O jornalista e fotógrafo gaúcho Cristiano Sant’Anna lança seu livro Arquipélago, na próxima quarta-feira, 17, às 19h, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, no Centro Histórico de Porto Alegre. O evento também marca a abertura da exposição, que apresenta 60 imagens em preto e branco sobre as comunidades de pesca localizadas no conjunto de 16 ilhas formado pelo Delta do Rio Jacuí. Em janeiro de 2013, Sant’Anna começou uma pesquisa fotográfica no bairro de Porto Alegre denominado Arquipélago. Ao longo de 18 meses, o fotógrafo conviveu com moradores e conheceu seus hábitos, rotinas e a maneira como se relacionam com o rio e a natureza. O resultado desse trabalho é um fotolivro e uma exposição que retratam a economia, a cultura e as relações sociais daquela comunidade. Com uma narrativa fotográfica contínua, sem pausas ou marcações de capítulos, o fotógrafo se utiliza de diversas histórias para compor o cenário cotidiano e a dinâmica de relações nessa comunidade que vive da pesca: “A geografia entrecortada desses canais define a cultura e a relação do homem com o meio. O livro e a exposição são um conjunto de contos sobre os pescadores, os cavaleiros, as enchentes sazonais, a relação entre pais e filhos. São uma parte da história desse povo que vive de frente pro rio”, explica. Financiado pelo FUMPROARTE/Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o projeto Arquipélago conta com o apoio cultural da Pubblicato Editora e da Ideativa Cultural. A exposição é uma correalização entre a Chourisso Editorial e o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo/CEEE/Governo do Estado do Rio Grande do Sul. No dia do lançamento, o livro (tamanho 42 x 27 cm, 88 páginas) estará à venda por um preço promocional de R$ 60,00. A exposição fica em cartaz até o dia 18 de outubro. Pescadores do Arquipelago Sobre O autor Jornalista e repórter fotográfico há 18 anos, Cristiano Sant’Anna trabalhou para jornais do sul do Brasil como Zero Hora e Correio do Povo, em Porto Alegre. Entre seus projetos autorais destacam-se a exposição fotográfica Duas Margens (2009), sobre a frontalidade entre Buenos Aires e Colônia do Sacramento, e a cobertura do Fórum Social Mundial em Belém do Pará. Em 2011 e 2012 foi selecionado para apresentar seu trabalho no NanoFotoFest, de Buenos Aires. Atualmente desenvolve Campos de Cima, um projeto de documentação do espaço geográfico dos campos de altitude e canions do sul do Brasil, e Quase Paisagem – Taim, financiado pelo FAC/RS, desdobramento deQuase Paisagem/Micro Paisagem, apresentado em 2013, na Usina do Gasômetro. Sobre o CCCEV Localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, a poucos metros da Praça da Alfândega, o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV) se constitui em um equipamento a serviço das diversas expressões da arte. Abriga-se no “Edifício Força e Luz”, prédio com arquitetura de inspiração sa, erguido entre 1926 e 1928 pelo arquiteto Adolfo Stern. O edifício foi tombado em 1994, transformando-se no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo em 2002. De lá para cá, a casa acolhe milhares de visitantes em atividades que englobam diferentes manifestações artísticas e formativas, cumprindo ininterrupta agenda de iniciativa própria. Sua vocação de origem ainda hoje se revela no 2º andar, que abriga o Museu da Eletricidade do Rio Grande do Sul (MERS). Em seu acervo estão valiosos objetos reunidos por todo Estado em uma exposição interativa ao dispor dos visitantes. Agora, o projeto original do CCCEV ganha formas definitivas a partir da criação do Memorial Erico Verissimo, que a a dar visibilidade e o a um acervo que revela vida e obra do escritor que deixou as mais profundas marcas na Literatura Brasileira. 1l5b6u
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Carlos Nabinger fala sobre campos nativos no Pampa 3p513g
“Conservação do Bioma Pampa a partir do manejo correto das pastagens naturais” é o tema da palestra com o professor Carlos Nabinger (UFRGS), que acontece na terça-feira, 9, promovida pela Fundação Gaia em parceria com a Livraria Cultura de Porto Alegre . O evento inicia às 20h no auditório da livraria, com entrada franca.
A atividade integra o Ciclo de Palestras Ecologia na Cultura, cuja temática norteadora de 2014 é “Construir o Futuro com Visão”. Trazendo assuntos relacionados às questões ambientais, no final da apresentação será proposto ao palestrante um questionamento: qual visão permite um avanço sustentável e mais acertado em direção ao futuro comum na Terra?
Com periodicidade mensal, os encontros realizam-se sempre na segunda terça-feira de cada mês. Interessados podem obter certificado de participação nas palestras, tanto para cada evento como para todas nas quais participarem. Para isso basta escrever para [email protected] e solicitar maiores informações. (Cláudia Dreier)
Agapan prepara agenda ambiental para candidatos 1t336c
Nesta segunda feira, 11, a Agapan promove a primeira discussão sobre as demandas ambientais a serem levadas aos candidatos que disputam o governo do Rio Grande do Sul nas eleições de outubro.
“O Rio Grande Que Queremos” é o tema do debate que inicia às 19 horas no auditório da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, em Porto Alegre (RS).
