A morte de Marco Aurélio Garcia 395x29

A morte de Marco Aurélio Garcia despede-me compulsória e dolorosamente de meu ado. Fizemos política estudantil juntos, num tempo em que sonhávamos alto com um mundo que se projetava mais humano, menos aguerrido; isso em meados dos anos 60.
A vitória de Fidel em Havana, início da derrocada americana no Vietnã a partir do próprio  EUA, tudo parecia que iria melhorar. Éramos e queríamos ser filhos da utopia; e, embora militássemos em grupos diferentes, nunca nos afastamos do respeito mútuo.
Era um ouvinte assíduo de música de câmara. E afora as posições políticas diferentes, mas genericamente comuns – que logo voltaram a se estreitar – tínhamos sempre muito o que conversar em torno dos quartetos de Beethoven, de Brahms, dos lieder de Mahler, de Schumann e por aí afora.
No nosso tempo de sonhos, porém, os militares logo assumiram o poder no Brasil.
Então do Rio Grande do Sul vim para São Paulo, mais ou menos fugido (devo confessar); e ele, foragido de fato, rumou para o Chile.
Quando nos reecontramos, não levou muito para que Marco Aurélio – ambos, agora, já conscientemente, órfãos da utopia – assumisse o papel histórico que sua inteligência e cultura lhe reservavam, como assessor de relações exteriores, do governo Lula.
Deve ter morrido triste. Num breve encontro casual que tivemos em Congonhas – ele indo para Brasília e eu voltando de lá – relatei-lhe a resposta que o jornalista Paulo Totti, um amigo comum, me deu quando lhe perguntei sobre a situação do Brasil e do já então claudicante governo Dilma.
Ele riu muito ao lhe contar – segundo Totti – que quem explicasse a situação do Brasil, estava no mínimo mal informado.
Nunca ouvi ou assisti qualquer conferência do professor Marco Aurélio Garcia ao vivo. Mas nas entrevistas em que demonstrava o quanto era sólido o seu conhecimento sobre o Brasil e suas relações exteriores – pude aurir seus conhecimentos e o quanto ele e Celso Amorim foram importantes para que o Brasil se tornasse, por fim, um protagonista da cena mundial.
Estimo que lhe tenha sido muito deprimente ver o Itamarati nas mãos de Serra e de Aloysio Nunes Ferreira. Nada pessoalmente contra esses dois autênticos micróbios intelectuais – mas é assustador saber que saímos de um Marco Aurélio Garcia, com seu brilhantismo, sua alta cultura, sua honestidade, para dois sujeitos que devem estar fazendo corar até mesmo os mais retrógrados diplomatas brasileiros.
Bestuntice e inteligência são raras de acontecerem num mesmo período histórico.
Aliás, num tempo em que um líder como o Lula está sendo perseguido por energúmenos, justamente por não preencher as acusações que lhes movem outros homens minúsculos, Marco Aurélio Garcia deve ter padecido o diabo.
Foi um autêntico patriota, Seu imenso coração brasileiro deve ter estourado ao ver o grande país que ele projetou desde seus tempos de juventude, ir por água abaixo, sem que ninguém conseguisse opor nem mesmo um berro.
Morreu Marco Aurélio Garcia: difícil imaginar alguém para substituí-lo.

A greve de 1917 106i11

ou despercebido o centenário da greve paulista de 1917, deflagrada por trabalhadores têxteis. O movimento teve início no dia 10 de junho na indústria de tecidos Rodolfo Crespi, localizada no bairro do Brás. Os operários reivindicavam aumento salarial de 25%. O proprietário recusa-se a entrar em negociações, ameaça os grevistas de demissão e afirma que fechará a fábrica.
Em poucas horas a paralisação ganha o apoio dos empregados de outras indústrias do bairro. Os empresários acreditam na derrota do movimento pelo cansaço e fome, e pedem o auxílio da polícia. A Força Pública intervém e a a efetuar prisões de homens e mulheres. No final do mês o movimento paredista havia se espalhado pelo interior do Estado. A direção da Votorantin, em Sorocaba, dispensa alguns operários, provocando intensa agitação em todas as seções da fabrica.
A greve permanece firme e avança pelo mês de julho. Everardo Dias (1886-1966), anarco-sindicalista espanhol imigrara criança para o Brasil, acompanhando o pai Antonio Dias, professor e maçon, envolvido em fracassado levante republicano. Aos 13 anos começa a trabalhar como tipógrafo no jornal “O Estado de S. Paulo”, onde permanece até concluir os estudos de professor. Autor do clássico História das Lutas Sociais no Brasil, editado em 1962, como uma das lideranças do movimento, assim descreveu a greve: “8 e 9 de julho – Densas demonstrações operárias no Brás e Mooca. Os estabelecimentos fabris vão paralisando o trabalho e os operários aderem imediatamente à massa que está na porta. Algumas fábricas onde se verifica que há operários trabalhando são apupadas e apedrejadas. A polícia, que guarnece as portas das fábricas, coloca-se, à ordem do delegado que patrulha, em posição de atirar, mas ninguém se intimida. Já não são alguns milhares, mas dezenas de milhares de grevistas que tomam conta das ruas. Na fábrica Mariângela, à Rua Flórida, a cavalaria carrega sobre a multidão, enquanto os agentes da polícia, à ordem do delegado, descarregam suas armas sobre os grevistas. Cai ferido mortalmente um jovem operário Antonio  I. Martinez, enquanto muitos outros estão também machucados. Efetuam-se prisões em massa” (pág. 293).
O enterro de Antonio Martinez, falecido no dia 11, é realizado no dia 12. O féretro sai às 8 horas da rua Caetano Pinto para o cemitério do Araçá. Escreve Everardo Dias: “Desde muito antes, a rua fica intransitável pela massa popular que se aglomera e se espalha pela avenida Rangel Pestana. Há também grande aparato de força militar: um batalhão forma na calçada fronteira de baioneta calada”.
O espírito libertário, que dava vida ao sindicalismo nas duas primeiras décadas do século XX, foi estrangulado pela Carta Constitucional de 1937, outorgada por Getúlio Vargas, e sepultado em 1943 pelos autores da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que encontraram na Carta Del Lavoro, de Benito Mussolini, a inspiração que buscavam para submeter a estrutura sindical ao controle do governo.
A redemocratização em 1946, e o restabelecimento das liberdades democráticas em 1988, não foram suficientes para proporcionar o direito à autonomia de organização às classes trabalhadoras e patronais. O art. 8º da Constituição conserva os sindicatos sob o controle do Ministério do Trabalho, mantém a divisão de empregados e patrões em categorias, garante o monopólio de representação, preserva a Contribuição Sindical, que deixará de ser compulsória.
Os estudiosos da matéria advertem sobre a possibilidade do desaparecimento das organizações sindicais como instrumentos de luta.  Diversos fatores atuariam nesse sentido: a) a incapacidade de formularem propostas convincentes de combate ao desemprego; b) o desaparecimento dos antagonismos de classes; c) a legislação trabalhista; d) a politização das organizações; g) o desencanto dos jovens.
A greve de 1917, encerrada no dia 17 de julho, mediante acordo negociado com o governo e os empresários pelos jornalistas Nestor Pestana, Amadeu Amaral, Paulo Mazzoldi, João Castaldi, Valdomiro Fleury, J.M. Lisboa Júnior, Umberto Serpieri, Valente de Andrade, João Silveira Junior, deve ser rememorada como capítulo heroico da luta do nascente operariado paulista contra o capitalismo selvagem.

