Polícia quer mais tempo para investigar morte de Marcelo Cavalcante 2x2i5s

Por Lucas Azevedo |  Especial para o JÁ Na sexta 17, faz dois meses que o corpo do ex-representante do governo gaúcho em Brasília, Marcelo Cavalcante, foi encontrado boiando no Lago Paranoá, próximo à Ponte Juscelino Kubitschek – e o inquérito instaurado pela 10ª Delegacia de Polícia da Capital Federal não chegou a nenhuma conclusão. Mais: há cerca de um mês a sindicância tramita na Justiça à espera de autorização para mais 60 dias de investigações. No entanto, a viúva de Cavalcante, a empresária Magda Cunha Koenigkan, diz ter material importante para esclarecer a morte do ex-marido. Ela diz saber de detalhes obtidos em conversas com Cavalcante que explicariam as pressões que ele vinha sofrendo meses antes de morrer. Para isso, Magda contratou um renomado advogado de Brasília para auxiliá-la. “Posso repetir o que o Marcelo dizia, e são coisas muito pesadas. Ele era totalmente pressionado e não estava de acordo com a istração do Sul. De repente, ele aparece boiando. Tive que contratar um bom advogado para descobrir a causa, já que nem eu nem a polícia de Brasília somos capazes disso.” O conteúdo dessas conversas poderia causar danos ao governo gaúcho, já que Cavalcante era “peça importante” na ascensão ao Piratini e na primeira parte do governo de Yeda Crusius. Magda reafirmou o encontro entre o ex-marido e a governadora, no final do ano ado, no qual foi feito o convite ao ex-assessor voltar ao time. Cavalcante foi afastado do governo em junho de 2008, após a revelação de uma conversa telefônica onde ele intermediava uma reunião do lobista Lair Ferst na Secretaria estadual da Fazenda. “Vem fazer parte da equipe. Você tem que voltar. Você faz parte da minha equipe e é uma peça importante para a gente”, teria dito Yeda a Cavalcante, segundo Magda. A viúva ressalta que nos últimos três meses de vida, Cavalcante se mostrava muito apreensivo e recebia ligações no início da manhã, as quais preferia atender no banheiro, longe dela. O ex-assessor tratava o seu interlocutor com reverência, “sempre com um ‘sim senhor’ e ‘não senhor’”, lembra. Magda também confirmou existir uma gravação na qual Cavalcante aparece em uma conversa com alguém que participou da campanha para o Piratini em 2006. Na conversa, o ex-representante do governo se mostra estarrecido ao descobrir que parte do dinheiro arrecadado para a campanha tomou outro fim. “Foi aí que tudo começou. Essa gravação dele, que mostra coisa não legais. Eu já vi várias vezes. O Marcelo me dizia: ‘Se for pro ar, eu tô ferrado. O governo cai no outro dia!’ Era a peça importante pro governo.” Cavalcante revelou a Magda que não se tratava de irregularidade, mas algo “fora da normalidade” da campanha política. O material teria sido gravado pelo interlocutor, que integraria a campanha, e entregue a Cavalcante tempos depois. Magda disse não saber identificar quem está com Cavalcante. “Não é negociação. É ele falando estarrecido do dinheiro que eles conseguiram e que foi colocado para outro fundo. Ele ficou muito abatido com aquilo.” A empresária salientou não ter mais o a essa gravação, que estava em posse de um amigo do ex-marido. O fiel depositário da prova informou a ela que devolveu o material ao ex-assessor meses antes de sua morte. “Tudo o que eu tiver em mãos será revelado. Não existe a hipótese de eu ficar calada. Quero saber a causa da morte de Marcelo. Tem que averiguar o que ele falava em casa para que as partes competentes avaliem o que tem por trás disso”, afirmou. Brigas de família A visita que Magda recebeu do empresário Lair Ferst, em 18 de fevereiro, após o enterro de Marcelo Cavalcante, e o conteúdo das mensagens que o ex-marido enviou a ela no dia de sua morte gerou o rompimento da ligação da viúva com a família do ex-marido. Segundo o comerciante Marcos Cavalcante, irmão de Marcelo, a família teria tentando ajudar se soubesse que ele havia ameaçado tirar a própria vida. “A gente tinha dado um jeito de colar nele e não deixar que acontecesse isso.” Já conforme Antônio Cavalcante, pai do ex-assessor, após o encontro com Ferst, Magda teria mudado o conteúdo dos seus comentários sobre a morte do filho. Magda nega. “Todos nós achamos que o Marcelo não era capaz de tirar a própria vida. É natural que ele (Antônio) pense qualquer coisa. Mas não sei de onde ele tirou essa idéia sobre a visita do Lair”, afirmou. Marcos defende o pai e prefere desqualificar a ex-cunhada. Ele utiliza o fato de Magda ser ré em alguns processos na Justiça de Brasília. Walna, Marcelo e a assessora lobista Marcelo Cavalcante e a misteriosa assessora toda-poderosa Walna Villarins Meneses formavam em Brasília, entre 2002 e 2006, o gabinete da então deputada federal Yeda Crusius. Com o lançamento da candidatura ao Piratini, Yeda manteve o seu núcleo de trabalho, incorporando a ele mais funções e poder. Atual responsável pela Coordenação de Ações istrativas do Gabinete da Governadora, Walna, que é citada em investigação da Polícia Federal na Operação Solidária, viaja freqüentemente a Brasília. No final do ano ado, Walna voltou à Capital Federal, quando esteve com Cavalcante. “Em novembro ou dezembro eles tiveram encontros. Mas não sei se foi sobre política”, lembra Magda. Próxima ao ex-representante do governo, talvez a assessora possa ter o que acrescentar no inquérito que apura a morte suspeita, já que tem amplo trânsito no governo gaúcho, tanto em solo rio-grandense como brasiliense. Walna voltou a Brasília no dia 17 de fevereiro, quando o corpo do ex-assessor foi encontrado. Por outro lado, Magda revela que o ex-marido tinha “pavor” de uma certa assessora de Yeda. “Ele se arrepiava quando falava dela. Não falava com ela de jeito nenhum. Não entrava no carro da governadora com ela junto. Ele dizia que ela fazia lobby.” A assessora em questão seria a jornalista Sandra Terra. Mais uma vez Lair Um personagem que pode ter trazido novos elementos à investigação é o empresário Lair Ferst. Ele prestou depoimento em 23 de março à polícia de Brasília. Ele e Cavalcante atuaram juntos na campanha para governador do Estado e se conheciam desde a década de 1990, quando trabalharam no gabinete do então deputado Nelson Marchezan (PSDB). Magda afirma que nos últimos meses o contato entre os dois ex-colegas diminuiu. Ela ressaltou que a mulher de Ferst, a ex-miss Brasil Deise Nunes, era quem mantinha mais conversas com Cavalcante. 6y1e1v