O dia em que o Rio Grande do Sul se separou do Brasil 4s1b5w

No dia 11 de setembro, há 180 anos, o general Antonio de Souza Neto declarou o Rio Grande do Sul uma república independente  do Brasil. Foi a mais duradoura de todas as tentativas, desde Zumbi dos Palmares, de romper os laços com o império e estabelecer um regime republicano. 2b5tc

A República Rio-grandense durou oito anos e dois meses (11/09/1836 – 28 fevereiro 1845), mas nunca chegou a ter um poder estável que dominasse todo o território da, então, província.

Ao contrário, foi um regime itinerante,  assediado, que mudou três vezes a capital em menos de nove anos. Teve bandeira, hino, moeda, mas não conseguiu votar uma constituição.

Nos últimos anos, batida militarmente, a República Rio-grandense se estiolou numa rede de intrigas a que não faltou sequer um duelo em que o presidente  Bento Gonçalves matou um de seus generais.

O ato do general Neto, naquele 11 de setembro, radicalizou um movimento iniciado um ano antes com a deposição do governador Fernandes Braga, que contrariava os interesses da economia pastoril – os grandes proprietários de terra e gado e os charqueadores.

Tristão de Alencar Araripe, funcionário do Império que escreveu a primeira história completa da revolução, em 1881 chamou de República de Piratini, com um sentido pejorativo, de republiqueta.

Ele afirma que houve apenas uma mudança de nome, império por república, e do imperador pelo presidente, já que as leis e a estrutura istrativa seguiam sendo basicamente as mesmas do Império.

Disse ainda que foi “um regime militar”, pois o presidente Bento Gonçalves tinha poderes discricionários, nunca houve consultas para eleger seus magistrados, e a constituinte, que daria novas leis ao país, não chegou a ser votada.

Moacyr Flores | Foto: Cleber Dioni
Moacyr Flores | Foto: Cleber Dioni

Moacyr Flores, historiador que fez as mais extensas e recentes pesquisas sobre o tema, é mais enfático: “Os farroupilhas criaram de fato um Estado separado e independente do Brasil, pois tinham bandeira, dinheiro, projeto de constituição, leis e governo próprios. Em seus jornais, as notícias sobre o Brasil apareciam na coluna denominada Exterior e os brasileiros eram considerados como estrangeiros”.

Este país, porém, não conseguiu ser reconhecido por nenhuma outra nação estrangeira – embora houvesse recebido apoios dos governos uruguaio e argentino, interessados em atrair os rio-grandenses para uma federação platina.

Quando a guerra terminou, um silêncio de mais de meio século caiu sobre a Republica Rio-grandense e seus personagens. O próprio líder do movimento, Bento Gonçalves morreu esquecido.

Só quando o movimento republicano ressurgiu em todo o Brasil, a partir de 1880, ela e seus líderes foram reabilitados, agora como heróis para servir à propaganda contra o regime imperial.

Quando a república foi proclamada em 1889, os rio-grandenses, aí já batizados de farroupilhas ou farrapos, ressurgiram como o exemplo pioneiro de rebeldia.

Os aspectos polêmicos dessa construção histórica, que os 180 anos não conseguiram apagar, estarão numa série de textos que publicaremos sobre o tema até o dia 20 de setembro, data que em 1835, que foi deflagrada a rebelião, com a tomada de Porto Alegre.