Nesta quarta-feira em audiência pública às 19 horas no Grêmio Náutico Gaúcho, os moradores de Petrópolis terão a chance de esclarecer muitas dúvidas sobre o inventário que arrolou mais de 500 imóveis do bairro para fins de preservação. O inventário, concluído em maio, provocou forte reação dos proprietários dos imóveis, que não haviam sido avisados com antecedência, como determina a lei. A prefeitura então refez todo o processo, cumprindo todos os trâmites, mas no meio do caminho a Câmara de Vereadores aprovou uma lei, do vereador Idenir Cecchim, que exige a aprovação do Legislativo antes de iniciar o inventário. O prefeito José Fortunati vetou a lei, mas a Câmara derrubou o veto e o texto, publicado no Diário Oficial, está em vigor desde o dia 6 de setembro. A lei é retroativa a 2013, o que significa a anulação de tudo o que foi feito em Petrópolis. O Instituto dos Arquitetos do Rio Grande do Sul se manifestou contra: a lei transfere para os vereadores decisões sobre questões técnicas. Vai propiciar um “balcão de negócios” envolvendo interesses culturais e urbanísticos da cidade. “Criaram uma instância a mais”, diz um a funcionário do Ephac. Bairro essencialmente residencial, de um tempo em que a classe média ascendente sonhava em viver em casas no centro de amplos terrenos ajardinados, Petrópolis é um dos maiores potenciais construtivos de Porto Alegre. E é o único bairro daquela região da cidade que está livre do limite de altura imposto pela proximidade do aeroporto Salgado Filho. Oito bairros foram inventariados em Porto Alegre, desde 2011, sem maiores problemas. Quando chegou em Petrópolis, ocorreu uma omissão que deu origem a toda a polêmica. Não foi feito o “bloqueio”, quando todos os proprietários são informados de que vai ser feito o inventário. Foi o que revoltou os proprietários dos imóveis arrolados em Petrópolis. Eles só ficaram sabendo quando o processo estava concluído. Por que não foi feito o “bloqueio”, que é procedimento regulamentar? Eis a pergunta sem resposta. Os moradores estão divididos em relação ao assunto, embora seja notável o esforço de todos para manter as relações de vizinhança e camaradagem. Uma parte deles concorda com a preservação do patrimônio arquitetônico do bairro. Outra, lamenta a desvalorização dos imóveis em terrenos grandes. “A família mora lá, com um quintal de meio quarteirão, porque gosta. Recusamos propostas de compra de dois milhões. Hoje, ofereceriam 400 mil reais, querem só o terreno”, relata um morador. TRÊS ESTILOS PREDOMINAM O bairro Petrópolis se consolidou nas décadas de 1930/40, seguindo o conceito dominante na época da “cidade jardim”, com casas ou pequenos prédios em amplas áreas ajardinadas. Predominam nesses conjuntos de Petrópolis três tendências, conforme a época da construção: o estilo colonial espanhol, nas mais antigas, o art decó dos anos 50/60 e o modernista, presente em pequenos prédios de 2 ou 3 andares, mais recentes. ONZE IMÓVEIS ESTAVAM ARROLADOS Antes do inventário, agora suspenso, havia 11 bens relacionados como de interesse cultural no bairro Petrópolis: – a Caixa Dágua da Praça Mafalda Veríssimo, tombada em 2008 a pedido dos moradores. – Oito casas na av. Felipe de Oliveira, entre elas a casa do escritor Érico Veríssimo. -o Restaurante Barranco, antiga sede de uma chácara. – a Casa Estrela, na rua Camerino, 34. Era obviamente um número muito insuficiente para uma preservação da memória do bairro, que por sua condição de “bairro jardim” é um dos mais bonitos de Porto Alegre. BAIRRO É COBIÇADO POR CONSTRUTORAS O bairro Petrópolis é uma das áreas mais cobiçadas pela indústria imobiliária e a por uma forte transformação, com a derrubada de casas ou pequenos prédios para a construção de espigões. No próprio relatório da equipe técnica que fez o inventário dos imóveis está assinalado que: “O atual plano diretor tem dado incentivo à acelerada transformação do bairro Petrópolis, causando demolições semanais de imóveis de grande valor patrimonial, deixando lacunas e descontinuidades na malha urbana e descaracterizando a paisagem local”. Os técnicos enfatizam a “necessidade de proteger da forte descaracterização e demolição do patrimônio”. A verdade é que pesados interesses do setor imobiliário estão por trás desse imbróglio do inventário dos imóveis indicados para preservação em Petrópolis. Em oito bairros, inclusive no 4° Distrito, o inventário já foi feito sem problemas. Com relação a Petrópolis as “influências” começaram já na etapa inicial, quando a Secretaria do Planejamento não atendeu aos reiterados pedidos do Comphac para que fizesse o “bloqueio” do bairro. “Bloqueio” é a expressão técnica que indica a inclusão do bairro no processo de inventário e determina sua divulgação junto aos moradores da área. Bins Ely era o secretário do Planejamento ao tempo em que os pedidos foram feitos. Petrópolis é o bairro onde são permitidas as maiores alturas em toda aquela região da cidade, porque está fora das rotas aéreas e restrições que a Aeronáutica impõe às áreas próximas ao aeroporto, pela segurança dos vôos. O grande número de imóveis unicelulares em grandes áreas de terreno, sua localização, sua imagem de bairro residencial, tornam Petrópolis altamente cobiçado pelos construtores de edifícios. CASAS DE MADEIRA Impressionou os pesquisadores o número de casas de madeiras remanescentes em Petrópolis, quase meia centena. Mas, o estado de deterioração da maioria delas desencorajou sua inclusão no inventário, uma vez que é mínima a chance de sobrevivam ao rápido processo de expansão do bairro. 5z7a
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Leia aqui a edição de 25 anos do Jornal JÁ Bom Fim 1l635v
Já está circulando a primeira das três edições especiais que vão marcar os 25 anos do Já Bom Fim, um dos mais antigos jornais de bairro de Porto Alegre.
A matéria principal da edição aborda as “Origens do Bom Fim” e conta a história daquela região desde que ela começou a ser ocupada por tropeiros que vinham trazer gados para os açougues da cidade.
A próxima edição vai circular na segunda quinzena de novembro e abordará o período romântido do bairro dominado pela comunidade judaica e os anos loucos da contra-cultura.
A terceira edição, no início de dezembro vai mostrar como o centro invadiu o bairro, que agora entra na era dos espigões.