A partir desse debate, a entidade pioneira da luta ambientalista no Brasil, pretende reunir “indicativos ´para a elaboração de uma carta ambiental a ser encaminhada ao futuro (a) governador (a) do RS com questões relacionadas à istração dos recursos naturais e do patrimônio ambiental do Estado”.
A Agapan convida os representantes de entidades ambientalistas e os cidadãos do RS a participarem desse evento , reforçando o processo democrático e contribuindo com a produção de propostas para a qualificação do documento final.
O Agapan Debate contará com as participações do atual presidente da entidade, professor doutor Alfredo Gui Ferreira, do diretor presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (Fepam) Nilvo Luiz Alves da Silva, e do professor doutor Paulo Brack, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). (Confira, abaixo, os currículos dos participantes).
A participação no evento é gratuita. Na oportunidade serão arrecadados agasalhos para serem doados, através da Defesa Civil do RS, aos desabrigados pelas últimas chuvas no Estado.
Debatedores
Alfredo Gui Ferreira – Biólogo, mestre em Botânica na UFRGS, doutor em Ciências na USP, pós-doutorado nos Estados Unidos. Professor e pesquisador aposentado da UFRGS. Tem perto de cem publicações científicas, foi orientador de mestres e doutores na UFRGS, UnB e UFSCar. Sócio fundador da Agapan e atual presidente da entidade.
Nilvo Luiz Alves da Silva – Diretor Presidente da Fepam
Paulo Brack – Biólogo, mestre em Botânica e doutor em Ecologia. Professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da UFRGS. Pesquisador da flora do RS e envolvido em temas de políticas públicas em biodiversidade, com representações em conselhos de meio ambiente, pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), onde é um dos coordenadores.
Serviço
Agapan Debate
Data: 11 de agosto de 2014
Hora: 19h
Local: Faculdade de Arquitetura da UFRGS – em Porto Alegre (RS)
Evento no Facebook
Defensoria atuará em demandas ambientais 1q15j
“Sim, vamos atuar também nas demandas ambientais”. Esta foi a resposta pronta do Defensor Geral, Nilton Arnecke Maria, aos representantes do movimento ambientalista que no início de dezembro levaram à Defensoria Pública do Rio Grande do Sul um abaixo assinado pedindo que os advogados que prestam assistência judicial gratuita à população, ampliem sua atuação para incluir também as causas relacionadas ao meio ambiente.
“Foi uma grande vitoria, mais uma ação pioneira da nossa cidadania”, comemorou o advogado Arno Carrard, que coordenou a iniciativa dos ambientalistas.
Segundo ele, a decisão vai remover uma das maiores dificuldades das entidades de defesa ambiental, que é ter apoio técnico jurídico para levar à Justiça demandas que envolvem o meio ambiente, no âmbito cível e criminal. “Até agora, as entidades tinham que recorrer a voluntários, que muitas vezes não tinham conhecimentos específicos para atuar nesses processos”, explicou.
Para Carrard, a maior importância dessa iniciativa é que ela vai completar um ciclo iniciado em 2010, quando o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, atendendo também uma reivindicação do movimento ambientalista, aprovou a criação duas Varas Ambientais. “Agora teremos o apoio técnico para orientar as nossas ações e as varas especializadas para agilizar esses processos”, explicou o advogado Caio Lustosa, um dos signatários do documento.
Decisão é inédita no país
Assim que circulou na internet a informação de que a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul se capacitar para atuar também em causas ambientais, manifestações de diversas partes do país e até do exterior a chegaram ao advogado Arno Carrard.
“Todos querem informações sobre como conseguimos isso, pois consideram um grande avanço. Pelo que sei, é uma decisão inédita no país”, diz ele.
Primeira ação está a caminho (foto Lewgoy pode prever um “boneco”)
A primeira demanda a ser levada pelo movimento ambientalista à Defensoria Pública do Rio Grande do Sul tem base num estudo do professor Flávio Lewgoy sobre as emissões da fábrica de celulose da CMPC, que está ampliando a capacidade de produção da sua planta em Guaiba.
Segundo Lewgoy, que é químico e geneticista aposentado da UFRGS, apesar de ter melhorado os controles de suas emissões para a atmosfera e para a água do Guaiba, a indústria ao elevar sua produção para 1,8 milhão de toneladas (quatro vezes a capacidade atual), vai lançar no ar e na água volumes consideráveis de poluentes nocivos à saúde humana.
“Eles dizem que tem os melhores controles, de padrão internacional. Pode ser, mas acontece que não há lugar nenhum onde uma fábrica desse porte esteja à beira do principal manancial de água de uma capital e de frente para as zonas nobres da cidade”. Em seus estudos, Lewgoy constatou os seguintes volumes de emissões aéreas e líquidas:
Para a atmosfera
Emissões das lagoas de tratamento do efluente líquido : 1.920 toneladas/ano de clorofórmio
Emissões da caldeira (não consideradas no EIA-Rima):
– Fluor (como HF) – 91 kg/dia
-Cloro gasoso – 309 kg/dia
-Cinzas de carvão – 123 kg/dia*
*Cinza finíssima inalável, contendo metais tóxicos: cromo, níquel, chumbo, arsênio, cádmio, berílio e radioativos (tório e urânio)
-Dioxinas, hidrocarbonetos aromáticos, mercúrio (90% do mercúrio é volatilizado na queima do carvão)
Para a água do Guaiba
AOX (organoclorados mutagênicos e cancerígenos) : 180 toneladas/dia
Cloreto de sódio : até 28,8 toneladas/dia
Cloratos (?)