O sindicalismo do século XXI dá demonstrações de perda do conteúdo ideológico, para se tornar fisiológico, alimentado por ambições pessoais alheias aos problemas das classes trabalhadoras. 6z382d

Quanto o mercado da música significa para a economia gaúcha d736a

Tarson Núñez 5c1v1g

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A cadeia de produção musical é linear, com o produto final resultando de uma série de atividades interligadas que vão adicionando valor ao produto final que é comercializado. Esse produto final pode ser um objeto, um e físico de conteúdo musical (CD ou LP), um evento (show ou apresentação) ou mesmo, atualmente, um mecanismo de copyright (um fonograma registrado para efeitos de direito autoral). Em todos esses casos, o caminho que vai da criação artística até a sua realização enquanto valor monetário é longo e a por múltiplos estágios que envolvem diferentes processos econômicos. A literatura divide as atividades de produção e comercialização dos produtos musicais em quatro etapas principais: criação, produção, divulgação e distribuição.
Até a década de 90, essa cadeia estruturava-se em torno da indústria fonográfica. As grandes gravadoras, companhias que faziam a mediação entre a produção dos artistas e o grande público, eram o ator central de um processo industrial altamente verticalizado. A partir da criação, praticamente todo o resto da cadeia dependia dessas empresas. Esse foi o modelo predominante desde a década de 40 até o final do século ado. As mudanças tecnológicas do final do século XX impactaram de forma profunda e irreversível a indústria fonográfica, abrindo caminho para um novo modelo de mercado musical.
Dois fatores foram essenciais nesse processo: o primeiro foi a redução dos custos dos equipamentos de gravação, que permitiu que o registro das músicas fosse realizado de maneira muito mais descentralizada, tornando a criação e a produção mais autônomas. O segundo foi a emergência das novas tecnologias de informação e comunicação, que abriram novos caminhos para a divulgação e a distribuição. A oferta de produtos diretamente pela internet, mediante  ou streaming, cresce no mundo inteiro. Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), o mercado global da indústria relacionado à reprodução digital vem crescendo em uma média de 6% ao ano desde 2009, atingindo os US$ 6,9 bilhões em 2014.
A cadeia da música não se restringe à relação entre o artista e o público. Ela tem como ponto de partida o processo de produção industrial dos insumos para a produção musical (instrumentos, equipamentos de amplificação e gravação, mídias virgens, etc.). Além disso, essa cadeia tem como pressuposto a formação de um mercado musical que envolve tanto a formação de músicos como a do público (escolas de música, cursos universitários, publicações especializadas, mídia, etc.), e também toda uma rede de espaços nos quais a música é: (a) apresentada ao vivo (teatros, casas de espetáculos ou clubes), (b) transmitida (via rádio, internet ou TV) ou (c) parte do contexto de outras atividades, sejam elas artísticas ou não (trilhas musicais de publicidade ou de outras produções audiovisuais e música ambiente em espaços públicos).
Entre esses dois extremos, artista e público, há todo um encadeamento de atividades econômicas relacionado ao processo de produção (estúdios de gravação, equipes técnicas, atividades de produção de espetáculos), à divulgação (assessorias de imprensa, publicações especializadas, rádios e programas de TV), à execução (teatros, casas de espetáculos, clubes, bares) e também ao processo de comercialização de produtos vinculados à música. Em torno dessas atividades identificam-se impactos adicionais em termos de e, como a contratação de serviços de logística (transporte, alojamento e alimentação) e de divulgação (design e produção gráfica). É, portanto, uma cadeia longa e complexa de atividades econômicas, envolvendo uma grande quantidade de empreendimentos tanto no campo industrial como de serviços.
No Rio Grande do Sul, a cadeia da música, identificada a partir dos critérios estabelecidos pela literatura nacional e internacional existente sobre o setor, envolve um conjunto de empreendimentos extenso, com a presença de praticamente todos os elos da cadeia. Uma primeira aproximação, ainda que limitada, ao peso dessa cadeia pode ser feita a partir dos dados disponíveis no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), relativos ao ano de 2015, apontam a existência de 3.982 empresas formais, envolvendo um contingente de mais de 16 mil postos de trabalho, movimentando em salários e outras remunerações mais de R$ 240 milhões por ano. Isso se refere apenas a uma parte do mercado real, uma vez que no âmbito da música, mais do que em outras atividades da chamada economia criativa, o grau de informalidade das atividades é muito alto. Grande parte das atividades musicais realizadas, como as performances ao vivo, dá-se sem qualquer contratação formal ou registro de transação monetária. Além disso, para grande parte dos músicos daqui, viver exclusivamente de sua atividade artística é difícil, o que implica no exercício de outras atividades remuneradas. Além disso, parte significativa das atividades deste campo está relacionada a outras atividades econômicas, o que dificulta sua identificação. Um músico que faz jingles é encontrado nas estatísticas relativas à publicidade, um músico que dá aulas é encontrado nas estatísticas das atividades educacionais, entre tantos outros casos.
As estatísticas existentes, portanto, permitem identificar apenas de uma forma muito limitada o impacto da cadeia da música na economia do Estado. No entanto, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, cuja última versão é de 2008-09, permite fazer uma aproximação do potencial de mercado das atividades relacionadas à música. Segundo a POF, os gastos com cultura representam 5% dos gastos das famílias. Tomando-se como base os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul, é possível fazer uma aproximação do peso do consumo da música das famílias no Estado. De acordo com os últimos dados disponíveis, o consumo das famílias representa 58,1% do PIB do RS (FEE, 2013). Considerando-se que o PIB do RS, neste ano, foi da ordem de R$ 331 bilhões, é possível projetar que, em nosso estado, os gastos com atividades culturais são da ordem de R$ 9,6 bilhões por ano. Visto que os gastos diretamente com o consumo de música representam 6,9% dos gastos com cultura, pode-se estimar que o mercado da música movimenta, anualmente, pelo menos R$ 660 milhões no Estado.
Esses dados mostram apenas uma parte da realidade do mercado da música, e os seus limites apontam para a importância do aprofundamento dos estudos sobre essa cadeia produtiva. O setor é parte de uma tendência global de importância crescente do setor de serviços na economia. Mais do que isso, a economia criativa é cada vez mais um campo em expansão que tem um potencial de integração importante em cadeias globais de valor. Conhecer melhor o setor, identificar suas potencialidades e pensar políticas públicas que contribuam para potencializar seu impacto na economia gaúcha é um grande desafio.
*Tarso Núñez é pesquisador em Ciência Política da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Artigo publicado originalmente na edição de julho da  Carta de Conjuntura da FEE, com o título “O mercado da música e o seu significado para a economia do Rio Grande do Sul”.

