qualquer ajuda é importante porque 80% da produção leiteira do Rio Grande do Sul – mais de 10 milhões de litros por dia – sai de pequenas propriedades familiares tocadas pelo agricultor, a mulher e os filhos. Por aí se vê porque, para muitos produtores, participar da Expointer é um misto de honra e glória.
Mesmo ando por estresse pela mudança de ambiente, os produtores acreditam que a Expointer não é despesa, mas investimento, uma oportunidade para mostrar seus animais, trocar ideias com os amigos e conhecer as inovações apresentadas por técnicos do serviço público e de empresas particulares em todos os setores de atividades rurais. O mesmo vale para os criadores de outros animais e raças.
Estrelas da 37ª Expointer
Espécie animal Inscritos
(Ano) 2013 2014
Bovinos de corte 730 661
Bovinos de leite 573 488
Bovinos mistos 220 172
Equinos 1 200 1 139
Zebuínos 157 142
Ovinos 890 762
Caprinos 57 62
Aves 926 783
Pássaros 391 467
Chinchila 31 25
Coelhos 414 214
TOTAL 5 625 4 932
*Os suínos estão há três anos fora da Expointer
por causa da gripe suína
Fonte: Seapa/RS