Hoje, a partir da 14 horas, a 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul julga o recurso do inspetor aposentado do Dops gaúcho, João Augusto da Rosa, que move ação por danos morais contra o jornalista Luiz Cláudio Cunha, autor do livro Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios — uma reportagem dos tempos da ditadura. Participam da sessão as desembargadoras Marilena Bonzanini, relatora do processo, Íris Helena Medeiros Nogueira e o desembargador Leonel Pires Ohlweiler. Envolvido no sequestro dos militantes uruguaios Universindo Díaz, Lílian Celiberti e seus dois filhos ainda crianças, Camilo e sca, ocorrido em 1978, o ex-agente da repressão que usava o condinome Irno se considera injuriado em duas linhas, pinçadas num texto de 450 páginas: “Nem parecia um policial. Tinha a cara e o focinho de um burocrata medíocre e exótico de algum escritório infecto de contabilidade da periferia”. No julgamento de primeira instância, em que perdeu, o ex-policial alegou que fora tratado como um animal. 5q2d4j
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Trinta anos depois, Lilian encara sequestrador 4p4s3v
O policial Irno processa o jornalista
que denunciou o seqüestro em 1978
O ex-policial do DOPS gaúcho João Augusto da Rosa, codinome Irno, está processando o jornalista Luiz Cláudio Cunha, autor do livro Operação Condor: O Sequestro dos Uruguaios, lançado em 2008 pela editora L&PM.
O livro conta a história do sequestro de Lílian Celiberti, seus dois filhos menores e Universindo Diaz, ocorrido em Porto Alegre em novembro de 1978. Irno – ex-inspetor do DOPS e membro da equipe do delegado Pedro Seelig, principal nome da repressão no sul do país durante a ditadura militar – foi o agente que recebeu Cunha com uma pistola apontada para sua testa, no apartamento da rua Botafogo, no bairro do Menino Deus, onde os policiais do DOPS e oficiais do Exército uruguaio mantinham Lílian seqüestrada.
Irno – juntamente com outro policial do DOPS, o escrivão Orandir Portassi Lucas, o ex-jogador de futebol Didi Pedalada – foi reconhecido por Cunha e pelo fotógrafo J.B. Scalco como seqüestradores dos uruguaios. Ambos foram condenados pela Justiça em 1980.
Na ação, Irno pede indenização por dano moral, alegando que Cunha não menciona sua absolvição por “falta de provas” no recurso que apresentou em 1983, em segunda instância. O policial esqueceu de dizer que as “provas” do seqüestro – Lílian e Universindo – estavam então presas, sob tortura, nas masmorras da ditadura uruguaia, que acabou apenas em 1985.
O seqüestrador do DOPS gaúcho tenta reverter na Justiça a verdade que a imprensa brasileira publicou na época e que é recontada, em detalhes, no livro de Cunha: “Lembro apenas uma história que o Brasil todo conhece. Irno é um dos policiais que nós identificamos como seqüestradores dos uruguaios. O livro conta e reafirma uma história que narrei há 30 anos, na série de reportagens da revista Veja que ganhou os principais prêmios de jornalismo do país”.
Agora, 32 anos depois do sequestro, Irno terá que enfrentar não só a verdade publicada pela imprensa. Como uma das testemunhas de defesa de Cunha, a uruguaia Lílian Celiberti terá a chance de falar o que lhe foi sonegado dizer há três décadas.
Pela primeira vez desde 1978, Lilian estará frente a frente com o seqüestrador Irno na audiência do processo marcada para esta quinta-feira, dia 04/02, às 15h, na 18º Vara Cível, no Foro Central de Porto Alegre.
Operação Condor: O Sequestro dos Uruguaios – que em 2009 recebeu o troféu Jabuti da Câmara Brasileira do Livro e a Menção Honrosa do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos – acaba de ser agraciado em Havana no Prêmio Casa de Las Américas de 2010, que reuniu 436 obras de 22 países. Cunha ganhou menção honrosa na categoria Literatura Brasileira, vencida pela escritora Nélida Piñon.
Jornalista processado por livro sobre sequestro 59b3p
Está marcada para 4 de fevereiro, na 18a. Vara em Porto Alegre, a primeira audiência do processo que o policial aposentado João Augusto da Rosa, o Irno, move contra o jornalista Luiz Cláudio Cunha, autor do livro “O Sequestro dos Uruguaios”, um dos lançamentos mais premiados em 2009.
Irno, segundo o jornalista, era um dos policiais que estavam num apartamento do Menino Deus, em Porto Alegre, em novembro de 1978, para sequestrar os uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Dias.
Irno seria o chefe da operação e foi ele quem apontou a pistola para a cabeça do jornalista, que com o fotógrafo J.B. Scalco, surpreendeu a ação em pleno andamento.
Reconhecido e identificado pelos jornalistas, o policial chegou a estar preso, mas foi inocentado em 1983, por falta de provas.
Na ação judicial, por dano moral (indenizatória), ele alega que foi ridicularizado no livro em que Luiz Claudio Cunha reconstrói toda a história 30 anos depois.
Alega também que não é mencionada sua absolvição e que foram publicadas fotos suas sem autorização.
“Não menciono a absolvição porque minha história termina em 1980, com a condenação do Didi Pedalada, o outro policial que flagramos no apartamento. Quanto às fotos, todas já foram publicadas pela imprensa na época, são públicas, portanto”.
Para se defender, o jornalista convocou o testemunho de Lilian Celiberti, que hoje vive em Montevidéo.
Pela primeira vez, depois de 30 anos, ela estará frente a frente com o homem que, segundo o relato de Cunha, comandou o sequestro, um dos mais rumorosos casos da repressão política nos anos das ditaduras do Cone Sul.
Quando Irno foi absolvido, em 1983, Lilian estava presa no Uruguai. “Irno foi absolvido por falta de provas porque a principal prova contra ele estava no pau de arara naquele momento”, resume Cunha.