28 fotógrafos mostram múltiplos olhares, visões e fragmentos sobre Porto Alegre 4m1b6v
Parte dos 28 fotógrafos expositores. Foto: Juliana Baratojo/Divulgação
Imagens que traduzem diferentes visões e fragmentos sobre Porto Alegre, sobre a natureza, sobre o concreto, sobre o mundo. Assim é a exposição “Múltiplos Olhares: 28 fotógrafos” que nasceu da iniciativa do curador, arquiteto e artista visual Fábio André Rheinheimer. Ele desafiou profissionais da fotografia a mostrarem suas diferentes interpretações e olhares em imagens que estarão na mostra, que será inaugurada no dia 3 de março, das 17h30 às 20h no Espaço Cultural Correios (Av. Sete de Setembro, 1020, no Centro Histórico). A exposição fica em cartaz até o dia 29 de março, com entrada franca. 2g6o15
Foto: Fábio Petry/ Divulgação
Cada fotógrafo contribuiu com 2 obras para essa exposição composta por 56 imagens. Parte desse material foi produzido durantes duas saídas de campo, realizadas em janeiro, pelo Centro Histórico. A ideia era homenagear Porto Alegre, em seu mês de aniversário, e também mostrar os múltiplos olhares dos fotógrafos – a maioria residente na capital gaúcha – sobre o mundo.
Foto: Tiago Jaques/Divulgação
Na mostra, estão registros de Ana Fernanda Tarrago, Andréa Barros, Andréa Seligman, Alexandre Eckert, Aníbal Elias Carneiro, Bia Donelli, Clara Koury, Douglas Fischer, Eduardo Grazia, Fábio Petry, Flávia Ferme, Flávio Wild, Helena Stainer, Iara Tonidandel, Ivana Werner, Laércio de Menezes, Leandro Facchini, Leonardo Kerkhoven, Manoel Petry, Marcelo Filimberti, Marcelo Leal, Nattan Carvalho, Paulo Mello, Rafael Karam, Rogério Soares, Sílvia Dornelles, Tiago Jaques e Victor Ghiorzi.
Foto: Rafael Karam /Divulgação
Fábio André Rheinheimer explica que a exposição foi concebida a partir da interação entre elementos aparentemente desconexos, elementos do portfólio de 28 profissionais. “A partir destas parcelas – imagens extraídas do contexto – organizam-se outras possibilidades do ver, novas ressignificações. Neste percurso, eis o espectador a delinear, segundo apropriação particular), a elaboração hipotética de outros (ou novos) relatos, tendo por objeto a livre inter-relação entre produções distintas”, descreve.
Foto: Manoel Petry / Divulgação
Dessa forma, a partir da visão dos expectadores sobre os múltiplos olhares dos fotógrafos surgem novas imagens e olhares. “É a elaboração de um diálogo plural (segundo fragmentos de produções distintas, sem jamais o pretender definitivo ou absoluto), de domínio exclusivo do espectador, autor de releituras e narrativas poéticas a partir de imagens que, mesmo condenadas à estagnação de um momento, eclodem numa profusão de novas apropriações simbólicas”, finaliza no material de divulgação da mostra, Rheinheimer.
Foto: Leonardo Kerkhoven/ Divulgação
Múltiplos Olhares: 28 fotógrafos
Curadoria Fábio André Rheinheimer
Abertura: 3 de março, coquetel das 17h30 às 20h.
Visitação: de 4 a 29 de março de 2020 – terça a sábado, das 10h às 18h; domingo, das 13h às 17h.
Espaço Cultural Correios, Av. Sete de Setembro, Nº1020, Centro Histórico, Porto Alegre RS.
Foto: Leandro Facchini /Divulgação
ENTREVISTA COM O CURADOR FÁBIO ANDRÉ RHENHEIMER
Higino Barros
Pergunta: A mostra traz o trabalho de 16 homens e dez mulheres. é significativa a presença feminina. O que caracteriza a foto delas? e a dos homens?