Acordo de Paris: saída dos EUA reforça nova dinâmica geopolítica e protagonismo da China 4l3369

Luiz Eduardo Osorio*
A recente saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris terá amplos reflexos sobre o cenário diplomático, econômico e ambiental. Em um momento em que nações e empresas se preparam para a transição rumo a uma economia de baixo carbono, a decisão norte-americana abre espaço para uma maior aproximação entre China e Europa. Também aumenta a pressão internacional sobre os líderes globais para que estabeleçam metas mais ambiciosas de redução de emissões e as anunciem nas próximas reuniões climáticas.
Em dezembro de 2015, 196 nações reuniram-se em Paris e concordaram em manter o aumento da temperatura média global em menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais. Esse compromisso público, assumido também pelo governo dos Estados Unidos, foi firmado e enviado ao Alto Comissariado das Organizações das Nações Unidas (ONU). Esta ação contrasta com a postura adotada em relação ao Protocolo de Kyoto, que não chegou a ser aceito ou ratificado pelo governo norte-americano.  No pior cenário traçado pela ONU, sem o comprometimento dos Estados Unidos, poderia haver um aumento de 0,3°C na temperatura global para além dos 2º C.
Ao rever a sua adesão ao Acordo de Paris, os Estados Unidos tornam-se, ao lado da Síria (em guerra civil) e da Nicarágua (que considerou o acordo tímido), parte dos três únicos países do mundo que não se comprometeram a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O vácuo geopolítico criado estimula uma maior aproximação entre China e Europa, que já reforçaram nas últimas semanas o engajamento em relação ao tema das mudanças do clima, acenando inclusive com um potencial intercâmbio de permissão de emissões entre os países, assim como investimentos cruzados.
Em busca de maior protagonismo internacional e competitividade de seus produtos nesse novo cenário, a China direciona os seus esforços diplomáticos e de cooperação para acelerar a expansão das fontes limpas de energia na matriz elétrica global. O governo chinês é o principal incentivador da Global Energy Interconnection (GEI), que tem como meta ampliar para 80% a participação das fontes renováveis no consumo primário global de energia em 2050. Para cumprir este objetivo ambicioso, a estimativa é a de que o GEI demande US$ 50 trilhões em investimentos em novas usinas, como eólicas e solar, e na construção de grandes sistemas de transmissão, que promoveriam a interconexão dos cincos continentes.
Embora o desfecho da iniciativa seja incerto, observa-se que o Acordo de Paris se insere em um contexto de reconfiguração do fluxo de investimentos e comerciais, de rearranjo dos acordos geopolíticos e abertura de novos mercados. Com a manutenção da precificação do carbono como uma tendência irreversível, o retrocesso no apoio às fontes renováveis de energia significaria prejuízos financeiros, com perda de competitividade industrial e de exportações. Alguns governos, como o da França, já estudam sobretaxar em 100 euros por tonelada de CO2 os produtos importados, cuja pegada de carbono não tenha sido neutralizada.
Aqui, novamente, nota-se o governo chinês utilizando o seu peso geopolítico e econômica para fomentar um novo modelo de desenvolvimento. Com a China mantendo seus preparativos para lançar seu mercado nacional de carbono neste ano, estima-se que 20% das emissões globais serão cobertas por mecanismos de precificação, hoje adotados por mais de 60 países e mais de 500 empresas no mundo. Outras 700 companhias planejam fazer o mesmo até 2018, segundo o CDP.
A preocupação de ver as “portas fechadas” para as oportunidades de um mundo voltado para a economia de baixo carbono tem estimulado autoridades municipais e estaduais dos Estados Unidos a reforçar ou ampliar o compromisso com políticas públicas e tecnologias verdes. Os estados de Nova York, Washington e Califórnia – que reúnem um quinto da população e do PIB do país e responderam por 11% das emissões em 2014 – anunciaram que irão manter as suas metas de redução de poluição global, mesmo com a decisão do governo federal na direção oposta. Outras 200 prefeituras fizeram pronunciamentos na mesma direção.
A Califórnia – que, se fosse um país, seria a sexta maior economia mundial – reforçou sua decisão de que 50% de sua energia seja oriunda de fontes renováveis até 2030 e que toda sua energia seja gerada por fontes limpas até 2045. A região quer criar mais valor na economia de baixo carbono. Com a adoção de leis que buscaram incentivar a utilização de novas tecnologias, a economia da Califórnia expandiu 80% entre 1990 e 2014 e sua população cresceu 30%, mas as emissões per capita caíram cerca de 20% neste período e as emissões por produção econômica despencaram 44%, segundo estudo da Comissão de Energia do Estado.
Os resultados alcançados pela Califórnia ao longo das últimas três décadas reforçam a percepção de que crescimento econômico e redução das emissões de CO2 podem caminhar lado a lado, gerando riquezas, renda e novos empregos. Estudo recente da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, sigla em inglês) prevê que essas fontes de energia deverão agregar US$19 trilhões para a economia mundial até 2050 e criar seis milhões de empregos.
A nova configuração do Acordo de Paris não terá impactos significativos no curto prazo para o Brasil, que, no começo de junho, promulgou os compromissos assumidos pelo País para combater as mudanças do clima. Dispondo de uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo – sendo 80% da geração elétrica oriunda de fontes limpas, com ênfase para as hidrelétricas e usinas eólicas –, o Brasil e as empresas brasileiras podem ganhar espaço no cenário internacional, por exemplo, seja atraindo investimentos em fontes renováveis, seja na exportação de produtos com menor pegada de carbono.
No médio e longo prazos, a nova dinâmica geopolítica pode significar o estreitamento dos laços econômicos de Brasil e China. Hoje, o país asiático já é o principal parceiro comercial do nosso País e caminha para se consolidar como um dos principais investidores estrangeiros, sobretudo no campo da infraestrutura. A cooperação entre as duas nações, a exemplo da criação de um fundo de investimento com US$20 bilhões para financiar projetos nas áreas de Logística, Energia, Recursos Minerais, Agricultura, Indústria de Manufatura e Serviços Digitais, pode alçar o Brasil à posição de líder proeminente no processo de transição para uma economia global de baixo carbono.
 

