Cleber Dioni Empresário lobista, agora, que negociar ‘delação premiada’ com o Força Tarefa Isolado e afastado do PSDB, impedido de sacar R$ 200 mil de um banco de Porto Alegre na semana ada, cujo remetente, um funcionário de um banco em Curitiba, e a origem dos recursos estão sendo investigados pela Polícia Federal, o empresário Lair Ferst, um dos principais acusados pela fraude milionária do Detran, decidiu falar. Suas declarações viraram manchete na edição de ontem da Folha de São Paulo, um dos principais jornais do centro do país, e pautou o noticiário do dia, chegando a irritar a governadora Yeda Crusius. Lair concedeu uma entrevista aos jornalistas Graciliano Rocha e Ana Flor, ambos da Folha. O lobista e ex-tesoureiro na campanha eleitoral de Yeda Crusius em 2006 levantou a possibilidade da governadora ter conhecimento da fraude desde que assumiu o Palácio Piratini e garantiu que Yeda sabia da troca das fundações ligadas a Universidade Federal de Santa Maria que prestaram serviços ao Detran gaúcho. “É público e notório que houve o envolvimento da governadora neste processo”, disse. Ele afirmou ainda que pretende aceitar a delação premiada, oferecida pela Força Tarefa que está á frente da Operação Rodin, para denunciar pelo menos dez pessoas, integrantes e ex-integrantes do primeiro escalão do governo estadual, por envolvimento no esquema criminoso na autarquia. Em troca, a Justiça retiraria algumas acusações que pesam sobre ele. “Eu confirmo que Flávio Vaz Neto, na época presidente do Detran, tinha relatado à governadora sobre a mudança de fundações no contrato com o Detran e que Vaz Neto tinha respaldo político da governadora para implementar aquela mudança, da Fundae para a Fatec”, destacou. Na manhã de ontem, a Rádio Bandeirantes conseguiu arrancar mais algumas declarações do ex-tucano. “Nas conversas que fizemos lá com o Ministério Público Federal, por iniciativa deles, ficou aberto um canal de comunicação para que, em qualquer momento do processo, nós quiséssemos levar mais informações. É exatamente nesse sentido que nós estamos avaliando agora se realmente é oportuno e favorável a nós fazermos esse detalhamento das informações”, ressaltou. Às quatro da tarde, a governadora Yeda mostrou impaciência com as perguntas dos repórteres que a acompanhavam durante a cerimônia de entrega de liberdades condicionais a apenados do Presídio Central de Porto Alegre. Foram várias tentativas para que ela comentasse as declarações de Lair Ferst, mas a governadora falou em vagas para presos, ajuste fiscal e se limitou a explicar porque não falaria sobre o tema: “As perguntas são sempre as mesmas e eu respeito as instituições, que estão cima das pessoas, essas instituições estão fazendo tudo o que é necessário e este não é o meu papel”, frisou. O chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel, considerou infundadas as acusações e disse que o governo recebeu as acusações de forma muito tranquila. “Criamos um portal da transparência e estamos aqui de peito aberto para prestar todas as explicações, de forma franca”, garantiu. E fez um apelo no estilo marketing do presidente Lula: “Deixem ela trabalhar”. Para o líder do governo do Parlamento gaúcho, deputado Pedro Westphalen (PP), se houverem fatos novos sobre o assunto, eles devem ser tratados pelos órgãos competentes. “Não vamos nos furtar do debate, mas em momento apropriado. A Assembléia Legislativa e o Executivo têm diversos debates que devem ser realizados no segundo semestre, inclusive o projeto de remodelação do Detran.” Indícios referendados Deputados petistas se revezaram na tribuna na tarde de ontem para cobrar da Assembléia Legislativa uma atitude em relação às novas revelações feitas pelo empresário Lair Ferst. Para o deputado Fabiano Pereira (PT), que presidiu a I do Detran, a afirmação de Lair de que diversos integrantes do alto escalão do governo tinham conhecimento da fraude do Detran, não gera surpresa, mas referenda o trabalho e as revelações apontadas durante a I. “Tínhamos certeza de que um esquema de tal monta, que resultou num desvio de R$ 44 milhões, não poderia existir sem uma conivência política, com ação de governo nesse sentido. Além disso, também estava claro para nós qual era a estatura política de Lair Ferst no âmbito do governo e de seu partido. Ferst desfrutava, sim, de alta influência, atuando na coordenação de campanha. Não cola a afirmação de que ele não ava de um simples militante”, disse Fabiano. Fabiano anunciou que o PT deverá fazer um aditamento à representação que encaminhou ao Ministério Público Federal, agregando as revelações feitas por Ferst. O líder da bancada do PT, deputado Raul Pont, cobrou uma resposta de Yeda Crusius. “A governadora deve ao povo gaúcho uma resposta imediata às declarações do ex-captador de recursos da sua campanha. Se permanecer em silêncio ou tergiversar, será uma confissão de culpa”, sustentou o deputado. Já o deputado Ronaldo Zulke (PT) disse que, se a governadora não apresentar uma explicação convincente para a compra de sua casa e para as novas revelações de Ferst, a Assembléia Legislativa não terá outra saída a não ser analisar o processo de impeachment. “A gravidade dos fatos não oferece outro caminho a não ser que sejam apresentadas explicações críveis. Há elementos fortíssimos para o pedido do impeachment da governadora, e o Legislativo não poderá se furtar de analisá-lo”, defendeu. MPF nega negociação com Lair Ferst O Ministério Público Federal divulgou nota à imprensa na qual nega que esteja negociando com Lair Ferst a retirada de parte das acusações contra ele em troca da delação de novos envolvidos na fraude milionária do Detran. A nota do MPF é assinada pelo jornalista Juarez Tosi, assessor de imprensa: “O Ministério Público Federal, através da Força Tarefa que atua no Caso DETRAN, tendo em conta a notícia veiculada no Jornal Folha de São Paulo, com entrevista concedida pelo réu Lair Ferst, vem a público informar que nenhuma negociação para acordo com o referido acusado encontra-se em andamento. Considerando as manifestações do próprio acusado, é de se referir que reuniu-se o Ministério Público Federal por uma única vez com o réu Lair Ferst, por solicitação do próprio investigado e de seu advogado, no início do mês de março, antes ainda da apresentação do relatório do inquérito policial. Na ocasião, tendo em conta os fatos afirmados como conhecidos pelo acusado, foi efetivada proposta de colaboração premiada nos termos e limites legais. Em referida reunião, não foram apresentadas pelo MPF nomes ou número de pessoas, mas foi exigida, em caso de do acordo, a completa colaboração por parte do investigado para a busca mais completa da verdade, de forma a elucidar por inteiro a participação de todos os envolvidos na fraude milionária. Após este contato, tendo em conta que a proposta de acordo não foi aceita pelo acusado, nenhuma outra reunião foi realizada, não tendo o MPF buscado contato, em qualquer outro momento; e sequer foi procurado pelo referido acusado. Por fim, refere o Ministério Público Federal que é de causar estranheza as manifestações públicas do acusado, justamente no momento que foram bloqueados vultuosas quantias que o réu pretendia sacar em dinheiro. 12250