Um perigo chamado Marina Silva 4z514n

Opinião  – ENIO SQUEFF A real possibilidade de Marina Silva se tornar presidenta do Brasil, relembra aquele filme – uma comédia inglesa do grupo Monty Python, – em que um dos protagonistas, ao trilhar por uma floresta encantada, é atacado, no pescoço, por uma lebre assassina. Há, realmente, quem pense que a candidata à presidência pelo Partido Socialista é um bichinho da Amazônia: nas circunvoluções ideológicas que tem sofrido nos últimos dias, contudo, tem-se claramente que a pele de cordeiro é ainda um bom disfarce, que lhe cabe na medida. Uma lebre com dentes de víbora. Foi assim com Collor. De repente, um governador de quinta categoria transformou-se no “caçador de Marajás”. O povo o elegeu e deu no que deu. A opinião não é apenas de quem vota no PT, ou na esquerda. Há dois dias saiu um artigo no Estadão, lá no fundo do jornal, em que um ecologista desancou Marina sob uma alegação respeitável: quem não vota na Marina Silva é quem conviveu com a ela. Uma ególatra, diz o articulista. E elencou todas as contradições que vem se acumulando na candidata , desde que seu nome ou a ser viável para a conquista do poder no Brasil. Há, parece, realmente, muitas razões para muitos temores. A se crer em alguns levantamentos, o entusiasmo pela ex-discípula de Chico Mendes parte principalmente de setores jovens: eles veriam uma verdade incontestável em seu discurso como “terceira via”. Eles acreditariam entusiasticamente que a mulherzinha frágil, com um discurso messiânico, seria o mais próximo do ideal para tirar o Brasil daquilo que a grande imprensa chama de pasmaceira do governo do PT. E que será sempre assim, enquanto o PT governar o Brasil – não importam os ganhos dos setores mais pobres, as obras de infra-estrutura, a descoberta e a exploração do Pré-sal, o desemprego em baixa e o país internacionalmente em alta, ou seja, exatamente a mudança de que o Brasil necessita com todos os entraves à sua transformação numa verdadeira potência democrática, e até quando isso possa existir sob o capitalismo. De fato, evoquem-se alguns fatos e Marina Silva a a encarnar o que há de mais tradicional – e perigoso – na política brasileira. Ela era contra os transgênicos e tem como seu vice um dos mais intransigentes defensores dos transgênicos. Enquanto pertenceu ao governo Lula, atacou o agronegócio como o mal maior de um país a ser destruído por “plantadores de soja e de vacas”. Confirmada, porém, sua ascensão vertiginosa nas pesquisas, logo tratou de procurar os ruralistas. Não seriam tão deletérios quanto a antiga musa – a ecológica – lhe cantava. Ou seja, nem mesmo o poder lhe chegou às mãos, a frágil nativa das florestas abraça-se com Kátia Abreu, até anteontem – para a candidata do PSB, – a defensora dos poderosos e opressores. Mudou o Natal ou mudei eu? Mudaram as condições de chegar ao poder, apenas isso. Como perguntaria Bonner, o indelével âncora do Jornal Nacional da Globo: não será isso o sintoma mais evidente da transformação de Marina Silva na mais tradicional das políticas brasileiras? O tempo está a falar por si. Enquanto isso, porém, divisam-se as muitas perguntas que é claro, não são feitas. Uma vez eleita, qual o caminho tomará a hoje candidata? Se cessar as obras de construção das hidroelétricas, como ela sempre pregou, trairá os empresários – mas se não o fizer, será a mais notável traíra dos ecologistas radicais. As contradições evidentemente não cessam por aí. Mas a ameaça de termos um “tournant” no desenvolvimento brasileiro dos últimos anos, não parece obra de petistas ou de paranóicos de plantão. Era meridiano que Collor – sem qualquer estrutura partidária, psicológica ou intelectual – não era páreo para a complexidade de um país como Brasil. No caso de Marina Silva e do apoio de amplos setores da juventude, pensa-se na