Por que o Congresso ignora os sentimentos populares? 1e402r

Roberto Amaral
Reforma da legislação eleitoral não é reforma política, e é desta que carecemos para reconstruir a República.
A crise política, que se desenvolve no corpo de aguda crise institucional, em progresso, denuncia o esgotamento do nosso modelo de democracia representativa, aquela que deriva da soberania popular, cuja única voz é o voto livre.
Não se trata, porém, de fenômeno ‘natural’, resultado do mau humor dos astros, pois decorre da captura, pelo poder econômico, do sistema de representação, maculando-a de forma letal.  Exemplo desta distonia é oferecido pelo Poder Legislativo, em sua maioria esmagadora composto por parlamentares que não representam o eleitorado, mas sim os interesses do empresariado, o grande “eleitor”, pois é o financiador das eleições. Evidentemente, a manipulação do voto pelos donos do dinheiro e seus servidores (como os meios de comunicação de massas) ditaria a composição de nossas casas legislativas, absurdamente descomadas da sociedade brasileira.
Vejamos o perfil da Câmara dos Deputados fornecido pelo Dieese: 42% dos deputados são empresários (incluindo fazendeiros) e apenas 22% são assalariados; 49% são homens e 12% mulheres, num país em que as mulheres representam 51% da população, e apenas 10% são negros, que, no entanto, somam 54% da população.
De cada três parlamentares, dois estão com o nome inscrito na Dívida Ativa da União, um total de  337 num colégio de 513 representantes, e respondem por um débito de quase 3 bilhões de reais. Diz o dono da JBS que seu conglomerado financiou a campanha eleitoral de algo como 1,8 mil candidatos. E não são, ainda, públicas, as cifras da Odebrecht, da OAS, da Camargo Correia et caterva.
A quem pertencem os mandatos assim adquiridos?
Só a carência de representação pode explicar o parlamento de hoje, cego e surdo aos sentimentos e necessidades da população. Não se trata, porém, de autismo político, mas do reconhecimento, pelo parlamentar, da fonte real de seu mandato: o poder econômico.
A consciência prática dessa origem explica por que em um poder dependente do voto, pode o parlamentar, sem medo de perder o mandato ou de não renová-lo, aprovar a “reforma” trabalhista e a “reforma” da Previdência. E, ainda, tornar-se cão de fila de um governo ilegítimo, afundado em fraude e corrupção –  cujo chefe é o próprio presidente da República, rejeitado por 93% da população, segundo o Datafolha.
Se o eleitor não se vê representado pelo representante, se ele não vê na política o meio de defesa de seus direitos e interesses (e os de sua comunidade), por que levaria a política a sério?
A desmoralização da política é a grande via que o autoritarismo percorre para atingir a democracia tout court, mesmo em se tratando de uma democracia para poucos, como a nossa.
A Procuradoria-Geral da República anuncia para breve mais duas denúncias contra o presidente. Somam-se, assim, em Michel Temer, presidente perjuro, a incompetência, o mandonismo, o autoritarismo e o desvio de funções, acentuando sua ilegitimidade.
Hoje amargamos mais um anúncio de queda do PIB, o aumento da dívida, a queda da arrecadação e a agudização do déficit fiscal. Fracasso absoluto dos “salvadores da Pátria”. Em apenas dois pontos avança o governante: no desmonte de nosso país (compreendendo a desnacionalização da economia) e na tentativa de revogação de direitos dos trabalhadores. E o primeiro-ministro Henrique Meirelles (chegado do Banco de Boston e do Conselho da holding dos irmãos Batista) já anunciou para breve o aumento dos impostos, diante do silêncio da Fiesp, que não sabe onde enfiar seu pato.
Mas não é este, ainda, o caráter mais danoso da famiglia que tem no presidente da República o seu capo e no Palácio do Jaburu sua caverna. O mais deletério está no projeto, em curso avançado, de, para além de destruir com os direitos dos trabalhadores e aposentados, promover em trote apressado, a desconstrução nacional, demonizando a política, privatizando a preço de banana empresas estatais essenciais ao nosso desenvolvimento, fomentando a desnacionalização da economia, abrindo generosa e irresponsavelmente nosso território e nossas fronteiras ao capital privado estrangeiro, renunciando, por fim, à defesa de nossa soberania e ao exercício de uma política externa condicionada pelos interesses nacionais.
É este o governo sustentado pela grande maioria dos meios de comunicação de massa e pelo Congresso Nacional, transformado em cartório do Executivo.
Mas não só por eles, pois ainda mais eficazmente está a sustentá-lo o Poder Judiciário, que não titubeia quando lhe cabe negar a ordem constitucional, rasgada inumeráveis vezes pelo STF, cuja existência só se justifica como seu guardião. A presidente Cármen Lúcia – que parece não ver a crise ética do STF – diz estar atenta “às vozes das ruas”.

Em uma das votações da reforma da Previdência, o Congresso, cego e surdo aos anseios da população, precisou de ajuda da polícia para votar

Não sei a quais ruas se refere sua excelência, sei é que as ruas devem ser ouvidas, mas  pelo Poder Legislativo, que no entanto diante delas faz ouvidos de mercador. O Poder Judiciário deve cuidar de outras vozes, como as da Constituição e do Direito. No frigir dos ovos, a quem ouve a alta Corte?
O Poder Judiciário comporta-se ora como partido da classe dominante, ora como partido corporativo, para manter seus privilégios antirrepublicanos.
A ilegitimidade de um Poder está imbricada na ilegitimidade de outro (interdependentes como irmãos siameses), e ela se completa no triste quadro de partidarização do Judiciário, do piso à mais alta Corte. A ilegitimidade caminha como rio por entre vasos comunicantes e expõe a crise da representação, sem a qual não há democracia sustentável.
Em face de tal quadro, os que o reconhecem apontam como saída uma reforma band-aid, que é simplesmente uma reforma eleitoral, por isso mesmo limitada, necessária mas insuficiente, incapaz de atingir o âmago de nosso desarranjo.
O que no Congresso e fora dele é identificado como reforma ‘política’ não a, até aqui, de mera reforma das regras das disputas eleitorais. Ora a questão crucial, voltemos, é a crise, profunda, de nossa democracia representativa, que pede uma reforma política, compreendida esta como reforma do Estado (não me refiro ao estamento burocrático). O refazimento da legislação eleitoral deverá estar embutido na reforma política, que terá de rever as competências e as estruturas dos poderes da República (Legislativo, Executivo e Judiciário), carentes, os três, em níveis diversificados, de legitimidade, afastados que estão daquela vontade emanada pela soberania popular.
As reformas são interdependentes porque a reforma maior e substantiva, a reforma política, não será possível sem a reforma da legislação eleitoral.  Mas essa reforma não tem vindo a lume porque algo digno desse nome ferirá interesses estabelecidos, dos quais os parlamentares são delegados.
Como romper o círculo vicioso?
As discussões relativas à reforma da legislação eleitoral não têm merecido o eco da grande imprensa, que elege seus temas segundo os interesses de seus donos. Os partidos se prendem aos aspectos menores, preocupados todos eles em garantir o melhor proveito. E assim, circunscrito o debate aos gabinetes da Câmara e do Senado, simplesmente se empurra com a barriga questão tão crucial, embora todos concordem com a necessidade de um novo ordenamento legal.
Uma alternativa é trazer o debate para a sociedade, abrindo caminho para uma mobilização popular em condições de influenciar o Poder Legislativo, esse que temos.

A Carris e o sucateamento programado m3g2w

Jeferson Fernandes*

Há pouco dias recebemos na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS a visita de funcionários da Companhia Carris Porto-alegrense.