Sulfetos: até 17,8 kg/dia
Fenóis: até 4,9kg/dia
Mercúrio total: até 792/dia
Este é o documento entregue ao Defensor Público-Geral do Rio Grande do Sul:
PEDIDO DE APOIO PARA DEMANDAS DESTINADAS À TUTELA COLETIVA, ATINENTES AOS
DIREITOS DE NATUREZA DIFUSA, ESPECIALMENTE LIGADOS AO MEIO AMBIENTE.
Os signatários do presente documento, pessoas físicas e entidades voltadas em prol da luta em favor da preservação do meio ambiente e demais interesses difusos, têm a honra de submeter à elevada consideração de Vossa Excelência postulação com o escopo de obter o indispensável apoio dessa prestimosa instituição estadual, em busca de um esforço conjunto destinado à prestação de orientação jurídica, judicial e extrajudicial, bem como a defesa dos valores aludidos em todos os graus, nos termos do art. 5º, inciso LXXIV da Carta Magna da República.
Enfatizam os subscritores que se postam num trabalho incessante alinhado ao programa global que vêm mobilizando os organismos internacionais, liderados pela Organização das Nações Unidas, Organização dos Estados Americanos, a União Europeia, estes pontificando todos os redutos espalhados pelo planeta e que são movidos pela consciência de tratar-se de questão extremamente importante e grave, porquanto traz o significado da sobrevivência humana.
Entrementes, nos limites geográficos do Estado do Rio Grande do Sul, acumulam-se cada vez mais os atos de degradação ambiental, como consequência não só dos tentáculos de ambições e insensibilidade dos que exploram a natureza, mas, no mesmo nível o despreparo, a desídia e as manipulações políticas de autoridades que teriam a incumbência de impor o devido respeito. Em contraposição, os movimentos defensivos mencionados, carecem da necessária estrutura para conduzir os pleitos judiciais, coincidentemente neste difícil momento que vem sendo submetido o aparato judiciário no País.
Em verdade, já foi dado um grande o neste mesmo sentido, tendo em conta a compreensão do colendo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, em atenção à iniciativa de ambientalista gaúchos, num certo pioneirismo, instituiu Câmara e Varas especializadas na área ambiental que vêm operando com o desempenho desejado, considerando terem sido implantadas em tempo recente.
Portanto, Excelência, sendo a Defensoria Pública definida como essencial à jurisdição do Estado, por conseguinte da sociedade brasileira, felizmente no Rio Grande do Sul, a instituição se revela com toda a eficiência e abnegação, correspondendo à expectativa que lhe tributa a comunidade estadual, entendem os signatários ser justo e de direito, reivindicar sua proteção nas demandas que, de caráter coletivo, sejam destinadas a escudar as impostergáveis responsabilidades que cabem a todos os cidadãos.
Dispensável enunciar que nos quadros dos propugnadores da preservação ambiental, invariavelmente, todos são pessoas de modestos recursos pessoais, insuficientes para arcar com despesas judiciais, flagrantemente desproporcionais comparados com as forças detratoras desse bem natural. Ademais, a complexidade dos processos aumenta cada vez mais e isso exige um aparato de defesa bem estruturado, e respeitado como é a Defensoria Pública do Estado.
Em assim sendo, confiantes de que este pedido de apoio converge com os postulados insertos na Constituição do Brasil, na política do Estado, e no mister abraçado pela Defensoria Pública, pedem a Vossa Excelência se digne de determinar sejam procedidos estudos e providências, a fim de que esse Órgão e a contar com um departamento ou setor, em condições de recepcionar e desenvolver essas tarefas de forma ágil como tem sido apanágio da conduta dessa instituição.
Cordialmente
Porto Alegre, 03 de dezembro de 2013.
(Assinam diversas entidades e ativistas da causa ambiental)
Pioneirismo gaúcho marca movimento ambientalista brasileiro 2c5w6x
Ainda na primeira metade do século XX, com Henrique Luis Roessler, e mais recentemente com José Lutzenberger e a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), criada em abril de 1971, os ecologistas do Rio Grande do Sul deram grande contribuição à ciência que será um dos temas centrais do Fórum Social Temático de 2012, que será realizado em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo, de 24 a 29 de janeiro. Esses pioneiros lançaram as bases do ativismo ambiental no país.
Quando os participantes do Fórum Social Temático – uma das edições descentralizadas do Fórum Social Mundial, que ocorre desta forma nos anos pares – iniciarem a tradicional marcha de abertura do evento, dia 24 de janeiro, vão testemunhar um pouco do legado que o movimento ambientalista gaúcho deixou para Porto Alegre.
