A prefeitura de Osório comprou um terreno de 35 mil metros quadrados junto ao quartel da Brigada Militar, na margem direita de quem trafega no sentido norte da BR-101. Ali será construída a estação de embarque do teleférico ligando a cidade ao topo do Morro Borússia, obra que terá início em meados de 2011, caso o projeto obtenha licença ambiental da Fepam – no mesmo terreno, no extremo norte da cidade, está prevista também a construção de um hotel 4 estrelas com centro de convenções. A outra ponta do teleférico, no alto do morro, ficará em antigo reduto de colonização alemã consagrado nas últimas décadas ao turismo ecológico. Além de cachoeiras e trilhas, aqui há mirantes, rampas de vôo livre, pousadas e restaurantes. Por uma estimativa feita em 2004, quando a Fepam negou licença ambiental a uma via dupla de transporte em cabos de aço com 900 metros de extensão, o custo de implantação do teleférico de Osório seria de R$ 4,1 milhões. Reformulado para 1300 metros, o novo projeto pode ter seu custo aumentado para até R$ 6 milhões, estima o contador Jorge Ramos, secretário do Desenvolvimento e Turismo de Osório. Para poder atravessar a BR-101, o teleférico precisa ser aprovado também pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). No ponto de travessia, está prevista a construção de uma proteção semelhante a uma arela de pedestres, sobre a qual deslizarão as cabines com capacidade para levar de quatro a seis pessoas. Essa viagem sobre a mata atlântica custará entre R$ 10 e R$ 15 por pessoa. O teleférico poderá transportar 200 pessoas por hora. Assim que sair o licenciamento ambiental, a obra será licitada pela prefeitura. Se a iniciativa privada não se apresentar, o próprio município vai construir e operar o mecanismo até que o negócio se consolide. “O teleférico é estratégico para o incremento dos serviços de turismo de Osório”, diz o prefeito Romildo Bolzan Jr., a dois anos do término de um mandato de oito anos, durante os quais a economia municipal deu um salto graças às obras de duplicação da BR-101 e da construção dos 75 aerogeradores da Ventos do Sul Energia, tocada por capitais espanhóis e alemães. Foi com os recursos da compensação ambiental do parque eólico de Osório a partir de 2005 que a prefeitura começou a investir em favor do turismo ecológico no ponto mais alto da Serra Geral, a 90 quilômetros de Porto Alegre, de Torres e de Gramado. O primeiro o foi asfaltar o ziguezague de quatro quilômetros que leva da BR-101 ao topo do Borússia. O segundo melhoramento foi a iluminação da estrada, visível de qualquer ponto do litoral norte. Outra obra foi um mirante com vários patamares de observação. Bela vista. Do Morro Borússia, 360 metros acima do mar, avista-se toda a planície litorânea, com seu cordão de lagoas, capões, sítios, lavouras, pastagens, rebanhos e aerogeradores. Nos dias claros, são visíveis as silhuetas das cidades de Tramandaí, Imbé, Xangri-Lá e Capão da Canoa, ex-distritos de Osório. A mancha urbana de Torres só se enxerga nos dias muito transparentes, quando o vento predominante (o nordeste) não está espalhando na paisagem os vapores do Atlântico. ÁGUA, TERRA E AR O projeto do teleférico ferve na imaginação osoriense há mais de dez anos. Agora que há recursos concretos e demanda aparente para concretizá-lo, ele está amarrado a outros projetos (de turismo e urbanização) dependentes da implantação de um novo sistema de saneamento básico da cidade, no qual estão sendo investidos mais de R$ 23 milhões. Com a despoluição das duas lagoas mais próximas do centro da cidade, a prefeitura prevê integrar o lazer náutico ao teleférico, que tem mais duas fases previstas para execução até 2020. A primeira é uma extensão da linha da primeira estação até o ponto mais elevado do morro. A outra, uma linha horizontal sobre a Lagoa do Marcelino, ligando a estação da margem da BR-101 ao antigo Porto Lacustre, berço da história de Osório desativado há 50 anos, quando as rodovias tomaram conta do transporte de cargas e ageiros. “Se o plano vingar, o teleférico será o maior do Brasil, com quase cinco quilômetros”, diz o secretário Ramos. Antes usadas como vias de navegação, as águas osorienses foram paulatinamente poluídas por esgotos domésticos, a ponto de se tornarem impróprias até para o lazer náutico, esporte ainda pouco praticado nessa região dominada