Na oportunidade, foi realizado o relato do quadro atual dessa que é a mais antiga empresa de transporte coletivo em atividade no país, que neste mês de junho completou 145 anos.

Conforme explanou Rogério Escouto, funcionário da Companhia, “na atual gestão municipal, não há mais nenhum tipo de diálogo entre a direção da empresa e os funcionários, que sofrem perseguição e assédio moral, como a revista forçada de seus pertences ao saírem diariamente do trabalho.”

E o que é mais agravante, segundo Alvani Germann, também funcionária, é que todos os sinais dão conta de que a Companhia está sendo preparada para ser entregue à iniciativa privada.

Atualmente, a Carris é juridicamente uma sociedade de economia mista com o controle acionário da Prefeitura Municipal, que detém 99,9% de suas ações.

Ainda segundo eles, há meses os funcionários vivem com a agonia de ver de 40 a 70 veículos diariamente parados nas garagens, aguardando consertos e pequenos reparos.

O resultado disso a população conhece de sobra: linhas com ônibus superlotados, atrasos constantes, veículos já oferecendo péssimas condições de conforto e segurança aos seus usuários.

Enfim, o quadro ideal para que a população e a odiar a Carris e defender a sua privatização.

Aliás, o então candidato Marchezan Jr. já havia proferido sua sentença sobre o futuro da Carris. Em entrevista concedida em outubro de 2016, a Daniel Scola, da Rádio Gaúcha, declarou:

A Carris dá prejuízo de R$ 50 milhões. Alguém lucra com o prejuízo da Carris. E não é o cidadão. Nós vamos chegar e sentar com todas as pessoas que trabalham lá e explicar que a Carris não é para eles. A Carris é de Porto Alegre. A Carris não pode dar prejuízo.”

E quando perguntado objetivamente sobre a possibilidade de privatização, afirmou: “Esse é o futuro dela se continuar dando prejuízo.”

Ou seja, joga sobre os funcionários toda a culpa do alegado déficit e não propõe nenhuma política de recuperação financeira e modernização da frota. É um sucateamento programado.

Deixa-se o ambiente de crise chegar a um ponto crítico incontornável, para depois anunciar a morte dessa que já foi considerada pela Associação Nacional dos Transportes Públicos como a melhor empresa de ônibus urbano do Brasil (1999 e 2001).

É do DNA dos neoliberais o sucateamento de patrimônio público para depois entregá-los à iniciativa privada. Neste caso específico, um sucateamento que iniciou na coalizão de governo anterior e está sendo aprofundado pela atual istração.

E não se trata de um assunto menor, periférico. Estamos falando de uma verdadeira instituição pública, que até poucos anos atrás era motivo de orgulho e satisfação pela excelência dos serviços prestados à cidadania porto-alegrense.

Precisamos somar forças políticas e sociais para buscar frear esse ímpeto privatista que busca condenar um dos maiores símbolos de cidadania de Porto Alegre a virar artigo de museu.

*Deputado Estadual, presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

Ações cooperativas transformam o mundo 3d6r42

Erradicação da pobreza, trabalho digno, crescimento econômico, cidades sustentáveis, parcerias em prol das metas.
Esses são alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas, em setembro de 2015, com metas a serem atingidas até 2030. E o que esses objetivos têm em comum?
Todos depositam no esforço coletivo, na colaboração, a responsabilidade de saltar do patamar do discurso ao das atitudes concretas e transformadoras.
Os Objetivos expressam um modelo de atuação diretamente ligado ao potencial de colaboração entre os agentes comprometidos com determinadas causas, assim como um dos pilares do cooperativismo. Juntos, indivíduos e instituições podem mais, são capazes de compartilhar conhecimento e chegar a soluções sustentáveis, sob os pontos de vista social, econômico e ambiental. Um caminho tão ambicioso quanto necessário.
Muitas sociedades ao redor do mundo já chegaram a essa conclusão. Não por acaso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é maior em municípios com atuação de empreendimentos cooperativos, de acordo com pesquisa divulgada pela FEA-USP, em 2004.
No Brasil, o cooperativismo tem se desenvolvido com o processo intenso de busca pela melhoria da gestão e de iniciativas que resultam no aumento de competitividade das cooperativas.
Atualmente, são mais de 13,2 milhões de cooperados em mais de 6.600 cooperativas que, juntas, geram 380 mil empregos diretos. Ainda há um bom espaço de crescimento do cooperativismo no Brasil para que se alcance o índice de países desenvolvidos, onde os cooperados são quase metade da população.
Celebrado anualmente no primeiro sábado de julho, o Dia Internacional do Cooperativismo chancela, de forma definitiva e com alcance mundial, o papel e a importância desse modelo de atuação para contribuir com o atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Os impactos sociais positivos das cooperativas atingem e beneficiam não somente seus cooperados, mas também a população do entorno.
No Brasil, especificamente, um dos maiores desafios relacionados aos ODS é o da superação das desigualdades. Esse é um exemplo que se configura como terreno fértil para a atuação das cooperativas. Conhecer a realidade local, transitar entre as instituições e estabelecer relações sólidas são vocações das cooperativas, e um ativo que elas podem emprestar a toda a comunidade.
Por isso, o Dia Internacional do Cooperativismo é celebrado também com o Dia C, que em 2017 traz o tema “Atitudes simples movem o mundo”.
Os desafios são muitos e a responsabilidade está em nossas mãos. Cabe a nós, cooperados, representantes de instituições de fomento e apoio ao cooperativismo, acadêmicos dedicados ao estudo desse modelo ou mesmo entusiastas do tema, disseminar essa prática.
É a nossa contribuição para um futuro mais sustentável. Em um cenário em que cooperar é o caminho, compartilhar conhecimento é o primeiro o.
*Márcio Lopes de Freitas é presidente do Sistema OCB
 
 