É que a preservação das copas das árvores que tornarão o trajeto de quatro quilômetros entre o Largo Glênio Peres e o Anfiteatro Pôr-do-sol mais ameno é fruto da luta de um grupo de pessoas engajadas na preservação da natureza, cuja atuação convicta iniciou em abril de 1971 com a criação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), capitaneada pelo engenheiro agrônomo José Lutzenberger e pelo ex-militante do Partido Comunista Brasileiro Augusto Carneiro.
“Há várias menções sobre qual foi a primeira entidade do País (…). A fundação da Agapan inaugurou a corrente ativista no Brasil”, reivindica Carneiro em seu livro A História do Ambientalismo (Editora Sagra Luzzatto).
Logo que foi criada, uma das principais bandeiras da Agapan era combater a poda anual das árvores de Porto Alegre operada pelo executivo municipal. “A prefeitura mandava os operários saírem com uma taquara, para medir a altura.
Eles podavam na altura da taquara, sem se importar com a grossura do tronco. Pensamento reducionista, né?!”, expôs outro fundador da Agapan, José Lutzenberger (falecido em 2002) em um depoimento publicado na obra Pioneiros da Ecologia (JÁ Editores).
Um dos episódios mais folclóricos que envolvem a entidade, aliás, está relacionado ao ímpeto de proteção dos vegetais urbanos. Ocorreu também em um dia de janeiro, só que no ano de 1975. Ouvindo os conselhos do ‘mestre’ Lutz, de que só havia um jeito de fazer a prefeitura desistir do corte de árvores na cidade, o estudante de engenharia Carlos Dayrell subiu em uma tipuana da Avenida João Pessoa para impedir que fosse derrubada para a construção de um viaduto.
A foto que imortalizou o momento mostra dois rapazes se segurando em galhos na copa do exemplar que fica na calçada do núcleo de prédios históricos da UFRGS. “Deu uma baita repercussão para nós. Saiu matéria no Estado de S.Paulo e nos maiores jornais de Buenos Aires. Até nosso manifesto foi publicado”, lembra Carneiro em seu depoimento no livro Pioneiros da Ecologia.
A tipuana segue no mesmo lugar, 37 anos depois, e o traçado do viaduto teve que ser alterado depois da atitude de Dayrell.
A pressão dos ecologistas fez com que, em 1976, Porto Alegre se tornasse a primeira cidade brasileira a ter uma secretaria municipal do meio ambiente. Herança dos ambientalistas também é o Código Estadual de Meio Ambiente, aprovado no ano 2000 igualmente de forma pioneira.
Em Porto Alegre 771 árvores estão declaradas imunes ao corte por decretos do executivo, sendo que a capital gaúcha possui uma média de uma árvore por habitante em vias públicas, excluindo as que estão nos parques.
Outra conquista contemporânea do movimento ambientalista gaúcho é a existência de cinco túneis verdes declarados patrimônio ecológico da cidade. São trechos de 14 ruas nas quais as copas das árvores plantadas de ambos os lados da calçada de fecham formando uma cobertura natural. E desde 2006 a cidade possui um Plano Diretor de Arborização Urbana, que determina que os eios públicos devam manter, no mínimo, 40% de área vegetada.
Agrotóxicos e Borregaard, vitórias dos ecologistas
Foi através dos discursos de José Lutzenberger no início dos anos 70 que o Brasil ficou sabendo da batalha capitaneada pela Agapan para que o país adotasse o termo agrotóxicos no lugar de defensivos agrícolas para se referir aos pesticidas colocado nas plantações para combater pragas.
“Vejam o absurdo: se eu quisesse comprar 50 gramas de material para fabricar pólvora, precisaria de uma licença do Exército. No entanto, qualquer guri podia comprar 200 litros de veneno, que se cair uma gota na perna, o sujeito está morto uma hora depois”, comparava o engenheiro agrônomo e ambientalista em suas reflexões que integram a obra Pioneiros da Ecologia.
Anos depois, o Rio Grande do Sul seria o primeiro estado da nação a criar leis que regulamentassem o uso de tais substâncias e em 1988, o tema acabaria incluído na Constituição Federal sob o artigo que comenta a proibição de envenenar rios.
Foi também a preocupação com a qualidade da água que levou a Agapan a investir contra a Borregaard – fábrica de celulose norueguesa que se instalou em Guaíba, às margens do lago que banha a cidade e a Capital do Rio Grande. Corria o ano de 1972 e a indústria, aprovada pelo governo militar recebeu incentivos fiscais e financiamento de bancos públicos, mas não incluía em seu projeto cuidados com o meio ambiente.
“O discurso desenvolvimentista da época chegava ao ponto de fazer com que ministros de Estado brasileiros, ao convidar investidores, proclamassem: “venham poluir aqui”. Os noruegueses da Borregaard levaram o convite tão ao pé da letra que não destinaram um único centavo a equipamentos antipoluição”, revela a jornalista Lilian Dreyer, biógrafa de José Lutzenberger, no artigo Borregaard: um marco na luta ambiental, publicado no site Agenda 21.
Apesar do risco que a deposição de resíduos químicos no Guaíba representava para a saúde nas cidades que abastecidas por suas águas, foi mesmo o mau cheiro que exalava da chaminé da Borregaard que causou uma mobilização sem precedentes contra a fábrica.
