Adriana Lampert A renomada companhia Deutches Theater apresentou sua versão de Os Persas, de Ésquilo, nos dias 03 e 04 de setembro, no Theatro São Pedro, para uma platéia atenta e cheia de expectativas. Com a direção do búlgaro Dimiter Gotscheff o espetáculo faz uma homenagem sutil à linguagem cênica do teatro grego em um formato contemporâneo. A história contada é uma adaptação de Heiner Müller para o texto de Ésquilo datado de 472 a. C., baseado em fatos inerentes à época do autor e não na mitologia. A peça fala da batalha de Salamina, que o exército persa perdeu para os gregos, pondo fim a uma longa história de dominação. Na montagem da Deutches Theater, pouca ação e excesso de texto exigem dos atores uma encenação onde o que conta é a intensidade de sentimentos. Almut Zilcher é quem mais atinge este objetivo, justamente porque sua personagem é quem mais sofre com o resultado da batalha, até o dia em que descobre que seu filho sobreviveu. Ela intepreta Atossa mãe de Xerxes (Samuel Finzi), o rei derrotado. Por sua vez, Finzi e seu colega Wolfram Koch levam outra energia ao palco, bem mais leve e por vezes cômica e debochada. Os dois são carismáticos em cena, mostrando grande harmonia, principalmente quando interpretam (ao mesmo tempo) o mensageiro. São eles que iniciam o espetáculo divididos por uma parede de madeira de cinco metros de altura que divide o palco ao meio. Ela representa o motivo da batalha de Salamina, onde o exército persa perde para os gregos, que os mantém sob seu jugo por longo tempo. Em seguida, a ação se a em Susa, capital da Pérsia. É aí que inicia a versão dos derrotados através do coro feito por Margit Bendokat – atriz com grande potencial de interpretação, mas que sozinha, na condição de coro, torna-se um pouco cansativa aos ouvidos da platéia. Apesar do diretor não investir em grande fisicalidade nas ações, existe um jogo sensível entre os atores e suas sombras projetadas na grande parede, único cenário que se movimenta em várias direções no decorrer do espetáculo. Os Persas é recheado de sutilezas bem executadas como as relações não explícitas, mas densas, que ocorrem em cenas distintas, com ações simultâneas. Porém nem sempre uma grande companhia como a Deutches Theater apresenta um espetáculo arrebatador. A promessa de que seria um dos melhores espetáculos do 15º Porto Alegre em Cena não se concretizou para algumas pessoas – mas a companhia vinda de Berlim (Alemanha) cumpriu seu papel ao apresentar teatro de qualidade, incontestavelmente maduro e bem resolvido. 5bz6o
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As 10 promessas do Porto Alegre Em Cena 6k3y28
Adriana Lampert
Hoje inicia a maratona do 15º Porto Alegre em Cena, que além de espetáculos de teatro, também traz para a cidade como alternativa cultural para os próximos 22 dias atrações de música e dança, oficinas e bate papos sobre arte. Serão 62 espetáculos procedentes de 10 países (Alemanha, Argentina, Espanha, Eua, França, Dinamarca, Itália, Lituânia, Portugal E Uruguai) e cinco estados brasileiros (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco). Com tanta alternativa, fica difícil assistir a tudo, e às vezes, perde-se a oportunidade de conferir o trabalho de grupos e espetáculos importantes. Abaixo, seguem indicações do porquê pelo menos 10 espetáculos prometem entrar para a história dos melhores momentos desta edição do Festival:
A Lenda de Sepé Tiaraju
Uma das estréias mais esperadas no Festival, dirigida por César Vieira, pseudônimo artístico-político de Idibal Pivetta, diretor teatral, fundador e principal mentor do Teatro Popular União e Olho Vivo, de São Paulo. O grupo é o mais antigo do gênero popular no Brasil (completou 42 anos em fevereiro) e também é o mais importante grupo de teatro de rua do país. Seus espetáculos têm sempre como estrutura a arte popular brasileira (o carnaval; o bumba-meu-boi; o circo; o futebol; a literatura de cordel), e com freqüência recorrem ao folclore para ambientar enredos. Além do encantamento com cores, roupas e truques, o trabalho do União e Olho Vivo é lembrado na Europa e América Latina pela inserção de uma visão crítica da sociedade em todos seus espetáculos. Como não poderia deixar de ser, as apresentações de “A Lenda de Sepé Tiaraju” durante o Em Cena ocorrerão em espaços alternativos (Usina do Gasômetro, Parque da Redenção e quatro escolas municipais inseridas dentro do projeto de Descentralização do Festival).