A Crise Política Atual e o Ime de Desenvolvimento c5942

Jaime Rodrigues*
No atual momento é extremamente oportuno e necessário construirmos uma ampla análise sobre a realidade que vivemos em nossa sociedade. É urgente nos prepararmos para a superação da crise política forjada desde muito antes ao golpe realizado com o “impeachment” ao governo de Dilma e sempre com base no ridículo “Fonte para o Futuro”.
Este governo atual e seus apoiadores tem adotado uma orientação antipopular e antidemocrático, diminuindo os salários dos trabalhadores brasileiros, retirando a segurança no trabalho, terminando com sua aposentadoria. Na Condição de Vida dos cidadãos e cidadãs reduz ou mesmo termina com investimentos em educação, saúde, habitação e muitas outras funções e elementos. Junto enfraquece o Estado com privatização de grande parte de sua estrutura e também descaracterizando a força institucional com atividades do poder executivo, judicial e parlamentar.
O Meio Ambiente já está sendo afetado. Uma política de “retração” sem necessidade. Muito grave é a descaracterização da Constituição do Brasil. A orientação e atuação da poderosa mídia no Brasil lidera a informação e o poder de análise limitando a mobilização de toda a população. São respostas conservadoras às questões do momento.
Este debate é importante na trajetória de enfrentamento aos imes de desenvolvimento no atual “tempo histórico”. Diversas modificações objetivas alteram a estrutura da sociedade e exigem novas soluções em sua dinâmica maior. O domínio atual da condução destas mudanças no país tem sido das forças conservadoras. Um caminho que aproveita deficiências ou vazios nas orientações progressistas que, em outra situação e com outras exigências aplicou um rumo muito positivo. Quais suas características, sua dimensão, a relação que apresenta para as limitações à Democracia atual e qual a capacidade de um país como o Brasil em sua superação destes imes com benefício popular. São fortes desafios. Um debate que para ser decisivo deve contar neste processo da população a partir das lutas concretas.
 A “transição” que vivemos
Hoje vivemos em uma transformação da sociedade no mundo todo. Suas mudanças são amplas no sentido que abarcam e articulam sua estrutura entre as pessoas e no seu conjunto. Um fator essencial é a tecnologia bastante inovadora, com renovação rápida e que altera todas as atividades. Seu controle tem sido com domínio do Sistema Financeiro.
As Relações de trabalho, Relações de Produção, Valores da Ideologia, Sistema da Política, Os Valores da Cultura, Condições de Vida da População, o Meio Ambiente. Foi implementada uma reorganização das estruturas institucionais do Estado e também das empresas, partidos e entidades de comunicação. Afeta todas as funções e elementos de organização da sociedade nas Formas, Valores e Sentimentos nas relações entre cidadãs e cidadãos. Altera e transforma os valores e modifica o individualismo, o medo, aumenta a violência, faz predominar a concorrência em todas relações. Traz novas características de submissão por imposição de quem domina ou é dominado. Estabelece uma “pastagem” na apresentação e no convívio nas diversas realidades, um caminho de indefinição que permite exercer e aumentar o poder.
No crescimento econômico atual os grandes lucros existem principalmente no Sistema Financeiro. Nas Relações de Produção a rápida mudança da tecnocracia utilizada e a sua complexidade de funcionamento, com seus altos custos   onde pequenos equívocos geram imensas alterações de resultados. Esta enorme insegurança tem sido um dos aspectos para o domínio pelo grande capital. Ao mesmo tempo existem alterações no consumo e do mercado assim como o valor da mão de obra na mercadoria, o que para o capitalismo são conceitos decisivos.
Da mesma forma a dimensão internacional da economia em toda sua combinação sofreu profundas modificações, atualmente um comércio pequeno. Como podemos ver é um panorama muito complexo e com diferenças com a realidade que havia sido alcançado no ado.
A exploração da Mão de Obra aumentou agora mesmo quando o salário, por acaso, seja maior porque a sua produtividade é muito maior. Insatisfeitos, entretanto, o capitalismo quer colocar o trabalhador em situação de enorme defensiva e garantir a exploração agregada no valor na produção. É simplesmente usar e jogar fora. As pessoas têm sido condicionadas hoje à concorrência e oportunismo aos demais com a perda da significativa Solidariedade que a trajetória da vida nos trouxe, são valores recente no capitalismo. Qualquer caminho progressista será necessariamente participativo e democrático. Os trabalhadores ficam sem força para questionar e, inclusive, sem capacidade de preparo para sua própria qualificação profissional. Cada caso é específico e em todos os países e regiões guardam dinâmicas próprias. Sua força real de dominação é conduzida pelo Setor Financeiro.
A sexta economia do mundo
No Brasil estão bastante presentes estes aspectos de crescimento. Hoje a política conservadora atua para exercer domínio ainda maior mesmo com retração no crescimento. Neste sentido se vale dos participantes do atual governo que sempre foram altamente negativos na sua presença e na formulação de caminhos na história brasileira. Suas presenças são oportunistas e procuram “encostar” nas estruturas existentes, mas sempre diferenciados pelo seu aspecto medíocre. A proposta defendida por estas forças nos conduz para uma realidade de Colônia. Concentra na diminuição do Estado, a redução do preço e garantia do trabalho, desmoraliza toda a política para fortalecer seu domínio direto e, junto estabelece o predomínio em setores como a “agroindústria”, privatiza empresas como a Petrobrás, da mesma forma a exploração da água e extração de outros elementos da natureza. Infelizmente as forças conservadoras de tradição histórica e significado mostram debilidade profunda para alcançar um caminho alternativo e consistente. Infelizmente ainda não abriu espaços e, ou, não conseguem soluções mais sérias.
Em nossa história desde a República Nova construímos estruturas muito fortes como a indústria, uma forte mão de obra (inclusive qualificada). Igualmente temos soluções de agricultura, comércio e serviços. Nosso Estado é sólido e importante em sua atuação em todos aspectos da sociedade. No processo de desenvolvimento deverá ser atualizado, mas não reduzido.
Nossos governos recentes foram de sucesso e melhorias na sociedade. É evidente de limites, erros e deficiências, mas nada em que o diálogo aberto e participativo não possa superar e inclusive construir valores novos e necessários. Não temos dívidas no exterior, guardamos uma reserva de 380 bilhões de dólares, somos um país continental, temos uma possibilidade ampla para autonomia e nossos “inimigos” do exterior estão muito débeis. E mais ainda, temos importantes “amigos” no mundo para construir ou avançar. Nós somos fortes, mesmo sendo um país que teve 350 anos de escravidão, mais uns tantos de coronelismo e no entanto alcança ser a sétima potência do mundo, disputando a sexta.
Esta orientação de querer nos humilhar é reacionário. Ocorre que no atuai momento a política dos “containers” apresenta uma solução de colônia para o tempo atuai. É violenta, não aceita diálogo, é impositiva e autoritária na política e relacionamento. Impõe valores de submissão na relação de toda a sociedade. Ocorre que sua estrutura mostra ser fraca e superada, rapidamente apresenta defeitos. Uma solução progressista, no entanto, não surge sem uma luta clara e sem uma proposta que permita avançar em tempos de domínio do poderoso sistema financeiro.
Esquerda
As forças progressistas apresentam políticas de confronto baseado quase que só em questões imediatas de questionamento às desastrosas atitudes do governo e seus sustentadores. Não apareceram valores maiores de autocrítica às suas deficiências e debilidades que facilitaram a realidade atual. Não alcançamos ainda uma avaliação da crise que vivemos e, menos ainda, foram conseguidas alternativas de propostas. O grande mérito já iniciado é o início forte de um Processo Político Progressista. Surgem novas e grandes lideranças, antigos líderes como o do ex-presidente Lula que está renascendo com alto reconhecimento de sua liderança. Junto podemos ver importante organização popular e movimentos com questões novas e acompanhadas de soluções fortes. Muita coragem, acompanhadas de perguntas que exigem determinações em superar nossos limites.
Um tema muito presente neste questionamento é saber como atingir a chamada “periferia e sua população” de nossas enormes cidades brasileiras. Qual é o caminho para sua inserção na sociedade e como podem se movimentar em nosso país que concentrou uma das maiores quantidades destas Metrópoles no mundo. Fenômeno em parte construído pela recente ditadura a partir de um acelerado êxodo rural em tempo muito curto. Da mesma forma todos nós queremos saber como será a sociedade na época atual.
É evidente que é impossível previsões antecipadas e absolutas. Mas as perguntas e formulação de diretrizes são elementos necessárias para, na prática e na luta debatermos e construirmos o futuro.
Mais Democracia
Nossa luta é complexa e grande. Sua evolução nos ensina que a participação é fundamental. Trata-se de um fator para nos indicar que a luta é para ser construída pela população e por ela decidida. Os caminhos de representatividade não podem pretender a mesma importância prática que representou no ado do Brasil e em diversos países. Este significado é de força e caráter de solução assim como a própria possibilidade de ser revolucionário e transformadora. Soluções amenas são muito limitadas o que não quer dizer o “radicalismo”. O próprio capitalismo encontra dificuldades de definir propostas e ser aceito.
Esta pontualidade de questões sugeridas é só um exercício. Não tem pretensão de fazer afirmações mais complexas. A proposta progressista mostra ser oposta ao que os conservadores adotam até agora. A definição de Sociedade é inovadora e efetivamente deve ser construída para estruturar sua dinâmica. A Nação que foi extremamente determinante no estabelecimento do capitalismo em tempos mais remotos deve ser retomado, agora para garantir o Desenvolvimento da Sociedade, superar a polarização, modificar a Relação de Trabalho, favorecer a pequena e média empresa, ampliar o diálogo com os mais ricos e qualificar a Condição de Vida do país.
Para alcançarmos esta situação é fundamental reorganizar a Democracia com Participação e Poder Direto Ampliado. Garantir e qualificar o Estado é fundamental porque esta Sociedade depende de sua presença. Várias questões essenciais aparecem neste sentido, em condições imediatas e na reorganização futura. É decisiva a reforma fiscal, alterar a sistemática dos juros na relação financeira, defender a Nação na relação de comércio externo. As exigências hoje são em grande parte de nova condições técnicas, portanto é necessária sua transformação para beneficiar ao Cidadão e à Cidadã, o que é diferente da simples “modernidade” várias vezes colocado.  É urgente nova Assembleia Constituinte a nosso país e, como coerência de proposta é fundamental que sejam Eleições Diretas.
* Urbanista/Historiador

