Consulta popular domina discussões na ARI 3b69q

A consulta popular sobre o Pontal do Estaleiro foi o tema dominante do programa “Conversa de Jornalista” deste sábado, transmitido da sede da Associação Riograndense de Imprensa, para a Rádio da Universidade. Leia os principais trechos da discussão: Ercy Thorma (presidente da ARI) – A importância de que a pessoa vote bem é essa: a consulta é só sobre a área do Estaleiro Só, mas certamente o que for decidido para aquela área será depois questionado para toda a orla do Guaíba. Por isso é importante o porto-alegrense se posicionar: para, nas próximas ações, não chegarmos a esse ponto – do sim ou não. O cidadão deveria ter sido consultado bem antes da fase de elaboração de projetos. Era o que deveria ter acontecido lá atrás, quando foi elaborada a lei permitindo a construção de edifícios comerciais ali. Era quando a discussão deveria ter sido mais ampla. Glei Soares (apresentador)- A consulta é válida como experiência. Ercy – É claro, pode ser um exemplo para o Brasil. Mas estamos numa encruzilhada, não aborda mais nada. (…) Glei – Eu sou contra porque não sei exatamente o que vou votar. E sou jornalista. Imagine quem mora lá no Sarandi, Alvorada, se vai poder decidir. É só a área do Estaleiro Só. Elmar Bones (diretor do Jornal JÁ) – O Jornal JÁ está lançou uma edição especial sobre o Pontal justamente por isso: não se sabe claramente o que se está votando. A maneira como a pergunta foi formulada é ambígua, inclusive facciosa, porque já induz a uma conclusão, e distorce um pouco a questão. Glei – Aquela história: quer o progresso ou não quer o progresso? Elmar – Concordo com o Ercy, a consulta é uma iniciativa importante e mostrou que a população está disposta a discutir e se envolver. A discussão é total na cidade sobre o Pontal. É um mérito. Mas a verdade é que não temos clareza sobre o que estamos votando. Em primeiro lugar: mobilizamos a cidade inteira para discutir sobre um terreno, sobre um empreendimento privado, etc. Trata-se de um processo que já dura ano e meio, a Câmara de Vereadores já votou duas vezes, já teve veto do prefeito e, ao mesmo tempo, a discussão do Plano Diretor, que inclui toda a Orla do Guaíba, está trancada há seis anos. Ercy – Devo lembrar que a autorização para construção de prédios comerciais foi autorizada no governo Tarso Genro. Esta discussão deveria ter sido travada lá atrás. Elmar – Esta edição extra do Jornal JÁ mostra minuciosamente como foi a aprovação da Lei 470 na gestão Genro. Porém, esta lei de agora não é a mesma. Esta lei foi construída com diretrizes que prevêem até 43 metros de altura dos prédios, 14 andares. A lei 470 (que está em vigor, porque a nova depende desta consulta popular), permite 12,5 metros, 4 andares. Isto foi excluído do que se pergunta à população. Por isso digo que a pergunta não foi bem formulada. O fato deste projeto do Estaleiro ser polêmico chamou as pessoas à discussão, que não vai parar aí, e acho que a cidade vai sair ganhando com ela. Ercy – É extraordinariamente importante, e é importante o quanto isso abriu espaço na imprensa, que não tocava no assunto. A consulta fez a imprensa abir espaço. A comissão eleitoral, que integrei, foi visitar os veículos de comunicação, com a única restrição à matéria paga, que mostra o poder econômico, mas felizmente todos os veículos abriram espaço nobre à discussão. E estão oferecendo informações à sociedade que ela desconhecia. Elmar – Fizemos um retrospecto desde que faliu o Estaleiro Só. Sem a perspectiva histórica, não se consegue entender o problema. Ercy -Um parênteses, que a imprensa hoje esquece: nenhum fato, por mais significante que seja, é isolado. Elmar – Nossa edição faz este retrospecto, até esta discussão final. É uma edição para ser vendida – nas bancas, nas ruas –e isso tem um sentido didático: o leitor tem que se conscientizar que precisa pagar se quiser informação de qualidade. Se ele não se disp a isso, não terá a informação de que precisa, terá a informação que querem dar a ele. A base de sustentação dos grandes veículos não é a venda avulsa, é a publicidade. Esta nossa edição foi feita graças ao trabalho de vários jornalistas voluntários, que insistiram conosco em fazer este trabalho. Tirar uma edição extra neste momento foi complicado pra nós, mas fazemos um esforço para trazer um acréscimo de informações sobre este processo, que vai continuar. Glei- Onde está sendo distribuído? Elmar – Em bancas, nos parques haverá gente vendendo, em pontos de grande movimentação da cidade, no calçadão de Ipanema. É um teste para todos. Estamos aprendendo a viver numa sociedade que se democratiza aceleradamente e precisa de informações. E às vezes a informação não existe não é nem por má vontade, é porque a informação custa. A captação, a elaboração dela custa, é preciso investimento, e o leitor muitas vezes não se dispõe a pagar por ela, acha que está disponível de graça. Não é bem assim. Falta uma mudança de mentalidade. Enio Rockenbach (radialista e diretor da ARI) – Só pra não perder a oportunidade: só o Estaleiro está Só, os interesses estão bem em conjunto… m15v

