Versão adaptada do primeiro clássico do escritor e poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, a montagem teatral Os sofrimentos do jovem Werther, do coletivo Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA…. volta a cartaz às 20h deste sábado (17) e segue em temporada até o dia 28 de junho (sempre aos sábados, às 20h) na Sala 1 da KZA Terezinha (Rua Santa Terezinha, 711). No elenco, estão Sandro Marques, Pâmela Bratz, Danielle Rosa, Ketelin Abbady, Thomaz Rosa, Ricardo Padilha, Alexandre Malta, Antônia Alonso e Marco Olgini. 4s664q

Concebido com direção coletiva e produzido com recursos do Edital Bolsa Funarte de Apoio a Ações Artísticas Continuadas 2024 e do Edital SEDAC/LPG nº 10/2023, o espetáculo inspirado no romance epistolar (narrado através de cartas) de Goethe aborda o tema da impossibilidade do amor. Na trama, o jovem pintor Werther nutre uma paixão devastadora por sua amiga Charlotte, sem poder fazer nada além de sonhar.

Na montagem realizada pelo grupo gaúcho, a dramaturgia segue a linha principal do roteiro original, mas desmonta a lógica do texto e traz à tona questões como o feminismo, a solidão, a busca do indivíduo pela liberdade de usufruir de sua vida em meio ao sistema em que está inserido, e a própria função do artista na sociedade.

Colocada pelo coletivo teatral como ponto central da narrativa, Charlotte é noiva do advogado Albert e pivô de uma comovente história de sofrimentos na burguesia da Civilização Ocidental. No decorrer do enredo, Werther termina por se desesperar e a a se apresentar como irracional e suicida: para ele, a vida só tem sentido com sua amada. Ela, por sua vez, fica dividida entre os dois homens, mantendo o compromisso com aquele a quem foi prometida em casamento, mas sentindo uma grande afinidade pelo amigo. Ao mesmo tempo em que segue o papel imposto pelo patriarcado, a protagonista do espetáculo se revela – no íntimo – dona de si e de seus desejos. “Nos demos conta de que não tinha como falar do homem no papel central, mas sim da mulher, que sempre está à mercê, subalterna, numa posição que não é justa para ela”, pontua Danielle.

Na peça, surgem outras personagens femininas que também arcam com opressão em outras posições. “É importante e necessário falar desta relação de como foi antes de nós, com nossas avós, nossas bisavós; é nossa bandeira de amor livre, da não-monogamia, da liberdade sexual, de culto, de trabalho, da mulher não se submeter”, sinaliza Danielle. “Por outro lado, o personagem Werther é, de forma metafórica, a representação das pessoas que se apaixonam e sonham, vivendo em um mundo que clama por transformação – que é o nosso caso, como ativistas que buscam isso através do teatro”, emenda a atriz.
Trabalhando há 17 anos com temas que sirvam de terreno fértil para a discussão de seus anseios, o grupo Levanta FavelA… bebe nas fontes do Teatro do Absurdo, do Teatro da Crueldade (de Antonin Artaud), do Teatro Épico (de Bertolt Brecht) e do Teatro do Oprimido (de Augusto Boal). No caso da atual montagem, o coletivo investe nas duas primeiras linguagens para, no decorrer de dez cenas, apresentar uma dramaturgia densa, lírica e essencialmente psicológica, ao mesmo tempo em que celebra e insere na cena referências de matriz afro, como exemplo de Cosme e Damião, duas divindades da Umbanda protetoras das crianças.

“Ainda que sempre com uma pitada de contemporaneidade e nonsense, gostamos de buscar nos clássicos a inspiração para falar de nossas inquietações”, revela Marques. “Vínhamos, há algum tempo, abordando a temática da saúde mental em nossas discussões em grupo, a partir do evento da pandemia de Covid-19, que impactou muitas pessoas nesse sentido”, ressalta o ator, ao se referir sobre o tema do suicídio, visto até hoje, pela maioria das pessoas, como controverso.
Serviço:
Os sofrimentos do jovem Werther
Datas: dias 17, 24 e 31 de maio e dias 07, 14, 21 e 28 de junho
Horário: 20h
Local: KZA Terezinha (Santa Terezinha, 711, Santana)
Ingressos: R$ 60,00
FICHA TÉCNICA
Direção: coletiva
Interpretação: Sandro Marques, Danielle Rosa, Pâmela Bratz, Ketelin Abbady, Thomaz Rosa e Marco Olgini
Iluminação: Alexandre Malta
Sonoplastia: Ricardo Padilha
Contrarregragem: Antônia Alonso
Cenário: o grupo
Produção: o grupo
Sobre a Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA…:
Coletivo criado em 2008, em Porto Alegre, com Teatro de Rua, Teatro de Vivência e Intervenções Cênicas. Com forte engajamento com movimentos sociais, o grupo coloca na sua estética e linguagem a discussão política sobre questões atuais e pertinentes ao contexto social contemporâneo, fazendo da cultura uma ferramenta de discussão social. Ao longo de sua trajetória, realizou 17 espetáculos: Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com Argonautas, Tebas, O Beijo no Asfalto, Lua de Mel em Buenos Aires A Mulher Crucificada O Beijo da Besta, Malone Morre, A Babá e o Iceberg, Em Busca de Christa T, O Canto da Terra, A Árvore em Fogo, Futebol, nossa Paixão, A Belíssima Fábula de Xuá-Xuá A Fêmea Pré-Humana Que Descobriu o Teatro, Sepé: Guarani Kuery Mbaraeté!, Populares Temem Invasão das Salsichas Gigantes, Manual do Guerrilheiro Urbano, Maria Suas Filhas e Seus Filhos, Don Juan e Os Sofrimentos do Jovem Werther.