Por que Temer ainda não caiu? 4o4t46

Muitos se perguntam: por que, após tantas denúncias, ditadas e repetidas por fontes as mais diversas, e insuspeitas, como a voz dos ex-sócios, Michel Temer ainda não caiu, quando foi tão fácil depor a presidente Dilma Rousseff?
Como se sustenta um presidente sem apoio no voto, ungido ao poder por um golpe de Estado midiático-parlamentar (onde começa a desmilinguir-se seu mando), e desfrutando do desapreço da população de seu país, de quem foge, acuado, escondido no bunker em que foi transformado o Palácio do Jaburu?
Vários fatores podem, no conjunto, constituir uma resposta mais ou menos satisfatória. Mas, antes de mais nada, lembremos que, divergências secundárias à parte, mantem-se de pé a coalizão econômico-política montada lá atrás para assegurar o impeachment. O capital financeiro, o agronegócio, as igrejas pentecostais e suas representações no Congresso e nos grandes meios de comunicação, permanecem unificados em torno das ‘reformas’, eufemismo com o qual se designa o projeto, em curso acelerado, de regressão política, social e econômica do País, cujo alcance paga qualquer preço.
Para esse efeito, Temer é peça secundária, instrumento descartável a qualquer momento. E por que não é jogado ao mar como carga imprestável? Por que a troca de guarda coloca, entre várias outras questões (como a relativa apatia das ruas, o medo dos parlamentares em face dos seus ‘justiceiros’, e o ‘risco Lula’, etc.) dois problemas, para o establishment: um, o modus faciendi do descarte, que precisa respeitar, pelo menos nas aparências mais vistosas, as regras constitucionais, e, dois, a necessidade de que a substituição se faça em segurança, para que no lugar de Francisco se sente Chico, comprometido, como ele, com as ‘reformas’.
Por tais razões, nenhuma porta pode ser aberta, mesmo pela direita, sem o concurso, ora da Câmara dos Deputados (a quem cabe autorizar ou não o impeachment e a abertura de processo contra o presidente), ora do Supremo Tribunal Federal, que, para dizer o mínimo, deixa muito a desejar na sua letargia, no seu partidarismo, sempre atendendo aos movimentos dos cordéis comandados pelo poder.
Lamentavelmente, após um lento processo de corrosão (derivado em elevada potência do desastre do processo político-eleitoral em agonia), apresentam-se derruídas as bases morais e constitucionais dos poderes projetados pela soberania popular (e sobre todos reinam os poderes econômicos e mediáticos), pois estamos em face da falência de representatividade (donde perda de legitimidade) tanto do Legislativo quanto do Executivo – ambos, ademais, acusados de corrupção congênita.
Que dizer de uma Câmara dos Deputados presidida, até ontem, pelo presidiário Eduardo Cunha (hoje por Rodrigo Maia), ou de um Poder Executivo chefiado por Michel Temer, aguardando, em doce vilegiatura pela Europa, a denúncia por crime de corrupção com a qual lhe acenam a PGR e o STF?
Um de seus comparsas, em crise com a chefia, como quase sempre ocorre nos momentos de divisão do butim, resumiu bem, e com a autoridade que ninguém lhe nega, o retrato da organização criminosa: “metade está na cadeia e metade está no Palácio do Planalto”, sua caverna, sua toca.
O Judiciário, por seu turno, faz sua parte, seja como instituição, seja pelo comportamento de alguns de seus membros. Lento e parcial, contraditório em suas decisões (de que deriva a insegurança jurídica), desrespeita direitos amparados pela Constituição e invade áreas do Legislativo e do Executivo. Partidarizado, intervém no processo político, como ao não julgar a liminar sobre a proibição de Lula assumir a chefia da Casa Civil de Dilma Rousseff. Omitindo-se, ardilosamente, abriu, consciente e deliberadamente, o caminho de que as forças golpistas careciam para abrir caminho ao impeachment, do qual se fez coator.
Quando a todos nos parecia que o ridículo, o opróbrio, o inusual, o insuspeitável, o escandaloso teria sido esgotado pelo espetáculo de chanchada chinfrim oferecido pela Câmara dos Deputados na lamentável e cara (sabe-se agora, pelas delações premiadas, quanto de propina custou aquela votação!) sessão de 17 de abril de 2016, quando aceitou a denúncia contra Dilma Rousseff, eis que o julgamento, pelo TSE, do pedido tucano derrotado de desclassificação da chapa vitoriosa em 2014, se transforma em episódio lamentável.
Refiro-me evidentemente, ao comportamento do presidente da sessão (debochado, insolente, mal-educado, rompendo as raias do ridículo), o ainda ministro Gilmar Mendes, ministro do STF e do TSE, advogado militante, empresário do ensino privado, promotor de convescotes com homens de negócios e acadêmicos sem nomeada, assessor de réus que ora julga no tribunal eleitoral, ora julga no Supremo, e, finalmente, com sua família, fornecedor de bois para o complexo JBS.
Com sua falta de educação e contínua deslealdade diante de seus colegas, assusta um acomodado STF que, sem nervos e músculos para impor-se, recusa o dever de chamá-lo à ordem.
Esquece-se porém, o tribunal, que a História não julgará isoladamente este ou aquele ministro, este ou aquele juiz, mas sim o Poder Judiciário, como instituição.
A propósito, vários pedidos de impeachment de Gilmar Mendes foram apresentados ao Senado Federal. De um deles tive a honra de ser signatário (ao lado de Fábio Comparato, Sérgio Sérvulo, Álvaro Ribeiro da Costa e Celso Antônio Bandeira de Melo, entre outros) e do qual foi nosso patrono Marcelo Lavenère, ex-presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados. Nosso pedido foi convenientemente recusado pelo então presidente da Casa, o inefável senador Renan Calheiros e contra essa denegação os autores impetraram mandado de segurança junto ao STF. Caiu-lhe como relator o ministro Edson Fachin, que, por sua vez, considerou ‘inissível’ a medida. Desta decisão foi impetrado agravo interno que espera julgamento pelo plenário.