O Amargo Santo da Purificação
Outra estréia importante dentro da grade de programação do 15º Em Cena é a da Tribo de Atuadores Oi Nóis Aqui Traveiz (RS) que completa 30 anos de criação artística ininterrupta e que na edição de 2007 levou o prêmio “Braskem Em Cena” de Melhor Espetáculo. O espetáculo, que faz parte do programa de Descentralização do Em Cena, é, segundo o grupo, uma visão alegórica e barroca da vida, paixão e morte do revolucionário Carlos Marighella e conta a história de um herói popular que os setores dominantes tentaram banir da cena nacional durante décadas.
A Obscena Sra D
A atriz Susan Damasceno, que vem do Centro de Pesquisa Teatral (SP), coordenado por Antunes Filho (um dos maiores diretores de teatro do Brasil e do mundo), mergulhou por dois anos no texto de Hilda Hilst para interpretar uma viúva triste e terrível (e seus diversos personagens secundários) sob forma de monólogo, com um mínimo de cenário. Sua atuação tem sido muito elogiada pela crítica e a direção de Donizete Mazzonas e Rosi Campos também ganhou destaque nos jornais. O espetáculo é uma adaptação da obra homônima da grande escritora brasileira (conhecida por poetizar o desamparo, o desejo, o sagrado e o cotidiano) e tem sido um dos mais procurados pelo público junto às bilheterias do Em Cena.
Fausto
Clássico de Johann von Goethe, o espetáculo dirigido pelo lituano Eimuntas Nekrosius, é, segundo o diretor, “o último estágio de uma trilogia não planejada”, onde empregou “todo um inventário estético e lingüístico de sua arte”. Em cena, apenas a essência, descartando diversas cenas e personagens. Nekrosius diz que “concentrou a direção na atuação de seus extraordinários atores”. Dono de um método visual, que muitas vezes substitui uma palavra ou um gesto e encantado com o material utópico de “Fausto”, e focado em seu problema central, Nekrosius revela ao público a impossibilidade de parar o tempo. O espetáculo tem sido considerado grandioso e a atuação de Vladas Bagdonas, magnífica.
O Grande Inquisitor
Dirigido pelo britânico Peter Brook – um dos mais respeitados profissionais de teatro da atualidade – o espetáculo é uma adaptação da sa Marie Hélène Estienne para uma agem de “Os irmãos Karamazov”, de Dostoievski. ada na Espanha do século 15, a história supõe o que ocorreria se o grande inquisidor tivesse a oportunidade de conhecer Cristo. O inquisidor, interpretado por Bruce Myers – que também é o narrador – está num espaço próximo ao vazio. Conhecido por propor um teatro de caracterização psicológica dos personagens que torne visível a “invisível” alma humana, Brook utiliza-se da estética de que “menos é mais” nesta montagem que traz Myers em performance elogiada.
Os Bandidos
Sem sombra de dúvidas, esta é a estréia (em nível nacional) mais aguardada pelo Em Cena. Sob a direção de José Celso Martinez Corrêa (Zé Celso), um dos principais encenadores da história do teatro brasileiro, a peça (escrita por Friedrich Schiller em 1777) já estreou na Alemanha, em junho. O espetáculo está atrelado à comemoração do aniversário de 50 anos do Teatro Oficina (São Paulo). Na versão do grupo dirigido por Zé Celso, a peça a-se nos dias de hoje, em dois hemisférios: Norte e Sul. Trata de uma guerra civil, guerra entre irmãos: Cosme (Aury Porto) é chefe de uma corporação internacional de TV com concessão de canais pelo estado brasileiro. Damião, o primogênito, vem para o Brasil dirigir a corporação de mídia do pai, mas trai sua classe, torna-se líder de uma revolução política ligada à multidão e tenta politizar até o crime, aliando-se a bandidos de várias partes do mundo. Na visão de Zé Celso, a obra transformou-se em uma ópera de carnaval, bem ao estilo do diretor: ritualística e inovadora, para todos os gostos e públicos.
