América Latina ameaçada l141k

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, recentemente criticou a influência da China no Canal do Panamá e se referiu à América Latina como “quintal” de Washington. Durante entrevista à Fox News, ele responsabilizou o governo do ex-presidente Barack Obama pelo domínio da China na região e declarou: 3c6z1l

“O governo (Barack) Obama tirou os olhos da bola e deixou a China tomar toda América do Sul e Central, com sua influência econômica e cultural, fazendo acordos com governos locais de infraestrutura ruim, vigilância e endividamento. O Presidente Trump disse ‘não mais’, vamos recuperar o nosso quintal”.

Durante sua visita, Hegseth aventou abertamente a ideia de tropas estadunidenses retornarem ao Panamá para “proteger” seu canal estrategicamente vital. O governo chinês reagiu: “Isso reflete claramente a intenção dos Estados Unidos de usar pressões militares e políticas para forçar os países latino-americanos a obedecerem. Os EUA  mantêm uma presença militar substancial, operando em 2025 cerca de 76 bases militares na região, enquanto a China não possui uma base militar nem envia tropas para a região.”

Nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse de forma reticente que “talvez” os países da América Latina precisem escolher entre os EUA e a China na hora de fazer acordos e parcerias. A declaração foi dada em entrevista à Fox Notícias (filial do México da Fox News).

Também nesta semana o assessor internacional do presidente Lula, Celso Amorim, em entrevista ao jornal O Globo, foi comedido ao analisar a atual situação. Afirmou que a América Latina tem que ter uma personalidade, tem que ser capaz de dar sua opinião. “Agora, é claro que nós temos aqui um soft power (que se refere ao poder originário da diplomacia, cultura e valores). Nós nunca vamos ter um hard power (capacidade de um estado impor sua vontade a outros estados através de meios coercitivos, primariamente a força militar e sanções econômicas), nem sequer do ponto de vista econômico. Os países têm relações distintas, é muito complexo.”

De qualquer maneira, segundo Amorim, a reafirmação de que somos uma zona de paz e que não vamos estar envolvidos em um conflito é importante. “Os Brics têm um peso grande na economia mundial, é óbvio. Quando ele se move ou faz alguma coisa, todo mundo presta atenção.”

O Equador adotou o dólar estadunidense como moeda oficial em 2000, e desde então, a dolarização tem sido um pilar fundamental da sua economia. Durante as eleições de 2025, o presidente Daniel Noboa reafirmou seu compromisso com a manutenção da dolarização. A reeleição de Daniel Noboa no Equador foi marcada por várias controvérsias que levantaram preocupações sobre práticas democráticas.

A candidata derrotada, Luisa González, alegou fraude “grotesca” no processo eleitoral, pedindo recontagem dos votos e auditoria das urnas. Ela destacou discrepâncias entre os resultados e as pesquisas de opinião, que indicavam uma disputa mais equilibrada.

Noboa decretou estado de exceção em Quito e outras províncias às vésperas do pleito, o que foi interpretado por críticos como uma tentativa de intimidar eleitores e opositores.

Relatos indicam operações de “plantio” de registros de votação em favor de Noboa, envolvendo membros da Polícia Nacional e das Forças Armadas. Parece que a democracia por lá está enfrentando tempos desafiadores.

Doutrina Monroe

A embaixada chinesa na Argentina declarou nesta semana que se opõe firmemente às declarações do Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, feitas durante sua visita à Argentina, acusando-o de difamar maliciosamente a cooperação legítima da China com outras nações. Os chamados “acordos vorazes” e “armadilhas da dívida” atribuídos à China.

Diz a nota da embaixada chinesa: “Aconselhamos os EUA a ajustarem sua mentalidade. Em vez de difamar e atacar persistentemente a China, interferir na cooperação externa dos países da região e tentar ressuscitar uma “nova Doutrina Monroe”, seria melhor se concentrar em ações mais práticas para apoiar o desenvolvimento desses países.”

Em 2 de dezembro de 1823, o presidente dos Estados Unidos, James Monroe (1817-1824), enviou a mensagem anual ao Congresso que tratava da política externa norte-americana, que ou a ser conhecida como “Doutrina Monroe”.  O discurso oficial de Monroe era para que os impérios mundiais da época, principalmente da Europa, deixassem as Américas sob o controle de Washington. Nas décadas seguintes, essa política foi evocada e adaptada por sucessivos presidentes para garantir a exclusividade dos interesses econômicos e políticos dos EUA no hemisfério ocidental.

O presidente dos EUA James Buchanan (1857/1861), no discurso de posse deixou bem clara a determinação do domínio norte-americano: “A expansão dos Estados Unidos sobre o continente americano, desde o Ártico até a América do Sul, é o destino de nossa raça e nada pode detê-la”.

Os EUA definiram a Doutrina Monroe, reservando todo o continente americano como sua zona de influência, quando não tinham nem de longe a dimensão do poder que adquiriram mais tarde. Os Estados Unidos apresentaram-se como defensores de um continente livre de novas conquistas territoriais. Com esse caráter defensivo, a Doutrina Monroe ficou associada ao slogan capcioso “América para os americanos”. Faltou definir quais os americanos.