Há dois séculos fracassam projetos na Ponta do Melo 492d4q

Os percalços que o projeto Pontal do Estaleiro vem enfrentando desde sua aprovação estão reabilitando, entre os moradores mais antigos da região, a lenda da “maldição do Pontal”
A crendice tem base nos fatos: há 200 anos fracassam projetos privados para a área, uma das mais bonitas da Orla do Guaíba, a cinco quilômetros do centro de Porto Alegre.
Desde 1888, quando Francisco Luiz de Melo requereu a posse do local, várias tentativas foram feitas. O próprio Melo teria desistido do terreno, que retornou à propriedade do Estado do Rio Grande do Sul e depois foi transferido à prefeitura, que o concedeu ao Estaleiro Só.
O estaleiro tornou-se uma grande empresa, mas teve um fim melancólico. Antes de falir, a família Só ainda tentou realizar ali um empreendimento imobiliário. Chegou a ter um projeto pronto, mas não obteve licença.
Depois o terreno ou por cinco leilões. Foi comprado uma vez, o comprador fez um projeto, mas inexplicavelmente desistiu. Nisso, já fazem quinze anos que o estaleiro faliu e a área continua a abandonada,
Agora, o “Pontal do Estaleiro”, duas vezes aprovado pela Câmara, não está livre de se inviabilizar, dada a sucessão de erros e mal entendidos que cercam o projeto e a resistência crescente do movimento comunitário.
Extraído da Edição Especial do jornal JÁ

Em quê mesmo que a gente vai votar? 704l4y

A discussão sobre o “Pontal do Estaleiro” se tornou esquisofrênica.
Por quê?
Pra começar, não existe um projeto para o terreno que pertenceu ao falido Estaleiro Só, a conhecida Ponta do Melo.
O que se conhece é uma maquete e um material de divulgação, ilustrativo, no máximo um pré-projeto. Os dados apresentados dão idéia da grandiosidade do empreendimento, mas são estimativas. O próprio autor do projeto disse que são “números aproximativos”.
Não existe tampouco um compromisso formal do empreendedor de realizar o empreendimento.
Tanto que, depois de aprovada mudança da lei para viabilizar o projeto, ele deu uma declaração pública de que não pretende mais construir prédios de apartamentos (o “projeto” original previa 216 apartamentos de luxo).
Com essa declaração, negou o argumento que deu origem à toda a mobilização para mudar a lei: de que sem prédios residenciais o empreendimento era inviável.
Assim como ele desistiu dos prédios de apartamentos, sem explicações, pode desistir também do resto do projeto. E ninguém poderá dizer nada. A iniciativa privada não deve explicações, sua lógica é a dos negócios..
Já o prefeito, o vice e os vereadores, de repente, terão que explicar porque estão nos levando a votar em algo que não está claro para ninguém, nem pra eles, talvez.
Eu vou dizer NÃO a tudo isso. (Elmar Bones).
Extraído da Edição Especial do Jornal JÁ.

