Caso Marielle: a incrível história do Chefe de Polícia que planejou o crime 2v2m14

Rivaldo Barbosa era chefe da Polícia e planejou o crime, segundo inquérito da PF

A vinculação da polícia com o crime no Rio de Janeiro é muito antiga. Já o primeiro samba gravado no Brasil, em 1917, ironizava a leniência policial diante da contravenção: “O chefe da polícia pelo telefone mandou me avisar/ que lá na Carioca tem uma roleta para se jogar”. 206k6s

Consta que Donga, um dos autores, que registrou o samba em seu nome, se inspirou numa matéria do jornal A Noite (de Irineu Marinho, o pai do Roberto Marinho) sobre a vista grossa que a polícia fazia em relação aos jogos clandestinos, principalmente o jogo do bicho.

Desde então, tornou-se quase folclórica a cumplicidade de setores da Polícia Civil  e outras áreas da segurança pública com os grandes criminosos do Rio de Janeiro – as milicias, as facções do tráfico de drogas e os bicheiros.

Mas a revelação, neste domingo, 14 de março, de que o assassinato da vereadora Marielle Franco foi “meticulosamente planejado” pelo delegado Rivaldo Barbosa, então chefe de Polícia e ex-titular da Delegacia de Homicídios do Rio,  supera qualquer expectativa quanto à atuação de autoridades policiais ligadas ao crime organizado na ex-capital federal.

Advogado, formado em 1997, Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior cursou MBA em Inteligência e Estratégia na Universidade Salgado de Oliveira e é professor de Direito Penal.
Está no serviço público estadual desde 2003. Projetou-se como delegado nos anos 2010, quando foi diretor da Delegacia de Homicídios, de 2012 a 2015.

Sua atuação à frente de uma equipe reforçada, nos governos de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, resultou em aumento na solução de casos de assassinato no Rio.
Antes, Barbosa fora subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança (Seseg), de 2008 a 2011, além de vice-diretor da Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (DFAE) e chefe da Assessoria de Planejamento.

Barbosa foi nomeado chefe da Polícia Civil durante a intervenção federal da segurança pública do Rio de Janeiro, decretada pelo então presidente Michel Temer em 2018 após uma explosão de crimes durante o Carnaval.

Durante a primeira fase das investigações do caso Marielle  ele garantiu que haveria empenho na apuração e que o crime não ficaria impune.
O então chefe de Polícia se opôs à federalização das investigações sobre o duplo homicídio.
“A Polícia Civil está trabalhando muito para dar uma resposta”, disse Barbosa durante a inauguração da Delegacia de Combate a Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na Lapa, em 13 de dezembro de 2018 (o delegado deixou a chefia da Polícia Civil no Rio naquele mês)
Segundo o inquérito da Polícia Federal tornado público neste domingo pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, além do planejamento da ação criminosa,  caberia a Barbosa garantir que a morte de Marielle permanecesse impune. Os mandantes seriam Domingos Frazão, ministro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, seu irmão Francisco, o “Chiquinnho Frazão”, ex-vereador, atualmente deputado Federal.
“Os indícios de autoria imediata que recaem sobre os irmãos Brazão são eloquentes. (…) (Havia) garantia prévia da impunidade junto a organização criminosa instalada na Divisão de Homicídios da Polícia do Rio de Janeiro, comandada por Rivaldo Barbosa”, diz um trecho do inquérito.
Na época deputado estadual pelo PSOL, o mesmo partido de Marielle Franco, o hoje presidente da Embratur, Marcelo Freixo, se declarou surpreso com prisão de Barbosa, na manhã de domingo.
“Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e do Anderson e me dirigia ao local do crime”, declarou Freixo em postagem nas redes sociais.
“Ele era chefe da Polícia Civil e recebeu as famílias no dia seguinte junto comigo. Agora Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro”.

Os irmãos Frazão vinham sendo apontados como mandantes do crime há pelo menos cinco anos. Mas o envolvimento de Rivaldo Barbosa foi supresa total.
“A maior surpresa nisso tudo foi o nome do Rivaldo”, disse a mãe de Marielle. “Minha filha confiava nele, no trabalho dele.”
“Foi um homem que falou que era uma questão de honra para ele elucidar esse caso”, declarou ela à GloboNews.

A incriminação de Rivaldo Barbosa foi feita pelo miliciano Ronnie Lessa, matador confesso de Marielle Franco, em deleção premiada à Polícia Federal, que ou a investigar o crime no final do ano ado.

O caso foi dado como encerrado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandovski, mas o envolvimento de Rivaldo Barbosa pode render desdobramentos surpreendentes.
(Com informações do G1)