O assunto, levado aos jornais pelos ambientalistas da Agapan, mereceu inclusive uma Comissão Parlamentar de Inquérito (I) na Assembleia Legislativa, onde médicos apresentaram estudos sobre casos de dores de cabeça, irritação nos olhos, náuseas e vômitos relacionados à poluição provocada pela Borregaard.
Três anos depois os noruegueses desistiram do negócio cansados das exigências que teriam que cumprir para manter a atividade. O empreendimento foi nacionalizado e ou a chamar-se Riocell. Investiu no controle ambiental e contratou José Lutzenberger para ser consultor.
Depois a fábrica ou para as mãos da Klabin, Aracruz e, desde 2009, é tocada por chilenos do grupo CMPC. Mesmo depois de todas essas trocas de comando foram mantidos os programas de conservação de fauna e flora autóctones implementados por Lutz.
Lutz desafia Collor
A trajetória de José Lutzenberger à frente do movimento ambientalista tem muitas anedotas. “O ex-vendedor de produtos químicos (funcionário da Basf), que consumiu 30 anos de sua vida brigando, xingando e fazendo adeptos, se manteve irredutível até o fim. Foi rotulado de louco, retrógrado, irresponsável, visionário e gênio.” Essa é a descrição que os jornalistas Elmar Bones e Geraldo Hasse fazem de Lutz no livro Pioneiros da Ecologia – que contém uma das últimas entrevistas do militante, concedida em agosto de 2001, poucos meses antes de morrer, no ano seguinte.
Uma das mais curiosas facetas da personalidade do ambientalista se mostrou durante o período em que foi ministro do Meio Ambiente do governo Fernando Collor de Melo, entre 1990 e 1991. Lutz ficou um ano e três meses no cargo e sua demissão nunca foi esclarecida. Ele, entretanto, tem uma hipótese para justificar o rompimento do então presidente com seu assessor.
Em uma viagem à Áustria acompanhando o chefe do Executivo federal, Lutz irritou-se com um pedido de Collor ao primeiro-ministro austríaco – na época Branitski – feito “naquele inglês todo enrolado dele”. Collor dizia que o Brasil era um país pobre e que precisava da ajuda dos ricos. Em seguida ou a palavra a Lutzenberger, que narrou assim, em Pioneiros da Ecologia, o momento.
“Eu falei alemão e disse para o primeiro-ministro: ‘Olha, nós brasileiros temos um país incrivelmente rico. Vocês austríacos não podem nem imaginar como somos ricos! Vocês têm um território de 83 mil km², o nosso é de 8,5 milhões de km², isto é, mais de 100 vezes maior que o de vocês. Metade do território de vocês é de montanha gelada, dá para fazer esqui e ganhar um pouco com o turismo. Aqueles vales verdes de vocês são lindos, frutíferos, mas tem oito meses de vegetação por ano.
A maior parte do Brasil, com exceção daqueles desertozinhos lá do nordeste, tem doze meses de vegetação por ano. Nós temos um clima maravilhoso. Temos tudo quanto é recurso. Mas nós somos um país muito pobre. Incrivelmente pobre. Não se imagina como nós somos pobres em político decente”. Na saída, Collor me perguntou porque o homem riu tanto. Eu expliquei o que tinha dito, ele deu uma risadinha amarela. Três semanas depois me mandou embora”.
Roessler, ecologista antes da ecologia
Antes de José Lutzenberger, Augusto Carneiro e da Agapan, o Rio Grande do Sul despontou para o ainda incipiente cenário de defensores do meio ambiente com um homem natural de porto-alegrense e capilé de coração.
Henrique Luis Roessler nasceu em Porto Alegre em 16 de novembro de 1896, mas sua batalha ambiental teve como palco as margens do Rio dos Sinos, onde atuava como funcionário da Delegacia Estadual dos Portos e foi delegado florestal voluntário do Ministério da Agricultura.
“O cara que começou tudo isso não veio apenas antes de José Lutzenberger. Sua União Protetora da Natureza (UPN) precedeu em 16 anos a Agapan. Roessler e a UPN vieram antes de Chico Mendes e do Greenpeace. Roessler, na verdade, veio antes do ambientalismo”, define o biógrafo do homem que hoje dá nome à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ayrton Centeno nas páginas de Roessler – O primeiro ecopolítico (JÁ Editores).
A conscientização pública dos cuidados que o meio ambiente requer foi empreendida por Roessler e incluía a distribuição de cartazes e panfletos ilustrados por ele nos quais alertava para os “tarados” arinheiros, que caçavam os bichinhos e colecionavam suas cabeças em colares, por exemplo.
Mas Roessler também tinha métodos menos ortodoxos para “convencer” proprietários de animais a tratarem bem seus companheiros de jornada. Como o caso relatado por Centeno na biografia do militante, em que, em plena década de 50, Roessler surpreende um homem dando relhaços em seu cavalo. Revoltado, arranca o instrumento de maltrato das mãos do dono e lhe aplica uma surra igual a que o homem dava no cavalo.