por grandes corpos lacustres. Só no município de Osório há 23 lagoas. Em todas se pesca alguma coisa. Em algumas, extrai-se areia fina intercambiada com a areia grossa do rio Guaíba. Para despoluir suas duas lagoas mais próximas (Marcelino, com 10 hectares de lâmina d’água, e Peixoto, com 100 hectares), Osório está implantando uma rede geral de coleta de esgotos, a serem encaminhados a uma estação de tratamento sanitário junto à Lagoa dos Barros (10 mil hectares). Situada a oeste da cidade, a Lagoa dos Barros é tão grande que alcança o vizinho município de Santo Antonio da Patrulha, do qual se desmembrou Osório há 153 anos. BRIGA NA JUSTIÇA A notícia da ETE de Osório não foi bem recebida pelos patrulhenses, que têm até um balneário em suas margens. O conflito de interesses sobre os usos das águas da Lagoa dos Barros foi parar na Justiça, onde se encontra até hoje. Num primeiro entrevero em primeira instância, Osório levou a melhor, mas Santo Antonio da Patrulha recorreu. Mesmo com o processo prometendo arrastar-se indefinidamente como uma briga de família na Justiça, a ETE de Osório está pronta ao custo de R$ 6 milhões. Linda obra pintada de lilás. Aqui o prefeito premedita instalar também, no futuro – “em parceria com a UERGS, eu espero” –, uma instituição de ensino e pesquisa voltada para energias alternativas, como a geração eólica, a exploração solar e o que mais for compatível com os recursos naturais da região, rica em águas ferruginosas, areias finas, terras férteis e ventos fortes. Uma idéia ventilada recentemente é buscar a autosuficiência energética para custear, pelo menos, o pagamento da conta municipal de eletricidade, R$ 140 mil mensais. Por coincidência, é mais ou menos esse o valor produzido mensalmente por cada um dos aerogeradores plantados em Osório pela Ventos do Sul Energia. Investimento municipal com aporte federal e gestão estadual, o saneamento básico de Osório vai devagar não apenas porque obras subterrâneas são lerdas por natureza, mas porque uma das empresas ganhadoras da empreitada ignorava que boa parte da cidade foi construída sobre brejos arenosos. “A empreiteira da rede alega que é preciso esperar pela compactação natural das ruas esburacadas antes de recolocar o calçamento de pedras e asfaltar novamente os trechos abertos para a colocação dos canos”, contou um funcionário da Corsan. Por esse e outros detalhes, ite-se que um atraso crônico compromete o início das operações de bombeamento dos esgotos, prometido para março de 2011. “E não adianta atropelar as obras agora, porque encanamento de esgoto não pode ser feito às pressas”, diz a fonte (limpa) da Corsan. O sistema de coleta de esgotos de Osório compreende quatro estações elevatórias e uma central de bombeamento, situada no antigo bairro Porto Lacustre, que vai mandar todo o material coletado para a ETE a mais de cinco quilômetros, junto à Lagoa dos Barros, cujas águas descem para a Lagoa dos Patos. O nome do Porto Lacustre remete à navegação existente até 50 anos atrás na pequena Lagoa do Marcelino, que se comunica por um canal natural com a Lagoa do Peixoto, também unida por outro canal à Lagoa da Pinguela, cujas águas se comunicam com a Lagoa dos Quadros, que pode chegar ao mar via lagoa e canal de Tramandaí, a única saída marítima leste das águas rasas do nordeste gaúcho. Esse grande cordão de lagoas esteve ligado à Lagoa dos Patos durante 40 anos por uma ferrovia de 54 quilômetros inaugurada em 1921 por Antonio Borges de Medeiros e desmanchada por ordem do governador Leonel Brizola em 1960, quando as cargas e os ageiros já se haviam bandeado para o transporte rodoviário. Como parte de um projeto de recuperação da memória econômica de Osório, a prefeitura construiu em 2007 uma réplica da antiga estação ferroviária urbana, no centro da cidade. Nela funciona hoje um pequeno museu de baixa freqüência popular. MARINAS A segunda etapa desse projeto memorialístico, que visa também a revitalização turística municipal, é a construção de marinas nas lagoas do Marcelino e do Peixoto. Tanto numa como noutra, as obras compreendem trapiches simples, nada além de réplicas dos portos lacustres de outrora, mas ambos cercados de atrativos terrestres como arelas, quiosques, arborização. Embora baratas, são obras que só serão realizadas após o deslanche do sistema de saneamento básico. Com as