Os Persas
Datada de 472 a.C. Os Persas, de Ésquilo, é a mais antiga tragédia da literatura mundial transmitida oralmente e a única cujo tema baseia-se em fatos contemporâneos do autor e não em histórias mitológicas. Este clássico da dramaturgia é encenado por uma das mais brilhantes e destacadas companhias alemãs, o Deutsches Theater (DT) de Berlim, que tornou-se conhecida pela diversidade de suas produções, freqüentemente premiadas, e pelo engajamento nos protestos para a queda do Muro de Berlim. A tradução do texto original (grego) para o alemão é do dramaturgo Heiner Muller e a direção do espetáculo é do búlgaro Dimiter Gotscheff, diretor permanente do DT desde 2006, que procura tratar o efeito clássico da tragédia grega buscando uma purificação ampla e também corporal. A peça foi aclamada pela imprensa como um das encenações de excelência do ano pela revista Tagesspiegel. Não é para menos: trata-se de um clássico da dramaturgia encenado por uma das maiores companhias alemãs da atualidade.
A Falecida
A peça de Nelson Rodrigues recebe montagem sob a direção de um dos mais produtivos diretores do teatro brasileiro da atualidade: João Fonseca, diretor artístico da Companhia Fudidos Privilegiados, que vem conquistando público e crítica a cada trabalho. A primeira tragédia carioca, como o próprio autor definiu em 1953, narra o drama de Zulmira, que descobre ter tuberculose e resolve planejar todos os detalhes do próprio velório. O que parece uma história pesada é contada por Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo brasileiro, de maneira surpreendente, com leveza e humor. São personagens muito humanos e muito cariocas. O texto tem expressões saborosas e gírias de época. Na encenação o diretor segue as indicações do autor usando apenas cadeiras em cena e explorando ao máximo o potencial humorístico do texto original.
Crônica de José Agarrotado
Espetáculo do grupo espanhol loscorderos.sc, adepto do polêmico teatro físico e cujos integrantes aram por companhias brilhantes como La Fura del Baus e Sol Picó. A história trata da dificuldade de comunicação entre as pessoas. Os dois intérpretes – e também criadores do grupo e da proposta inovadora que apresentam -, desenvolvem ao longo da peça uma sucessão agitada, rítmica e enérgica de desencontros, com algumas aproximações fugazes. As expressões corporais, a música e as palavras são repetidas até perderem o sentido original, até mudarem de significado ou até ficarem sem sentido algum. Entretanto, há ternura e humor nos engenhosos jogos cênicos propostos pelos atores David Climent e Pablo Molinero. Vale a pena conferir esta encenação, apostando nas sensações infinitas que esta linguagem não convencional pode proporcionar ao expectador.
100 Shakespeare
Quatro atores/manipuladores saem de caixas e se deparam com 43 bonecos ao seu redor esperando apenas por alguém que lhes dê vida. Quais peças serão mostradas? É nesse clima de surpresa e expectativa que se inicia o espetáculo 100 Shakespeare, do grupo Pia Fraus, um dos grandes nomes nas artes cênicas brasileiras, que agrega artistas de teatro, dança, teatro de bonecos e máscaras, circo e artes plásticas. Em 100 Shakespeare, cenas sínteses selecionadas de nove peças do dramaturgo inglês: Hamlet, O mercador de Veneza, Romeu e Julieta, Macbeth, Otelo, Sonho de uma noite de verão, Rei Lear, Ricardo III e Titus Andrônicus. São releituras bem-humoradas, onde os atores interagem com os bonecos e também entre si, utilizando diversas técnicas de manipulação como o banraku, luz negra e manipulação direta.