Além da ação direta na região do Vale do Sinos, foi através de crônicas publicadas semanalmente no jornal Correio do Povo – na época o principal diário em circulação no Rio Grande do Sul – que ele tornou-se o patrono da ecologia no Rio Grande do Sul. “Ele é o fundador da ecologia política no Brasil”, atesta em depoimento a Ayrton Centeno outro pioneiro, Augusto Carneiro, sobre Roessler.
Unesco diz que Rio+20 poderá ser marco na história 3v1s5q
A diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Irina Bokova, disse hoje (18) que a Conferência Rio+20, programada para ocorrer entre 13 e 22 de junho, no Rio de Janeiro, será um marco histórico mundial.
A diretora-geral acrescentou ainda que o resultado da Rio+20 será de grande “importância” para o meio ambiente global nos próximos dez anos. As informações são da Unesco.
“Rio+20 deve ser lembrada como um marco [histórico]. É o início de uma transição global verde. Essa é a visão da Unesco que orienta nosso trabalho no desenvolvimento de ações nas áreas de educação, ciências, cultura, informação e comunicação para um futuro mais sustentável”, disse Bokova.
Segundo a diretora-geral, a conferência oferecerá ao mundo a “oportunidade única” de avançar na construção de uma agenda global para o desenvolvimento sustentável. De acordo com Irina Bokova, todos devem se esforçar na elaboração das propostas e na execução das ações – países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Pelo menos cem presidentes da República e primeiros-ministros são esperados na Rio+20, além de 50 mil credenciados. Os demais números referentes às pessoas que trabalharão no evento – direta e indiretamente – e visitantes ainda estão sendo calculados.
A Rio+20 ocorre duas décadas depois de outra conferência, a Rio 92. O objetivo agora é definir um modelo internacional para os próximos 20 anos com base na preservação do meio ambiente, mas com o foco na melhoria da condição de vida a partir da erradicação da pobreza, por meio de programas sociais, da economia verde e do desenvolvimento sustentável para uma governança mundial.
Código Florestal: cientistas pedem prazo 3x4i25
O projeto do novo Código Florestal, de autoria do deputado Aldo Rebelo, que está para ser votado na Câmara Federal, foi questionado pelas principais instituições científicas do pais.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciência querem que a votação seja adiada por dois anos para que a questão possa ser devidamente analisada e debatida.
“Se for votado agora, ele não será bom para o Brasil e os cientistas não estão calados”, disse a presidente da SBPC, Helena Nader, com base num estudo feito por 12 especialistas e divulgado na última segunda-feira, 25.
Os cientistas afirmam que a redução da mata ciliar (à beira dos rios) dos atuais 30 metros a partir da margem p ara 15 metros nos casos de rios com menos de 5 metros de largura, trará “enormes prejuízos ambientais ao país”
Entre os representantes do agronegócio, que patrocinam o projeto de Rebelo, a proposta de adiamento causa repulsa, segundo o jorna l “O Globo”.
-Não temo s condições de adiar mais esta votação . O atual código é uma espada na cabeça do produtor”, disse a senadora Katia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura.
Depois que o governo anunciou, há duas semanas, uma proposta que altera pontos importantes do projeto de Rebelo a discussão esquentou e tornou incerto o resultado da votação na Câmara, já marcado para 3 e 4 de junho.
Esta semana a Rede Globo entrou no assunto com uma série de reportagens no Jornal Nacional, visivelmente favoráveis ao projeto de Rebelo.
Como a votação do Projeto de Lei nº 1876/99 divide ambientalistas e ruralistas, as duas entidades científicas se oferecem para mediar o “diálogo”, termo escolhido no lugar de “debate”.
“A ciência brasileira não pode ficar fora do diálogo sobre o novo Código Florestal”, afirmou a presidenta da SBPC, Helena Nader.
Segundo ela, nenhum cientista ou pesquisador foi consultado para “aquela
proposta” do deputado Aldo Rebelo (PCdo B-SP). Rebelo é o autor do relatório
aprovado em julho do ano ado em comissão especial na Câmara dos Deputados.
Integrantes do grupo de trabalho da ABC e da SBPC explicam que o prazo de dois
anos é necessário para que se avaliem os possíveis efeitos que as mudanças na
legislação terão no meio ambiente.
Para o grupo, é preciso prazo também para o
desenvolvimento de tecnologia que permita analisar, por exemplo, por meio de
maquetes digitais (com topografia feita com base em imagens de satélite), as
condições do solo e medir o tamanho das áreas que devem permanecer protegidas.
“O que está sendo proposto [no relatório de Aldo Rebelo] não tem embasamento
científico”, diz o engenheiro Antônio Donato Nobre, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe). Nobre não criticou diretamente os ruralistas e
disse à Agência Brasil que “tem fundamento” a reclamação dos produtores rurais
em relação às exigências do atual Código Florestal, que é de 1965. “Existe uma
série de tópicos que carecem de melhor definição”, diz o cientista,
ressaltando, porém, não acreditar que as exigências do atual código
inviabilizem a atividade rural.
Para o advogado do Instituto Socioambiental (ISA), Raul Telles do Valle, o
Congresso Nacional deveria acatar o pedido da SBPC e da ABC. “Não é razoável
fazer uma votação e jogar isso aí [o estudo] no lixo. A ciência é parte”,
reconheceu.