duas lagoas limpas, sem mau cheiro, acredita-se que possa renascer aqui a navegação, não de cargas, mas de eio, voltada para o lazer. Na Lagoa do Peixoto, cujas margens são parcialmente ocupadas por condomínios residenciais e sítios de lazer, recentemente beneficiados com o asfaltamento da antiga estrada de terra, já está em construção um restaurante e um conjunto de quiosques para atender a veranistas que ao mar preferem a proximidade da água doce. Ali está prevista a construção de um ponto de apoio náutico para esportistas da região. No final de novembro de 2010, esse ponto turístico foi mostrado pelo prefeito de Osório a um grupo de investidores interessados no desenvolvimento de uma marina no litoral norte. “Levei os visitantes a outros pontos aqui nas águas de Osório”, diz Bolzan, “mas no final do dia concluí que eles encontrariam terreno mais favorável em Capão da Canoa, onde estão surgindo condomínios de gente possivelmente interessada em navegar em águas interiores”. A última marina a ficar pronta em Osório será a da Lagoa do Marcelino, praticamente engolfada pela expansão do núcleo urbano da cidade, com seus 30 mil habitantes. Vinte anos atrás, na primeira gestão de Romildo Bolzan Jr., a Marcelino foi escolhida para a construção de uma ETE capaz de tratar 30% dos esgotos da cidade. Ou, seja, a pequena estação a céu aberto construída no final da rua Barão do Triunfo, no bairro Caiu do Céu, recebia os despejos de todo o centro da cidade. Após o tratamento, os efluentes eram jogados na lagoa. Com o tempo, a ETE caiu no descuido e a cidade cresceu. Há cinco anos, em vez de recuperar a pequena ETE e implantar soluções semelhantes em outras áreas expandidas da cidade, a prefeitura optou pelo megasistema único de saneamento centralizado na ETE da Lagoa dos Barros. Desde que o novo sistema funcione, a Lagoa do Marcelino vai deixar de receber esgoto e suas margens se tornarão um bom lugar para caminhadas, como projetou a prefeitura. Por extensão, o mesmo acontecerá com a anexa Lagoa do Peixoto, cujas águas fétidas foram abandonadas pelos praticantes de wind surf. Os pioneiros desse esporte mudaram-se para a Lagoa dos Barros, onde há duas escolas de wind e kite surf. 60h38
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AVENTURA: at 86 vai e volta da Patagônia 6z342f
Por Daiane Menezes
P
ode ser difícil arrumar um companheiro. Dar certo se ambos vêm com o pacotinho completo, ainda mais. Agora, imagine o quase impossível que é botar quatro integrantes de uma família recém formada rodando por 21 dias dentro de um at ano 1986.
A idéia era sair de Porto Alegre e chegar até a Patagônia argentina, durante as festas de final de ano. Parece uma missão impossível? Carlos Stein, 48 anos, sua filha Marina, de sete, Naida Menezes, 40 anos, e seu filho Thales, de 13, encararam tal viagem – no tal atão.
O destino era o Estreito de Magalhães. A grana disponível estava contada. A mochila virou armário, uma bandeja, a mesa em que preparavam parte das refeições. Na segunda semana, Marina perguntou: “Por que o almoço tem que ser sempre sanduíche?”. A resposta à enteada foi: “Está vendo algum fogão por aqui? (risos)”.
Pneu furado
O at, ao final da viagem, depois de várias manhas que fizeram a expedição ter outros rumos ou ritmos, do pneu furado a uma peça que não existia em lugar algum para ser trocada, virou quase um ser humano. “Agora ele está lá, descansando”, diz Carlos.
A família saiu da capital gaúcha, cruzou o Uruguai e chegou em Buenos Aires de Buquebus, navio que faz transporte de ageiros e carros de Montevidéu até a capital argentina. A ceia de Natal começou mais cedo porque as cerejas, pêssegos e peras destinadas ao jantar não aram no controle fitossanitário da entrada da Patagônia. Como a regra era não desperdiçar, viraram lanche da tarde.
Na Argentina, desceram pela Ruta 3. Entre Bahía Blanca e Viedma está o Rio Colorado. Abaixo dele, está a Patagônia. Marina ficou encantada ao ver milhares de pingüins reunidos em Punta Tombo. Neste parque, onde em cada arbusto mora uma família de pingüins, a temperatura alcançava 40 graus. Para chocar seus ovos, eles procuram o calor. ando Comodoro Rivadavia, o barulho dos ventos nas bombonas de água e gasolina que estavam no teto era tão forte que pararam em uma borracharia achando que o carro estava com problema nos rolamentos.