Projeto contradiz diretrizes para a Orla 41f31

O projeto “Pontal do Estaleiro”, como foi apresentado originalmente não se enquadra nas diretrizes traçadas para a Orla do Guaíba pelos próprios técnicos da prefeitura.
O “Relatório Orla: condições atuais, possibilidades e instrumentos para a qualificação e resgate da Orla de Porto Alegre”, feito por Grupo de Trabalho, na Secretaria do Planejamento, em 2006, embora usado na justificativa do projeto que mudou a lei não prevê urbanização intensiva em nenhum ponto da orla.
Ele classifica a Orla como “área de revitalização” e diz:
“ A Orla do Guaiba deverá ser objeto de planos e projetos específicos com o fim de integrar a cidade com seu lago através da valorização da paisagem e visuais urbanos, exploração do potencial turístico e de lazer e o livre o da população”.
A Orla, segundo o relatório, é uma zona de “articulação entre o território e as águas”.
São 70 quilômetros, da Ponta do Gasômetro à Praia do Lami, mas as soluções são mais urgentes nos cinco quilômetros da Usina do Gasômetro até o Iate Clube Guaíba, na Ponta do Dionísio.
Comentários dos autores do relatório:
“O parque Maurício Sirotsky nunca contou com um projeto paisagístico. No Marinha do Brasil as propostas nunca foram executadas”.
“Uma sucessão de intervenções pontuais tanto de iniciativa pública quanto privada na orla do aterro da Praia de Belas”.
“Longo período de abandono e ausência de destinação específica permitiram que a orla asse a ser encarada como a parte privada de um loteamento onde cada setor do poder público que resolve ali investir, trata o pedaço que lhe interessa como um lote particular sem preocupações com o todo”.
“Na década de 1980, a construção de uma sede recreativa do Inter privatizou uma generosa extensão da orla do aterro”.
“Ações da década de 90: reciclagem da usina e a construção do anfiteatro Porto Sol”
Conclusão:
“Nada foi feito, o que facilita as coisas”.
Intervenções necessárias:
• Sistema de o, percursos e espaços para lazer contemplativo composto de: estacionamentos, eios convencionais, eios palafitados, Piers, agens de nível, helipontos
• Sistema integrado de usos e atividades
• Tratamento paisagístico unificado
• Instalações e equipamentos e animação pública (empreendimentos conforme conceituações básicas)
Setor 5: cais da Usina
Setor 6: área desportiva
Setor 7: aeródromo aquático e bulevar Estaleiro Só
Setor 8: complexo municipal de lazer e desportes aquáticos.
Plano básico de intervenções:
*vegetação, supressão, novas espécies
*percursos internos, eio convencional, pista de cooper, ciclovia
*espaço lúdicos e contemplativos
-belvedere
-bulevar
-esplanada
-estacionamento interno
-anfiteatro, recanto, pracinha
*mobiliário urbano
-equipamento para ambulantes
-banco
-telefone publico
-cercas, monumentos de pequeno porte, brinquedos, aparelhos de ginástica. (Fonte: Relatório GT Orla, 2006)
Extraído da edição especial do Jornal JÁ

