China e América Latina mostram que é possível um futuro compartilhado j152

Lula no Fórum China-Celac: "Não precisamos de um 'chefão' ou de um 'policial mundial' Foto Ricardo Stuckert/PR

Durante a abertura da Quarta Reunião Ministerial do Fórum China-Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizada em Pequim na terça-feira (13), o presidente chinês Xi Jinping anunciou o lançamento de cinco programas para promover o desenvolvimento e a revitalização com os países da América Latina e do Caribe (ALC). Os programas vão desde solidariedade e civilização até paz e conectividade interpessoal, buscando conjuntamente o desenvolvimento, bem como a construção de uma comunidade China-ALC com um futuro compartilhado. 4p4m2a

Não há até o momento uma “Declaração de Pequim China-CELAC 2025” oficialmente divulgada. A imprensa da China revela que é um documento com mais de 2.600 caracteres chineses. Um manifesto do Sul Global para a construção de um mundo mais justo e afirma a importância de defender o direito internacional e promover os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas. Apoia a resolução de diferenças, disputas e conflitos por meios pacíficos, enfatizando que a governança econômica global deve atender às preocupações comuns de todos os países, especialmente em desenvolvimento. Reafirma o apoio a um sistema multilateral de comércio justo, transparente e baseado em regras.

Cinco programas para promover o desenvolvimento compartilhado

  • Solidariedade: A China está disposta a fortalecer a solidariedade com os países da ALC e continuar a apoiar uns aos outros em questões relativas aos seus principais interesses e preocupações, a salvaguardar o sistema internacional com a ONU em seu núcleo e a ordem internacional sustentada pelo direito internacional, e a falar com uma só voz em assuntos internacionais e regionais.
  • Desenvolvimento: Trabalhar com os países da ALC para implementar a Iniciativa de Desenvolvimento Global, defender o sistema de comércio multilateral, garantir cadeias industriais e de suprimentos globais estáveis e desimpedidas e promover um ambiente internacional de abertura e cooperação.
  • Civilização global:  Ambas as partes devem defender a visão de igualdade, aprendizagem mútua, diálogo e inclusão entre civilizações, defender os valores comuns da humanidade de paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade. Fortalecer os intercâmbios civilizacionais e a aprendizagem mútua.
  • Paz: China e ALC devem cooperar mais estreitamente em governança de desastres, segurança cibernética, combate ao terrorismo, combate à corrupção, controle de narcóticos e combate ao crime organizado transnacional, a fim de salvaguardar a segurança e a estabilidade na região.
  • Conectividade entre Pessoas: Nos próximos três anos, a China fornecerá aos estados-membros da CELAC 3.500 bolsas de estudo governamentais, 10.000 oportunidades de treinamento na China, 500 bolsas de estudo internacionais para professores de língua chinesa, 300 oportunidades de treinamento para profissionais de redução da pobreza e 1.000 colocações financiadas por meio do programa Chinese Bridge, iniciará 300 projetos de subsistência e apoiará os estados-membros da CELAC no desenvolvimento do ensino da língua chinesa.

O mundo está diferente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista coletiva na quarta-feira (14) que a Declaração de Pequim traz esperança, demonstrando que países economicamente fortes como a China estão considerando como contribuir para o desenvolvimento das nações mais pobres do mundo. Ele também afirmou que o mundo é diferente agora: “Não precisamos de um ‘chefão’ ou de um ‘policial mundial'”.

Centenas de empresários chineses e brasileiros e vários ministros brasileiros participaram do Fórum Empresarial China-Brasil na segunda-feira (12). Lula disse que sua visita à China com uma grande delegação composta por ministros, governadores, parlamentares e empresários visa demonstrar o compromisso do Brasil em construir conjuntamente uma comunidade sino-brasileira com um futuro compartilhado para um mundo mais justo e um planeta mais sustentável.

O comércio China-América Latina ou de US$ 18 bilhões em 2002 para US$ 315 bilhões em 2020. O volume dobrou na última década, atingindo US$ 518,4 bilhões em 2024. Além disso, a China implementou mais de 200 projetos de infraestrutura e diversos empreendimentos industriais na região, gerando mais de um milhão de empregos locais. Mais de 20 países já alinharam seus planos de desenvolvimento com a Iniciativa Cinturão e Rota da China, assinando diferentes memorandos de cooperação com a China, e a Colômbia confirmou sua participação na BRI durante a reunião.

O Porto de Chancay, no Peru, que entrou em operação no final de 2024, com investimento de 3,6 bilhões de dólares (R$ 17,8 bilhões), é o primeiro porto com maioria de capital chinês na América Latina. Através da Rota Amazônica será possível uma ligação direta e mais rápida para o transporte de mercadorias entre a Ásia e a América Latina, conectando os oceanos Atlântico e Pacífico. O projeto envolve cinco rotas bioceânicas – um corredor de transporte que liga o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, ando por Brasil, Paraguai, Argentina e Chile – que encurtarão a distância entre o Brasil e a China em aproximadamente 10 mil quilômetros.

As rotas bioceânicas formam uma combinação de modais de transporte, incluindo ferrovias, rodovias, hidrovias e portos. Se as rotas bioceânicas forem implementadas de forma eficiente, podem reduzir custos e aumentar a segurança em comparação com o transporte majoritariamente rodoviário, como é no Brasil desde os anos 1950, quando abandonou sua malha ferroviária para favorecer a instalação de montadoras multinacionais de veículos, com incentivos do governo Juscelino Kubitschek (1956/61).

No entanto, isso só acontecerá se houver investimentos pesados em infraestrutura multimodal e integração entre os países. Até lá, o Brasil continuará dependendo muito das rodovias, mas as rotas bioceânicas são uma oportunidade estratégica para diversificar e baratear o escoamento.

Em setores de ponta, como novas energias, energia fotovoltaica, veículos elétricos, tecnologia digital e comércio eletrônico transfronteiriço, a cooperação China-ALC continua a se expandir. O diferencial são os benefícios mútuos, fornecendo forte impulso para a parceria, o que não acontece com países do Ocidente.

Plano de Ação Conjunto China-CELAC 2025–2027

O novo plano de ação, que atualiza o ciclo anterior (2022–2024), abrange diversas áreas estratégicas: 

  • Comércio e Investimentos: Promoção de um comércio equilibrado e investimentos recíprocos em alta tecnologia e produção de bens de valor agregado.
  • Ciência, Tecnologia e Inovação: Fortalecimento da cooperação em áreas como economia digital, inteligência artificial e infraestrutura digital.
  • Infraestrutura e Conectividade: Desenvolvimento conjunto de projetos de infraestrutura, incluindo transporte e energia, com foco na sustentabilidade.
  • Saúde Pública: Colaboração na prevenção e controle de doenças, bem como no desenvolvimento e distribuição de vacinas.
  • Educação e Intercâmbio Cultural: Promoção de programas de intercâmbio educacional e cultural para fortalecer os laços entre os povos.

Com Agência Brasil, Global Times e Xinhua