Em lua-de-mel com os fãs 1j1l52

Por Bruno Cobalchini Mattos 6g2z3r

Marcelo Camelo vive um bom momento de sua carreira. ados dois anos desde o anúncio do recesso dos Los Hemanos, o ex-guitarrista, compositor e vocalista da banda sobreviveu bem à separação: seu primeiro álbum solo, Sou, teve boa recepção por parte do público. Em Porto Alegre, o show de lançamento estava lotado. Era outubro, e o disco estava nas lojas havia pouco mais de um mês, mas todos na plateia já sabiam as letras de cor. Camelo foi acompanhado no concerto pela banda paulista Hurtmold, um dos grupos mais interessantes da cena independente nacional – e que excursiona com ele desde o ano ado. Marcelo Camelo volta a se apresentar em Porto Alegre no próximo dia 19, no Teatro do Bourbon Country. Em entrevista exclusiva, ele fala sobre musicalidade, seu projeto paralelo, Ivete Sangalo e as verdadeiras influências.

Já – ado quase um ano desde o lançamento de Sou, como você avalia o convívio com o Hurtmold? Que influência eles tiveram na maneira como você faz e percebe música?
Camelo – Eu já conhecia a banda bem, os discos. Nosso convívio tem sido ótimo. Eles são muito parecidos e muito diferentes de mim então tem assunto que não acaba mais. Eles são minha porta de entrada pra São Paulo, que é uma cidade totalmente nova pra mim. Procuro vivê-la com a ajuda dos olhos deles. Então são meus anfitriões, meus amigos novos. Conheço os pais deles, os amigos mais próximos, as mulheres. Conheço a turma deles e isso me influencia como ser humano. É assim se dando que a gente consegue receber mesmo as coisas importantes. As influências verdadeiras. As coisas que transformam nosso olhar sobre as outras coisas.

Já – No disco você trabalhou com um grande número de músicos convidados. De certa forma, isso acabou dando ao álbum um ar de encontro de amigos. Como você faz para reproduzir isso ao vivo, sem as participações especiais?

Camelo – Eu não tento reproduzir o disco no palco. Arranjei tudo novamente com os Hurtmold pra gente montar um show. Acho que as músicas já existem pra mim em formato solitário, já que eu as faço sozinho, então não tenho muito pudor em transformá-las naquilo que eu quiser naquele momento.

Já – Na época em que saiu o disco, um amigo meu dizia que Menina Bordada parecia música da Ivete Sangalo. E é interessante, porque agora você apareceu no DVD dela. Pode ter rolado essa influência?
Camelo – A Ivete sempre foi uma influência pra mim, desde a banda Eva. Eu acho que os baianos foram quem melhor transformaram um imaginário brasileiro em cultura de massa. Mas pra quem está de longe uma marchinha só lembra o Chico Buarque, uma batida africana só lembra a Ivete, um forró o Gonzagão.

Já – Saudade e eando são músicas que têm gravações alternativas no disco, tocadas no piano por Clara Sverner. Por que deixar as duas versões de cada uma no trabalho final? Você acha que a mudança de contexto deu um novo sentido para as melodias?

Camelo – Não. Não sei se há sentido numa melodia. Mas eu gosto das duas versões então coloquei as duas.

Já – Conversa de Botas Batidas, música da época do Los Hermanos, é um diálogo que você imaginou a partir de uma notícia de jornal. E agora, em Sou, você utilizou sons incidentais como, por exemplo, uma máquina de lavar roupa. O que significa para você trabalhar com elementos da vida cotidiana?
Camelo – Minha música é cada vez mais orgânica, pelo menos até este disco foi assim. Meio naturalista, realista, que nem as fotos de divulgação. Quando vou no apartamento em que fiz estas músicas eu lembro do porquê delas. É quase como se elas existissem a partir daquele determinado lugar. Estes sons que habitam o disco estão nas músicas também, são músicas.