Ainda não está claro o que a Consulta Popular vai decidir 3d208

À medida que se aproxima o dia da Consulta Popular sobre o projeto Pontal do Estaleiro, marcada para o próximo dia 23 de agosto, mais difícil fica um entendimento sobre o que realmente será decidido pelos eleitores que comparecerem às 330 urnas distribuidas em 89 pontos de votação pela cidade.
Aparentemente, a questão é simples.
Há uma pergunta, formulada pela Prefeitura: “Além da atividade comercial já autorizada pela Lei Complementar nº 470, de 02 de janeiro de 2002, deve também ser permitidas edificações destinadas à atividade residencial na área da Orla do Guaíba onde se localiza o antigo Estaleiro Só?”.
A resposta do eleitor só poderá ser “sim” ou “não”.
Se a maioria optar pelo “sim”, fica valendo a lei complementar aprovada em junho ado, que permite a construção de prédios residenciais no terreno que pertenceu ao antigo Estaleiro Só.
Se a maioria disser “não”? Reabilita-se a lei complementar de 2002 que já permitia a construção de prédios comerciais na área.
Essa, pelo menos, é a interpretação do vice-prefeito José Fortunatti, que coordena a organização da consulta, e de legisladores experientes, como o vereador João Dib.
Essa interpretação pressupõe que a única diferença entre as duas leis – a de 2002 e a deste ano, que tanta celeuma provocou – é somente a questão do uso, comercial e residencial ou só comercial.
E a questão da altura e de outros aspectos da ocupação do terreno? Esses pontos estiveram no centro de toda a polêmica que a cidade assistiu durante mais de um ano. Agora não aparecem.
“Isso será discutido depois, quando for apresentado o projeto para o Estudo de Viabilidade Urbana”, diz o vice-prefeito.
Fortunatti não considera relevante que as diretrizes definidas pelas áreas técnicas do planejamento da Prefeitura são diferentes em cada caso: na lei de 2002, por exemplo, o parâmetro para altura dos prédios é de 12,5 metros.
Agora, as diretrizes definidas pela Cauge, a pedido do empreendedor, definem até 43 metros de altura. O número chegou a constar do texto original do projeto, quando ele foi apresentado ao legislativo.
O arquiteto Artur Nadruz, coordenador do Movimento em Defesa da Orla, que mobiliza mais de 20 entidades comunitárias e ambientalistas, acha que a questão das alturas “será uma outra longa briga, mais adiante”.
Essa posição, de votar “não” aos prédios residenciais e deixar o resto da briga para depois, foi aprovada por maioria em assembléia do movimento.
Essa posição ganhou adesões importantes, como os escritores Luiz Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar, Cíntia Moscovich e a artista plástica Zorávia Bettiol, que fizeram manifestações públicas em defesa da Orla.
Mas provocou dissidências: um grupo liderado pela jornalista Tânia Faillace e o advogado Caio Lustosa está pregando o boicote à consulta, denunciando-a como uma farsa, para dar chancela popular a um projeto que servirá de modelo para ocupação da Orla, com espigões.
Enquanto isso, o pessoal do “Sim” trabalha em silêncio.
TEXTO QUE ORIENTA VOTAÇÃO TEM INFORMAÇÃO ERRADA
O texto que está site da Prefeitura, para orientar os eleitores sobre o que será votado dá a entender que a área foi leiloada antes da lei complementar de 2002.
A área foi leiloada em 2005 e uma das razões de toda a polêmica é que a mudança para aumentar os índices construtivos no local foi proposta depois de o terreno ter sido arrematado por R$ 7,5 milhões. Leia o texto da Prefeitura:
“O que está em votação
Em 1995, o Estaleiro Só, que funcionava na avenida Padre Cacique (bairro Cristal), encerrou suas atividades.
Após diversos leilões, realizados na tentativa de solucionar questões trabalhistas, a área onde ficava a empresa foi arrematada por empreendedores.
Em 2002, foi aprovada a Lei Complementar nº 470, que definiu os padrões de construção permitidos no local, autorizando a construção de empreendimentos apenas comerciais.
Em 2007, empreendedores manifestaram o interesse de construir no local um projeto misto, incorporando também unidades residenciais.
Análise do Executivo e do Legislativo decidiu que caberá à população, por meio do voto direto, a definição do uso da área.
Assim, no dia 23 de agosto, todo eleitor da Capital cadastrado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), com situação regularizada até 24 de junho de 2009, poderá participar da votação.
A pergunta que será respondida:
“Além da atividade comercial já autorizada pela Lei Complementar nº 470, de 02 de janeiro de 2002, deve também ser permitidas edificações destinadas à atividade residencial na área da Orla do Guaíba onde se localiza o antigo Estaleiro Só?”
As respostas disponíveis:
1 – ( ) NÃO
2 – ( ) SIM
A votação
Os eleitores votarão em urnas eletrônicas, no dia 23 de agosto de 2009, das 9h às 17h. Serão 89 locais de votação”.