Cada vez mais ao Sul do Sul, no Estreito de Magalhães, o at ficou com as duas portas amassadas pelo vento. Além disso, o carro, estacionado em um lugar plano, mas sem o freio de mão puxado, foi deslocado. Nesta região, não se vêem casas em cima dos morros, como seria natural para procurar a melhor vista, mas nas baixadas para se proteger da ventania.
Subindo pela Ruta 40, Naida ficou irada com o Glaciar Perito Moreno. Do mirante em que estavam enxergavam um paredão de gelo de 60m de altura com quase 2,5km de largura. Em El Calafate, a família comeu a fruta de um arbusto espinhoso que tem o mesmo nome do local. Há uma superstição que diz que todos aqueles que comem calafate, retornam. Carlos comeu na primeira vez que foi. Este ano, lá estava ele de volta.
Thales se impressionou com a imensidão dos Andes, no mirante que dá para o Monte Fritz Roy. aram o Ano Novo em El Chaltén. O albergue em que estavam tinha turistas de vários lugares, entre eles, espanhóis, alemães, italianos. Cada grupo comemorou segundo o horário do seu país, ou seja, a virada foi festejada muitas vezes. A ceia contava com frutas, bolos e vinho, nada de banquetes. Mas o que não teve preço foi aquela torre de babel cantando junto “I will survive”. Pelo menos a família em questão sobreviveu.
A opção preferencial por albergues se deu porque, além de ser mais barato, têm cozinha para fazer almoço. Há outras possibilidades de hospedagem mais em conta, como residencial, hostel, hostal e albergo. Só cuidado para não pedir para dormir em um “Residencial dos Abuelos”, pois pode tratar-se de casa geriátrica. Não ter lugar reservado para dormir dá liberdade, mas pode trazer alguns inconvenientes. Marina, por exemplo, às vezes dormia antes de terem conseguido encontrar um local para pernoitar.
O plano era ir até o Vulcão Lanin, mas a rota teve que ser mudada por causa da outra bucha de suspensão do carro que estragou. Em Bariloche conseguiram improvisar uma solução. Apesar deste contratempo, Carlos realizou um sonho ao cruzar com o Rally Dakar, em Neuquén, sem que nada disso fosse planejado. Desfilaram junto com as motos, triciclos, quadriciclos, side-cars, carros e caminhões. Marina abanava para todo mundo. “Nunca achei que eu ia me divertir tanto”, disse ela.
Como férias para crianças e adolescentes sem água não é férias, perto de Bariloche fizeram uma das tantas paradas para um banho. Esta foi no Lago Mascardi, formado por água de degelo.
A lição número 1 para a gurizada foi a gentileza. Sem ela, não se resiste a uma média de 470km diários com tanta diferença de idade no banco de trás de um carro sem mordomias. A palavra foi onipresente nas conversas durante a viagem, tanto usada positivamente como ironicamente: “Deixa eu guardar essas coisas na tua mochila?”, pergunta Thales. “Não!”, responde Marina. Ele retruca: “Quanta gentileza…”. Ou então: “Pode escolher a cama”, diz ela. “Que gentileza!”, responde ele.
Para entreter a gurizada durante tantos quilômetros, músicas animadas, desenhos, jogos de “stop” (lembram disso? aquele que só precisa de um papel e uma caneta, uma letra é escolhida e temos que completar uma série de categorias com coisas que comecem com tal letra), e uma adaptação do jogo Imagem e Ação.
Quem se interessar por fazer o mesmo roteiro, deve planejar a viagem com mais dias, dizem os aventureiros. Viajar com mais carros junto pode diminuir bastante o estresse. Levar barraca também pode ser uma boa idéia, já que há vários locais para acampamento no caminho e diminui o custo da viagem. Fora isso, atenção nas placas, uma caixa de ferramentas completa e bastante sorte para que não dê problema no carro em uma estrada de chão deserta, às 23h, também ajudam.
As vantagens de fazer esse tipo de viagem com um at velho? “Não houve nenhum problema que eu não pudesse dar pelo menos uma tapeada para seguir viagem. Numa outra ocasião em que rodei com amigos quase a mesma distância com seis Land Rovers, cinco quebraram”, conta Carlos.
Além disso, não sofremos achaque da polícia argentina. Já nesta viagem anterior, com carros 4×4, em todos os postos policiais tinham que desembolsar alguma coisa. Tampouco aram por rígida inspeção. Esqueceram do kit de primeiros socorros, mas isso nem foi exigido nos postos de fiscalização.
Os pais de Marina e Thales acreditam que depois dessa viagem, eles devem conseguir resolver qualquer problema mais facilmente, além de melhorar o desempenho nas aulas de geografia.