Preá catarinense está criticamente ameaçado de extinção 2v4l6q

Por Juliana Dal Piva de Florianópolis especial para o JÁ* Roedor pequeno, herbívoro, que vive em apenas dez hectares, a Cavia intermedia – mais conhecida como preá – escolheu a maior das ilhas do arquipélago de Moleques do Sul para habitar. A 14 quilômetros da Praia da Ponta do Papagaio, em Palhoça (SC), a ilha abriga os únicos 50 indivíduos existentes no mundo da espécie, que também é chamada de Preá das Ilhas Moleques do Sul. Sua descoberta é recente, realizada há apenas dez anos. No entanto, o alerta sobre a possível extinção só foi dado em 2006 pelo pesquisador Carlos Henrique Salvador de Oliveira. O mamífero divide com o gato-do-mato-pequeno o mesmo problema em relação ao projeto de lei Mosaicos do Tabuleiro: o aumento da urbanização nas regiões próximas pode exterminar de vez a espécie. De acordo com Salvador, a International Union for Conservation of Nature (União Internacional para a Conservação da Natureza, IUCN) classificou a espécie como criticamente ameaçada. O pesquisador disse que o primeiro trabalho que descreveu a espécie não estudou o tamanho da população, somente a identificou como uma nova espécie entre as seis registradas até então. “Eu sempre trabalhei com mamíferos nas ilhas da região da Grande Florianópolis e fiquei me perguntando quantos preás viviam ali. Já que era uma espécie que só existe naquele local, e a ilha é pequena, não poderia haver muitos”, explica. A Cavia intermedia necessita primordialmente de duas coisas para viver: a grama, com a qual se alimenta e pasta durante um período do dia, e a vegetação mais densa para se abrigar. Segundo Salvador, que estudou a ecologia do animal, quem atualmente pesquisa o comportamento deste mamífero é Nina Furnari, da Universidade de São Paulo (USP). Uso irregular e falta de proteção Salvador afirma que pouco trabalho foi feito para proteger os preás depois que foram enviados relatórios sobre a comprovada ameaça para a Fundação de Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (Fatma), o Ibama e o Ministério Público. À época, foram confeccionados folhetos para informar e conscientizar a população sobre a raridade destes animais. Nenhuma outra iniciativa foi tomada, e, apesar de ser proibida a entrada de turistas no local – sob pena de reclusão, há vários indícios de que a ilha é usada regularmente por pessoas. “O grande problema são as pessoas que vão acampar lá. O que mais ameaça os preás é a possibilidade de incêndio, pois a ilha é pequena e eles se alimentam da grama. Não há registros de incêndio na Moleques do Sul, mas na região já aconteceram vários provocados por pessoas que fazem fogueira em acampamentos”, adverte Salvador. Projeto Mosaicos do Tabuleiro O pesquisador também expressa preocupação com o novo projeto de lei para o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. “A ilha onde vivem os preás continuará sendo intangível, mas aumentando a urbanização é provável que aumente o número de pessoas que visitam o local irregularmente”. Ele levanta a hipótese de que, ao diminuírem as áreas de proteção integral, talvez haja mais fiscalização. “Desta forma, quem sabe seja possível concentrar melhor as áreas de proteção, mas acho difícil que isso ocorra realmente”, analisa. Salvador ressalta ainda que, para o surgimento de novas espécies, o ambiente de uma ilha pequena e afastada é essencial. O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro abriga 11 ilhas, das quais cinco (arquipélago de Três Irmãs e as outras duas ilhas de Moleques do Sul) jamais tiveram suas faunas estudadas. * Reportagem publicada na Agência de Notícias Ambientais- Ambiente JÁ 6s6r33