HPS começa a semana com protesto dos funcionários 4d544z

Funcionários do Hospital de Pronto Socorro aram o domingo distribuindo panfletos no Parque da Redenção e arredores convocando a população para um ato público nesta segunda feira. Dizem que o HPS, único hospital de emergências da cidade, “está esquecido pela prefeitura”. “Há muito não se investe em equipamentos, infra-estrutura e recursos humanos”. Às onze da manhã eles promovem um “abraço símbolico” ao prédio na avenida Osvaldo Aranha.
Leia o que dizia um dos panfletos distribuidos:
“HPS PEDE SOCORRO!”
“Os trabalhadores do HPS vêm buscar apoio da comunidade usuários diretos ou indiretos do Hospital de Pronto Socorro”.
“Esse símbolo de Porto alegre está esquecido. Há muito não se investe em equipamentos, infraestrutura a recursos humanos e quem acaba prejudicado é o usuário e os próprios trabalhadores que não podem dar um atendimento mais adequado e de melhor qualidade”.
“Além das condições subumanas a que estão submetidos usuários e população, a Prefeitura de Porto alegre está retirando a insalubridade daqueles que estão cuidando de você: istrativos, nutrição, limpeza, manutenção, lavanderia e serviço social”.
“Junte-se a nós, e vamos juntos defender o HPS, pois ele é de todos.
Por melhores condições de trabalho, por investimentos em equipamentos, reformas e RH, e pela manutenção da insalubridade”.
“Vamos juntos abraçar o HPS, segunda-feira , 29/06009, às 11 horas da manhã”.

PONTAL DO ESTALEIRO (7) Consulta Popular divide movimento comunitário 59541x

A consulta popular, embutida na lei aprovada pela Câmara, para viabilizar o projeto “Pontal do Estaleiro”, ainda está indefinida. Não tem data, nem se sabe o que vai ser perguntado. Mas já divide o movimento comunitário de defesa da Orla do Guaíba.
Desde as primeiras reuniões, depois que Fogaça sancionou a “lei do Pontal”, ficou clara a divisão entre os grupos de moradores que se mobilizaram para debater o projeto.
Uns querem o boicote à consulta popular, na forma como foi aprovada pela Câmara.
Outros querem votar pelo “Não”, embora ainda não se saiba o que exatamente vai ser perguntado na Consulta Popular, em agosto.
A intenção do prefeito, expressa no texto que ele enviou à Câmara, era submeter todo o projeto ao referendo popular. Mas no dia da votação, uma emenda do líder do governo municipal, transformou o referendo em “consulta pública”, restrita aos prédios residenciais. Pode ou não pode construir prédio residencial naquela área, é a pergunta que ficou implícita?
Dias depois da aprovação da lei, o empreendedor remeteu uma carta ao prefeito comunicando sua decisão de desistir de incluir prédios residenciais no projeto. Deixou sem sentido a pergunta que consulta vai fazer.
Para os que defendem o boicote e denunciam a votação como “farsa”, a emenda sobre a consulta popular deslocou o foco da discussão que é: “Permitir ou não espigões na Orla?”. Do jeito que ficou, votar “Não” na consulta significará aprovar a construção de prédios comerciais, sem questionar a sua altura e sem discutir as diretrizes já aprovadas pela Cauge que permitem 43 metros (14 andares) de altura no terreno do Pontal.
Os que são a favor da participação acreditam que o “Não” significará um retorno as regras de lei anterior, a 470, de 2002, que permitia até 12,5 metros de altura (quatro andares).
A radicalização das posições nas últimas reuniões levou ao desânimo e a manifestações de desistência. O arquiteto Nestor Nadruz, coordenador do Fórum de Entidades, acredita que a crise é “momentânea, ageira”. “Estamos diante de uma armação, o desânimo é normal, eu mesmo já pensei em desistir, mas é o futuro de toda a Orla que está em jogo. Temos que lutar”.