Os cientistas programaram entregar o estudo ao presidente da Câmara
dos Deputados e ao próprio deputado Aldo Rebelo. Além desses, irão receber o
texto, ao longo da semana, os ministros do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; da
Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, da Educação, Fernando Haddad; e da
Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho.
O documento será levado nesta quarta quarta-feira (27) à Casa Civil da Presidência da
República.
O texto está disponível no site da SBPC (www.sbpcnet.br) e da ABC
(Com Agência Brasil
Código Florestal: o governo entra em campo 2g302n
Elmar Bones
A conferência da ministra do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, na Assembleia Legislativa aponta novo rumo para o debate em torno do novo Código Florestal, cujo projeto está para ser votado no Congresso.
A ministra, aliás, desautorizou o adjetivo “novo” ao dizer que não se vai fazer terra arrasada das conquistas na legislação ambiental. Haverá, se depender do governo, uma “atualização” do código atual.
Ficou claro: esse será o primeiro grande embate de 2011 e do governo Dilma. As divergências do governo com o projeto apoiado pelo agronegócio não são pequenas.
A conferência da ministra deu uma idéia do que será a polêmica.
O auditório Dante Barone tinha gente sentada nas escadas e em pé pelas paredes, evidenciando o grande interesse que o tema desperta (era uma terça-feira, e o debate se estendeu das 9h30 às 12h30).
O presidente Adão Villaverde teve que intervir para conter as vaias e os gritos quando a secretária do meio ambiente, Jussara Cony, do PCdoB, começou a falar. “O PCdoB é capitalista”, gritavam da platéia.
Pela primeira vez a ministra expôs publicamente a proposta do governo para a reforma do Código Florestal. Ela resulta do trabalho de uma comissão interministerial que há três meses debruçou-se sobre o assunto.
Quando ela encerrou sua fala, houve aplausos e vaias. Na platéia, representantes do MST e da Farsul, proprietários e ambientalistas.
A proposta do governo é um dado novíssimo na discussão que até agora girou em torno do projeto do deputado Aldo Rabello, do PCdoB, com apoio integral das representações do agronegócio (Daí as vaias à Jussara Cony)
Um deputado comunista com um projeto do agrado dos grandes proprietários, causou perplexidade. Mas houve um momento em que ninguém duvidava que seria aprovado.
Segundo a ministra, o governo não vai apresentar um projeto. Quer negociar sua proposta com todos os setores interessados em busca de um consenso.
O governo não quer um código punitivo. Mas já avisa: “Não vai haver anistia para quem cometeu crime ambiental”
Na mesma hora em que a ministra falava em Porto Alegre, o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP) reunia-se no Palácio do Planalto para conhecer a proposta do governo. A votação do novo código na Câmara está prevista para junho.
Terça Ecológica debate o Código Florestal 2b84l
A primeira Terça Ecológica de 2011 é neste 5 de abril, das 19h às 21h. A série de debates promovidos pelo NEJ/RS (Núcleo dos Ecojornalistas) estréia com as mudanças propostas para o Código Florestal.
O engenheiro florestal Luiz Ernesto Grillo Elesbão e o biólogo Paulo Brack levantarão as questões polêmicas das alterações no Código Florestal.
Luiz Elesbão é coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Florestal do CREA-
RS, mestre em Manejo Florestal, doutorando em Engenharia Florestal, e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Paulo Brack é mestre em Botânica, doutor em Ecologia e Recursos Naturais e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A Terça Ecológica acontece sempre na primeira terça-feira de cada mês, com o objetivo de aprofundar a discussão sobre questões ambientais.
Em 2011, o NEJ/RS buscará organizar os eventos em parceria com outras entidades, a fim de diversificar e ampliar o público interessado. Todos os debates terão entrada franca.
Este primeiro, sobre o Código Florestal, será na sede do CREA-RS (Rua Guilherme Alves, 1010 – 5º andar). A Terça Ecológica de junho será em parceria com o Jornal JÁ, sobre a nova lei dos resíduos sólidos e suas repercussões.
BELO MONTE/TUCURUÍ: HOJE COMO ONTEM 4q6a5q
(Lucio Flavio Pinto)
Em 1975 a hidrelétrica de Tucuruí começou a ser construída no rio Tocantins, no Pará, 350 quilômetros a sudoeste de Belém. Viria a ser a terceira maior usina do mundo.
A Construtora Camargo Corrêa foi escolhida para instalar o primeiro canteiro de obras.
Uma vez instalada no local, ganhou a concorrênciaprincipal. E lá permanece até hoje, sempre faturando, ados 36 anos.
O orçamento inicial de Tucuruí era de US$ 2,1 bilhões. Quando chegou em US$ 7,5 bilhões, dez anos depois, a rubrica específica desapareceu. Foi remetida das contas da Eletronorte, subsidiária da região norte, para a contabilidade da sua enorme controladora, a Eletrobrás.
O preço final pode ter chegado a uns US$ 15 bilhões, sete vezes mais do que a previsão na largada da obra. Mas pode ter ido além, ninguém mais sabe ao certo.