Revisão do Livro Vermelho no RS ainda não teve recursos liberados 675p6u

Cláudia Viegas, AmbienteJÁ
O Livro Vermelho, que contém a lista de espécies da fauna ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul, conforme o Decreto Estadual 41.672, de 11 de junho de 2002, está ando por uma revisão que deverá ficar pronta em março ou abril do ano que vem. A informação é do biólogo Roberto Esser dos Reis, professor de Zoologia da PUCRS, que é responsável pela coordenação da revisão da parte de ictiologia (peixes) do livro. “Estamos começando agora esta revisão, a Sema [Secretaria Estadual do Meio Ambiente] designou uma comissão para revisar esta lista, ela coordena o trabalho geral. Mas ainda não disponibilizou recursos”, afirma o pesquisador.
De acordo com Reis, o processo de revisão, no que diz respeito à ictiologia, implica basicamente em reunir especialistas do interior do Estado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina para a verificação de coleções e experiências, a fim de consolidar dados. Estudiosos desta área estão preocupados com sucessivos decretos assinados pela governadora do Estado nos quais ela suspende os efeitos do Decreto 41.672/2002, retirando da lista de ameaçadas as seguintes espécies de peixes: Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816), conhecida como dourado; Pseudoplatysoma corruscans (Spix & Apagessix, 1829); e Pseudoplatysoma fasciatum (Linnaeus, 1776) estas duas últimas correspondentes a surubim.
O Decreto 45.480, publicado no Diário Oficial do Estado do RS em 14 de fevereiro de 2008, que retirou estas espécies da lista de ameaçadas, argumenta que o Código Estadual do Meio Ambiente (Lei 11.520/2000), em seu parágrafo único do artigo 169, determina a revisão da lista de espécies ameaçadas ou em situação crítica a cada dois anos e prevê a criação de uma comissão para realizar tal revisão. Este decreto, assim como o 45.768, publicado em 16 de julho para prorrogá-lo até janeiro de 2009, foram contestados na última reunião do Conselho Estadual do Meio Ambiente como sendo contrários ao princípio constitucional da precaução. Segundo o analista Marcelo Madeira, do Ibama RS, o órgão federal já enviou solicitação de informações à Sema RS sobre a justificativa dos decretos, mas não obteve resposta.
Em março deste ano, logo depois que foi editado o primeiro decreto, o qual alega expressivos prejuízos dos pescadores profissionais gaúchos, a Sociedade Brasileira de Ictiologia emitiu, em seu boletim número 90, um manifesto contrário à suspensão dos efeitos do Decreto 41.672/2002. A Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Rio Grande do Sul resultou de um grande esforço da comunidade científica gaúcha e representou uma iniciativa pioneira em relação aos demais estados brasileiros. A elaboração da lista envolveu a participação direta de 43 zoólogos, representando 20 instituições de pesquisa do Rio Grande do Sul (incluindo órgãos governamentais, universidades e ONGs), de outras regiões do país e do exterior, contando ainda com a participação de 128 colaboradores, diz o manifesto, cuja íntegra pode ser lida nas páginas 3 e 4 do boletim.
Roberto Reis assinala que é muito difícil a revisão da lista a cada dois anos e adverte que, mesmo sendo ela de 2002, estas três espécies de peixes retiradas pelos recentes decretos estaduais continuam em grau de vulnerabilidade. “Podemos dizer que elas estão sujeitas a algum risco de extinção em longo prazo”, nota. O especialista observa ainda que as espécies de surubim decretadas fora da lista de ameaçadas não são de interesse para a pesca, diferentemente do que afirma o Decreto 45.480/2008. Ele acredita que a medida do Governo do Estado seja motivada por interesses de pescadores não profissionais, que pescam por hobby.
A Fundação Zoobotânica do Estado (FZB/RS), por meio de sua Assessoria de Comunicação, informou que não havia representante seu na reunião do Consema de 18 de setembro último, quando foi denunciado o problema. Conforme a Assessoria, há um sistema de rodízio entre Fepam e FZB para assento no Consema e, segundo o atual regimento, é um representante da Fepam que esteve presente na ocasião.