PONTAL DO ESTALEIRO (6) Emenda de Nagelstein esvaziou Consulta Popular 4g2m4y

Foi uma emenda do vereador Valter Nagelstein, líder do governo na Câmara, que reduziu o alcance da consulta popular proposta por Fogaça no projeto de lei que remeteu à Câmara, para viabilizar o “Pontal do Estaleiro”.
O projeto do prefeito em seu artigo 4º. dizia: “A eficácia dos dispositivos desta Lei fica condicionada à sua aprovação por maioria simples, em referendo a ser convocado pelo Poder Público e homologado pela Justiça Eleitoral (…)”.
Ou seja, toda a lei estaria submetida à aprovação popular.
A emenda de Nagelstein, a sétima e última a ser aprovada no dia da votação, 16 de março, alterou a redação do artigo 4º, mudando o “ referendo” para “consulta pública” e restringindo o seu alcance.
Pelo texto da emenda, em vez de abranger “todos os dispositivos da lei”, a consulta se limita “às disposições do artigo 2º ”, aquele que permite a construção de prédios residenciais no terreno.
Ou seja, a consulta vai se refeir apenas a permissão ou não para prédios residenciais, deixado os demais artigos da lei automaticamente aprovados.
Conjugada com uma manobra posterior do empreendedor, que publicamente declarou que não pretende mais incluir prédios de apartamento no projeto, a emenda de Nagelstein tornou inócua a consulta pública e deixou os moradores numa armadilha: se votarem “sim” estarão validando todo o projeto. Se votarem “não” estarão recusando apenas a construção de moradias, coisa que o investidor disse não pretender mais.
A emenda de Nagelstein inclusive contrariou a intenção do prefeito, conforme ela foi expressa tanto na exposição de motivos do projeto quanto na justificativa ao veto do primeiro projeto aprovado pela Câmara, no ano ado.
Em ambos os textos, o Fogaça deixa clara sua intenção submeter à consulta o projeto no seu todo, para que sua ”validade e eficácia restem condicionadas à ratificação popular”.
Compare os dois textos:
Texto da proposta original de Fogaça:
Art. 4º. A eficácia dos dispositivos desta Lei fica condicionada à sua aprovação por maioria simples, em referendo a ser convocado pelo Poder Público e homologado pela Justiça Eleitoral, na forma do art. 14, inc. II da Constituição Federal e do art. 97. inc II, e art. 99 da Lei Orgânica do Município.
Texto da emenda de Nagelstein:
Art. 4º. As disposições do art. 2º. desta Lei Complementar arão a ter eficácia após referendadas por maioria simples, em consulta pública dos eleitores inscritos em qualquer Zona Eleitoral da capital.
PONTAL DO ESTALEIRO (1) – Uma lei sob medida
PONTAL DO ESTALEIRO (2) – Na origem, uma área pública
PONTAL DO ESTALEIRO (3) – Em nome dos trabalhadores, muda-se a lei
PONTAL DO ESTALEIRO (4) – Primeiro comprador do terreno desistiu
PONTAL DO ESTALEIRO (5) – Gigante da construção está por trás

PONTAL DO ESTALEIRO (5) – Gigante da construção está por trás 335g1d

Por Elmar Bones
Gigante da construção está por trás
Foram vários leilões sem sucesso. O terreno estava avaliado em R$ 12 milhões, mas por estar numa área com limitação para a construção de prédios, não atraia interessados.
Em 2006, no quinto leilão, foi arrematado pela SVB–Participações e Empreendimentos Ltda, com sede na av. Nilo Peçanha, em Porto Alegre.