Diante desse quadro de crise sistêmica, que nos resta como ‘saída’? A alternativa do impeachment do presidente, que o genro de Moreira Franco não deixa andar (entre outros dorme em suas gavetas o pedido formulado pelo Conselho Federal da OAB), contém, tanto o defeito da morosidade, quanto o de depender da atual Câmara dos Deputados e do atual Senado Federal, dominados, majoritariamente, pela aliança da corrupção deslavada com o baixo clero, e um “centrão” tomado por conservadorismo mais que reacionário. O provável pedido do STF, de autorização para processar Temer, padece da mesma dependência, no caso a prévia licença da Câmara.
O atual Legislativo (confia-se que o STF, não obstante tudo, não lhe siga as pegadas) é a guarda pretoriana do presidente, surdo à voz das ruas, já que os interesses que defende e preserva não coincidem com os interesses de seus supostos representados, pois, falam as pesquisas de opinião de todos os institutos especializados, a quase unanimidade da população repudia o atual governo e defende sua defenestração.
O tucanato, agente decisivo no golpe e base fundamental da sustentação do governo, mesmo agora, vem à luz do dia propor a renúncia de Temer seguida de imediata convocação de eleições gerais, ou seja, a antecipação do pleito de 2018. Não se sabe se FHC já combinou o jogo com Temer, e muito menos com os titulares de mandatos eletivos espalhados Brasil afora, do Senado às câmaras municipais, pois, se é, na atual ordem constitucional, impossível reduzir esses mandatos, a efetividade da proposta a a depender de uma renúncia coletiva. É preciso acreditar em duendes para apostar em tal evento. Em um ponto, todavia, todos estamos de acordo: o Congresso, que não tem legitimidade para promover reformas tão profundas como as exigidas pelos donos do dinheiro, surrupiando do povo direitos conseguidos há décadas, também não tem legitimidade para eleger o eventual substituto de Michel Temer.
De uma forma ou de outra, há uma evidência: esse governo precisa ser removido e substituído por outro, esse emanado do voto popular. A solução, pois o País não pode permanecer imobilizado quando cresce e se aprofunda o projeto de sua desconstrução, volta-se para a saída de Temer e a convocação, mediante emenda constitucional, de eleições diretas para sua sucessão, de sorte que essa sucessão, não sendo apenas uma troca de seis por meia dúzia, segundo o gosto das classes dominantes, seja a segurança da retomada do desenvolvimento, da defesa nacional, da recuperação dos direitos sociais e trabalhistas.
Eleições diretas não são um fetiche, uma panaceia, mas, sim, a única oportunidade que ainda temos de devolver legitimidade à Presidência da República, mormente quando, sabidamente, só um dirigente legitimado pela soberania popular terá condições morais e políticas de comandar, com o conjunto da sociedade, a árdua tarefa de recuperação política e econômica do País. Qualquer outra tentativa de saída simplesmente aprofundará a crise que continuará crescendo como um insaciável Moloch, para um dia, sem controle, nos devorar.
O povo novamente nas ruas, a rebeldia de nossa gente, a insatisfação transformada em pressão popular, podem – e devem – construir as condições objetivas para a saída do ime. Daí a importância da unidade dos movimentos populares, a começar pela unidade do movimento sindical, convergindo para uma grande e ampla frente nacional pelas Diretas Já.

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Junho tem do ano a metade. Uma que foi e outra que chega. Da janela junina tanto se pode olhar para trás quanto à frente. Emoldurando a vidraça o marco se desfaz em registros acontecidos e promessas buscadas. Cada um tem sua janela.
Jeanine tem a sua. Esguia se esgueira junto ao vidro esfumaçado. Atenta observa a rua enquanto esta a devolve discreta à casa feita em abandono. Sua janela é imaginária. De há muito foi quebrada. Estilhaçou-se aos poucos. Não foi um vendaval. Sequer uma chuva mais forte. Partiu-se somando cacos. Alguns agudos, outros ferrenhamente cortantes, tantos mais apenas estilhaços. Pontas e arestas já empoeiradas, muitas esquecidas.
Ela gosta de sua vidraça vazia. Com o vazio poucos se preocupam. O que encontrar ali? Poeiras, umidades, pedaços de coisas partidas, nada de serventia. Porém, vazios instigam, desafiam, apavoram. Despreenchimento que a Janine soava acalanto e segurança. Não porque cadeados ou grades a garantissem. Simplesmente por usufruir de uma janela só sua. Janela que nem janela era.
Da rua voltava todos os dias. Recolhia a friagem invernal. Guardava os “não” já acostumados. Juntava os comandos: “vai trabalhar!”. Era bom estar de volta. De seu canto enxergava os prédios amontoados logo adiante. Adivinhava seus moradores aquecidos. Imaginava os programas de televisão piscando em brilhos, vendendo ousadias e felicidades. Ouvia “fica quieto guri, assim não ouço nada.” Percebia dores na voz embargada das mulheres silenciadas pelo “hoje estou cansado, não me incomodem.”
Naquele entardecer Jeanine não voltou. Sua estadia fora lacrada. A porta de ferro repuxada a golpes de arrasto dobrara-se encabulada. Dos seus, todos levados adiante. Poderia ter chorado, gritado. Ficou inerte sem nada esperar. Frio por frio já o conhecia sem revolta.
Infeliz? Apenas extremamente entristecida. Por si, pelas pessoas, todos filhos e filhas. Por tantos abatidos pelas circunstâncias construídas e destruídas.
Lembrou da janela. Aquele cantinho só seu e nunca mais seu. Perdera. Fora-se a metade do ano. Quase. Havia a outra porção. Quem sabe?