Resposta: De forma bem resumida, pode-se dizer que o processo de curadoria envolve vários elementos: o espaço expositivo, o conceito (tema) abordado, as referências teóricas, o número de participantes, as dimensões das obras dentre outros condicionantes, que associados determinam a “construção” de uma exposição. Neste processo, a quantificação quanto ao gênero, nunca me pareceu relevante e, também, nunca o fiz. Na verdade, antes destes números aqui apresentados, eu não havia quantificado a participação masculina e feminina nesta mostra. O meu interesse é superior a isto, apenas a obra do profissional. Minha posição é tratamento igualitário sempre; e não vejo distinção quanto à qualidade final dos trabalhos, que é o que me interessa. Ou não há disso na hora de fotografar? Na minha concepção, existem os profissionais e suas percepções de mundo, pontos de vista distintos quanto à arte da fotografia, bem como interesses muito particulares no que se refere aos elementos que podem (ou não) contribuir no desenvolvimento de seus processos de trabalho. Portanto, minha parte é selecionar e avaliar as obras, em sintonia com o conceito proposto (e demais elementos), ora a partir dos portfólios, ora “sobencomenda“. Neste caso, usualmente organizo saídas a campo, quando assim parece ser interessante. Segmentar os profissionais da fotografia entre homens e mulheres me parece não só inadequado, mas também profundamente arcaico. Esta etapa, felizmente, espero que já tenhamos superado. Não falo de escolher e sim do ato de fazer arte, digamos. Parte delas exerce outra profissão, sendo a fotografia uma atividade diletante. Como analisa isso? Os meus 33 anos de experiência profissional nas artes visuais, me fazem acreditar que toda e qualquer atividade “extra” pode contribuir de forma a agregar valor ao trabalho dos artistas, em todas as técnicas indistintamente, e na fotografia não penso que seja diferente. Veja minha situação: uso de meu conhecimento enquanto arquiteto e urbanista no meu trabalho artístico, o que me facilita e muito. Por exemplo, o exercício tridimensional de concepção de um espaço qualquer, ou edificação, também emprego quando proponho objetos de arte, ou esculturas. Acredito que toda e qualquer qualificação profissional é sempre bem-vinda, e pode sim fazer diferença na concepção e desenvolvimento das obras. Enfim, a amplitude de horizontes pode estimular e consolidar outras possibilidades do fazer artístico no âmbito particular, mas isto só ocorre a partir de um processo criativo continuado, e, portanto, exige muito trabalho… ou não frutifica.
Foto: Laércio de Menezes/Divulgação
Pergunta: Qual a avaliação que você faz sobre a cena fotográfica de Porto Alegre?
Resposta: Na minha percepção, existe uma fixação, por parte de muitos fotógrafos que, restringindo o foco a questões técnicas, inviabilizam outras formas de pensar e criar na área da fotografia. Esta postura não impede a continuidade da produção destes profissionais, porém é certo que outras formas do fazer artístico poderiam ocorrer, por exemplo, se usassem como referência a história da arte, a direcionar um processo permanente e continuado do exercício da fotografia. Outro aspecto que observo é a recorrente discussão se a fotografia realizada com telefone celular é melhor (ou pior) da feita com câmera tradicional. Este tipo de enfrentamento me parece tolo, pois o resultado final é que validade do processo. Enquanto profissional das artes visuais, penso que as questões técnicas são relevantes, porém jamais devem ser limitadoras da criatividade. Por exemplo, o artista usa a técnica e quando for lhe parecer interessante a subverte, sem problema algum de consciência. Nas artes, não acredito em progresso sem que haja ruptura, ou seja, sair da zona de conforto é arriscado, é preciso acima de tudo coragem, mas pode valer a pena.
Foto: Ivana Werner/ Divulgação
Pergunta: Como é a situação de espaços para exposições na aldeia? É satisfatório o número, há falta ou sobra?
Resposta: Vivemos, como bem disseste, numa aldeia. Nossa pequena Porto Alegre tem bons espaços, muito embora, é recorrente a falta de investimentos na qualificação destes. Por exemplo, a questão da iluminação, elemento fundamental para uma exposição, nem sempre é satisfatória em ambos aspectos quantitativo e qualitativo.
Foto: Helena Stainer /Divulgação
Pergunta: Como analisa o mundo da arte em tempos tão conturbados politicamente como o de hoje? Basta lembrar que o fechamento da exposição Queer, aconteceu aqui no Santander Cultural.
Resposta: O mundo se apresenta complexo em vários aspectos e a inexistência do distanciamento histórico, imprescindível para compreender, elucidar este momento, não facilita este processo. É indiscutível que a arte, esta necessidade de expressão intrínseca ao humano, sobreviverá a tudo e a todos. A história da humanidade nos elucida, com fatos concretos, que ideias radicais não orientam o melhor caminho a seguir. Entretanto, posturas diametralmente opostas entre si, proporcionam maior espaço para o diálogo. Isto sim. Atuar nesta direção exige comprometimento e disposição de todos para que se realize. Neste momento, é como se o planeta precisasse de novas respostas, a questões antigas e ainda não elaboradas, porém o melhor caminho (sempre) é buscar o entendimento. Quanto à mostra ‘Queer’, não vi, portanto não irei, tampouco posso, emitir opinião.