A empresa pagou R$ 7,2 milhões pela área, dando 20% do valor de entrada e o restante em 15 parcelas mensais. Em seguida, transferiu-a para a BM Par Empreendimentos Ltda, cujo representante disse à imprensa que não tinha negócios no setor de construção. Cogitou-se até que seria uma subsidiária do grupo Maggi, do bilionário governador de Goiás, Blairo Maggi.
O terreno está registrado no Cartório de Imóveis como propriedade da BM Par, mas com hipoteca à Expand Investimentos Imobiliários, com sede no Rio de Janeiro. A Expand é uma subsidiária da Cyrela Brazil Realty S.A. que, por sua vez, tem uma t venture com a empresa gaúcha Goldsztein, a Cyrela Goldsztein.
Em nota à jornalista Glorinha Glock, a assessoria da Goldsztein Cyrela confirmou sua participação no negócio: “A Goldsztein Cyrela, t venture da Cyrela Brazil Realty, investirá no projeto desde que ele esteja de acordo com a lei municipal, seja viável e aprovado em todas as esferas pertinentes”.
O projeto, na verdade um pré-estudo do arquiteto Jorge Debiagi, prevê implantar um conjunto arquitetônico com seis edifícios de 14 andares (quatro residenciais e dois comerciais), além de áreas de lazer, parque público, eios, píer e uma marina pública.
Prevê um investimento de R$ 165 milhões, que pode alavancar negócios da ordem de R$ 2 bilhões.
Negócio vai a R$ 1 bilhão, diz IAB
Em agosto de 2008, quando esquentava a discussão sobre o “Pontal do Estaleiro”, o Instituto de Arquitetos do Brasil/RS por decisão de seu Conselho Estadual, divulgou uma “Manifestação aos Vereadores” para “expor sua contrariedade com a forma pela qual o assunto está sendo tratado”.
O Instituto, que representa arquitetos e urbanistas no Rio Grande do Sul alertou para “erros no encaminhamento da matéria” e para os possíveis “prejuízos ao desenvolvimento urbano da cidade, decorrentes de uma alteração de regulamentação urbana que não deriva de uma proposição integrada de valorização de seu potencial turístico e urbanístico”.
“Flagrantemente, a alteração do projeto foi apresentado a partir do interesse dos proprietários da área, sem que os benefícios para a comunidade e para a municipalidade seja devidamente explicitados”, diz a nota.
Segundo o IAB a mudança pretendida iria “ permitir um uso muito mais intenso da área, não previsto no Plano Diretor de Porto Alegre, à revelia de um estudo mais criterioso do Executivo Municipal e de uma ampla discussão pública sobre a densificação da área”.
Além dos aspectos legais, o Instituto lembra o “aspecto moral da apreciação de uma matéria com o impacto imenso(…) de maneira apressada (…) confundindo o interesse público com um negócio privado”.
Diz ainda a nota que a área “foi leiloada a baixo preço porque o seu valor era limitado ao dos usos compatíveis com o desenvolvimento projetado no PDDUA. A proposta de alteração somente surge após um projeto de ocupação patrocinado pelos proprietários, sem compatibilidade com as possibilidades da infra-estrutura de transito da região e em prejuízo da paisagem e do potencial turístico de Porto Alegre”.
“O espetacular aumento do potencial construtivo permite estimar o futuro valor total do negócio em quase um bilhão de reais, o que reduz o preço do terreno, que normalmente é um dos mais significativos itens em qualquer operação imobiliária, a uma insignificância”.
“O IAB-RS questiona qual o ganho do Município de Porto Alegre quando o seu legislativo presenteia em plena época eleitoral a um grupo privado com a alteração de valor tão significativa de um imóvel adquirido recentemente num singular processo de venda”.
“A Orla do Lago Guaíba é o maior patrimônio paisagístico natural e cultural da Cidade de Porto Alegre, e sua ocupação deve ser criteriosa em respeito ao direito das futuras gerações a desfrutarem de um desenvolvimento ambientalmente coerente e com qualidade. O processo ora examinado não garante isto. Ao contrário, a alta densidade proposta é ameaçadora se considerarmos outros investimentos previstos nas adjacências que poderão gerar impactos consideráveis e prejudicar o desenvolvimento da Zona Sul de Porto Alegre”.
“Concluímos lembrando aos nobres Vereadores e à sociedade porto-alegrense que a requalificação da orla de Porto Alegre é uma das bandeiras históricas do IAB-RS que já empreendeu grandes esforços na promoção de ações concretas neste sentido. Em nome dessa história e do interesse público, e tendo em vista a argumentação apresentada, solicitamos aos Srs. Vereadores o voto contrário à alteração proposta à Lei Complementar 470/02”.
PONTAL DO ESTALEIRO (1) – Uma lei sob medida
PONTAL DO ESTALEIRO (2) – Na origem, uma área pública
PONTAL DO ESTALEIRO (3) – Em nome dos trabalhadores, muda-se a lei
PONTAL DO ESTALEIRO (4) – Primeiro comprador do terreno desistiu

PONTAL DO ESTALEIRO (4) – Primeiro comprador do terreno desistiu 5h3w45

Por Elmar Bones

Com a mudança da lei, aprovada por Tarso Genro, o terreno foi finalmente arrematado pela construtora Titton Brugger & Cia. Em novembro de 2003 a empresa entrou com um projeto para a área, assinado pelo arquiteto Jorge Debiagi: uma plataforma de 34,5 mil metros quadrados, com garagens para 1.150 vagas embaixo e edifícios em cima.

