Entrevista: Sonia Zanchetta Há uma semana da abertura da feira, Sônia Zanchetta está atrás de uma mesa no canto de uma sala que tem cadeiras empilhadas, pacotes e ventiladores pelo chão. “Não repara, isso aqui vai ficar arrumadinho”, diz ela. Há 22 anos é assim. No início de outubro ela acampa no térreo do vetusto prédio do Memorial para dar os últimos retoques a um trabalho que é preparado o ano inteiro e que ali, na Praça da Alfândega, no coração histórico de Porto Alegre, encontra o seu sentido maior. É quando editores, autores e leitores se encontram naquela que ainda é a mais antiga feira do livro do Brasil. A feira acontece desde 1955. Desde 1996 Sonia Zanchetta coordena a área de literatura infantil e juvenil da Câmara Riograndense do Livro que, na feira, colhe os frutos do trabalho que promove junto a mais de 300 escolas, para formar leitores e mentes pensantes. Ela falou ao JÁ: Que feira é essa, aos 64 anos? – A feira já foi enorme, chegou a invadir o cais do porto. De 2005 a 2012 ocupou três armazéns junto ao Guaíba. Aí veio a crise, teve que reduzir a área física. Nos tiraram do cais e atravessamos a rua e estamos de volta à praça simplesmente. É uma feira menor, mas com uma programação excelente, posso afirmar. De onde vem o otimismo? -Da parceria excelente que temos com os autores e com as editoras. Por incrível que pareça também colaborou para isso aquela história do boleto que a prefeitura mandou cobrando 180 mil da feira pelo aluguel da praça. As pessoas começaram a nos ligar: “Temos que ajudar a feira…” houve uma mobilização. Já vínhamos contando com as editoras. Quem vêm este ano? Ainda não tenho a lista completa…Olha aqui, a Book está trazendo um ilustrador da Austrália. Alguns autores já confirmaram. Ziraldo acabou de sair do hospital mas garantiu que vem. Todas as editoras nos deram agens, temos autores que compraram as agens com milhas acumuladas. Um autor, o Otávio Junior, que é conhecido como Alemão, das bibliotecas comunitárias no complexo do Alemão, disse: “Não te preocupa em pedir para a editora”, eu vou. Os autores fazem questão de vir à feira – Com certeza, eles adoram. Eles chegam aqui encontram alunos que estão há três meses trabalhando com as obras deles nas escolas. Esse é o programa de leitura Sim, desde agosto estamos agendando alunos de vários municípios para virem à feira. No ano ado tivemos alunos de Santa Catatrina. As escolas particulares vêm com ônibus próprios… Os alunos de Viamão, Alvorada, Cachoeirinha, Gravatai, Canoas, Esteio tem e livre no Trensurb… É um convênio O trensurb transporta alunos dos cinco municípios e da Zona Norte de Porto Alegre. Temos essa parceria com a Trensurb há anos. Temos também ônibus contratados através de um patrocinador. A gente loca e eles vão buscar. Quantos alunos mais ou menos? No ano ado foram 330 turmas e foi um ano difícil porque a feira coincidiu com a greve das escolas municipais, eles vem com ônibus disponibilizado pela Secretria Municipal de Educação. Mais de 30 alunos cada turma. Tudo agendadinho? -Eles se inscrevem lá em agosto para conseguir o ônibus. O professor tem que apresentar um projeto com os livros e os autores. É um trabalho permanente, coordenado pela professora Paula Cecatto, que é fabulosa. Esse é o núcleo de formação… Nucleo de Formação de Mediadores da Leitura nome pomposo que adotamos para chamar atenção. Temos uma biblioteca de sete mil volumes, a nata da literatura infantil. Muita coisa nós ganhamos, mas o que é realmente bom a gente compra. É um modo de qualificar. Como não posso qualificar a oferta, qualifico a compra. Temos também um curso de extensão com a UFRGS, de quatro meses e vem gente de todo o Estado, professores de municípios que já tem ou querem criar programas de leitura escolas. Essa biblioteca é montada na feira? Aqui no térreo do Memorial. A biblioteca que fica à disposição do público. Motivamos os professores, diretores e bibiliotecários a que venham complementar. Tem uma sala para os autores…Os autores não vão conhecer Gramado, ficam por aqui em contato com os leitores. Quantos este ano? Tenho 70 autores, mais de 45 são de fora. Este ano vamos ter a “Cordelteca”, que é uma mini-biblioteca da literatura de cordel. Antes da literatura de cordel ganhar o título de patrimonio imaterial, já tinhamos convidado o pessoal que a gente tem relações lá na Paraíba. Este ano é uma data importante para eles: são 100 anos de morte do Leando, o pioneiro do cordel. Então, vêm quatro pessoas da Paraíba e dois de Pernambuco. Vamos ter aqui uma exposição, três dias de atividades só sobre cordel, todo o dia a partir das seis e meia da tarde atividades. E o programa “Adote um Escritor”? O programa existe há 17 anos, com a Secretaria Municipal de Educação. Este ano a gente rompeu com a SMED. Não é só o problema de corte de recursos, no ano ado já cortaram…é a dificuldade de acertar as coisas com eles. Então eles ficaram com o programa e nos retiramos. A Câmara está fora? A Câmara não participa mais do programa “Adote um Escritor”. Mas temos um programa com a secretaria estadual que leva a leitura a 60 escolas da Região Metropolitana, tem também um projeto que é “A Feira vai à Fase”, 2002, nas sete unidades da Fase, que abriga menores infratores. Em Cachoeirinha as 33 escolas recebem apoio. As escolas vem para a feira trazem os alunos mas também vem mostrar o que fizeram. O colégio Rosário, por exemplo, é a sexta ou sétima vez que vêm. Já fizeram serão de autógrafo com 1.200 pessoas. Vai ter esse ano a “Bebeteca” Sim, para os pequeninhos nos temos o QG dos Pitocos que este ano vai estar na frente do Memorial, com teatros de bonecos para crianças de até seis anos. Na biblioteca a gente tem uma casinha lá que é a Bebeteca com acervo de 300 livros, para as mães com seus bebês. 2y5y6n