reflexão feita pelo cineasta em seguida à primeira eleição de Silvio Berlusconi para governar a Itália. Bertolucci insistiu num tema que quase ninguém se lembra, mas que vale também para o Brasil: a questão da educação. “Falhamos na educação de nossos jovens” constatou o realizador do “Último Tango em Paris”. Foram os jovens italianos, de fato, os maiores entusiastas da eleição do homem que, como diria Walter Benjamin sobre Hitler, soube “estetizar a política” como nenhum de seus adversários à direita ou à esquerda . A se confirmar a onda Marina, como insuperável -, sem alarmismos, aguarda-se o pior, já que no Brasil o futuro sempre se afigura o pior. Leonel Brizola, quando Collor recebeu o “Impeachment”, com a sua indiscutível sagacidade – à parte seus inúmeros defeitos – assacou uma conclusão irreprochável. Disse das elites brasileiras que eram suficientemente irresponsáveis, para toparem qualquer coisa, desde que contra a esquerda. Há outros aspectos, evidentemente. Por mais que a tese da morte de Eduardo Campos como fruto de um conluio internacional, seja o que de mais próximo temos da “teoria da Conspiração”, uma coisa é certa. Foi a partir da morte de Eduardo Campos que Marina Silva – sem partido, sem reais condições de ascender ao poder como vice do ex-governador pernambucano, – alcançou a condição inequívoca de disputar a presidência. Como diz o ditado italiano, “se non è vero, è bene trovato”… A isso, porém, se alia o que até agora é um boato. Uma vez eleita, Marina Silva, comenta-se, convidaria o indefectível Joaquim Barbosa para o Ministério da Justiça. Com isso, se fecharia o circo. Do homem que conseguiu gravar na opinião pública de que o PT seria o partido mais corrupto do Brasil, pode-se dizer muita coisa – uma é de que seria realmente um justiceiro. Agiu como tal, pouco  se importando o quanto a comunidade negra deve aos governos Lula e Dilma na tentativa de eliminar a injustiça histórica contra a discriminação de que são alvos os negros brasileiros, ainda hoje cidadãos de segunda categoria na sociedade brasileira. Ah, mas ele condenou os culpados e isso mostra o quão foi justo. É um bom argumento, desde que não se discuta a sério o tal processo do “Mensalão”. E desde que não se constate que este mesmo homem justo (?) fez-se de cego, surdo e mudo perante o escândalo muito maior, (um bilhão de reais) perante o comprovado crime de roubo do metrô de São Paulo, a envolver muitos tucanos da mais fina estampa. Não mexeu uma palha para desvendar o caso. E não apenas para não compensar, mas como presidente do Supremo, regalou-se em todo o tipo de violência contra os réus – especialmente José Dirceu e José Genoíno – palavras da OAB e de inúmeros juristas, inclusive claramente de direita, como Ives Gandra Martins e Cláudio Lembo. Deste personagem, enfim, pode se dizer que nunca, em tempo algum a direita brasileira, principalmente os partidos de oposição, deveram tanto a uma pessoa quanto a ele, Joaquim Barbosa. O hoje aposentado ex-presidente do STF conseguiu cuspir na mão que o afagava e cravou no partido que se preocupou com os direitos dos negros, a pecha de “o mais corrupto”da história recente do País. Concluir que, com Marina Silva, ele se completa na história assustadora que vem por aí, pode ser mero alarmismo de um homem de idade provecta que já viu muita coisa neste país – não será, porém, uma mera hipótese. Quem conhece os dois personagens sabe do que são capazes. É rezar para que não assumam o poder. E não descurar do óbvio: há quem se interesse que o Brasil e a ser uma nação de segunda categoria como o nosso complexo de vira-latas sempre pregou. Se eleita Marina Silva, o pior estará se desenhando sem meias tintas. Os sobreviventes verão. A propósito, seria de se criticar o PT e a sua pífia campanha eleitoral no Brasil. Mas isso é outra história. 6l6y3c