Já – Que escritores você mais gosta? Como eles influenciam as letras que você compõe?
Camelo –
Eu gosto muito mais da língua falada do que da escrita. Minha atração sempre foi pelo som. A escrita também tem som, mas é como se a fala já fosse o próprio som. Me interessa mais. Um discurso tem musicalidade e geralmente ela dá muito mais razão a quem fala do que o próprio significado das palavras. Tente assistir a uma discussão em uma língua que você não conhece e é muito fácil, na maioria das vezes, escolher quem tem a razão. Gosto da música que tem na fala do dublador do Gene Hackman. Gosto de ouvir o Mano Brown falando, o Robert Anton Wilson, gosto da música da fala do Chico Anysio, que faz profissionalmente isso. Quem tem uma música boa na fala é o garoto que apresenta o programa de video game do Multishow, uma entonação diferente que eu acho carismática. Nando Reis fala muito bonito. O texto das crianças é muito simples e poético também, muitas vezes. Tem um exemplo que eu acho clássico de argumentação que é de uma menina alemã. Ela falou sobre pichação: “o pessoal acha que pichação deixa a cidade suja mas eu não acho. Eu acho que ela fica bonita”. Porra, vai contra argumentar que eu quero ver! É que nem aquela do Cesare Pavesi que diz que poema é quando um idiota olha pro mar e diz que parece azeite. Ah, de escritor tem o Shakespeare que falado em inglês é demais de bonito. Esse cara era muito musical. Eu tenho um amigo também chamado Caíto Manier que escreve praquele programa Larica Total, que tem o texto mais impressionantemente musical que já ouvi. Ele é de Niteroi, mesma terra do De Leve, um rapper que também tem essa espécie de musicalidade estranha, travada e rítmica ou suave e doce, esses caras fazem o que querem com os sentidos. Eles entendem de dinâmica e têm compreensão avançada do som na língua. Esses caras são mestres da escrita pra mim. O Caíto é demais.

Já – Conte um pouco da história dos Imprevisíveis (projeto paralelo lançado através do MySpace).
Camelo –
Não tem muita história. Eu sempre faço estas conversas musicais quando estou em casa com os amigos. Se deixar um instrumento na mão de cada um, alguma coisa que sai som, uma hora acaba virando aquilo que é uma improvisação a partir do som usando instrumentos musicais. É tipo uma conversa que acontece mesmo. Uma comunicação não- verbal que pode ser executada mesmo por quem não treina um instrumento há anos. É só tentar. Deixa um instrumento na mão de cada um e uma hora nego para de falar e começa a tocar um com o outro. É uma transformação grandiosa esse momento. O mecanismo é muito parecido com o da fala então vira uma espécie de conversa. Dá pra entender a função e a origem da língua e da música e de tudo, é demais.

Já – No show que você fez em Porto Alegre no ano ado o pessoal da produção subiu no palco para tocar tambores em Copacabana. Como surgiu essa participação, e como isso mexe na maneira com que a banda e a equipe se relacionam ao longo da turnê?
Camelo –
Eles na verdade já estão ali o show inteiro, ajudando a gente mas sem tocar. O Paulinho, que é roadie, é da bateria da Gaviões e colocou pilha de tocar na música. Arrumou um repique pro Guto que é diretor de palco, o Heroi que também é roadie não quis ficar de fora e trouxe o cavaco. Somos todos amigos de profissão, num barco que depende de todos nós pra funcionar direito. Nos entendemos bem.

Já – Quais as suas perspectivas pro show do dia 19?
Camelo –
Acho que vai ser muito maneiro. O primeiro show foi muito bom, um dos meus preferidos da turnê. A casa é muito boa e nós agora estamos tocando muito melhor do que quando estivemos aí, então acho que vai ser ótimo.

Já – Em Vida Doce, você diz que caminha no tempo que bem entender. Nesse momento da carreira, em que tempo você quer caminhar?
Camelo –
Agora eu vou lançar o DVD que gravamos em Salvador e começar a pensar no disco novo. Pra mais tarde fica o que vier.

A volta do Los Hermanos 11f2j

Por Thiago Piccoli
Para muitos poderia ser apenas uma frase onírica, mas aos poucos o que se tratava de boato vem tomando consistência e deixando os fãs com uma pulga atrás da orelha após as notícias de que a banda abriria o show do Radiohead em São Paulo e no Rio de Janeiro em Março deste ano. Será mesmo que Los Hermanos voltará?

Foto: Thiago Piccoli

A banda anunciou uma parada “estratégica” em junho de 2007, e os integrantes deram sumiço até o início de 2008, quando re-apareceram na mídia separados, cada um com um trabalho diferente. Marcelo Camelo lançou o elogiadíssimo “Sou”, Rodrigo Barba assumiu as baquetas da big band Canastra, Bruno Medina assina um blog e, mais recentemente, Rodrigo Amarante lançou “Little Joy” ao lado do baterista dos Strokes. Os fãs se deliciaram com estes trabalhos, porém o vácuo existia.
Segundo o blog URBe, confirmando-se o boato, resta aos fãs correrem atrás dos últimos ingressos. Os shows ocorreriam nos dias 20 e 22 de Março, no Rio de Janeiro e São Paulo, dentro da programação do festival Just a Fest. Uma fonte segura garantiu que a divulgação começará em breve, e os shows podem se esticar para outros lugares do país.