O que a Camargo Corrêa ganhou entre 1975 e 1984, quando a usina começou a funcionar, permitiu ao seu proprietário, Sebastião Camargo, se tornar o primeiro bilionário brasileiro na listagem dos mais ricos do mundo.
Sua fortuna pessoal dobrou no período: de US$ 500 milhões para US$ 1 bilhão.
Correspondeu ao lucro líquido acumulado nesse decênio, à boa média de US$ 50 milhões a mais por ano. Sem atualização monetária.
Ninguém protestou quando o canteiro secundário virou principal. Nem quando o contrato original foi seguidamente aditado.
Ou quando dele derivaram outros contratos, na usina ou em uma de suas principais dependências, o sistema de transposição da enorme barragem de concreto, com mais de 70 metros de altura (correspondente a um prédio de 17 andares), que custou R$ 1,6 bilhão, o maior do país.
Nem quando o Tocantins, o 25º maior rio do mundo, com 2.200 quilômetros de extensão, cuja bacia drena 10% do território nacional, começou a ser aterrado para que do seu leito fosse erguida a represa, a obra pública que mais concreto absorveu no Brasil até então.
Com o fechamento do rio, a água subiu e inundou uma área de três mil quilômetros quadrados, afogando milhões de metros cúbicos da floresta que havia em seu interior.
A legislação ambiental brasileira só começaria a nascer seis anos depois. Mas a Eletronorte sabia que Tucuruí causaria profundos danos à natureza, acima e abaixo da represa, por pelo menos 200 quilômetros a montante.
Tratou de fazer um levantamento ecológico das consequências da hidrelétrica.
A tarefa foi realizada por uma única pessoa, em 1977, o americano Robert
Goodland. Ele era o autor, com seu compatriota Howard Irvin, de um estudo
extremamente crítico sobre a ocupação da Amazônia durante o regime militar.
O título do livro, embora equivocado, dizia tudo sobre o seu conteúdo: “Amazônia: do inferno verde ao deserto vermelho”.
Da tradução para o português foi expurgado todo um capítulo, sobre a matança de índios pelos projetos de “desenvolvimento”, embora a editora da publicação tivesse o selo da honorável Universidade de São Paulo, a USP.
O levantamento que Goodland fez sobre o impacto ambiental da hidrelétrica de Tucuruí podia ser considerado apenas como um exaustivo roteiro para uma pesquisa muito mais ampla, complexa e detalhada – que nunca foi executada.
Problemas que eram visíveis mesmo a olho nu só foram considerados pelos “barrageiros” quando se materializaram. Efeitos danosos que podiam ser evitados ou prevenidos foram deixados à própria sorte.
De Tucuruí, no Tocantins, para Belo Monte, no Xingu, caminhando para oeste do Brasil, como sempre, na sina (e sanha) dos sempre bandeirantes, muita coisa mudou – mas, talvez, não o substancial.
Ontem, um grupo de manifestantes levou a Brasília um abaixo-assinado de 500 mil nomes contra a construção da usina, que ocupará justamente o lugar até agora de Tucuruí no ranking das maiores hidrelétricas do mundo.
A caudalosa adesão de subscritores do manifesto dificilmente sensibilizará aqueles que, 20 anos depois de começarem a tratar da hidrelétrica, não têm mais dúvida alguma de que ela precisa ser construída. De qualquer maneira.
A correlação de forças não é a mesma de 1975. Por trás do selo de autorização não há uma ditadura, como então. Mas o Estado (no caso, personificado na União Federal) pode muito. Talvez ainda mais do que a sociedade.
A norma processual do licenciamento ambiental foi violada para dar agem a uma figura que o código ecológico desconhece: a “licença de instalação parcial”.
O que ela é senão a versão atualizada ao mundo jurídico da figura concreta do canteiro secundário de Tucuruí em 1975? A obra pode não começar (ou jamais vir a ser legalizada), mas seu canteiro já estará pronto.
Os R$ 19,5 bilhões de financiamento de longo prazo do BNDES (num orçamento global de R$ 24,7 bilhões, ainda inconsolidado) podem não sair, mas até o final do próximo mês um bilhão de reais do “empréstimo ponte” já terá sido aplicado para executar a licença parcial.
E o fato estará consumado, assim como consumatum sunt Santo Antônio e Jirau, bem mais a oeste (já quase no fim da rota dos bandeirantes em torrão pátrio), no Estado de Rondônia e no rio Madeira, o mais caudaloso afluente do oceânico rio Amazonas.
As três mega-hidrelétricas previstas para a Amazônia (sem contar outras cinco ainda em conjecturas para o vale do Tapajós/Teles Pires) representam capacidade instalada de 17,4 mil megawatts (20% a mais do que Itaipu), ainda que apenas metade desse potencial constitua energia firme (disponível ao longo do ano), ao custo de R$ 43 bilhões.
Esses números soam como poesia, para quem dispõe do poder decisório, por vários ângulos e perspectivas, enquanto as críticas e reações a esses projetos lhes chegam aos ouvidos como cacofonia irrealista, absurda.
O Brasil não é o mesmo de 1975. Mas para esses cidadãos é como se fosse. Ao menos quando se trata da Amazônia. Para eles, a história se escreve com bulldozers.