Uma amostra significativa de como as artes visuais absorveram e reelaboraram, em diferentes técnicas e linguagens, a enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul há um ano. Assim pode ser resumida a exposição “As Águas Selvagens”, que reúne 43 artistas sob a curadoria de Ana Zavadil, no Museu de Arte do Paço, em Porto Alegre. A abertura acontece na terça-feira (6/5), às 18h30.
A artista Isabel Marroni apresenta a obra “Rio que me atravessa”, pintura acrílica e colagem de retalhos de telas, tecidos e papéis artesanais. Tons frios e formas fragmentadas sugerem caos e desolação.
“O trabalho não apenas retrata um elemento de perda, mas também celebra a capacidade de renovação e a força coletiva que emerge em tempos de crise. A arte, portanto, se transforma em um canal de diálogo e reflexão, convidando o espectador a contemplar as consequências das mudanças climáticas e a importância da solidariedade em momentos de adversidade”, reflete Marroni.
As obras, sejam pinturas, fotografias, instalações, desenhos, arte têxtil, emocionam. São espelhos sensíveis da dor, da solidariedade e da resiliência que marcaram aquela tragédia. Elas nos tocam porque não apenas documentam os acontecimentos, mas também traduzem o impacto humano e emocional que escapou às estatísticas. São imagens potentes das enchentes e dos esforços de reconstrução”, ressalta Zavadil, ex-curadora-chefe do MARGS e do MACRS, mestre em História, Teoria e Crítica de Arte pela UFSM e professora de pintura e desenho.

A instalação “Resgatar Afetos”, da artista Vera Carlotto, homenageia a memória das vítimas das enchentes, cujos rostos aparecem com tarjas que reproduzem imagens de satélite do transbordamento dos rios.
“É um memorial suspenso de 2m80, feito em assemblage com mais de 200 imagens. Em um galho de árvore que recolhi na rua, mesclei fotografias das vítimas às imagens de satélite e pendurei-as por anzóis e as distribuí como o fluxo d’água, circundando um saco de areia tatuado com os nomes dos que partiram. Criei uma paisagem de luto e de memória, fazendo da arte um abrigo para as ausências”, relata Carlotto.

Além de se expressar artisticamente, cada participante escreveu um texto que pode ser lido pelo visitante ao ar um QR Code que acompanha a obra. “A minha série de fotos ‘Marca d’água’ é um alerta, um grito, um desabafo e um pedido para que as autoridades tomem providencias e evitem ou diminuam os impactos de um novo episódio climático”, clama o artista Leandro Selistre.

Numa demonstração de resistência, o prédio histórico do Museu de Arte do Paço, construído entre 1898 e 1901, foi atingido pela águas da enchente e agora serve de palco a essa mostra que reflete artisticamente sobre o fenômeno ocorrido há um ano.

Artistas da exposição
Alexandra Eckert, Andrea Brächer, Clara Figueira, Clara Koppe, Cleci A. Serpa, Cristie Boff, Denise Wichmann, Edson Possamai, Esther Bianco, Fátima Pinto, Fernanda Martins Costa, Gladis Coifman, Graça Craidy, Griseldes Vieira, Helena d’Avila, Helena Schwalbe, Isa Dóris Teixeira de Macedo, Isabel Marroni, Ivone Rabelo, Jane Maria, Juiara Barbizan, Jussara Moreira, Karina Koslowski, Kátia Werenzuk, Leandro Selistre, Lisi Wendel, Lorena Steiner, Lu Gaudenzi, Mariana Voltolini, Marinelsa Geyer, Mary Marodin, Miriane Steiner, Mylène d’huyer, Neca Lahm, Nilton Santolin, Patricia Schneider, Ricardo Giuliani, Sandra Gonçalves, Silvia Rodrigues, Simone Barros, Sirlei Hansen, Vera Carlotto e Yas Almeida.

SERVIÇO
Exposição: “As Águas Selvagens”
Curadoria: Ana Zavadil
Abertura: 6 de maio, das 18h30 às 20h30
Visitação: de 7 de maio a 20 de junho, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h
Local: Museu de Arte do Paço
Endereço: Praça Montevidéu, 10, Centro Histórico de Porto Alegre/RS
Entrada gratuita
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