Projeto de 2003

Documento de 2003
Os prédios teriam altura máxima de oito pavimentos em edifícios escalonados, com a altura média de quatro andares. Seriam cinco prédios destinados a atividades comerciais e de serviços – lojas, hotéis, clínicas, escritórios
O projeto, que não previa habitações, se completaria com uma esplanada pública, trapiche, restaurantes, bares, espaços para entretenimento, comércio varejista, lojas de conveniência, danceterias, e serviços, com o de veículos por via interna.
Por razões que não se conseguiu esclarecer, o empreendedor pagou as duas primeira parcelas do terreno, mas em seguida desistiu do projeto. E tudo voltou à estaca zero.
O terreno só seria vendido novamente em março de 2005, no quinto leilão.
Projeto foi levado a Fogaça em 2006
Nota do Jornal do Comércio no dia 8 de maio de 2006: “Empresa quer urbanizar área do Estaleiro Só”. O texto informa que o prefeito Fogaça recebeu o “diretor presidente da SVB Participações e Empreendimentos, Saul Veras Boff, o diretor do Grupo Maggi, Fischel Baril e o arquiteto Jorge Debiagi” que apresentaram um esboço do projeto para o terreno que a SVB havia adquirido em leilão, um ano antes.
“O o seguinte será convencer os vereadores de Porto Alegre a alterar a lei”, diz a nota. O arquiteto Debiagi disse ao jornal que a iniciativa teria que ser do prefeito, a quem caberia encaminhar um projeto para alterar a lei, desta vez para permitir prédios residenciais na área.
No dia 13 de setembro, a SVB pede à Secretaria do Planejamento “diretrizes urbanísticas para a área do Estaleiro”, alegando “necessidade de ajustes legais”. Diz que “por questões de caráter econômico, urbanístico e também de segurança, o Pontal do Estaleiro somente será viabilizado se for contemplada a construção de edifícios residenciais formando uma região de uso misto em que os equipamentos de infra-estrututra obtenham seu pleno uso como atividades que contribuam para a criação de um ambiente saudável e seguro”.
Dois dias depois, a Secretária Executiva da Cauge*, arquiteta Liamara Nique Liberman distribui um expediente às diversas secretarias que integram a comissão. Explica que “é solicitado diretrizes para o empreendimento” e lembra que incide sobre a área a Lei Complementar 270, “que através de um projeto de lei deverá ser alterada”
Diz ainda: “Deverão ser definidas quais diretrizes deverão constar no projeto de lei , para dar respaldo legal à aprovação de empreendimento na referida área”. Menciona reunião ocorrida na Secretaria Municipal de Gestão e Acompanhamento Estratégicos com técnicos do Planejamento, Meio Ambiente e Procuradoria Geral do Municipio na qual “ficou acordado que o referido expediente tramitaria com prioridade face necessidade de elaboração do projeto de lei com posterior aprovação da Câmara de Vereadores”.
Diz que a data de uma reunião final “será discutida com todos na reunião da Cauge de 21 de setembro de 2006, estando a principio comprometido o município com o prazo de metade de outubro”.

Setembro de 2006
No dia 10 de outubro de 2006, é emitido o parecer da SPM assinado por quatro arquitetos (Antonio Carlos Selmo, Antonio Luis Gomes Pinto, Marcelo Allet) e um engenheiro (Elisabeth Katter Hack), dizendo que “no entanto fazem-se necessárias modificações na lei, tendo por finalidade atingir os objetivos citados de através da sustentabilidade econômica do empreendimento”.

Parecer de Novembro de 2006
O parecer elenca os itens a serem incluídos na proposta de modificação da Lei, os mesmos itens que iriam, depois, integrar o projeto apresentado pelos vereadores em abril de 2008.
Todos os outros pareceres favoráveis são emitido no mesmo dia, considerando viáveis as mudanças propostas. A única ressalva é feita pelo urbanista Julio Miranda, da Secretaria Municipal dos Transportes, lembrando que “o empreendimento proposto possui forte poder de atração de viagens e pretende instalar-se em área crítica da cidade, com intenso crescimento do fluxo de veículos e com redução paulatina da fluidez e da segurança viária…destas vias que constituem se gargalos de circulação e pontos de risco para pedestres e condutores”.
*Cauge: Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento, formada por técnicos de diversas secretarias.
PONTAL DO ESTALEIRO (1) – Uma lei sob medida
PONTAL DO ESTALEIRO (2) – Na origem, uma área pública
PONTAL DO ESTALEIRO (3) – Em nome dos trabalhadores, muda-se a lei